É preciso disputar territórios ocupados por igrejas e dialogar com evangélicos, diz Esther Solano

Uma série de fatores ainda garantem um certo predomínio do bolsonarismo sobre as esquerdas, e um deles, na visão de Solano, é o projeto territorial e político das igrejas neopentecostais

Publicada originalmente em 17/09/2020

Jornal GGN – Talvez o maior desafio que o campo progressista tem pela frente, se quiser enfrentar o fenômeno do bolsonarismo, é aprender como disputar os territórios que foram ocupados nos últimos anos pelas igrejas pentecostais e neopentecostais. É o que avalia a socióloga e pesquisadora do bolsonarismo, Esther Solano, em entrevista ao Cai na Roda, o programa semanal das jornalistas do GGN no Youtube.

Em parceria com a pesquisadora Camila Rocha, Solano desenvolveu uma pesquisa batizada de “Bolsonarismo em crise?”, em que conversou com bolsonaristas moderados sobre a eleição de Jair Bolsonaro e o seu governo.

Segundo Esther, esses bolsonaristas moderados estão em crise com o presidente, mas admitem que podem reelegê-lo em 2022 por falta de alternativa confiável no campo progressista.

Uma série de fatores ainda garantem um certo predomínio do bolsonarismo sobre as esquerdas, e um deles, na visão de Solano, é o projeto territorial e político das igrejas neopentecostais, que vem sendo construído há muitos anos – e hoje está dentro do governo, na figura da pastora Damares Alves, por exemplo.

Conforme os partidos de esquerda se afastaram das periferias, essas instituições religiosas foram ocupando os espaços vagos e hoje são elas que dão amparo material, emocional e simbólico à população vulnerável.

É preciso disputar esses territórios ocupados pelas igrejas e dialogar com o segmento evangélico, diz Solano, lembrando que, de acordo com o IBGE, em uma década, os evangélicos serão a maioria dos brasileiros declarados religiosos.

“Não me ocorre outra forma que não seja fazer a disputa territorial. Essas pessoas mais vulneráveis dizem que a única instituição que está dando uma proteção material, emocional, simbólica, é a igreja. Temos de disputar o trabalhador. E o mais difícil: essa disputa simbólica de valores, que essas igrejas constroem muito bem. Como disputar a questão de gênero? Como dialogar com a mulher negra, periférica, porque a manipulação do tema feminismo, dos temas identitários nas mãos da Igreja é fortíssimo.”

Sem essa disputa, que envolve também mais tolerância com a agenda de costumes ou agenda moral dos evangélicos, será muito difícil as esquerdas ganharem uma eleição novamente.

“Não tem outra saída. Se a gente não dialogar com a pessoa conservadora mais moderada, uma direita, mais extrema, vai conversar com esse conservador moderado, e aí a gente vai jogar no colo dessa direita mais extrema o conservador mais moderado que poderia estar dialogando com a gente”, disse.

Assista a um trecho da entrevista abaixo. A íntegra está disponível aqui.

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“Sem dúvidas há uma crise no bolsonarismo moderado”, diz Esther Solano ao GGN

 

Redação

26 Comentários

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  1. Pergunta, e esses evangélicos moderados querem apenas conversar ?
    Ou como significa o verbo evangelizar , converter alguém ao evangelho ?
    Em suma, eles não querem ouvir, querem ser ouvidos.

  2. Tem muita fórmula pronta sendo apresentada para esse “diálogo” com os evangélicos; em geral, besteiras. A nossa esquerda tem muitos dos defeitos da pior direita, e é isso que afasta os evangélicos sinceros – em geral pessoas da classe social média baixa – dos grupos mais progressistas. A classe média alta de esquerda tem preconceitos que a direita também tem, só que disfarça. Essa hipocrisia não engana ninguem. Outro aspecto é a burrice orgulhosa de certa esquerda. A Dilma é um exemplo: ela NUNCA falou “graças a Deus”, “queira Deus”, “que Deus nos abençõe” e essas expressões que o povo brasileiro usa e abusa e que os políticos usam ou adotam. É um tipo de esquerda que não é ateu nem agnóstico; é burro arrogante, que acha que não crer em Deus ainda é moda ou atestado de superioridade intelectual. Em geral, no fim da vida, ou quando enfrenta uma situação extrema, esses tipo vira mais carola do que velhinhas de sacristia, ou abraça tudo o que é crença esotérica ou superstição. Dilma – de quem gosto – nunca entendeu que a sua postura arrogante com relação a quem acredita em Deus é um desrespeito, especialmente com as pessoas pobres e humildes. Por isso ganhou um impeachment sem crime. O filme que está passando na NetFlix de nome “A rede do ódio” é bastante exemplar do comportamento arrogante de certa esquerda que se acha. Assistam.

