Dinheiro na nuvem? A história se repete na 10ª vez de Lula como réu

O enredo lembra um pouco a história do caixa virtual do PT com a OAS, ou a planilha italiano, da Odebrecht. Delatores "prometeram" propina, colocaram "à disposição". Na Lava Jato de Curitiba, o follow the money nunca existiu

Foto: Ricardo Stuckert

Jornal GGN – A grande mídia noticiou na tarde desta quinta (6) o indiciamento de Lula como réu em mais uma ação penal derivada de investigações que começaram na Lava Jato. Sob a batuta do juiz Vallisney de Oliveira, do Distrito Federal, a ação – a 10ª contra Lula – envolve delação premiada de Antonio Palocci e Marcelo Odebrecht. Os jornais e sites de notícias, contudo, são imprecisos quanto à imputação feita ao ex-presidente.

Estadão, que estampou a notícia em seu principal espaço na homepage, escreveu que Lula e Palocci “são acusados de terem acertado o recebimento de R$ 64 milhões”. Neste cenário, a Odebrecht, em troca de uma decisão no âmbito do BNDES, teria “disponibilizado” o dinheiro para campanhas do PT.

Na Folha de S. Paulo, Lula e Palocci “são acusados de terem recebido propina da Odebrecht” em 2010. Porém, o jornal não disponibiliza detalhes da denúncia que possam explicar como o ex-presidente teria recebido essa propina.

Em O Globo, Odebrecht “prometeu R$ 64 milhões a Lula e outros integrantes do PT em 2010 em troca de decisões políticas que beneficiassem a empresa.”

O enredo lembra um pouco a história do caixa virtual do PT com a OAS, ou a planilha italiano, por exemplo. Marcelo Odebrecht narrou que, naquela planilha, constava ao PT e Lula um “crédito” para campanha eleitoral ou despesas pessoais. O “follow the money” referente aos valores indicados como propina pelos delatores da Lava Jato jamais foi feito porque, segundo o ex-juiz Sergio Moro, é muito difícil encontrar rastros de um esquema de corrupção tão bem planejado.

A justificativa manca para a falta de provas nunca foi questionada na grande mídia, mesmo com o histórico de sucesso da Lava Jato em levantar contas pertencentes a diversos ex-executivos da Petrobras.

Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Renato Duque. Todos foram pegos com milhares de dólares no exterior, com direito a número da conta, nome banco e da offshore e, em alguns casos, até o grau de envolvimento das esposas e outros familiares. Mas até hoje a operação não teve sucesso em demonstrar como e onde o PT teria recebido ou gastado cada propina colocada à sua “disposição”, conforme relatado pelos delatores premiados – estes sim, de fato, com contas em paraísos fiscais.

Além de Lula, Palocci e Marcelo, estão no banco dos réus o ex-ministro Paulo Bernardo e executivos da Odebrecht. As acusações – também não especificadas – contra a deputada Gleisi Hoffmann tramitam em ação separada, pois seu foro é no Supremo Tribunal Federal.

Segundo o que a imprensa narrou até o momento, Lula e Palocci negociaram aumentar o limite da linha de crédito do BNDES para exportações de bens e serviços entre Brasil e Angola a “pedido” de Marcelo. O valor final teria sido de R$ 1 bilhão. Não está claro como a Odebrecht se beneficiou sozinha disso.

Em troca, Marcelo colocou à “disposição” do PT os R$ 64 milhões. Lula e seus ministros teriam cometido o crime de corrupção passivam, e o empresário, o de corrupção ativa.

Lula já foi condenado em Curitiba, por Moro, porque Leo Pinheiro afirmou que colocou à disposição do PT cerca de R$ 16 milhões. O ex-juiz alegou na sentença que era impossível rastrear ou investigar a existência desse “caixa virtual”, e tomou como verdadeira a suposição de que a reforma do triplex no Guarujá teria sido debitada dessa “conta-corrente de propina” – que não é conta de fato.

Se Lula era acusado de receber de fato ou de apenas ter à sua “disposição” uma propina milionária, para Moro tampouco fez diferença, porque a corrupção passiva, para ele, estava alicerçada no simples “concordar” com a oferta. A base dessa ideia? De novo: delação premiada.

