Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Dividida, esquerda chilena disputa ida ao segundo turno com Piñera, por Maíra Vasconcelos

Dividida, esquerda chilena disputa ida ao segundo turno com Piñera

por Maíra Vasconcelos

Especial para o Jornal GGN

As duas alianças que formam os partidos de esquerda no Chile, Nova Maioria e Frente Ampla, disputam este domingo quem irá ao possível segundo turno das eleições com o ex-presidente Sebastián Piñera (2010-2014), da aliança de direita, Chile Vamos. Para a votação inaugural dos presidenciáveis, no próximo dia 19, os eleitores de esquerda estarão distribuídos entre os votos ao candidato da atual presidente Michelle Bachelet, da Nova Maioria, Alejandro Guillier, e a jornalista Beatriz Sánchez, da fórmula Frente Ampla, coalizão que é uma novidade nessas eleições. O Chile renovará também o Congresso, com votação para deputado.

Ainda que tudo indique um possível segundo turno no dia 19 de dezembro, entre Piñera e Guillier, a frenteamplista Beatriz Sánchez chegou a se aproximar do candidato de Bachelet na briga pelo segundo lugar. O que é bastante considerável se, até março deste ano, a Frente Ampla ainda não tinha anunciado oficialmente seu candidato. Agora, a poucos dias do primeiro turno, se discute, em caso de derrota, se a FA apoiaria Guillier, ou se haveria racha entre os partidos. Surgida em janeiro deste ano, a FA reúne onze partidos de esquerda, movimentos e organizações sociais.

Haverá uma reunião entre os frenteamplistas, logo após os resultados deste domingo, sejam quais forem, para que os deputados eleitos e líderes dos partidos que compõem o bloco possam discutir e decidir as atitudes para o segundo turno. E, independentemente da decisão de apoiar ou não a Guillier, em um eventual segundo turno, a preocupação de Beatriz Sánchez é concretizar a FA como principal bloco de oposição, seja do governo de Piñera, seja de Alejandro Guillier –  o candidato da centro-esquerda foi eleito por primeira vez em 2014, como Senador, e antes também exercia a profissão de jornalista. A coalizão Nova Maioria foi criada em 2013, quando Michelle Bachelet foi eleita com 62% dos votos.

Mesmo perdendo a chance do segundo turno, Sánchez considera necessário criticar a coalizão Nova Maioria para assim destacar as diferenças entre as propostas dos dois blocos de esquerda. Como líder da Frente Ampla, a candidata disse que não há volta atrás em sua decisão de se distanciar do jornalismo e que seguirá na carreira política. Em declarações à imprensa, Sanchéz tem dito que espera poder impulsionar uma agenda sobre direitos humanos, questões de gênero e os meios de comunicação.

Em conversas informais, Sánchez já estaria cogitando uma possível nova candidatura para presidente nas eleições de 2021, segundo o jornal La Tercera. Somente a FA poderia quebrar a polarização entre Nova Maioria e Chile Vamos, sendo que a centro-esquerda, por meio da coalizão Concertación, que hoje é Nova Maioria, governou o Chile desde a primeira eleição após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), tendo o ciclo interrompido, após 20 anos, pelo governo de Piñera em 2010.

O governo de Bachelet

A presidente Michelle Bachelet poderá terminar o mandato com 35% de aprovação, segundo recente sondagem do centro de pesquisa Cadem, publicada no jornal La Segunda. Historicamente, desde os anos 90, após a redemocratização, os presidentes chilenos assistem a uma melhorar no índice de aprovação ao final do governo, sendo que no meio do mandato há sempre uma queda na avaliação. Costumam comparar os índices de aprovação dos presidentes, no decorrer do seu mandato, com um U.

Talvez, um dos principais avanços do então governo de Bachelet, tenha sido a aprovação da lei, em agosto deste ano, que permite o aborto em três circunstâncias, estupro, risco de vida da mãe e inviabilidade fetal. Também o projeto de legalização do matrimônio gay, que foi enviado ao Congresso, destaca-se como iniciativas em prol dos direitos humanos.

Bachelet declarou “sou mulher, socialista, separada e agnóstica”. Em 2002, quando assumiu o ministério da Defesa, no governo de Ricardo Lagos, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo e também a primeira socialista, desde o governo de Salvador Allende, antes de ter sido também a primeira mulher eleita presidente no Chile, em 2006, quando do seu primeiro mandato.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

3 Comentários

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  1. Vida de Gado

    Nassif: temos ou não vida de gado? No Chile, um governo com 35% de aprovação urge substituição. Aqui, com 1% (oscilação de -2% da pesquisa), é “aclamado” por excelente pelos coxinhas, Forças Armadas (coautores da situação) e paneleiros de plantão, que dão respaldo ao Congresso e ao Judiciário. “Eh, povo feliz…”

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