    1. Sr. Ribeiro, discordo: é justo o oposto. Há discriminação histórica e hostil contra ateus, agnósticos e “pagãos” nesta república. Basta perguntar a qq candidato aos Executivos sua religião e ele responder que é ateu ou agnóstico: jamais será eleito!! A Constituição é clara: o Estado é laico e o presidente é chefe de Estado, não de governo, ou seja, o presidente não deve glorificar qualquer deidade, no entanto ele PODE, SE QUISER. As seitas (neo)pentecostais desinformam, pois tem projeto de poder, se tornaram PARTIDOS POLÍTICOS e isso é que se torna incrível aos crentes. Lula e Dilma deveriam ter revisto a imunidade tributária dessas seitas, criminalizando-as como charlatanismo e exploração de fé.

  3. Com certeza é preciso disputar territórios ocupados pelo fundamentalismo evangélico e lutar nas redes sociais contra o fascismo-bolsonarista e o fascismo-evangeguismo dos Malafaias, W. Sandiabos, e outros ogros. É difícil conversar com fundamentalistas fanáticos. Os pastores já fizeram a lobotomia neles. Nenhum argumento racional é capaz de convencê-los. Mas há pessoas boas e intelectualmente honestas entre os evangélicos (os ainda não lobotomizados). É preciso dialogar com esses. Mas, infelizmente ando pessimista. Apesar de achar que temos lutar, acho que estamos rumando no sentido de virar uma nação teocrática. Um Evangeguistão. Seria possível evitar isso? Tomara que eu esteja errado e não nos tornemos uma nação de fanáticos religiosos. Mas que ando pessimista, ando…

  4. Talvez fosse melhor conversar com quem conhece o funcionamento de/por dentro, já que o próprio uso do termo evangélico, mostra reducionismo e pouco entendimento, já que em tese, todo aquele que se declara cristão, é evangélico. O pastor Ricardo Gondin, da igreja Betesda, na capital paulista, está na vida teológica desde 1977, ano de fundação da IURD e quando costumavam vir os famosos pastores midiáticos da época, como Jimmy Swaggart, Billy Graham, dos EUA e o canadense Robert McAlister, superintendente geral das Assembleias Pentecostais do Canadá e dado como o mentor espiritual de Edir Macedo. O pastor Gondin formou-se nos EUA à época e foi inicialmente simpatizante do “estilo” neopentecostal, tendo inclusive sido o interprete do Jimmy Swaggart em suas pregações pelo Brasil. Vale uma conversa e entrevista, já que o pastor Gondin tem visão crítica e histórica e ainda hoje acompanha os passos neopentecostais. O pastor explica como funciona a fé e no que ela é manipulada, inclusive no que se fundamenta a filosofia da prosperidade, meritocracia, aceitação de atos corruptos para formar o “reino de Deus”, No ano de 2015, o pastor Ricardo Gondim escreveu e postou na internet, seu texto intitulado, “Deus nos livre de um Brasil evangélico”, antevendo situações que estão ocorrendo na atualidade. O jornalista Bruno Torturra (Estúdio Fluxo) o entrevistou e o pastor faz uma leitura teológica e biográfica da evolução do neopentecostalismo brasileiro. As teologias em disputa, a construção do Reino de Deus no Brasil, o apocalipse como parte do projeto. O suspeito volume financeiro das igrejas, a ideia de “Deus no comando” e como ele, dissidente do movimento iniciado no final dos anos 70, enxerga a espiritualidade evangélica em 2020. E menciona sobre o crescimento do fundamentalismo na Igreja Católica, além do fato de na Rússia, o g Putin estar utilizando a Igreja Ortodoxa em seus lances.

