Deltan palestrou para investigada na Lava Jato e só comunicou CNMP dias antes da VazaJato surgir

Procurador participou de chats em que a empresa Neoway era citada em delação 2 anos antes de ser convidado para palestrar

Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – Deltan Dallagnol recebeu R$ 23 mil “líquido” por uma palestra para a empresa Neoway, que é investigada na Lava Jato em processo envolvendo a BR Distribuidora e o operador Jorge Luz. Segundo as mensagens de Telegram divulgadas pelo Intercept nesta sexta (26), o procurador integrava chats que citavam a Neoway como delatada 2 anos antes de aceitar o serviço.

Quando o processo contra a Neoway finalmente foi instaurado em Curitiba, ele não quis assinar a denúncia. E só comunicou ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) sua relação de “conflito de interesses” com a empresa investigada 5 dias antes de o Intercept começar a divulgar seu dossiê contra a Lava Jato.

A reportagem informa que Deltan não estava só interessado na palestra (cujo valor bruto era de R$ 33 mil), mas em fazer a Neoway oferecer equipamentos tecnológicos (de preferência, de graça) para um laboratório de combate à corrupção desenvolvido pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

Na tentativa de conquistar a empresa, Deltan até “chegou a gravar um vídeo, (…) enaltecendo o uso de produtos de tecnologia em investigações – a Neoway vende softwares de análise de dados.”

Somente 4 meses depois de fazer a palestra, Deltan escreveu num chat de procuradores que estava “passando o olho”, por acaso, nos arquivos relacionados a Jorge Luz quando ficou surpreso ao descobrir que a Neoway era citada em delação. “Isso é um pepino para mim”, admitiu aos colegas.

Na sequência, mandou mensagem tentado se justificar sobre a palestra e mostrando preocupação com os ataques que sofreria quando a relação viesse à tona.

Disse Deltan: “Na data da palestra, a empresa não era investigada no âmbito desta força-tarefa da Lava Jato e eu desconhecia que a empresa seria mencionada no futuro em colaboração premiada a qual seria firmada pela procuradoria-geral da República, em Brasília. No sistema que contém informações sobre delações da Lava Jato e em sua base de dados, não constava qualquer menção à existência de delação ou investigação sobre a empresa que pudesse indicar a existência de potencial conflito de interesses.”

Apesar do alarde todo, Deltan só procurou o Conselho Nacional do Ministério Público quase 1 ano depois de fazer a relação entre sua palestra e a empresa investigada. “Foi só em 4 de junho de 2019 – quase 11 meses depois – que Dallagnol enviou um ofício ao corregedor do Ministério Público Federal, Oswaldo José Barbosa Silva.”

Além disso, “Deltan enviou sua confissão voluntária à corregedoria apenas cinco dias antes do Intercept começar a publicar as reportagens sobre os chats da Lava Jato no Telegram, em 9 de junho passado.”

E, embora tenha se feito de surpreso, certo é que a Neoway já havia aparecido como empresa delatada na frente de Deltan pelo menos duas vezes, anos antes de ele fechar a palestra.

“A primeira vez foi no rascunho da proposta de delação de Luz, cujo documento foi criado em março de 2016, de acordo com os metadados. A segunda noutro documento, criado em abril de 2017, que continha novos depoimentos do lobista. Ambos foram enviados ao grupo de Telegram do qual Dallagnol fazia parte. Além disso, convenientemente o procurador deixou de mencionar ao corregedor que nos grupos de Telegram, que não eram uma ferramenta oficial do MPF, ela apareceu pela primeira vez em 22 de março de 2016 – ou seja, quase dois anos antes da palestra”, resumiu o Intercept.

No final das contas, a relação com a Neoway conseguiu afastar Deltan da investigação que mencionava a empresa. “Em agosto de 2018, os procuradores iniciaram a conversa sobre quem iria trabalhar nos casos relativos a Jorge Luz e a Neoway. (…) Deltan mostrou estar incomodado com a situação. ‘Quero distância rs Acho que Robito e Júlio tb não queriam’, postou o procurador.”

À Folha, Deltan disse: “Se soubesse não teria feito, e, sabendo, me afastei.”

A Neoway informou que “não prestou serviços” para o projeto dos procuradores de Curitiba.

Redação

6 Comentários

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  1. Só para registrar: José Dirceu está preso e condenado justamente por prestar serviços a empresas que, a posteriori, foram envolvidas na Lava Jato, num período em que ele sequer era servidor público ou agente político. Lembremos que nenhuma prova ou fato concreto foi apontado contra ele (lembrem do “não há provas mas a literatura jurídica me permite condenar”).

  2. Ele diz que apesar de não reconhecer a autenticidade (e agora também) a integridade das mensagens, deu a palestra e recebeu o tutu, mas não sabia que a Empresa que o contratou tinha sido citada na Lava Bosta.

    Teve um acusado de pedofilia que disse que não sabia que a sua vítima era menor de idade:

    “Uma decisão do Tribunal de Justiça inocentou nesta semana um fazendeiro de Pindorama (SP) preso em flagrante em 2011 por estuprar uma menina de 13 anos. A alegação para a absolvição é que a jovem era prostituta e que o réu não sabia que se tratava de uma menor de idade. O processo corre em segredo de Justiça e a procuradoria-geral do Estado já anunciou que irá recorrer da decisão dos desembargadores.

    O caso aconteceu em 2011, quando o fazendeiro, hoje com 79 anos, foi preso em flagrante com duas adolescentes, uma de 13 e outra de 14, dentro de sua caminhonete, em uma zona rural da cidade. As duas meninas disseram à polícia que haviam saído com o fazendeiro para fazer programa, tendo recebido R$ 50, a mais velha, e R$ 30 a mais nova. Após a prisão, o suspeito ficou detido por 40 dias e foi liberado.”

    Se o acusado de pedofilia pode se defender afirmando que não sabia que suas vítimas eram menores, porque o Deltan Dallagnol não pode se defender dizendo que não sabia que a Empresa que o contratou foi citada na Lava Jato?

    Todos são iguais perante a lei, apesar de nem todos serem iguais perante a justiça.

  3. O Pedófilo de Pindorama também disse que que só abusou sexualmente de duas menores porque não sabia que elas eram menores e quando soube que elas eram menores se afastou delas.

    Ministro do $TJ inocenta fazendeiro acusado de estuprar meninas
    Félix Fischer manteve absolvição de Geraldo Brambilla, preso sob a acusação de estuprar uma adolescente de 13 e outra de 14 anos

    https://noticias.r7.com/brasil/ministro-do-stj-inocenta-fazendeiro-acusado-de-estuprar-meninas-05022019

    Qual a semelhança entre Geraldo Brambilla e Dallagnol?

  4. O dilema do MPF é brabo. Ficar com este esqueleto que já não cabe em suas gavetas ou definir um destino que não seja uma prisão federal, pois vai ser mais disputado que doce em festa infantil.

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