Empreiteiras são apenas um verbete na enciclopédia da corrupção brasileira, por Janio de Freitas

Picciani na sede da PF (foto: Tania Rego)
 
Foto: Tania Rego
 
Jornal GGN – Na edição desta quinta (30) da Folha de S. Paulo, o colunista Janio de Freitas comenta a operação O Quinto do Ouro, deflagrada ontem e que prendeu cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e levou o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), para condução coercitiva. 
 
Para Janio, as inspirações políticas fizeram com que a Lava Jato se concentrasse nas empreiteiras, passando a falsa ideia de que, resolvido esta corrupção, o problema estaria solucionado. A operação de ontem vai além e aborda as relações entre a administração pública e os serviços de ônibus. 

 
O jornalista ressalta que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo “não existiriam” sem associações na Alerj e no TCE. O mesmo modus operandi pode ser observado em outros governos estaduais e municipais, já que os “órgãos de controle são das próprias administrações locais”, citando casos como o jatinho de Eduardo Campos e as irregularidades “isentas de investigação” do Metrô de São Paulo.
 
Leia mais abaixo: 
 
Da Folha
 
Muito além das empreiteiras
 
por Janio de Freitas
 
O avanço mais vistoso, nas ações anticorrupção no Rio, foi a prisão de cinco integrantes do Tribunal de Contas do Estado, mas a importância maior está em uma inovação até ali muito evitada.
 
Inspirações políticas concentraram a Lava Jato nas grandes empreiteiras, difundindo a ideia de que, combatida essa corrupção, emerge um novo Brasil. As ações no Rio vêm incluir em seus motivos a abordagem, embora limitada, das relações viciosas entre administração pública e os serviços privados de ônibus. As empreiteiras são apenas um verbete na corrupção enciclopédica que esvai não só os cofres federais e de estatais, mas também os de municípios e Estados.
 
A necessidade de investigação no sistema político-administrativo do Rio vinha de longe. Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, por exemplo, não existiriam sem colaborações ou associações obtidas na Assembleia Legislativa (Alerj) e no Tribunal de Contas (TCE).
 
O mesmo se passa em governos estaduais e municipais desonestos. Com muita facilidade, note-se, porque os órgãos de controle são das próprias administrações locais. E a vigilância da imprensa é mais do que relativa, dependente de condições políticas, quando não financeiras.
 
Um caso bom para ilustrar essa situação é o jatinho de Eduardo Campos, envolto em obscuridades na origem e no fim. Passados três anos do acidente, só agora –e parece mesmo que à revelia das “autoridades” no caso– são reconhecidas evidências de que as alegações de propriedade do avião não podiam ser verazes. E com isso, sem que fossem procurados, surgem indícios na Lava Jato de que as artes administrativas em Pernambuco teriam razoável semelhança com as de Cabral.
 
Quem prefira pode também meditar sobre outro caso ilustrativo: como compras de vagões e outros equipamentos paulistas puderam ser tão irregulares e, depois de denunciadas, tão isentas de investigação? Um governador, um prefeito ou um dirigente setorial não conseguiria fazer tudo isso sozinho, sem companhias decisivas.
 
Concessões, dispensas de impostos, autorizações, compras e contratações de serviços perfazem um universo de oportunidades que abrange todos os níveis de governo, em toda parte. Há quem possa sair ileso ou quase.
 
No Brasil, percebe-se que poucos. Para os outros, empreiteiras são apenas socialmente mais fáceis, pelos métodos habituais e pelo convívio nas altas rodas. Mas os demais componentes das oportunidades não mais angelicais, menos ativos, nem menos pródigos.
 
E dão menos na vista, sobretudo para quem finge não ver, por interesse político ou por aquele outro.
 
A MORTANDADE
 
Rubens Valente é um repórter excepcional. Pelo trabalho e pela seriedade, formou com Fernando Rodrigues e Lucas Ferraz, em Brasília, um trio de “repórteres cavadores” que proporcionou à Folha, por muito tempo, exclusividades preciosas.
 