    Link para o texto de 2015
    https://www.ricardogondim.com.br/meditacoes/deus-nos-livre-de-um-brasil-evangelico/

    O Apocalipse Segundo o Brasil – com pastor Ricardo Gondim (RECOMENDADA PARA QUEM QUER ENTENDER MELHOR A FORÇA POR TRÁS DA FÉ NA RIQUEZA MATERIAL E OS SINAIS QUE PRECISAM MANTER ÀS VISTAS DO POVO)
    https://www.youtube.com/watch?v=3JJF795goGM

    1. Avisando já que a visão do pastor Gondim para o futuro, com relação ao tema, até pelo seu conhecimento detalhado, é pessimista. E no vídeo da entrevista ele menciona porquê?

  5. 23:59 “Militares fascistas e evanjeques manipulados.”
    24:00 “Queremos dialogar com vocês, militares e evangélicos.”
    Incluí os militares porque a situação é similar e para ressaltar que a coisa não funciona de imediato. Seria necessário, em primeiro lugar, eliminar o desrespeito do discurso esquerdista e manter a nova atitude por um bom tempo ANTES de tentar o tal diálogo.

    O Brasil é conservador. O mundo é conservador, até os naturais afetos familiares atuam nesse sentido. Pareceu que não por algum tempo porque o discurso identitário dominou a imprensa (e a esquerda), mas as redes fizeram a verdade vir à tona. Como no caso anterior, seria necessário se separar dos identitários antes de tentar o diálogo. Um partido como o PDT talvez consiga isso. PT e PSOL é muito difícil.

    O tradicional discurso esquerdista de abandono da ilusão individualista e da busca de soluções coletivas pode ser aproximado da fraternidade cristã. Mas ele faz mais sentido para um padre, que é uma espécie de assalariado. Já cada pastor é um empresário de si mesmo e, até por coerência, não permitirá que o discurso anti-individualista prospere entre seus fieis. Como a esquerda resolverá esses problemas? Que propostas ela levará ao evangélico?

    1. Onde está essa arrogância do governo Dilma? O governo dela sempre diálogo e fez concessões aos evangélicos. Se ela errou, errou no sentido oposto, pois cancelou as cartilhas sobre educação sexual por pressão desses segmentos. O que nada adiantou, porque seu governo passou a ser alvo de fake News sobre kit gay e mamadeira “erótica”.Agora você queria que Dilma ostentasse uma crença religiosa que não tem? Você queria que ela mentisse? Aí seria taxada de demagoga. O estado é laico,, meu caro.

  6. Ir diretamente aos evangélicos e explicar q o aborto tem q ser liberado, que não tem problema nos filhos vestirem roupa do sexo oposto, que a maconha não faz mal e deve ser liberada….
    Tudo pra dar certo, boa sorte!

  7. E como chegar perto se tem milícia e tráfico acordados com os evangélicos? A esquerda poderia usar a liberação das armas a seu favor pra equilibrar as forças físicas. A esquerda é vista como terrorista de qualquer modo pelo oficialismo então é melhor ser “terrorista” armado que “terrorista” desarmado dentro desse contexto.

  8. Muito complicado esta questão de “dialogar com os evangélicos”. Trabalho com urbanização de favela em São Paulo/Capital, desde 2003. Ao longo deste tempo,foi possível observar que a Igreja, é um ramo de negócios, que faz parte do mercado que os “empreendedores” conseguem vislumbrar e desenvolver como meio de vida. As igrejas se proliferaram muito com o dinamismo da economia realizada pelos governos do PT. Criar igreja exige uma certa percepção do mercado local e das avaliações que os “pastores, obreiros, ou fiéis ” fazem quando decidem romper com a igreja que fraquentam, para abrirem outro “ponto de pregação” usando influências e prestígios, construídos com atividades sociais que na maioria das vezes se restringem aos devotos. Romper com o cerco evangélico, exige um milagre!

