Eleições 2018: Guerrilha psíquica para tentar vencer no primeiro turno

Faço minha análise da subida de Bolsonaro nas pesquisas ao estilo do Nassif, ver se consigo ser menos prolixo.
Peça 1: Pesquisa não é eleição
Pesquisa é pesquisa, eleição é eleição, e vale lembrar que os institutos de pesquisa no Brasil são pródigos em erros grosseiros – Aécio que o diga, mas vale lembrar que o Ibope errou por uns 10 milhões os votos de Aloysio Nunes para o senado, e nem citava Young, que acabou em quarto, apenas exemplos de 2014. Pesquisas podem ser manipuladas e ajudam a dar ânimo ou tirar o ânimo de apoiadores de certo candidato.
Peça 2: Adesão ao fascista
Diante do retumbante fracasso tucano, a mídia, seus antipetismo visceral, aderiu à candidatura fascista, que tem em seu projeto a submissão nacional bem ao gosto da rede Globo. O mantra de “as instituições estão funcionando” talvez guarde a ilusão de que será possível controlar Bolsonaro uma vez no poder, sem atentar que sua retirada não implica em um governo mais previsível. [bit.ly/2DTgaZ8]
Peça 3: Golpe branco
A rede Globo (e toda a mídia) é especialista em tentar golpes brancos contra nossa incipiente e precária democracia. Em sete eleições presidenciais, fez uso do que há de mais abjeto para tentar emplacar seu candidato em seis, apenas em 1994 com o Plano Real posto em ação no tempo eleitoral perfeito, não precisou usar de tal expediente. Não tem porque não fazer uso novamente em 2018. Contudo, vale lembrar que suas tentativas de influenciar na eleição tiveram resultado efetivo apenas em 89 e 98 (levar 2006 para segundo turno e perder não conta). Curiosamente, o golpe branco deste ano retoma parte da retórica de 1989, com o antipetismo ganhando apoio por medo do “comunismo” (!?) – além dos motes principais dessa corrente, o falso moralismo contra a corrupção e o ódio a pobre e periférico que “não sabe seu lugar”.
Peça 4: Facada da sorte
A facada em Bolsonaro, logo no início da campanha, provavelmente foi o que permitiu a ele se manter onde esteve e se garantir com a segunda vaga para o segundo turno (a primeira vaga, pouco importa se em primeiro ou segundo lugar, desde sempre foi do PT, partido em torno do qual orbita a disputa nacional desde 1989). Sem precisar se expôr, tanto em entrevistas quanto em debates, ganhou blindagem natural de tudo o que diria e tiraria seus votos (seu vice e seu economista deram mostras do que seria Bolsonaro em forma), além de não poder ficar com a pecha de covarde por ter fugido dos debates, como já anunciara. Sem poder ser atacado diretamente, pode reforçar seu discurso de antissistema com os ataques recebidos de todos os demais candidatos [bit.ly/2IA1cWI]. Que erraram na estratégia ao polarizar PT e Bolsonaro, garantindo que ele é o antipetista real, sem essa conversinha de terceira via, de centro.
Peça 5: Segundo turno é outra eleição
Ainda mais quando não há um candidato disparado na frente, 49% dos votos válidos, o segundo turno abre novas possibilidades – em 2006, vale lembrar, Alckmin perdeu três milhões de votos, com relação ao primeiro. Bolsonaro recuperado, se verá forçado a ir aos debates, até para não ficar com a fama de covarde. Exposto, seu discurso moralista e antissistema se desfaz, e é possível que muitos antipetistas menos radicais acabem por optar votar nulo. Por isso as sondagens de segundo turno pouco valem, antes do segundo turno começar para valer. Para Haddad e o PT, uma das questões é tomar as rédeas do discurso do comunismo, explicar o que é e que o partido nunca foi comunista.
Peça 6: A única chance de vitória de Bolsonaro é no primeiro turno
O fascista já dava por perdida a eleição, tanto que cantava golpe, falava em não admitir a derrota. A união da mídia, com apoio explícito de Edir Macedo, é a grande (se não única) chance de vencer o PT: com vitória em primeiro turno, sem exposição do candidato. Dias atrás havia lido a hashtag no Twitter, hoje ouvi conversas no metrô, e fui atrás de alguns vídeos da direita hidrófoba convocando para uma mobilização em busca da vitória em primeiro turno contra o “perigo comunista”. Uma amiga me mostrou post de uma transexual, que dizia que queria ir de Marina, mas se via obrigada a votar logo no fascista, para não dar chance ao PT (“bicha burra nasce morta”, diziam os gays nos anos 1980, quando sair do armário era sério risco de vida, mais que hoje).
