Do Anjo de Fachin para o Demônio de Fachin, por Luis Nassif

Agora não adianta você abrir espaço para que eu, o Anjo, apareça apenas em artigos, através dos quais você pretende lustrar sua biografia. Sei que, nas horas decisivas, meu colega, o Demônio, fala mais alto. Mas, talvez, pensando no Céu da história, você caia em si e decida, ao menos uma vez, me ouvir.

No Ministro Luiz Edson Fachin coabitam um anjo e um demônio. O Anjo era dominante no período em que o grande jurista do pequeno escritório Fachin encantava o mundo jurídico com seus ensinamentos e práticas. O Demônio apareceu quando Fachin, Ministro do Supremo, e ex-titular do, agora, grande escritório, espantou seus contemporâneos com uma mudança radical no discurso expresso nas sentenças.

Ontem, em artigo na Folha de S. Paulo, o anjo que habita o jurista Fachin enviou uma mensagem sutil ao demônio que se apossou do Ministro Fachin. Como saiu na forma de artigo, ficou algo formal.

Esta semana, aproveitei o dia de Iemanjá para obter a carta original que o Anjo de Fachin enviou ao Fachin. Em negrito estão pedaços do artigo publicado hoje na Folha

Prezado Demônio que se apossou de Fachin,

No período da Lava Jato, alertei várias vezes e volto a alertar agora.

As eleições constituem uma espécie de jogo social, na esteira do qual o antagonismo político encontra um canal propício para a decantação. Servem, em suma, para assegurar a regência do Estado em torno da soberania popular. Assim é que a prévia negação de eventual derrota assume, no contexto da ordem jurídica eleitoral, um significado particular, singularmente grave, prejudicial e violento. Implica negar a dignidade do exercício de uma escolha efetuada com caráter vinculante.

Quando Aécio questionou o resultado das urnas, sabia-se que deflagraria um movimento de ameaça à democracia e aos avanços civilizatórios. Alertei você, na época, sobre a necessidade do Supremo ser o anteparo a tentativas golpistas.

Fui claro com você.

A aceitação condicionada da eficácia do sufrágio menospreza o poder da sociedade e aprisiona os indivíduos num passado superado, reconduzindo o cidadão ativo ao papel degradante de súdito.

Falei mais e você não me ouviu. Lembra quando alertei que

A esfera pública assiste à ascensão populista autoritária que cobiça o monopólio do futuro, promovendo a subversão dos saberes históricos, a manipulação da memória coletiva e a poluição do discernimento. O crepúsculo da política desponta num horizonte discursivo tóxico.

Cansei de alertá-lo que a destruição dos partidos políticos, com a Lava Jato, abriria espaço para a barbárie. Enfatizei a importância da política na construção do país.

É a política —sustenta Patrick Charaudeau— “que mantém no cerne da sociedade a esperança de um futuro melhor”, a fim de que seja possível a vida associada, o agir pacífico e construtivo, o entendimento e a comunhão. É imprescindível um estado de confiança social escudado no capital acumulado da civilização.

É da política que se espera, como descrevem as palavras de Zygmunt Bauman, “estimular a capacidade humana de imaginar um mundo melhor”, como passo inicial para que um estado de coisas mais justo e favorável possa, de fato, ser concretizado. Em sentido contrário, a banalização do discurso odioso e práticas linguísticas antipolíticas extrapolam as fronteiras da sociabilidade e erodem os pilares da harmonia coletiva.

De nada adiantaram os alertas que lhe diz. Fui enfático com você.

A demonização do dissenso e o empreendimento da política do inimigo rompem com os protocolos de uma democracia saudável.

E você, nada. Suas votações eram previsíveis, não decorriam da análise dos fatos julgados, mas de uma cruzada contra os inimigos, convalidando a demonização das eleições iniciada por Aécio. Falei muito mais.

A conformidade com as regras e, em especial, a aceitação dos possíveis resultados constituem condições de possibilidade de qualquer jogo. Aos participantes, antes de tudo, cobram-se respeito, honestidade e nobreza, sobretudo defronte ao revés. Sem a garantia mútua de aceitação da derrota, o jogo democrático perde a razão de existir.

Em vez de aceitar essa verdade, você preferiu entrar na onda de desmoralização da democracia, iniciada por Aécio Neves no próprio dia das eleições. Não havia nenhuma dúvida sobre a relevância das eleições.

Dentro do sistema democrático, as eleições constituem um momento chave, hora na qual se estende aos eleitores governados a oportunidade improrrogável de punir ou de recompensar os representantes, em conformidade com as suas ações.

Agora não adianta você abrir espaço para que eu, o Anjo, apareça apenas em artigos, através dos quais você pretende lustrar sua biografia. Sei que, nas horas decisivas, meu colega, o Demônio, fala mais alto. Mas, talvez, pensando no Céu da história, você caia em si e decida, ao menos uma vez, me ouvir.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Fachin tomou posse em 16 de junho de 2015. Portanto, após a eleição de 2014. É melhor mudar o texto, que, no contexto, é correto, mas tem essa falha de conteúdo. É provável que Fachin tenha feito campanha para Dilma em 2014.

  2. A contestação, os debates e o julgamento das eleições de 2014 se estenderam até meados de 2015.
    Provavelmente o citado Ministro participou desse processo a partir da data de sua posse.
    Por outro lado, ele havia sido indicado por Dilma Roussef num processo acirrado de disputa, prenúncio de um golpe e a consequente posse de um ex militar radical de extrema direita na Presidência da República.
    Em resumo, o excelentíssimo ministro ao invés de se manter fiel a Constituição e ao regramento democrático, missão que o cargo lhe impunha, preferiu, nesse período tumultuado e de grandes conflitos, ser o “nosso!” petit “Aha uhu”.

  3. A canalhice que foi a lavajato e seus patrocinadores, globo, já está devidamente esclarecido. O crime, seu tamanho, suas mais que perversas consequência e o desastre que foi ao país são hoje fatos concretos e inquestionáveis.
    Falta a cobrança. Dá até dó de quem vai pagar por algo impagável, e neste ponto eu já me antecipo uma ideia da pena da globo, que com seu silêncio eloquente e barulhento se condena. É um novo tipo de delação: pelo silêncio de quem diz que nada viu nem nunca esteve ali, nem sabe do que se fala ou trata (e é um jornal e um bando enorme de jornalistas).
    Mas o fachin, enquanto ele mesmo não esclarecer o que houve, será um mistério.
    Outro dia vi falar de uma filha do fachin, jurista ela, e me perguntei: de qual fachin ela é filha? Vejam o tamanho do desastre deste senhor.

  4. SÓ PRA CONTRARIAR.

    A esta altura da Vaza Jato II,nem o arcanjo Gabriel salva Fachin,o caganeira.
    A alma dele irreversivelmente já tomou o caminho dos infernos.
    Pelas vagabundagens que conscientemente praticou,deveria ser cozinhado vivo,preferencialmente sem sal,quando lá aportasse.

    Um outro cidadão tido e havido como corno de amante,já foi devidamente fisgado.
    Com aquela empáfia toda,onde só tem vez em um conglomerado mafimidiatico pior que ele,deve recolher o flap.
    Por certo,Luciano Huck já começou apagar as fotos que tirou com ele.
    Segundo informações já apagou 1001.

    Se todos os baites e terabaites forem publicados,as Organizações Globo serão desapropriadas por Jair,a bem do serviço público.
    Dr.Joaquim Falcão,uma espécie de Billy Buffalino da máfia global,já foi encontrado escondido em uma das nuvens onde estão armazenadas toda a cachorrada.

    Se se houvesse seriedade neste País deserdado de Deus,os pavões do Poder Judiciário chamavam a defesa de Lula para um armistício.
    Se a coisa continuar como vai,um desses Pavões pode ser encontrado na posição que Napoleão perdeu a guerra.

    Ah,tem um bigodudo global que é o analfabeto mor da Academia Brasileira de Letras,uma espécie do espírito de Ataulfo de Paiva,que não perde por esperar.Tá na rede.

    Miriam Leitão foi torturada nos anos de chumbo,segundo alguns.
    Pois bem,ela deveria sugerir que esse idiota filho dela,de acordo com a Lei de Defesa do Consumidor,devolvesse em dobro aos manés que caíram na lábia escrita dele,a grana que desembolsaram para comer o alface dele.Propaganda enganosa.

    No Projac algo que me diz,que não tá passando nem pensamento.

    Mudando um pouco de assunto,diz que sabedoria quando muita,vira bicho e engole o dono,reza a prima lenda.
    ACMNetto,o Grampinho,quando acendeu uma vela para Deus e outra para o diabo,a ambição não o fez medir as consequências.
    Essa pecha de “traidor”,vai carregar sob seus esqualidos ombros,pelo resto da vida.

  5. Eu tive o desprazer de conhecer inúmeros Fachins. Mas nenhum deles subiu tanto e prejudicou tanto nosso país. Fachin é um tipo banal, que habita a esmagadora maioria dos juristas formados no Brasil. Eles crescem vendo e combatendo injustiças, mas então algo acontece (a nomeação para um cargo, um casamento privilegiado, o sucesso como escritor de livros ou como professor, etc…) e voilà ocorre a transformação. O passado precisa ser enterrado. A injustiça se transforma num meio de vida rentável. E a distância social das pessoas comuns consolida a crença que eles alimentam de que são superiores e que merecem admiração e devoção independentemente de cumprirem ou não a legislação. Antes de Fachin ser Fachin, vários outros Fachins chegaram ao STF. Toffoli foi um deles.

  6. Tu, pessoa…
    Gasta um dia da vida
    Tratando a ferida do teu coração
    Tu, pessoa…
    Faz o espírito obeso
    Correr, perder peso, curar, ficar são
    Solta
    Com a alma no espaço
    Vagarás, vagarás, te tornarás bagaço
    Pedaço de tábua no mar

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