    1. Davi, desde os tempos das primeiras assembleias de deus no início do século 20 aqui no nosso país, a criação de igrejas é feita com a percepção do mercado local e, principalmente pelas divergências internas entre os obreiros visionários ou ambiciosos perseguidos ou limitados dentro de suas próprias congregações, que de outra forma estariam “trabalhando para Jesus” à sua própria moda. Manoel de Melo, que fundou o “Brasil para Cristo” já com o firme propósito de converter todos os brasileiros e Davi Miranda, fundador da ” Igreja Pentecostal Deus é Amor ” são os principais exemplos dessas primeiras dissensões. É uma competição interna de poder e os escolados obreiros saem munidos de vontade e capacidade de capturar as almas desavisadas para engrossarem as novas hostes de fiéis que o seguirão cegamente. Uma pauta de costumes mais ou menos restrita será também o ingrediente atrativo para lotar as novas congregações e os frustrados das primeiras dissensões são os grandiosos de hoje, que viram na teologia da prosperidade o seu pote no fim do arco-íris. A Bispa Sônia (hoje quase falida), o Bispo Edir Macedo e o Apóstolo Waldomiro, autênticos neopentecostais, além do RR Soares, antigo, mais conservador e primeiro dissidente. Hoje temos cerca de centenas de denominações com o mesmo propósito. Esse assunto rende, é controverso mas deixa claro que diferentemente das igrejas católicas, que dominam a política neste lado do mundo, as igrejas protestantes ainda são instrumentos de poder. Lutam para ser domínio e, caso consigam, teremos dias “tribulosos” pela frente.

  9. A nova realidade nacional que se aproxima vai cuidar disso…
    ninguém deve assumir este trabalho, porque é praticamente impossível dialogar com quem foi enganado com o uso fantasioso e ilusionista dos seus desejos ou com a criação de identidades, nos evangélicos, que não cabem na realidade da vida de cada um

    Que cada um caia na real, por si mesmo, sem precisar ser enganado novamente, de que a teologia da prosperidade está se autodestruindo com Bolsonaro.

  10. As esquerdas vivem defendendo uma politica identitária, em tese abarcaria a maioria do evangélicos que são negros e pobres. No entanto, isso causa uma repulsa a esses mesmos evangélicos, que entendem que essas políticas e ideologia destroem a família e os bons costumes. Enquanto os intelectuais se negarem a reconhecer esse dilema, o Bolso continuará avançando.
    Os movimentos negros em suas maioria estão defendendo que o negro deve voltar as suas raízes, retornar a sua religião original. Nova repulsa surge para a maioria dos negros evangélicos. Movimento esses que se dizem de esquerda. Logo dialogo impossível de ser feito.

  11. Defendo a tese de que muito do sucesso da ideologia protestante neo pentecostal no Brasil é reflexo de a supremacia dos valores capitalistas ultra liberais.

    O capitalismo fala que enriquecer é bom, o catolicismo original diz que é ruim, e os neo pentecostais tem herança calvinista e veem o enriquecimento como premio de Deus e prova de que Deus te ama e protege(…).

    O cristianismo original pregava perdão e compreensão, mas os neo pentecostais pregam condenação e inferno (e, sejamos justos, isso não invenção deles, em toda longa historia do cristianismo, os fieis e sacerdotes sempre caíram nessa interpretação de “inimigos a serem condenados e destruídos”, afinal, somos animais cheios de preconceito, agressividade e instintos violentos dentro de nós).

    A pauta de valores, de decretar autoritariamente o que é certo e o que é errado e, principalmente, poder me sentir “certo”, superior, amigo de Deus… e poder definir erros, defeitos, pecados e inferioridades nos outros, acusá-los, condená-los, tudo isso tenta a muita gente, pois temos instintos animais que gostam disso. Tem muita, mas muita gente que sente tesão em poder humilhar o próximo, em poder chamar o outro de “pecador”, “aberração”, desprezível. Ora, a Igreja católica sempre teve alguma divisão com relação a isso, havendo padres e fiéis amantes da acusação e condenação, e padres e fiéis amantes do perdão ae compreensão acima de tudo. Só que o mundo capitalista é brutal, impiedoso, preconceituoso e gosta de achar motivos e justificativas para perseguir minorias. Com tanta gente criada em um mundo assim, a ideia de perdão, compreensão, solidariedade morre asfixiada em crua realidade. Em uma sociedade assim, claro que as pessoas vão abraçar felizes as igrejas neo pentecostais que legitimam todos seus atos e sentimentos de preconceito, ódio contra o diferente e individualismo agressivo. Imagine: posso sair apontando o dedo pra todo mundo que acredita em valores diferentes de mim, e ainda ver meu pastor dizendo que sou um verdadeiro filho de Deus ao agir assim…

    Então, se nosso mundo capitalista injusto, individual, egoísta, materialista, imediatista nos forja desse modo, como esperar que as pessoas abracem uma religião ou ideologia que contradiga o que fazem do dia a dia? Que pessoa vai querer cair no jogo sujo do capitalismo durante a semana, pra chegar no fim de semana, e ir na igreja se sentir mal, culpado, pecador? As pessoas escolhem a religião que valida a vida que vivem!