Peça 7: Antecipar voto útil e forçar desistência dos eleitores do outro campo
Para vitória de Bolsonaro, foi montado uma estratégia de guerrilha psíquica, pela internet e pela mídia convencional. Primeiro, antecipou o voto útil contra o PT,  com o discurso de possibilidade de vitória em primeiro turno. Contribuiu a estratégia equivocada do PSDB (seguida por Ciro e Marina) de pintar o PT como antítese de esquerda do Bolsonaro – logo, Bolsonaro como o antipetista da gema [bit.ly/cG181001]. Com isso, enterra-se de vez as candidaturas antipetitas que não decolaram, e sequer vão saber qual sua real dimensão – Alckmin, Marina, Álvaro Dias. Ciro, ao sinalizar o abandono do pós-petismo (que dividia com Meirelles e Boulos) pelo antipetismo arrisca mergulhar na mesma vala. Ainda assim, apenas a migração de voto não parece ser suficiente, é preciso desestimular o voto que não de bolsonaristas. Eis o segundo momento da estratégia: forçar um aumento dos votos brancos, nulos e abstenções: o factoide político de Moro desta semana seria uma tentativa extra de deslegitimar o sistema como um todo, favorecendo não apenas voto no candidato antissistema mas, principalmente, descrédito e abstenção dos que votaram em candidatos do sistema. Em alguma medida foi a estratégia de 2016, e vale lembrar que vitória em São Paulo de Dória Jr, em primeiro turno, teve quase 10% menos votos que Haddad em 2012, mesmo com base maior de eleitores.
Peça 8: Como ler as recentes pesquisas
As pesquisas que sinalizam crescimento de Bolsonaro e estagnação de Haddad podem ser manipuladas ou não. Pode, de fato, que a estratégia de forçar eleitores antipetistas a antecipar o voto útil já seja palpável; como é possível que os institutos tenham forçado a situação desejada, para criar o factoide e forçar uma profecia auto-realizável. Tão importante quanto é como a mídia adentrou no discurso de “possível vitória em primeiro turno”, “empate no segundo turno”, “líderes de rejeição”, contribuindo para desestimular os votos nos demais candidatos: o discurso subliminar é de que “se não for agora, Bolsonaro ganha no segundo turno”. Então, melhor nem perder tempo. Sem falar no discurso de que Bolsonaro ou Haddad são a mesma coisa, então tanto faz quanto tanto fez.
Peça 9: A reação do campo democrático e antifascista
Como disse, em seis oportunidades de golpe branco (sete, se contarmos o caso Procunsult de 1982), a Globo teve sucesso apenas em dois, e nos primórdios da nossa democracia, sendo que o de 1998 por omitir informação (da eminente quebra do país) que por forçar um factoide. A estratégia não é garantia de vitória, mas não se deve descuidar, e é preciso reação das forças democráticas, populares e antifascistas. Ainda espero uma postura à altura do momento por parte de Ciro. Como assinalou Luis Costa Pinto em seu Fakebook, esperamos que Ciro não siga os passos de Marina e destrua toda sua história de vida pública por ressentimento. A ver como se comportará no último debate. Porém, o principal para evitar a vitória fascista é a mobilização das pessoas comuns, mobilização de base, das mulheres que foram às ruas, e de todos aqueles que se dão conta do que significa a vitória de Bolsonaro. Partir para a conversa, na internet e no boca a boca, com parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, tentando convencê-los a votar em algum candidato que não o do PSL. Algo na linha “não se precipite, marque qual sua real opção no primeiro turno, para dar força a esse projeto político para negociar no novo governo, e no segundo turno, ouça com atenção as propostas do Bolsonaro, para ver se ele é mesmo uma opção viável”. Para o voto de protesto, cabe campanha para Cabo Daciolo. A questão é: manter a mobilização, partir para o corpo a corpo, em busca de votos para quem quer que seja, que não Bolsonaro. O segundo turno é outra eleição, e Haddad é favorito, até pela precariedade do fascista.