Fernando e Lucas, para pesar do leitor, estão fora da Folha. Rubens continua o mesmo, uma nutrição diária do jornalismo. Mas não só. Está lançando, pela Companhia das Letras, “Os Fuzis e as Flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura”.
 
Ainda não conheço o livro. Conheço Rubens, um tanto de índios (apesar de ter a entrada no SPI barrada por falta de maioridade), outro tanto da história brasileira.
 
Sei que posso recomendar a leitura do livro. Inclusive pela certeza de que é fundamental, para todo brasileiro consciente, ter noção de que o seu país é praticante multissecular de um genocídio, um dos maiores do mundo, que só terminará na última das mortes desejadas pelos devoradores de riquezas naturais. 
 
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Redação

6 Comentários

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  1. Parece que estão descobrindo a roda, o capitalismo é …..

    Parece que estão descobrindo a roda, o capitalismo é lubrificado pela corrupção.

    A função dos políticos num sistema capitalista é de criarem leis, para criarem dificuldades para venderam facilidades.

    1. parece….

      Conceito bem desgastado. Se não lhe informaram, o Muro de Berlim caiu há alguns anos. A ditadura socialista o corrompeu, não Ronald Reagan. Mas nós compreendemos conceitos embolorados, para uma certa elite nacional, a que é fingindo não ser.  1964 não acaba nunca. Quanto às empreiteiras, na grande maioria foram vitimas de um Estado achacado por bandidos. Todos. E todos porque ninguém aceitou reformular um poder absolutista e ditatorial. As consequências eram inevitáveis. Então, no mínimo cumplicidade e omissão das representações políticas que chegaram ao comando. Socialistas, se diziam. É muita canalhice!!! O país está, de forma incrédula e abismada, tomando consciência do tamanho do abismo entre o poder e a sociedade. A fenomenal ditadura dos núcleos de comando da nação e os cidadãos, mesmo em patamar mais elevado economica e financeiramente. Da carroça que é o ônibus do transporte público, protegido pela máfia do comando municipal ao  fiscal sanitário que é indicação de Senador ou Ministro de Estado. Chega a ser inacreditável: fiscal sanitário indicado pelas maiores autoridades da nação?! Não existem mais explicações nem desculpas. Podem fechar tudo e começar do zero. Este sistema de poder morreu há anos. Ninguém suporta mais o cheiro de podre. ConstituiçãoEscárnioCaricaturaCidadã. 30 anos de bandidagens e mentiras. 

      1. Piada!

        hahahahha! Patético! Tente vender alguma coisa para qualquer grande rede de varejo, ou grande indústria! Leia o texto do Ricardo Semler Filiado ao PSDB ” Nunca se roubou tão pouco na Petrobrás”.

        Se analisarem as contas de representantes comerciais, não fica um em pé!  São testa de ferro destas negociações!

        Se a fiscalisação passar  pelo Brás ou 25 de março, não fica uma loja aberta! Ali os coitados dos ambulantes que se ferram para propagandear “moralidade a moda paulista”.

        Esta tua análise defendendo o capitalismo vai contra um principio básico do mesmo! Lei de oferta e procura!  Quem quer criar demanda é o setor privado, por isto corrompe o setor público!

         

      2. Você quer dizer que a causa

        Você quer dizer que a causa da corrupção é a constituição ? Ou é responsabilidade dos socialistas ? Daqui a pouco, você vai dizer que a culpa é dos trabalhadores. Ou quem sabe, da população brasileira. 

  2. Propina da banca!

    Eu quero ver chegar a hora dos bancos!  Quem tem o saco roxo para enfrentar a banca  internacional e seus prepostos “brasileiros”? Maior bancada do congresso! 

    A destruição destes VAGABUNDOS rentistas que comem mais de 1,5 bilhão por dia do setor que trabalha é o real problema brasileiro! Não entendo como empresários conseguem conviver com isto pacificamente! Será que nunca teremos um Henry Ford brasileiro para alertar seus pares?

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