    Aqui vem a questão de 1 milhão de reais: o que a esquerda pode oferecer a este mundo pobres sem grandes perspectivas, em constante sacrifício, forçados a se corromperem e se desumanizar no dia a dia? A esquerda vai oferecer trabalho duro, inclusão social, diminuição da desigualdade a longuíssimo prazo? E as pessoas vão preferir isso, em vez do pastor que hoje, agora, diz que enriquecer é uma benção? Que é justo e divino lutar como um leão pelo seu próprio enriquecimento? A esquerda vai entrar na favela e dizer que pode oferecer inclusão social para os filhos deles, enquanto o pastor jura que o fiel receberá benção já, e que cada vitoriazinha, e cada pequeno ganho do dia a dia e um milagre. Quem vocês acham que essas pessoas com nível tão baixo de lógica e entendimento social irão escolher?

    Digo que, solução, seria investir pesado na educação das pessoas, mas não apenas educação profissional, mas sim, educação social e filosófica para entender como realmente funciona a sociedade e o mundo. Garanto que em uma sociedade com pessoas assim, malafaias, macedos e santiagos não achariam ingênuos para enganar. Mas como fazer isso, se quem ele pode eleger a esquerda é justamente esse mesmo povo tão ignorante, ingênuo, preconceituoso, egoísta e ganancioso? Eis o grande dilema…

    1. beleza de colocação…
      sem educação adequada para todos e desde o berço não há a menor possibilidade de se atingir um nível superior de sociedade……………………superior no sentido de ser possível escapar do sistema que temos atualmente e que vem desde que eu me conheço como gente, cada vez mais competitivo e excludente, talvez por não apresentar qualquer outra alternativa senão o enriquecimento, mesmo da noite para o dia, mesmo que fantasioso ou por um milagre que acontecerá em um dia que nunca chega

      Erro maior é acreditar que um sistema tremendamente excludente desde há séculos pode ser resolvido ou melhorado ponto a ponto. É por pensar assim que governos, igrejas, leis, o STF e a imprensa ainda dominante, a televisionada, seguem, como guardiãs desse sistema excludente, cagando solenemente para o povo brasileiro. Sem a educação que você colocou, e muito bem, seguiremos pela vida como massa de manobra, crentes conscientes de que um dia seremos vistos e tratados como gente.

    2. Gy Francisco e Peregrino:
      Podemos começar com retirar a Esquerda de identitarismo absurdo como o do LGBT. Isto é fora de padrão, incompatível com o Plano Genético da Biologia, se podemos chamar assim. Sexo não é escolha, é instinto, que pode, evidentemente, ser desvirtuado. A desvirtuação não é o normal, mas a exceção. Vamos aceitar o s LGBT na sociedade e respeitá-los, mas daí a pretender que eles são a nova regra, é absurdo.

      E pelas suas próprias características, todo, ou quase todo, LGBT cultua a “força” dos machistas (masculinos e femininos). Assim, 90 por cento votam CONTRA o PT.

      Não vale a pena investir nessa gente, pretexto para o isolamento da Esquerda junto à população que realmente precisa de ajuda: pobres, putas, pretos.

      Vamos defender LGBT enquanto seres humanos que são, e não como LGBT. Vamos nos livrar da armadilha imposta à Esquerda pela Direita. Como, aliás, o caso do MST, um movimento aparentemente financiado, sob o pano, por conglomerados químicos e mecânicos, para transformar fazendas de gado em fazendas de soja, clientes para seus produtos.

