Desmatamento volta a crescer na Amazônia

Do Estadão

Desmate volta a crescer na Amazônia

Satélites do Inpe indicam aumento de 11% entre agosto e dezembro, revertendo tendência

03 de fevereiro de 2011 | 0h 00

Marta Salomon – O Estado de S.Paulo

Nos cinco meses que se seguiram à menor taxa de desmatamento da Amazônia em 22 anos, o ritmo das motosserras na floresta voltou a crescer. Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram aumento de 11% no abate de árvores entre agosto e dezembro de 2010, comparado ao mesmo período do ano anterior. 

Captado pelos satélites do sistema Deter, mais rápido e menos preciso, os números não permitem afirmar, por ora, que houve reversão na tendência de queda do desmatamento, registrada por dois anos consecutivos. Mas os dados já deixam a área ambiental do governo em alerta.

“Onde há fumaça, há fogo, mas vamos ter de esperar um pouco mais para ver se houve reversão da tendência de queda do desmatamento”, avalia Mauro Pires, diretor de Políticas de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. A preocupação maior é com os meses de seca na Amazônia, quando o ritmo das motosserras costuma, tradicionalmente, crescer: “A partir de março, a situação fica mais complicada e o Deter já sinaliza a preocupação”.

Entre agosto e dezembro do ano passado, os satélites registraram o abate de 1.267 km2 de floresta, o equivalente a 85% da área da cidade de São Paulo. No mesmo período de 2009, o mesmo sistema havia captado o desmatamento de 1.144 km2.

“Houve um aumento, mas a base de comparação ainda é prematura e a diferença é pequena”, disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Ele acredita que há motivo para preocupação porque estima-se que o Deter tenha se limitado a captar apenas uma parcela pequena, de cerca de 20%, do desmatamento real. Isso porque os satélites mais rápidos não alcançam o corte de árvores em áreas menores, que, somadas, concentram cada vez mais o maior volume da devastação.

Além disso, os dados referem-se ao período em que a Amazônia costuma estar coberta por nuvens, obstáculos às imagens de satélites. A maioria das áreas desmatadas captadas pelos satélites no final do ano tem mais de 10 km2 e sofreu corte raso, a forma mais radical de degradação.

Nos meses de novembro e dezembro, os Estados de Mato Grosso e do Pará registraram as maiores áreas de degradação da floresta. Em Mato Grosso, mais de metade da área estava coberta por nuvens e, portanto, invisíveis aos satélites. No Pará, a cobertura de nuvens ficou próxima de 80% da área do Estado.

A eventual interrupção na queda do desmatamento da Amazônia, depois de dois anos consecutivos, poria em xeque compromissos de corte das emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. A meta fixada em lei prevê a redução em 80% do ritmo de desmatamento da Amazônia até 2020, para cerca de 5 mil km2 de devastação da floresta por ano.

Meta. Em 2009, o País atingiu antecipadamente a meta prevista para 2015, ao registrar 6.451 km2 de abate de árvores. Mas uma nova redução é esperada pelas autoridades na taxa anual, que será medida até julho. O desmatamento é responsável pela maior parcela das emissões de gases de efeito estufa.

Preocupação
O desmate no Amazonas, Acre e Tocantins é o que mais deixa o governo em alerta. “A devastação se aproxima do coração da floresta”, diz Mauro Pires, do Ministério do Meio Ambiente. 

”Miopia” dos satélites aumenta preocupação

03 de fevereiro de 2011 | 0h 00 

Marta Salomon – O Estado de S.Paulo 

Um mesmo motivo impede cravar, no momento, a eventual mudança na tendência de queda do desmatamento da Amazônia e aumenta a preocupação com o ritmo acelerado das motosserras: os satélites do Inpe responsáveis pela detecção do desmatamento em tempo real são “míopes”.

Mais rápido, o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), orienta a ação dos fiscais da área ambiental. Serve de alerta. Foi esse sistema que registrou um aumento de quase 11% no ritmo do desmatamento na floresta nos primeiros cinco meses da próxima taxa anual. Mas o preço da rapidez é a pouca precisão.

Os satélites do sistema de alerta não enxergam além das nuvens e, mais complicado, só captam o desmatamento quando ele alcança dimensões acima de 25 hectares. No ano passado, mais de 80% do desmatamento registrado entre os meses de agosto de 2009 e julho de 2010 escapou da visão dos satélites.

O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, aposta no lançamento de novos satélites para aumentar a qualidade dos alertas. Mas isso só teria resultados a partir do ano que vem.

Mesmo contando apenas parte da história, os dados de satélites apurados entre agosto e dezembro do ano passado mostram que a queda do desmatamento na Amazônia não pode ser considerada um fato consumado.

Ainda exigirá esforços da fiscalização, não apenas nas áreas tradicionais de expansão do desmatamento, nos Estados de Mato Grosso e do Pará, mas também no Amazonas e também no Acre.

Vitrine do programa brasileiro de corte das emissões de gases de efeito estufa, a queda do desmatamento na Amazônia ainda responde quase sozinha pelas metas fixadas em lei para 2020. O detalhamento de ações de combate às mudanças climáticas em áreas como a produção de energia e a indústria vem sendo adiado. 

Luis Nassif

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