03 de outubro de 2018

Redação

2 Comentários

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  1. Divulgo por achar importante

    Vandson Holanda
    3 h
    Textão sobre minha experiência em grupos de whatsapp que apoiam o BOZO nos últimos dias: a pior possível. Mas fiquei com uma certeza após o Ibope de ontem: analistas estão errando feio por não conhecerem o que ocorre no subterrâneo demuitos grupos de zap que apoiam Bolsonaro.

    Desde que começou a campanha eleitoral, alguns amig@s me incluem em grupos de whatsapp a favor de Bolsonaro. Meu celular chegou a ficar até 4 grupos de apoiadores do coiso.
    Educadamente pedia pra sair, mas nas ultimas semanas fui (re)incluído em três grupos e fiquei em todos com um objetivo: curiosidade sobre o que os move a favor dessa figura do mal.

    O que presenciei nesses grupos foi um trabalho aparentemente orquestrado por profissionais de marketing digital. Não posso afirmar se a origem é da cúpula da campanha do candidato, mas ele é o beneficiado direto da disseminação de notícias falsas através de vídeos editados que são muito mais difíceis de vc, por mais esperto que seja, não cair na armadilha da informação errada.

    A tática é simples, mas deplorável: vale tudo para ganhar a presidência e os vídeos pelo zap tem sido cruciais, pois vêm dos seus amigos. A TV terá influencia zero nessa campanha.

    São grupos grandes (muitos já completos) com objetivo claro de disseminar montagens que parecem ser verdade e, ao que consta na última pesquisa IBOPE, deu certo contra as mulheres que foram as ruas nesse final de semana.

    A quantidade de vídeos editados mostrando mulheres com seios de fora no meio da multidão como se fossem no evento de sábado salta os olhos. Isso juntamente com palavras de baixo calão contra as participantes. “Atenção mulheres! Vcs se sentem representadas por essas “vadias”?” Palavras de um dos administradores do grupo que pedia para repassar o vídeo e a pergunta. Posts bem preparados para o whatsapp.

    Num dos vídeos, o evento de sábado foi ligado a um outro acontecimento em que mulheres radicais quebram imagens sacras na visita do papa Francisco ao Brasil. Fato deplorável mas quem vê pensa que aconteceu sábado no evento do #Elenao.

    Aos berros, um dos administradores pede para mostrar no grupo da família as tias, as mães, as avós… e mostrar o que a turma do “PT” e “Ciro” querem para o país. Na sequencia, a solução seria Bolsonaro com sua frase de impacto: Deus acima de tudo…

    Quando o filho de Bolsonaro chama as mulheres de esquerda de feias ou outros adjetivos sabe o que faz: coloca gasolina nesses grupos que move a campanha do pai.

    A subida de Bolsonaro não se deu, nem de longe, por conta do ataque de Alckmin ou Marina ou Ciro ao Haddad na TV como alguns analistas sugerem. Mas, sim, por cota do ataque orquestrado contra o evento de sábado das mulheres de forma velada nas redes sociais sem deixar rastro: via whatsapp.

    A equipe de Bolsonaro não está numa bolha do algoritmo do facebook ou instagram como a dos demais candidatos, pois eles sabem como furar a bolha e falar para os indecisos.

    Os candidatos democratas são fracos nas redes sociais e falam para os “convertidos” em suas bolhas algorítmicas. Não foi a toa que, mesmo após o evento de sábado, o candidato do mal cresceu exatamente nas mulheres e nos pobres.

    Ou os candidatos democratas atuam forte nas redes sociais para falar fora da sua caixa com antídotos contra essa disseminação de vídeos montados via zap e contra essa ação de difamação das mulheres que foram as ruas sábado ou é melhor JÁ IR SE ACOSTUMANDO com Bolsonaro presidente em 2019.

    Espero que não.

  2. versão enxuta deste texto, para compartilhamento

    Amig@s,

    Bolsonaro e seus apoiadores sabem que sua única chance de vitória é no primeiro turno. Por isso organizaram, com a mídia tradicional e, principalmente, com uso da internet (robôs e big data) uma guerrilha psíquica para tentar fechar o pleito em 07 de outubro. Para conseguir, eles precisam de três coisas:

    1) Convencer antipetistas que votariam em outros candidatos a votar já no Bolsonaro.

    2) Convencer antibolsonaristas, democratas e outros deste campo que a eleição está vencida e não vale a pena ir votar.

    3) Convencer desiludidos e propensos a isso, que eleição não faz diferença, PT e Bolsonaro é a mesma coisa.

    As pesquisas eleitorais, a delação de Palocci e o anúncio da mídia de vitória no primeiro turno fazem parte dessa estratégia. Devemos lembrar, porém, que em eleição o que vale é o voto – e que os institutos de pesquisa mais erram que acertam.

    Para evitar que Bolsonaro ganhe, basta forçar o segundo turno. Para isso, precisamos fazer trabalho de convencimento nesta semana, conversar com amigos, conhecidos e desconhecidos, pessoalmente e pelas redes sociais. Três estratégias de argumentação:

    1) Para os antipetistas, convencer a votar no seu candidato de preferência, e deixar Bolsonaro para o segundo turno, sob o argumento de que um candidato bem votado tem força para pressionar por suas ideias. Aécio não teria conseguido questionar a eleição de Dilma em 2014 se tivesse perdido por 10% de diferença, por exemplo.

    2) Para os que acham que a eleição está perdida: lembrar que segundo turno é outra eleição, e que o Bolsonaro, recuperado, vai participar dos debates, terá tempo para expor o que pensa sobre saúde, segurança, família, direitos dos trabalhadores, salário mínimo, bolsa família, e isso vai fazer com que ele perca votos.

    3) Para os desiludidos, pensando em votar em branco, nulo ou se abster: defender o voto de protesto no Cabo Daciolo (51).

    Enfim, precisamos manter a calma, não repassar corrente catastrófica (que isso pode estimular abstenções), não acreditar que a eleição está decidida, porque está muito longe disso, e fazer campanha intensiva esta semana, boca a boca, whatsapp a whatsapp.

     

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