Desenhando A Paisagem Com Idealismo – Camille Pissarro.

 

The New York Times

Williamstown, Massachusetts – Se você aparecesse em uma reunião de pintores franceses impressionistas, em meados da década de 1870, você receberia alguns gélidos olhares. Edgar Degas analisaria suas roupas. Paul Cézanne, suspeito por nascimento, faria cara feia. Claude Monet pesquisaria teus precedentes.
Então um homem ligeiramente mais velho com uma barba de rabino e com um chapéu de gaúcho daria um passo à frente e te estenderia a mão, “Camille Pissarro. Venha se juntar a nós, por favor.”

Ele apresentaria você a todos ao redor, te acomodaria em algum lugar e tornaria a conversar sobre o que ele normalmente falava: uma conversa contínua sobre arte, vida e revolução.

Pissarro foi, por seu temperamento e crença, um bom hospitaleiro – de pessoas e idéias. E há uma sensação envolvente no “Pissarro People” da Sterling e Francine Clark Art Institute, um show modesto, de coração aberto que demonstra o quão importante a presença humana significou ao trabalho de um artista, normalmente associado a pintura de paisagem.

Para a maioria de seus colegas, Pissarro entendia o que significava vir de fora, a incerteza das regras. Ele nasceu a milhares de quilômetros de distância da Europa em 1830, na ilha caribenha de São Tomas, na época uma colônia da Dinamarca. Seu pai era um comerciante de tecidos e afins de Bordeaux, sua mãe era filha de pais franceses, nascida no Caribe. Ambos os lados da família eram judeus sefarditas ( judeus originários de Portugal ou Espanha), Pissarro preferiu permanecer um cidadão dinamarquês por toda sua vida.

Mesmo em São Tomas já tinha o status de fora do normal. Seus pais não eram casados ​​quando ele nasceu. O que atraiu a censura dos judeus da ilha. Quando criança, ele frequentou uma escola Moraviana (protestantes oriundos da Rep. Checa e Boemia) local de crianças afro-caribenhas, onde ele falava inglês em vez de Frances.

Depois de ser enviado para uma escola perto de Paris por alguns anos para ser europeizado, ele voltou a São Tomas, em 1847, supostamente para se juntar ao negócio da família. Mas naquela época ele já possuía outros planos: havia decidido ser um artista. E realmente já era um, pintando e desenhando a vida na ilha em torno dele. Eventualmente se relacionou com o artista independente dinamarquês Fritz Melbye que o levou para o Haiti, depois para a Venezuela. Este foi o primeiro dos relacionamentos com vários pintores, todos foram transformativos para ele.

Ele era um aspirante a artista quando voltou à França na década de 1850. Mantendo como guia os exemplos de Corot, Courbet e Jean-François Millet, estudou com vários pintores em Paris, juntando um pouco de cada um deles, em um processo de amostragem e de adoção de influências que o levariam à crítica daquilo que era sua arte, estilisticamente, não mais do que uma soma de muitas partes.

Em 1860 ele começou um romance com uma jovem francesa católica chamada Julie, contratada como doméstica por sua mãe, que também havia retornado à França. Em 1861, nasceu o primeiro dos oito filhos do casal (eles se casaram uma década depois).

Até então ele já tinha se tornado profundamente envolvido com políticos revolucionários, especificamente de pensamento anarquista que defendiam radicalmente o igualitarismo, o anti-capitalismo, e uma sociedade anti-autoritária. Em parte porque este modo de vida era mais fácil se concretizar em um ambiente rural, Pissarro mudou-se com a sua crescente família para Pontoise, uma aldeia agrícola nos arredores de Paris, onde, apesar dos surtos de pobreza máxima, ele ficou conhecido por manter sua casa sempre aberta a todos os visitantes.

Seus convidados incluíam famintos, jovens artistas ambiciosos. Cézanne foi um deles. Ele e Pissarro formaram uma unidade simbiótica que trabalhava com força total entre 1872 e 1874, com Pissarro no papel de mentor. Depois formou dupla, por quase uma década com Paul Gauguin, e depois com George Seurat, Personalidades complicadas. Todos esses relacionamentos terminaram em rupturas, quando os jovens artistas seguiam direções que Pissarro não poderia ou não queria seguir. Mas enquanto os relacionamentos duravam, causavam uma profunda influência sobre todos os envolvidos e, conseqüentemente, sobre a arte moderna.

Pissarro, com suas habilidades diplomáticas e com visão de futuro, desempenhou um papel crucial organizando, também, um grupo de artistas que veio a ser conhecido como Impressionista, um nome que começou como um insulto e se tornou um símbolo da honra. Ele estava presente na primeira exposição impressionista em 1874, e nas sete que se seguiram, tendo sido o único artista do grupo original a aparecer, sempre leal à causa de vanguarda. E, caracteristicamente, ele foi o Impressionista que mais mudou o estilo, quando experimentava novas abordagens e teorias.

O que nunca mudou em sua arte foi a presença da figura humana e sua confiança na perfectibilidade humana.

