Empresa “supostamente ligada” aos Bolsonaro é pano de fundo de crise no Paraguai

Cúpula do governo paraguaio já é alvo de pedidos de impeachment por parte da oposição, que considera uma "traição" o acordo bilateral assinado com o Brasil, sob Bolsonaro, envolvendo Itaipu

Jornal GGN – Um jornal paraguaio afirma que uma empresa “supostamente ligada” à família de Jair Bolsonaro está por trás do acordo de Itaipu que levou a cúpula do atual governo a enfrentar pedidos de um processo de impeachment.

Segundo publicação do jornal ABC Color, do dia 31 de julho de 2019, um assessor jurídico considerado braço direito do vice-presidente Hugo Velezquez teria convencido autoridades a retirar do acordo de Itaipu um item que prejudicou o Paraguai na venda de energia para o Brasil.

O advogado José Rodríguez Gonzalez, o assessor jurídico em questão, teria informado que o Paraguai não poderia comercializar energia ao Brasil porque era preciso “reservar o negócio” para a empresa Leros, supostamente “ligada à família presidencial” brasileira.

Gonzalez confirmou ao diário que trabalha oficialmente para o vice-presidente paraguaio e que intermediou negócios envolvendo Itaipu e a ANDE (a estatal de eletricidade que cuida de Itaipu pelo lado do Paraguai) em nome da empresa brasileira Leros Comercializadora.

Em mensagens, o advogado disse que “o grupo Leros está vinculado à família presidencial brasileiros (os Bolsonaro).

A publicação informa que durante reunião com o presidente Mario Abdo Benítez, o vice Hugo Velázquez notificou Pedro Ferreira, então presidente da ANDE, que o advogado José Rodriguez González faria contato em seu nome.

Em 23 de maio, véspera do acordo bilateral entre Brasil e Paraguai, o assessor jurídico informou aos diretores da ANDE que era preciso excluir o “ponto 6” do acordo de Itaipu, vetando a possibilidade de comercialização de energia elétrica ao mercado brasileiro.

O advogado escreveu textualmente que a ordem era fruto de conversas com a cúpula do governo do País vizinho (Brasil), que teria apontado que o acordo com o Paraguai não era mais “favorável”.

O jornal paraguaio escreveu: “A instrução do advogado do vice-presidente era clara e sem lugar para mal-entendidos: não incluir o ponto 6 para não ‘prejudicar’ a ‘operação em curso’. Para prejudicar quem? Tudo indica que a Leros.”

Ainda segundo o veículo, González, quando consultado sobre a ligação dos Bolsonaro como o negócio da Leros, respondeu: “Foi assim que me disseram”. Ele também informou que em encontro na capital paraguaia, vários executivos foram “negociar, dois brasileiros, (sendo) um deles com credenciais de senador.”

A oposição ao presidente Benítez considera o acordo com o Brasil uma “traição”, pois prejudicou o Paraguai. Até agora, já renunciaram ao cargo o chanceler Luis Castiglioni e outros 3 funcionários de alto escalão, incluindo o senador Pedro Ferreira, ex-presidente da ANDE. Ele alega que abandonou o cargo porque foi “obrigado” a assinar o acordo que não convinha ao Paraguai.

A imprensa critica que o acordo assinado em maio por Bolsonaro e Benítez só foi divulgado na semana passada, por exigência do Senado paraguaio.

“O acordo reverte a divisão da energia de Itaipu acordada em 2009 pelo então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega paraguaio Fernando Lugo. Aquela negociação triplicou a compensação que o Brasil pagava ao Paraguai até atingir os 360 milhões de dólares (1,365 bilhão de reais) por ano”, anotou El País.

“A solidariedade entre os governos de centro-esquerda de Lula e Lugo, que buscavam compensar as incalculáveis perdas que o Paraguai sofreu com a inundação de seu território na construção da represa, levantada pelas ditaduras de ambos os países, será agora substituída por um custo adicional de cerca de 200 milhões de dólares anuais para o Paraguai”, acrescentou.

Em sua defesa, o presidente paraguaio afirma que o acordo era uma maneira de mostrar que o País não depende de “migalhas” do Brasil, e que a negociação era um ensaio para uma grande discussão que ocorrerá em 2023, quando expira a assinatura do acordo firmado entre os países em 1973. O acordo, considerado “injusto” pelos vizinhos, estabelece que o Paraguai, um país menor, deve entregar os excedentes de energia ao Brasil pelo preço de custo.

Antes de renunciar, o chanceler paraguaio anunciou que o País pedira ao Brasil que reverta o acordo.

Segundo o ABC Color, a Leros Energia e Participações é uma empresa com capital social de 5,8 milhões de reais, e está vinculada ao Grupo Leros, com sede em São Paulo.

Redação

8 Comentários

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  1. Mas ja estão “Rolando Lero”?
    Este grupo, alem de energia, também atua em Petroleo e Gas?
    Será que a celeridade na privatização, além da entrega para as multis também visa favorecer bonequinhas como esta?
    Olha, estes novos “Privatas” tem a goela muito grande.

  2. O MP brasileiro não vai atrás. Só se for para derrubar governo “adversário”.
    Seria de bom grado, jornalistas investigativos brasileiros fazerem contato com o jornal paraguaio, para identificar o elo entre a empresa beneficiada (Leros) e família Bozo

  3. Quem era o senador brasileiro que participou da reunião no Paraguai, falando em nome do governo brasileiro? E quem era o outro brasileiro que o acompanhou? Será que Queiroz sabe disso?

  4. O lamentável cenário teima em mostrar que o Brasil está governado por Trump e sua colonia maior, Israel.
    Colocado no planalto à partir de um conluio formado pelo legislativo, pelo judiciário e pelas org globo, incensados pelos mov “populares” financiados por bilionarios de extrema direita (MBL, Tá na rua, etc) tudo sob olhos cerrados das FAs e beneplácito do STF, Bozo não governa. Bozo, um esgulepado, trata apenas de sua família e de seus parceiros cercados de suspeição.

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