A conferir: Moro fez escola?

Redação

10 Comentários

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  1. Imagino que ao receberem a informação da descoberta de mais um crime “com provas” conforme o relato da matéria, o corporativismo imoral do judiciário deve ter sacado do “arquivo de cortinas de fumaça” mais uma fake news das obcenas, debochadas e desacreditadas delacões premiadas de desesperados réus, que fazem de tudo para reduzir sua pena e ainda receber umapolpuda comissão, pelo bom serviço de acusar Lula.
    Que vergonhosa e indigna de qualquer crédito está se tornando o Poder Judiciário, com a complacência de todos os demais poderes da República.

  2. O objetivo central é manter Lula preso até a morte. Um dos objetivos secundários é manter a turba alimentada das fake news que sustentam o ódio. Ambos os objetivos foram alcançados.
    Enquanto isso, o governo vai conseguindo tudo o que quer no congresso e no judiciário. Só hoje lucrou a privatização do saneamento e das subsidiárias.
    De minha parte, espero que o fim do Brasil seja breve, detesto agonias. Quanto mais rápido, melhor para todos.

  3. O partido da lava-jato e seus procuradores militantes de direita fazem todo trabalho sujo de condenar sem provar nada num verdadeiro tribunal do crime, esse país vive a maior decadência jurídica de sua história, é assim que estamos vistos mundo a fora, um país fora das leis e tudo isso com supremo com tudo.

  4. “Bagulho” todinho tramado e combinado!
    Valisnada vai subir na hierarquia da lojinha.
    Paulo Bernardo tem explicação: os golpistas estão “por aqui” com a Gleisi, a última petista. Se vingam no marido.
    Só falta o povo lotar as ruas para impedir a continuidade do golpe que hoje conseguiu no Supremo de Frango licença para esquartejar mais um pouco a Petrobrás.
    … E diziam que a saúva era quem ia acabar com o Brasil.

  5. Qual será o absurdo que está por explodir, envolvendo Moro, Dallagnol, Bolsonaro ou algum cúmplice de primeiro escalão desses aí? Sim porque esse negócio de acusar Lula para os crimes do eixo PSDB-PSL-dólar ets. parecerem menores tá virando carne de vaca, hein? Toda vez, a mesma história…

    Vai ver alguém descobriu quem mandou matar Marielle, onde está o Queiroz, a propina recebida pelo Dallagnol dos EUA ou até, quem sabe, encontraram a conta de Aécio na Europa… Ah, não, a do Aécio já tinha sido encontrada, né? Err… a do Geraldo Alckmin, será? Um caso de amor entre algum Bolsonaro e um namorado? Que será que vem dessa vez?

  6. Fico acompanhando os blogues progressistas, que, em sua maioria, tirando este, são muito apressados em dar opiniões sobre algo que poderia ser. O caso mais emblemático foi o do HC do desembargador. Lula, por sua inteligência ímpar, disse na entrevista concedida a Eleonora e Joaquim de Carvalho, não ser otimista quanto aos fatos, porque os fatos se desenrolam diferentemente do esperado, referindo-se ao HC que foi impedido por Moro, entre outras autoridades, desmoralizando o Desembargador e a Justiça brasileira.
    Acho que também sou um pouco mais sábia nessas horas, em não devanear.
    Ao acompanhar as entrevistas de Lula, sinto um certo desconforto quando ele se refere a PF, como uma instituição que lhe deve desculpas, ou à Globo e Moro com todo o sentimento de mágoa, que diz ter, pelo que fizeram contra sua vida e de seus familiares.
    Pra quem sabe o que significam esses inimigos poderosos, pressenti que enquanto rolava a expectativa de Lula poder obter uma liberdade condicional, tendo no meio a tal entrevista, que algum coelho sairia da cartola desses canalhas. E saiu.
    Lula ter se tornado réu pela 10ª vez não é coisa séria. Envolver o marido de Gleisi, também não. Aí está a paulada em Lula, respingada na maior líder do PT, que vem tendo papel relevante em prol do seu Líder, preso politicamente, e injustamente.

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