Debate da conjuntura política brasileira, em Salvador, aponta impasses da esquerda

O jornalista baiano Jadson Oliveira tem divulgado no seu blog Evidentemente notícias e comentários sobre o ciclo de debates “Análise de conjuntura: entender a realidade para transformá-la” que teve início dia 22 de outubro e terá sua terceira edição, no Sindae-BA (Barris), dia 9 de dezembro (uma quarta-feira, depois duma terça feriado na Bahia).

 No texto abaixo Jadson Oliveira traz síntese da intervenção do vereador soteropolitano Silvio Humberto (PSB), que alerta sobre a desenvultura da ação política da direita sobre a juventude em detrimento da outrora maior capacidade mobilizadora da esquerda. O evento é coordenado por José Donizette, o Goiano (do Projeto Velame Vivo – PVV, movimento cultural da Chapada Diamantina, interior da Bahia), e pelo professor e advogado Carlos Freitas (da Comissão da Verdade da Faculdade de Direito da UFBa). Participam ainda da promoção o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e o Evidentemente – www.blogdejadson.blogspot.com

Sílvio Humberto, citando Ki-Zerbo: “Se nos deitamos, estaremos mortos” (Fotos: Jadson Oliveira)

SÍLVIO HUMBERTO NO DEBATE DA CONJUNTURA: “A SAÍDA NÃO ESTÁ NA FORMA CLÁSSICA DE FAZER POLÍTICA”

O vereador do PSB alertou para os riscos de perdermos a juventude hoje assediada por setores políticos conservadores e refletiu sobre como “envolver a juventude e encantar os jovens”.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do Blog Evidentemente – publicado em 18/11/2015

De Salvador-Bahia – Uma visão fincada na militância pós-ditadura, em especial no movimento negro, distinguiu a intervenção de Sílvio Humberto, vereador da capital baiana pelo PSB, das demais durante o que chamamos DEBATE DA CONJUNTURA, no último dia 11, no Sindae (Barris), conforme noticiamos aqui no Evidentemente, matéria cujo mote foi ‘O PT na berlinda’.

Sílvio não se referiu a experiências político-partidárias dos anos 60 e 70, mesmo porque é de geração mais recente, nem entrou explicitamente no tema predominante do encontro: a reconstrução do movimento popular e de esquerda no Brasil será feita “com, sem ou contra o PT?”

Ele introduziu uma reflexão diferente, bem condizente com a nova conjuntura do país desde que as jornadas de mobilização de junho de 2013 lançaram na arena política o protagonismo das forças de direita, inclusive nas ruas e no movimento popular, uma área de atuação que as esquerdas consideravam “sua”. 

Assim é que o representante do PSB chamou a atenção para a convivência no seu dia-a-dia com ativistas do prefeito ACM Neto e de seu partido, o DEM, disputando os espaços políticos das comunidades de bairros populares, disputando a juventude LGBT, disputando o movimento dos servidores, dos professores, etc.

Os debatedores Pery Falcón, Jorge Almeida (Macarrão), Sílvio Humberto e Celi Taffarel, tendo ao centro José Donizette (Goiano), que dirigiu os trabalhos
Os participantes no auditório do Sindae

É um cenário distinto após esses 13 anos de política de inclusão dos governos Lula e Dilma, quando “aeroporto virou rodoviária”, novos interlocutores entraram em cena e “parte do nosso discurso foi tomada pela direita”, conforme analisou.

Então, alertou para os riscos de perdermos a juventude hoje assediada por setores políticos conservadores; refletiu sobre como “envolver a juventude e encantar os jovens”, opinando que “a saída não está na forma clássica de fazer política”. Neste ponto, lembrou a bela e massiva “marcha do empoderamento crespo”, realizada em Salvador no último dia 7, inserida nas comemorações do mês da Consciência Negra (marcha coberta pelo blog – link aqui).

Quer dizer: é uma nova realidade nacional que se reflete também aqui em Salvador, mas que não é sentida – pelo menos no mesmo grau – por ativistas e acadêmicos mais afeitos às referências sobre a luta contra a ditadura e os ensinamentos de pensadores marxistas-leninistas. Como para marcar tal distanciamento, Sílvio Humberto começou e terminou sua breve exposição com uma frase dum pensador africano, o historiador Joseph Ki-Zerbo: “Se nos deitamos, estaremos mortos”.

Redação

1 Comentário

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  1. Debate da Conjuntura

    Meu caro Jadson,

    Presenciei os dois debates sobre a Conjuntura Política Brasileira. Louva-se a iniciativa. Entretanto o que me chamou a atenção foi a falta de perspectiva para uma saída da “crise político-econômica”.  Os debatedores, salvo raras intervenções, insistem em evocar o “Marxismo-lenininsmo-luxemburgo” como saída para tudo. Não vislumbrei uma fórmula nova de se buscar uma saída menos ortodoxa. Parece que ainda estamos em 1917 ou estamos até, por paradoxal que seja, negando a própria dialética tão bem discutida por Marx. Os dois debatedores que puxaram um pouco para “o novo” : Luiz Filgueiras e o vereador Sílvio, embora este último fixasse seu discurso de forma muito pontual, mas mesmo assim foi o que poderíamos dizer de novidade nas falas. Entendo que temos que contextualizar os temas, as formas ou fórmulas, se é que existem, para buscarmos uma saída. O modelo pregado por Marx serviu para aquela época; hoje é outra realidade. É claro que não podemos nos esquecer das teorias marxistas, pois,  é exatamente a partir delas que temos que construir novas estratégias para enfrentarmos as dificuldades. Todavia, nos valermos apenas  delas para tê-las como solução para tudo me parece exagero. Salvo melhor juízo, penso que temos enormes dificuldades de fazer contato com a juventude. Todos os participantes desses últimos debates têm idade acima de 58 anos. Ora, o que esperar somente das mesmas cabeças? É preciso sangue novo. Pelo menos é o que penso.

     

     

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