“É hipocrisia abrir shoppings e ignorar as escolas”, diz ex-secretário Wanderson Oliveira

Ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde diz que reabertura de escolas deve se dar em 2021, mas que planejamento precisa começar o quanto antes. "Não podemos esperar pela vacina"

Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – O epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, disse em entrevista ao jornal O Globo desta sexta (14) que não é possível esperar que a população brasileira seja vacinada para reabrir as escolas.

Segundo ele, a reabertura deve ser um plano para 2021, mas para criar as condições mínimas de segurança, escolas, governos e a sociedade civil deveriam começar o planejamento o quanto antes.

Oliveira, que saiu do Ministério da Saúde após a exoneração do ex-ministro Nelson Teich, elaborou, à luz das experiências internacionais, um plano de ação a pedido da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar). Ele não recebeu dinheiro pelo estudo.

O documento aponta uma série de medidas que podem ser implementadas dentro das escolas. Mas o cenário para a retomada só é viável quando há esforço para reduzir a transmissão do vírus. E isso só é possível com testagem em massa, rastreamento de infectados e seus contatos, e isolamento.

Mas o Brasil não tem feito testagem em larga escala e, ao contrário de tentar romper com as cadeias de transmissão do coronavírus, flexibilizou a quarentena reabrindo bares, shoppings e restaurantes.

“Mesmo que não se abram as escolas neste momento, é preciso que se discuta como, quando e em qual contexto abrir. Não estou advogando pela abertura ou fechamento. É um exercício para o ano que vem. Não dá para esperar por uma vacina. A questão é: o que faremos em 2021 para recuperar o ano que as crianças perderam? Não pode ser tornar um problema sindical”, disse Oliveira. “É hipocrisia abrir shoppings, bares e ignorar as escolas. Não faz muito sentido”, acrescentou.

PLANO DE AÇÃO

Entre as medidas que devem ser implementada pelas escolas está a limitação de alunos por sala de aula, o escalonamento de horários de entrada por turmas, a organização de atividades em grupos fixos e a higienização de espaços duas vezes por dia. A triagem de alunos com sintomas atípicos, higienização das mãos a cada duas 2 horas e isolamento de sintomáticos também estão no plano.

“A escola vai avaliar, por exemplo, se retoma em março com força total ou se começa em janeiro. Começa com 10 alunos. Um turno com professor presencial, o professor vai ganhando ritmo, aluno vai começar a entender, depois pode passar para 2, 3 dias por semana e vai construindo um processo de convivência social com segurança.”

Além disso, entre as medidas que funcionaram no exterior estão “recreios escalonados” e “espaço reservado para crianças com sintomas gripais”.

Oliveira defende ainda que a retomada das escolas privadas não pode se dar antes das públicas. É preciso haver um “alinhamento”, “para não agravar as desigualdades já existentes no sistema educacional”, explicou O Globo.

“Se não discutirmos que uma escola não tem pia para lavar a mão, nós vamos esperar a pandemia acabar para descobrir que não tem? É preciso debater agora”, disse o ex-secretário.

Redação

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