E-mails de Miller indicam que em março a JBS já negociava com o MPF

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Contrariando informações iniciais do próprio procurador-geral, novos indícios devem comprometer definitivamente a delação da JBS
 
Jornal GGN – Ao pedir a prisão do ex-procurador e então advogado do acordo de delação da JBS, Marcello Miller, o procurador-geral da República anexou trocas de e-mails em que Miller informa a representantes do escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados que tinha conhecimento sobre o acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF) em março: dois meses antes de ser homologado.
 
As novas revelações desmentem comunicado do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que ele teria sido procurado pela JBS somente em abril. A declaração do PGR foi emitida quando o noticiário passou a caracterizar a negociação dos irmãos Batista como “ultrapremiada”, pelos benefícios obtidos. No texto ironizando a reação da opinião pública, intitulado “‘Crimes graves’: sem acordo de delação dos irmãos Batista, país seria ainda mais lesado”, Janot disse: “Em abril deste ano, fui procurado pelos irmãos Batista” (confira abaixo*).
 
Entretanto, as trocas de e-mails anexas para pedir a prisão de Miller, juntamente com a dos executivos Joesley Batista e Ricardo Saud, revelam que, ainda em março deste ano, o então procurador atuava no escritório e que a JBS já encaminhava a negociação do acordo junto ao MPF. As provas trazidas poderão comprometer definitivamente a delação da JBS.
 
Em um dos e-mails, divulgados inicialmente pelo portal JOTA, Marcello encaminha uma resposta a Camila, pessoa não identificada, informando que os empresários da J&F já negociavam com os procuradores o fechamento do acordo: “Já sobre a empresa, tenho [comentários]: 1) eles já estão conversando com o MPF”.
 
O ex-procurador também citava “risco elevado” para a empresa JBS, como investigada, em cenário internacional. “As investigações em curso podem resultar até em prisão dos controladores, com a contingência de a empresa poder vir a fazer acordo”. A comunicação foi enviada no dia 16 de março. O acordo foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal em maio deste ano.
 
Reportagem da Folha de S. Paulo também cita outros e-mails, um deles datado de 5 de março, em que a advogada Esther Flesch encaminha uma mensagem do diretor jurídico da JBS a Miller. Naquele dia, a advogada havia pedido a opinião do então procurador sobre uma proposta do escritório de “assessorar a JBS na avaliação de riscos referente a assuntos de ‘compliance’ de diversos temas, inclusive anti-corrupção”.
 
“Eu serei a sócia responsável pela conduçäo dos trabalhos, e incluirei na equipe outro(s) sócio(s) ou advogados conforme for apropriado”, afirmava Esther ao diretor da JBS, anexando um documento intitulado “Termos Gerais de Contratação”.
 
Em resposta publicada neste domingo (10), Miller afirmou que “jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei” e que “não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot”. O ex-procurador informou que havia pedido a exoneração do cargo no MPF ainda no dia 23 de fevereiro deste ano e que essa informação foi “circulada imediatamente” dentro do órgão.

Marcello Miller solicitou a exoneração do MPF em fevereiro deste ano, mês em que teria sido convidado pela JBS a ocupar o cargo de diretor global de compliance da companhia, no departamento anticorrupção. Decidiu permanecer no escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados, e teria atuado na negociação do acordo da JBS com o MPF antes de deixar o posto, conforme revelam agora as mensagens.

* Acréscimo de informações: Em entrevista concedida a Roberto D’Ávila, da GloboNews, em julho deste ano, Janot entrou em contradições com os indícios agora levantados e mostrou que a delação da JBS deve ser anulada:

“Essa gravação [da conversa de Michel Temer com Joesley Batista, no dia 7 de março] foi combinada com o Ministério Público?”, questionou o jornalista. “De jeito algum. Toda colaboração tem que ser espontânea, tem que ser voluntária. Se o Ministério Público provoca colaboração, ele está anulando toda a colaboração. Essas gravações foram feitas uns 30 dias antes de que a gente começou a entabular as negociações com essas pessoas”, respondeu o PGR.
 
“O delator não combinou nada com o Ministério?”, insistiu D’Ávila. “Zero, não combinou absolutamente nada”, havia dito Rodrigo Janot.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Então

    o janote que se considerava o enrabador mor da republica se vê entalado pelos açougueiros e um enésimo pinto de seu braço direito. 

    E sai para tomar uma cerveja no boteco e encontra o advogado dos delatores e antigos aliados(SIC) no dia seguinte ao pedido de prisão encaminhado pelo pavão do MPF.

    Sério gente, nossa realidade supera, e muito, a mais elevada fantasia. 

  2. Janot

    Se Janot fosse o Lula, já estaria preso. E com provas!

    Se lê nas entrelinhas: trabalha-se para o GOLPE e pelo GOLPE do meio dia até a meia noite. (E vice versa). Com competente supervisão externa. E com o apoio total do PLIMPIG.

