De onde vieram os novos votos de Haddad no segundo turno: uma leitura estatística

 

Eduardo Saliby, Professor de Métodos Quantitativos da Coppead/UFRJ


Com base nos resultados do primeiro turno, utilizando a votação percentual (votos válidos) por candidato para cada uma das 58 Zonas Eleitorais (ZEs) em São Paulo, Capital, ficaram claros alguns pontos, dentre eles:

A polarização (Serra, Soninha) x (Haddad,Russomano);

A “terceira via” representada por Chalta.

Mais detalhes desta análise prévia podem ser encontrados em    http://www.advivo.com.br/comentario/uma-releitura-tecnica-dos-resultados-do-primeiro-turno-em-sp

Agora, acrescentando os dados do segundo turno, ou seja os percentuais de votos válidos por Zona Eleitoral de Serra e Haddad, tem-se um quadro que permite algumas especulações estatísticas, uma delas a destinação dos votos dos candidatos que não foram para o segundo turno (40,26% do total). Cabe citar que a presente análise não foi prejudicada pelo maior nível de abstenções no segundo turno (130.000 à mais) uma vez que o número de votos nulos e brancos caiu em cerca de 98.000 votos, e a diferença restante (32.000) representa apenas 0,5% do total de votos válidos, uma parcela pouco expressiva em termos estatísticos.

Aqui, uma breve descrição da análise feita:

Nossa ideia foi relacionar os percentuais de votos para cada candidato e zona do segundo turno com os percentuais do primeiro turno. Trabalhamos com 2 modelos estatísticos, ambos de caráter  exploratório e portanto aproximados: uma regressão linear múltipla e uma regressão com restrição nos parâmetros. Também fizemos algumas análises de correlação e fatorial, como retaguarda. A planilha com os dados está disponível aos interessados.

Obviamente que não temos a pretensão de considerar nosso estudo como resposta definitiva à questão colocada: como os votos migraram? Mas, certamente, algumas constatações despontaram.

Em termos de percentuais absolutos, ambos os candidatos, Serrra e Haddad, tiveram sua votação aumentada no segundo turno em todas as 58 ZEs. Com isso, assumimos que praticamente não houve troca na preferência entre os dois candidatos, Serra e Haddad, do primeiro turno para o segundo. Ou seja, com base nesta premissa, os votos de Serra (30,75%) e Haddad (28,98%) do primeiro turno foram mantidos e seus votos adicionais no segundo turno (Serra: 13,68% = 44,43%-30,75%; Haddad: 26,58% = 55,57%-28,98%) decorreram da migração de votos dos demais candidatos do primeiro turno (40,26%), assim distribuídos: Russomano (21,60%), Chalita (13,60%) , Soninha (2,65%) e Outros (2,41%).

Nossas análises mostraram que praticamente todos os votos de Russomano migraram para Haddad, apenas cerca de 18,85% dos votos de Chalita migraram para Haddad, e, com menor influência, 0% dos votos de Soninha e praticamente 100% dos demais candidatos também migraram para Haddad. Ou seja, independente de apoios políticos no segundo turno, Haddad “herdou” praticamente todos os votos de Russomano e somente 20% dos votos de Chalita! Esta constatação está em linha com as correlações observadas entre o acréscimo de votos para Haddad e as respectivas votações de Russomano e Chalita no primeiro turno, respectivamente 0,97 e 0,36, enquanto que para o acréscimo de votação para Serra, estas correlações foram -0,24 (negativa) e 0,62, também para Russomano e Chalita. Não quero afirmar com estes resultados que o apoio de Chalita no segundo turno tenha sido inóquo, mas apenas que a transferência de votos não ocorreu como o esperado! Parece também, que os votos herdados de Russomano, que manifestou neutralidade no segundo turno, estão muito mais relacionados à rejeição a Serra/PSDB nas áreas fora do centro expandido do que a alinhamentos ideológicos, o que é explicável em uma eleição municipal.

Com mais calma,  novas discussões a partir de contribuições de terceiros e mais tempo “acadêmico” para melhor elaborar os modelos e fazer novas análises, espero refinar o estudo. No entanto, creio ser um bom momento trazer estes resultados à tona e discutí-los mais amplamente.

 

Redação

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