E se o Palácio do Planalto fosse uma mãe à espera do filho…

goulart e expresidentes

E se o Palácio do Planalto fosse uma mãe à espera do filho…

Ela limparia toda a casa. Arrumaria o quarto do filho. Prepararia a comida que ele mais gostasse. Arrumar-se-ia toda. À espera do filho.

Falaria orgulhosa a toda vizinhança: o filho que há muito tempo se foi, vai voltar. Estaria louca de vontade de beijar e abraçar. O sufocaria de amor.  

Contaria, angustiada, os dias, as horas e minutos que faltassem para o grande momento. O reencontro com o filho.

Ansiosa aguardaria na entrada da casa. Ela e todos mais que dele gostassem. Ou se lembrassem. O coração materno estaria a ponto de arrebentar de saudades.

De repente um carro para em frente. Descem vários soldados. Abrem a porta e começam a tirar um caixão. Ela não compreende e continua a aguardar que seu filho desça também e corra ao seu encontro.

Onde está seu filho que não sai do carro? Todos já saíram. Cadê ele? Maroto! Deve estar se escondendo, como fazia quando era criança. Sempre querendo surpreender, só pode ser.

Os militares põem o caixão no ombro e caminham na sua direção. Ela presta atenção. Olhando fixamente para as pessoas. Talvez um deles seja seu filho.

Eles passam e entram na sala. Ela estranha, nem pedem licença. Onde esta minha criança? Um oficial se aproxima. Bate continência. E lhe estende solenemente uma bandeira. Ela pega, agradece. E continua a procurar o filho.

Uma das pessoas começa então a falar. E a mãe continua a procurar o seu garoto. Sem prestar muita atenção, ouve palavras soltas: injustiça, golpe, democracia interrompida, assassinato, golpe… Aos pouco vai montando o quebra-cabeça.

Interrompendo o discurso pergunta: onde está meu filho? O que aconteceu com ele?

O oficial lhe diz: está aqui, nesta bandeira. Sem querer crer, responde: não! Eu lhes dei meu filho vivo.  E vocês me devolvem um pedaço de pano. Não! Eu quero meu filho. Os militares o levaram vivo. E os militares me devolvem num caixão? Eu quero meu filho de volta… Diria o Palácio do Planalto se fosse uma mãe a espera do filho.

João Goulart foi deposto no golpe de 1964.

Golpe urdido por uma elite retrógrada, por políticos oportunistas, pelos Estados Unidos da América, pela igreja, pelos militares e pela imprensa conservadora.  Fugiu para o Uruguai e depois Argentina. Faleceu em 6 de dezembro de 1976. Oficialmente, ataque do coração. A averiguar, assassinado por envenenamento. O Corpo será exumado.

Tal como acontece hoje, a mídia controlou a população naquela época, manipulando informações, com factoides, distorções, meias verdades e puras mentiras.

Passaram a imagem de um presidente bobo, covarde, fraco e mulherengo. Corrupto, comunista, comedor de criancinhas e tudo mais. E sem apoio da população.

Enquetes levadas às ruas entre os dias 20 e 30 de março de 1964, quando a democracia já era tangida ao matadouro pelos que bradavam em sua defesa, mostram que:

a) 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango como ótimo (15%), bom (30%) e regular (24%).

b) Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo, fazendo eco dos jornais.

c) 49,8% cogitavam votar em Jango, caso ele se candidatasse à reeleição, em 1965 (seu mandato expirava em janeiro de 1966); 41,8% rejeitavam essa opção.

d) 59% apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente na famosa sexta-feira, 13 de março  (em um comício que reuniu 150 mil pessoas na Central do Brasil  –o país tinha então 72 milhões de habitantes, Jango assinaria decretos que expropriavam as terras às margens das rodovias para fins de reforma agrária, bem como nacionalizavam  refinarias de petróleo)”. Revista Carta Maior.

Os meios de comunicação mais o IBOPE mentiram e esconderam a verdade sobre a popularidade de Goulart e de suas reformas. Respaldaram o golpe, logicamente.

A população brasileira tem o direito de saber a verdade sobre a ditadura militar, sobre as torturas. Quem são os torturadores, seus mandantes. Onde estão os corpos dos assassinados pelo regime. Quem apoiou. Qual foi o papel da imprensa na preparação do golpe e qual a sua efetiva participação.

E por que a imprensa em especial? Porque ela não aprendeu nada com a redemocratização do país. Não contribui, pelo contrário: solapa as frágeis bases democráticas.

Utilizam os mesmo mecanismos de difamação que induziram ao suicídio de Getúlio Vargas, a deposição de João Goulart e a derrota de Lula para Fernando Collor e a má fama de Itamar Franco.  Por outro lado, engrandecem personagens que comem em suas mãos, tipo Fernando Henrique Cardoso. E mais recentemente Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Ayres Brito.

Com todo este poder e monopólio de que dispõem os donos da mídia eles continuam brincando de deus. Pararam no tempo, e por isso mesmo espera que todos parem.

Esse passado sombrio, os anos de chumbo, devem ser estudados e discutidos nas salas de aula, para que não se repita nunca mais. Não podemos viver eternamente na desconfiança. Na dúvida. Olhando para o lado.

E mais: os meios de telecomunicações precisam urgentemente de leis de regulamentações. Conectadas à nova realidade. Ou então eles imporão a realidade deles.

Redação

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