    Neste Brasil, nenhuma das hipóteses é verdadeira e quase ninguém é santo. Resta a Dilma.  E o Lula. E o Dirceu. E o Genoino. E o Gushiken (in memoriam). Contra estes não há provas, apenas mídia e convicções.

    Quem mais? …..o Alckmin. Este é santo mesmo. Pelo menos na planilha da Odebrecht!!!!

  3. E ainda privilegiam esses

    E ainda privilegiam esses concurseiros com o beneficio da dúvida,

     

    não tem santo, agora mesmo o de sempre na maior cara de pau quer salvar o golpisto e o mineirinho…….a falta de vergonha na cara n]ao é deles, eles são “profissa”, e sim nossa de aceitar que façam essas safadezas sem nenhum pudor…..

  4. Pessoal, na boa, vamos

    Pessoal, na boa, vamos acordar para a vida.

    O camarada é o perfeito concurseiro. Bem preparado, obviamente, mas continua sendo um CONCURSEIRO !!!!!

    Ou seja, o principal objetivo dele é trabalhar o mínimo possível, obtendo o máximo possível de ganho financeiro.

    Portanto, obviamente que ele só iria sair da carreira de procurador aonde tira, por baixo, em um mes muito ruim, 35K líquidos, se houvesse a certeza absoluta de que ele iria sair ganhando MUITO MAIS.

    Sem contar que tem duas férias por ano, recessos, horário flexível, feriados emendados, regalias várias e várias e provavelmente outras benesses que nunca iremos descobrir.

    Jogando por baixo, o mínimo do mínimo que ele teria que aceitar para sair seria uns 10 M, isso de “luvas”. Poderia ser muito mais que isso.

    Alguem é mesmo néscio o suficiente para imaginar que ele deixaria uma mamata dessas para “trabalhar” em um escritório ganhando apenas um pouco mais, sem nenhuma garantia de que isso iria continuar ? Mais fácil o Moro absolver o Lula.

    Pessoal, ele intermediou um acordo em que os delinquentes, multi-bilionários, sairem ilesos, nunca houve acordo assim antes, além do que houve o acordo de 20 bilhões em tantos anos, sem contar o tal abatimento que o Nassif matou, de 8 bilhões.

    Façamos a conta, o que são 10,20, 30 ou 50 M, em relação a 8 B ? É uma ninharia….

    Acham mesmo que um concurseiro é burro ?

    Só quem não conhece a raça.

     

     

  5. A negação freudiana

    Conforme mostrado por alguns dos juristas, acadêmicos e estudiosos que assinam artigos do livro “Crônicas de uma sentença anunciada”, Freud mostrou que muitas vezes a negação diz o exato oposto do que se nega de forma explícita. Os articulistas destrincharam e desnudaram a sentença excretada por Sérgio Moro, para condenar o Ex-residente Lula, mesmo sem qualquer prova de prática ilícita ou criminosa por parte do Ex-Presidente da República. As mais de 60 laudas usadas pelo torquemada das araucárias para se justificar mostra que o criminoso, se existir no caso, é ele, Sérgio Moro, ou o órgão acusador, o MPF.

    Rodrigo Janot com suas cagadas e crimes em série diz mais quando nega do que quando afirma de forma dissimulada, hipócrita, fingida e cínica. Desde o início fiquei incomodado com a forma benevolente/leniente com que Luís Nassif tratou Rodrigo Janot e Marcelo Miller. Os indícios de prática criminosa por parte de ambos (para não dizer de todos os lavajateiros) sempre foram fortíssimos, indiscutíveis.

    Não se salva ninguém nessa ORCRIM lavajateira, claro está. O STF está na lama e na fossa, assim como o TRF4 e o STJ. A PF está eivada de facções criminosas, como demonstrou o bravo repórter Marcelo Auler, ao denunciar, com fartura de provas, os crimes cometidos pelos delegados do núcleo curitibano da Fraude a Jato; importante lembrar que esses delegados criminosos tiveram cobertura do núcleo curibano lavajateiro do MPF e do “juiz” Sérgio Moro.

    Os dois tucanos mais descarados no STF – Gilmar Mendes e Alexandre de Moaraes – trabalharam e trabalham para que seus correligionários fiquem impunes. Ou alguém tem dúvidas dos sorteios viciados que coloca Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes como relatores de processos contra tucanos que eles blindam e protegem, como é o caso de Aécio Cunha e José Serra?

    O PIG/PPV, assim como a PGR, fingem que pretendem derrubar Michel Temer e as quadrilhas que o acompanham e apóiam, mas só convencem os tolos; afinal, foi o trabalho de ORCRIMs midiáticas e institucionais (enquistadas e encasteladas no ‘sistema de justiça’), de que a Fraude a Jato é exemplo maior, que promoveram o golpe de Estado, seguindo orientação do alto comando internacional, que fica nos EEUU.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador