Em reviravolta, PGR propõe ajustamento com STF no inquérito das fake news

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Augusto Aras diz que instauração do inquérito foi "legítima" e propõe acompanhar as investigações daqui para frente

Jornal GGN – Apenas uma semana após pedir o arquivamento do inquérito 4781, mais conhecido como “inquérito das fake news”, o procurador-geral da República, Augusto Aras, enviou uma nova manifestação ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (4). Agora, em uma reviravolta que pode custar caro ao governo Bolsonaro, Aras diz que o inquérito é “legítimo” e propõe adequações para suprimir críticas e dar continuidade às investigações, com a participação do Ministério Público Federal daqui por diante.

“De modo a compatibilizar o inquérito previsto no artigo 43 do RISTF [Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal] com a Constituição Federal e as leis vigentes, o procurador propõe a adoção de medidas de conformação procedimental”, apontou a Procuradoria.

Aras propõe ao Supremo, em primeiro lugar, “franquear ao MPF [Ministério Público Federal] a constante participação” no inquérito, “visando a proteção de direitos e garantias fundamentais dos investigados e a colheita de indícios e provas.”

Em segundo lugar, que seja reconhecido aos advogados o direito de ter acesso aos autos e eventuais provas já produzidas pela polícia, “ressalvadas as diligências em curso”.

Em terceiro, que sejam submetidos ao “crivo” da PGR todos os pedidos de diligências, como quebra de sigilo, busca e apreensão, vedação de uso de redes sociais, entre outras medidas.

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“EQUACIONANDO” O INQUÉRITO

No documento, Aras afirmou que jamais manifestou-se contra o inquérito das fake news, considerado “inconstitucional” pelo governo Bolsonaro e seus seguidores, por ter sido instaurado de ofício pelo ministro Dias Toffoli, com base no artigo 43 do regimento interno do Supremo.

De sua parte, o procurador-geral questiona a associação do artigo 43 com o artigo 56 do regimento interno do Supremo, que define dois tipos de inquéritos: um administrativo, que dispensa a ação da polícia judiciária, e outro que obrigaria a fiscalização da PGR.

“E foi justamente com base nessa distinção que o PGR se manifestou em todas as oportunidades em que foi instado, entendendo ser legítima a instauração de inquérito sob o ângulo de investigação administrativa preliminar, que dispensa, por norma regimental expressa, a distribuição. Contudo, surgindo elementos mínimos que apontem para a necessidade de abertura de inquérito propriamente dito, faz-se necessária a supervisão, já não mais da Presidência do Tribunal nas suas atribuições de polícia administrativa, mas de órgão judicante, no caso, a PGR.”

Aras sugeriu que o “inquérito atípico” seja “equacionado” no âmbito “interna corporis via interpretação ou emenda do regimento interno”. Neste caso, os ministros do STF adotariam “técnica da interpretação conforme a Constituição ao artigo 43 do RISTF, com a consequente adoção das medidas de conformação desse atípico inquérito ao sistema constitucional acusatório.”

Para Aras, “enquanto a Suprema Corte não estabelecer, com clareza, os critérios e balizas para o Inquérito, haverá um estado de insegurança jurídica” que afeta a imagem do STF, da PGR e da Polícia Federal.

FORO PRIVILEGIADO

No documento, Aras destacou também que para ser investigado no Supremo, é preciso ter foro privilegiado. “Não sendo o caso, os elementos preliminares colhidos devem ser encaminhados ao juízo natural.”

A PGR analisou o inquérito 4781 e apontou, em nota, que “mais de 90% dos autos já foram declinados para a primeira instância”. Das cerca de 10 mil páginas que compõem o processo, apenas 2% delas dizem respeito a pessoas com prerrogativa de foro. A PGR solicitou que “apensos envolvendo pessoas detentoras de foro por prerrogativa de função sejam autuados como processos independentes.”

“Isso porque, em 27 de maio último, a Procuradoria-Geral da República viu-se surpreendida com notícias na grande mídia no sentido de terem sido determinadas dezenas de buscas e apreensões e outras diligências, contra pelo menos 29 pessoas, sem a participação, supervisão ou anuência prévia do dominus litis que, ao fim e ao cabo, é destinatário dos elementos de informação coligidos na fase inquisitorial”.

As provas colhidas no inquérito das fake news podem abastecer as ações que pedem a cassação da chapa eleita em 2018, no Tribunal Superior Eleitoral.

A nova manifestação de Aras ocorre após ministros da Suprema Corte emitirem sinais de união em torno do inquérito das fake news.

Leia também:

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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    1. Concordo e acrescento, quer também melar o inquérito. Para isto precisa tirar do stf a exclusividade da sua condução. E busca ser incluído para sustentar divergência e arvorar-se no único com autoridade para oferecer denúncias.

  1. Acho estranho franquear ao titular da PGR, que na verdade atua como advogado do presidente, acesso a todas as partes do processo. Parece-me excessivo que a defesa participe da coleta de provas.

  2. Se não pode “melar”, entra para controlar. Ou pelo menos monitorar.
    Aras até agora, embora com independência institucional, já falou besteiras legais e protegeu seu indicador fora da lista da PGR. Estes são os fatos. Que não correspondem às falas.
    O arranjo realmente ajusta a institucionalidade.
    O problema é se ele tem intenções institucionais ou pessoais de “lealdade miliciana”.
    Quem deveria ter feito isso desde o início era a PGR anterior.
    Tudo neste braZil tem quintas intenções.

    1. Sinceramente, espero que ele tenha percebido a tempo que Jair Bolsonaro usa todos como ‘boi de piranha’ . Senão entendeu ainda é porque é cego e não viu o que aconteceu com Moro e outros que o carregaram nas costas.
      O cara além de louco tem a índole dos escorpiões e dos morcegos. Quem espera ser picado morre no meio do caminho e ainda por cima com o sangue esvaziada por um verdadeiro sanguessuga. Tem gosto prá tudo e masoquistas de todos níveis.

  3. Diria o outro, “aí tem truta”.
    Esse tal adequamento, nada mais do que a tentativa (servil) de desidratar o inquérito/processo em poder do STF, já que o ministério público federal, na pessoa do seu – agora – procurador geraldobrindeiro aras (nosso sacrifício) não pretende mover palha para levá-lo adiante.
    E, mais, ele quer que as fake news sejam apuradas e processadas como se fossem atos individuais, quando, na verdade, é uma corja muito bem ambientada em planaltinos palácios e sob a coordenação do gabinete do ódio que cria, distribui e mantem a divulgação das mentiras.
    Então, se forem consideradas apenas atuações individuais, tira-se a quadrilha da janela e o assunto morre pelas beiradas.
    Ixperrrto pordimais esse bahiano-del-rey, sempre à serviço do que há de pior nos bolsonários.

  4. Parece que o procurador está cumprindo o seu maior mister que é o de procurar.
    Está procurando armar para o STF tentando cavar uma eventual nulidade dessas “dezenas de buscas e apreensões e outras diligências, contra pelo menos 29 pessoas, sem a participação, supervisão ou anuência prévia do dominus litis ”
    É bonitinho. Ele mostra interesse e se livra da pecha de suspeição. Fica bem na fita com o bozo e ainda pode sonhar com o “infortúnio” do falecimento de algum ministro que lhe deixe a herança de uma vaga no supremo.
    É um fofo!

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