  12. Prezada Esther Solano,
    Excelente tudo o que disse. Suponho que você acredita em Deus, e no mesmo Deus que eu conheço. Vou sugerir um terreno, um campo de batalha para vossa reflexão. Certamente pode demorar alguns anos para que dê os primeiros frutos, mas vai além de sacudir a intelectualidade de esquerda para que de dois ou quatro anos ela venha fazer campanha politica na periferia, o que desde o governo Dilma não faz.
    Como alguns comentaristas aqui já perceberam é necessário oferecer educação de qualidade para os jovens em humanidades. Temos excelentes universidades aqui no entanto a disciplina de Religião em geral é deixada a cargo de religiosos. Proponho aos poucos, encontrar um espaço na grade das universidades para uma disciplina obrigatória de História e Sociologia da Religião nas licenciaturas. Não é Teologia.
    Então desde a pré-história passando pelas religiões monoteístas e no caso do Brasil tratar das religiões protestantes, se não de todas as 11 mil denominações, das que existem no Brasil. Vai ser bom até para a esquerda que confunde tanto o quem é quem e o que cada uma das correntes prega.
    E claro, promovendo o diálogo sempre respeitosamente.
    Assim a academia não se isola do povão e ouve a loucura não para rir ou chorar como faz hoje, mas para compreender.
    “Portanto, para sobreviver é preciso confiar pelo menos em
    alguém, mas também é preciso estar convencido de que não
    existe confiança absoluta (como aquela que ocorre às vezes nas
    fases de apaixonados), mas apenas confiança probabilística. Se
    o comportamento do meu melhor amigo tem sido confiável ao
    longo dos anos, podemos apostar que é uma pessoa em quem
    podemos confiar. Seria um pouco como a aposta pascaliana:
    acreditar que existe uma vida eterna é mais vantajoso do que
    não acreditar. Mas se trata justamente de uma aposta. Viver
    com base numa aposta é certamente arriscado, mas esta aposta
    (se não a da vida eterna, pelo menos a do amigo) é essencial
    para nossa saúde mental.
    No entanto, creio que foi Saul Bellow quem disse certa feita
    que, em épocas de loucura, acreditar que se é imune à loucura
    é uma forma de loucura. Portanto, não levem a ferro e fogo
    tudo que acabaram de ler.” (ECO, U. Pape Stan Aleppe, RJ, Record, 2017)

  13. Religiosos em geral e evangélicos em particular são sem exceção a vanguarda do atraso, não existe diálogo possível com essa turma, diálogo pressupõe disposição em ouvir e essa turma só quer falar derramando seus ódios e preconceitos permeados de hipocrisia. Quando a ilusão da teologia da prosperidade se esvair diante da ampliação da miséria talvez exista uma chance de abrir os ouvidos dessa gente, mas lamentavelmente isso não ocorrerá nessa geração.

  14. A questão é que a esquerda tem a oferecer, já que se tornou apenas gerente da crise capitalista. Os evangélicos oferecem apoio material e espiritual, reafirmam o liberalismo, o mercado e a dignidade do trabalho (ou seja, reforçam a identidade moderna das pessoas) e oferecem uma poderosa compensação para o fracasso dos pobres e classe média baixa: a humilhação diária que sofrem no plano econômico eles exercem sobre minorias concretas, como mulheres, LGBTs, ativistas, religiosos da umbanda e candomblé e dependentes químicos.

    Os evangélicos oferecem aos perdedores da competição capitalista uma identidade baseada na superioridade hierárquica, com direito à humilhação e ódio aos grupos sociais considerados inferiores, e isto é muito poderoso e sedutor num sistema social em que o sucesso e a humilhação dos perdedores se tornam normais.

    A esquerda poderia oferecer um mundo solidário, em que o elemento feminino da fraternidade fosse revalorizado e todos teriam suas necessidades satisfeitas igualmente, nos limites da capacidade da sociedade e da natureza. Mas isso não pode ser mais oferecido no interior do sistema capitalista e creio que o povo já intuiu isso, por isso não acredita mais nas promessas da esquerda de reforma do capitalismo. Preferem a compensação da crueldade oferecida pelos evangélicos e fascistas que, pelo menos, criam a ilusão de que as pessoas são superiores sendo cristãs, homens, héteros e sem vícios, independentes de sua condição social.

    Neste fim de capitalismo, o solo está fértil para fascismos e regressões reacionárias, como fuga das incertezas e do sofrimento social.

  15. É impossível convencer ou, ao menos, dialogar com muitos “evangélicos”. Boa(ou má?) parte é formada de fanáticos que não admitem nada além do fanatismo. Muitos são iguais ou piores que talibãs. Guiados por pastores semianalfabetos e adoradores do dinheiro, estão dispostos a fazerem qualquer coisa em nome da guerra santa. Os programas diários – de todo dia, tarde, noite e madrugada -, demonstram isso de forma inquestionável. Se um, ou alguns desses desses pastores fanáticos, organizar uma batalha santa e exigir o uso de armas, tenham certeza que muitos atenderão.

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