Duas novelas em diferentes tramas

 

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Simultaneamente, a televisão brasileira apresenta neste sombrio final de outubro, duas novelas que podem se classificar campeãs de audiência embora diversas sejam as emissoras que as apresentam e ainda mais diferentes seus objetivos. Ambas galvanizam opiniões e mobilizam audiência. Uma é a festejada “Avenida Brasil” na Rede Globo. Outra, o sinistro e medieval drama do julgamento do chamado “Mensalão.

 

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      De forma coincidente a televisão brasileira apresenta ao mesmo tempo, duas fortes atrações para seus telespectadores em coincidência que, raramente vista, concentra debates acalorados; emoções fortes; capítulos tumultuados e desempenho notável de seus atores que têm de um lado algumas dezenas de jovens e antigos atores contratados da maior rede de televisão do país, de outro, apenas onze deles, juízes capas pretas já entrados em anos, na antes pouco vista TV Justiça.

 

      Mas, de forma curiosa o desempenho dos atores dessas duas superproduções veem levados ao ponto máximo os seus ibopes pela promoção que a grande mídia dá a uma das interpretações e trama e o verdadeiro triller de suspense em capítulos que marca a outra. Ambas se assemelham, em muito, mantida a distância necessária entre interpretação dramatúrgica de uns e outros, pelo papel que apenas aspira a glória sob os holofotes.

 

      Encanta-nos e eletriza milhões a impactante interpretação de uma Adriana Esteves com as maldades intermináveis de sua repreensível Carminha. Da mesma forma provoca acaloradas discussões a loucura controlada do notável Zé de Abreu com seu Nilo, ou o maquiavelismo de Santiago personificado por um purista Juca de Oliveira ao lado de desempenho não menos notáveis dos atores da Rede Globo.

 

      Mas, nos decepcionam os desempenhos dos outros onze não atores, mas agentes de uma pretensa Justiça, que se esmeram sob as luzes das câmeras a lhes dar diária notoriedade em uma novela em que transformam cotidianamente a política brasileira em crime de um único partido, com um espetáculo dantesco e monocórdio transmitido ao vivo por uma emissora de TV estatal. Estatal por mantida com o dinheiro público, o mesmo que paga o vultoso salário desses intérpretes de uma novela de verdadeiro mau gosto.

 

      Se, em “Avenida Brasil”, o patrocínio é claro e aberto, no espetáculo do “Mensalão” os patrocinadores e incentivadores do show de mau humor não são claros e conhecidos nessa manipulação do vernáculo e distorção do senso de justiça. Tudo em favor de dúbios critérios de Direito com a transformação do que deveria ser o ritual de seriedade de um julgamento de vidas e pessoas.

 

Estes atores-juízes e seus patrocinadores, só a imaginação nos leva a vê-los manipular nas sombras as cordas do poder e a hipocrisia de intermináveis “data vênias” e “é como voto”.

 

      Em uma, a incorporação das maldades da personagem não contamina a figura da atriz convincente e suas peripécias que chegam a envolver um “lixão moral”, sem contaminar a figura do ator que apenas expressa seu dom da interpretação.

 

      No outro, ao contrário, o falso moralismo do chefe não esconde suas pretensões a uma carreira política em seu Estado, findado o atual papel ou o esgar debochado do malando carioca que pouco se coaduna com a sisudez do juiz. E há até aquel´outro de cabelo engomado do novel nerd-julgador inseguro e bajulador, a invocar fracassado Clark Gable dos meios judiciários.

 

E lá há também a figura do bedel falsamente ornado em lições de moral e até mesmo o  apressadinho que embola rapidez em atos à linguagem empolada e cadenciada de locutor de programas de horror não faltando até uma novel atriz que cora ao desempenhar papel que não visivelmente  não conhece.  

 

      Se na Avenida Brasil de João Emanuel Carneiro o enredo é criado na ficção, na outra, a do “Mensalão”, o escript segue a técnica medieval da inspiração da política-partidária dos julgamentos na fogueira da acusação questionável da culpa pelo domínio do fato e do aberto desprezo aos cânones da mais sagrada justiça. Tudo para não se dar ao réu a dúvida por absolvição e se faz sentença antes da prova.

 

Nesta novela brasiliense de ululantes adeptos nos mais conservadores estratos da sociedade  a ruptura dos direitos dos “hereges que ousam afrontar o poder das elites”, a sanha justiceira de um redivido Batman de capengante caminhar, faz redivivo um assustador Torquemada pela sua babante vontade de condenar por condenar. Condenar a qualquer custo.

 

E nesta novela, a cumprir os rígidos padrões de tempo de seus patrocinadores na tinta dos jornalões, tudo é feito no tempo marcado para mudar ânimo de voto e resultado de urna, tal a pressa com que se decidem vidas e futuro.

 

      E nos dois casos, somos todos as marionetes nesse mundo de ilusão. Mas, marionetes a pagar a cara produção em Brasília e a assistir no outro caso, de graça, as desventuras da avenida carioca.

 

Aquela, de Brasília, é usada como maior atração de longos momentos em canais pagos de TV onde sequer nos poupam de assistir a essa nauseante exposição das entranhas da Justiça com a visão nauseabunda de juízes que, por homens e mulheres, são passíveis de levar ao seu ofício os rancores e ódios acumulados a ponto de mudar valores e conceitos adoçando-os no latim de academia.

 

Nesta triste e macabra novela feita com dinheiro dos cofres públicos e patrocinada nos porões onde se gestam ditaduras e algozes, há apenas o prazer do momento da glória fugaz de atores e atrizes que não se envergonham de seus papéis diante de uma nação que apenas lhes cobra a seriedade e o senso de equidade e justiça.

 

Avenida Brasil já tem seu desfecho programado para este fim de semana. A outra foi milimetricamente dosada e deve coincidir pelas dores de coluna de seu principal ator com o fecho do segundo turno das eleições para nelas influir, mesmo que tenhamos todos que ver que ali  “os escrúpulos foram ás favas”.

 

E continua a farsa. O próximo capítulo estará em destaque nas telas da Globo ou nas enraivecidas manchetes da Band ou na dubiedade da emissora do Bispo, tudo para nos dar o circo de cada dia, na evocação sanguinolenta e macabra da Roma de antanho, quando se esquartejavam em público criminosos e opositores do Imperador ou do mandante da hora.

 

O pão, do dueto panis et circenses, nos chegou por outras mãos e mentes glorificadas publicamente, mas que agora são estigmatizadas na novela que condena um país e seu sistema político.

 

E julgamento não é espetáculo de circo como o quer o não tão Egrégio Supremo Tribunal Federal que, pelos menos por pudor, devia guardar a serenidade e a isenção de seus julgamentos intramuros e não fazer de uma questão criminal o enredo torto de um novelão hondurenho de quinta classe

 

E esse novelão, infelizmente,  não é ficção….  

 

 

Por: Carlos Alberto L. Andrade (*)

jornalista, advogado e escritor

 

 

 

 

 

 

 

 

Redação

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