O resultado, de pintura após pintura, foi uma visão do mundo como uma espécie de extensão da família, ou uma rede de parentesco, com círculos maiores refletindo para fora da própria unidade doméstica de Pissarro.

Ele pintava sua família com bastante frequência, alguns membros mais do que outros. Julie Pissarro (esposa) é normalmente vista como uma pequena figura que aparece nas paisagens, mas na apresentação de Clark, organizada pelo historiador de arte Richard R. Brettell, há uma bela imagem, à distancia possível de um beijo, do seu rosto, de perfil, olhando para baixo, enquanto ela costura. Há retratos separados de seus filhos nas várias idades, e quatro pinturas e uma gravura dedicadas à breve vida de sua filha Jeanne-Rachel, apelidada de Minette, que morreu em 1874 com a idade de onze anos.

Primeiro a vemos saindo da fase de criança; depois como uma jovem garota pousando em um jardim e também dentro de casa; Então, em uma composição estranhamente fora do centro, parecendo abatida, o cabelo cortado curto. Finalmente, em uma litografia fatalista intitulada “Criança Morta”, ela no seu estado doentio deitada em seu leito dois meses antes de sua morte.

Junto com estes retratos de membros da família aparecem outros, comparativamente francos e tenros, dos funcionários domésticos, descritos como se fossem da família também, parceiros de Julie Pissarro na execução dos serviços domésticos. E um clima de concentração sóbria estende para além da casa até o campo, onde homens e mulheres trabalham a terra, mas também tem tempo para conversar à sombra, cochilar na grama e comprar ou vender no mercado da vila. Neste mundo humano e equilibrado, as pessoas têm o que precisam e não querem nada mais.

O idealismo de Pissarro foi insistente. Ele queria que sua projeção de um futuro melhor fosse realizada, e tentou realizar isso no presente, através da sua própria prática da ética da generosidade. Firme ao encarar a censura política (ele era vigiado de perto pela polícia francesa devido aos seus históricos laços com os anarquistas), o anti-semitismo (perdoou isso em Degas) e o isolamento profissional por ser um artista que não nascera francês nem tinha cidadania francesa (um status que compartilhou com seu amigo Mary Cassatt).

.o estranho que havia dentro dele, o estrangeiro olhando para si, levou-o a reconhecer o que havia por trás dessa visão. No final dos anos de 1880 ele fez uma série de 30 desenhos à tinta Ilustrando a brutalidade da sociedade capitalista urbana. O álbum intitulado “ Turpitudes Sociales ” (“Desgraça Social”) tem o olhar audacioso e bruto das charges de jornais, feitos para duas das suas sobrinhas como forma de instrução política. Ele nunca mais fez alguma coisa igual a isso e nunca esse trabalho tinha sido exposto em algum museu até agora.

Por quê? Será que eles vão contra a índole de Pissarro, o utópico temperado? O homem que amava as crianças e pregava a esperança? O artista cujo trabalho já é considerado muito diversificado, estilisticamente, para ser grande? Na visão do Sr. Brettell, com a qual eu compartilho, os desenhos completam os seus quadros, arredondam o karma do insider-outsider de sua carreira (os quadros pintados na França-Caribe), fazem dele um artista para amar, mesmo que você questione alguns de seus pensamentos e exija mais da sua arte quando ela dá uma guinada para perto da brandura.

Na maneira mundana que diz: o que vai, volta; amor era o que ele ganhou até mesmo do mais difícil de seus contemporâneos. “Ele olhava para todas as pessoas, você diz! Por que não? Todo mundo olhava para ele também, mas negava-lhe. Ele foi um dos meus mestres e eu não vou negá-lo.” Assim escreveu Gauguin antes de  Pissarro morrer em 1903.

O reconhecimento final de dívida pelo mal humorado e recatado Cézanne foi mais simples ainda. Em 1906, pouco antes da sua própria morte, quando ele, internacionalmente, já havia se tornado um deus para os jovens artistas, se identificou em um catálogo da exposição de suas pinturas com uma humilde frase, como quem abaixa a cabeça dizendo “Paul Cézanne, pupilo de Pissarro “.

 “Pissarro’s People” runs through Oct. 2 at the Sterling and Francine Clark Art Institute, 225 South Street, Williamstown, Mass.; (413) 458-2303, clarkart.edu. From Oct. 22 to Jan. 22 it will be at the Legion of Honor Fine Arts Museums of San Francisco.

Links recomendados:

Slides show:

http://www.nytimes.com/slideshow/2011/08/05/arts/design/20110805-PISSARRO_SS.html?ref=design 

Quadros em ordem cronológica:

http://www.wikipaintings.org/en/camille-pissarro/portrait-of-jeanne-rachel-minette-1872

Vídeos indicados:

 

A exposição Pissarro’s People: 

http://www.youtube.com/watch?v=5llQMOl8ou8&NR=1

A filha Minette:

 

http://www.youtube.com/watch?v=WrBwMO1o1Qo

Os desenhos políticos do jornal:

http://leroyspinkfist.blogspot.com/

Texto original: 

http://www.nytimes.com/slideshow/2011/08/05/arts/design/20110805-PISSARRO_SS-6.html 

Redação

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