Enquanto isso, continua a desconfiança do mercado

Enquanto isto, para os especialistas do setor, os lances elevados continuam gerando desconfiança. Vejam esta matéria do site do SINA, sobre a privatização do Aeroporto de Brasília:

http://www.sina.org.br/turbulencia/

“Não tem jeito, o consumidor vai pagar mais caro”, afirma o economista Rochlin.

15/02 – SINA – Concessão de Aeroportos
Lance elevado gera desconfiança



Especialistas temem que vencedor da concessão do terminal brasiliense não tenha caixa para poder investir.

Por Sheila Oliveira, do “Jornal de Brasilia”

O mercado reagiu com desconfiança ao valor anunciado na privatização do Aeroporto Internacional de Brasília, de R$ 4,5 bilhões. Para economistas, o montante é considerado “impagável” e não corresponde ao valor real do terminal brasiliense. “A receita anual do aeroporto não conseguirá pagar nada além da outorga – o preço pela concessão de uso. O consórcio não terá lucro. Qual é a lógica de investir em algo que não dará retorno?”, questiona Adyr da Silva, ex-presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) e especialista em Transporte Aéreo da Universidade de Brasília (UnB).

O ganhador do leilão, o consórcio Inframerica Aeroportos, formado pela empresa argentina Corporación America e a brasileira Infravix, pagará cerca de R$ 180 milhões por ano, durante o período de 25 anos da concessão. Segundo a Infraero, a receita bruta do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em 2010, não ultrapassou R$ 200 milhões. “Não podemos esquecer que o valor da outorga a ser paga será corrigido todo o ano pela inflação, sem contar a incidência dos impostos”, observa Silva.

EXPERIENTES

“É no mínimo curioso que as empresas com experiência na área de aviação que concorreram no leilão não tenham ganho”, opina Mauro Rochlin, professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). De acordo com ele, o consórcio não poderá economizar nem mesmo no efetivo, já que o aeroporto brasiliense é um dos que possuem o menor número de funcionários da Infraero.

“Essa privatização corre o risco de ser o maior ‘mico’ do governo. A mesma empresa que adquiriu o aeroporto de Brasília também obteve, no ano passado, a concessão do terminal de São Gonçalo do Amarante (RN). Porém, até hoje o consórcio não iniciou qualquer obra de infraestrutura”, revela o ex-presidente da Infraero.

Em entrevista ao jornal Tribuna do Norte, o diretor executivo da Infravix, José Antunes Sobrinho, justifica o elevado ágio no leilão com “opções de receitas que podem ser geradas com o terminal de Brasília”, conhecido pelo tráfego e transferência de passageiros. Ele assegurou que o “imediatismo” necessário à elaboração e execução do projeto em Brasília não implicará em atraso nas obras do terminal de São Gonçalo, já que as obras serão tocadas simultaneamente para suprir a necessidade de acelerar investimentos.

O especialista em mercado financeiro César Bergo concorda que o valor da privatização foi muito alto, mas ressalta o retorno que o consórcio pode ter com o aumento da demanda de usuários. “As empresas fizeram um cálculo dinâmico, ou seja, que leva em conta a receita bruta futura do aeroporto. É algo arriscado, mas as chances de lucro são reais”, avalia.

“A perspectiva de crescimento é realmente muito grande. A taxa de crescimento de novos usuários é maior do que o crescimento vegetativo da população”, completa Rochlin. De acordo com levantamento da Associação Internacional de Transporte Aéreo, a aviação doméstica brasileira cresceu 19% no primeiro semestre de 2011, superando China (7,8%), Índia (7,7%) e Estados Unidos (2,5%). A média mundial, no mesmo período, foi de 4%.

SEM CAIXA

Segundo Adyr da Silva, o consórcio vencedor da concessão do aeroporto brasiliense não possui garantia de caixa para iniciar investimentos. “Eles não têm dinheiro reserva e será difícil conseguir crédito para financiar a modernização”, diz.

Uma das possibilidades para o consórcio será recorrer ao financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que se propôs a financiar 60% das obras civis que visam melhoria para a Copa do Mundo e até 80% da aquisição de equipamentos.

Rochlin destaca que outra aposta poderá ser o comércio no aeroporto. “A expectativa de todos é de que, com a privatização, aumente a concorrência das redes de lojas que atuam no aeroporto”, diz.

Bergo lembra ainda que a nova administração do aeroporto poderá também utilizar espaços ociosos. “A vantagem da privatização é de que a empresa fica livre das amarras da burocracia estatal. Assim um espaço pode ser alugado com maior agilidade, sem necessidade de fiscalização de um Tribunal de Contas, por exemplo”, explica o economista.

A facilidade de abrir um negócio no aeroporto, no entanto, pode levar o valor do metro quadrado do terminal às alturas. “É natural que os espaços passem a valer mais, assim como o valor dos serviços que deve ser pago pelos usuários”, destaca. “Não tem jeito, o consumidor vai pagar mais caro”, afirma o economista Rochlin.

A estudante Verônica Bernadino, 17 anos, que frequenta o aeroporto a cada dois meses, está convicta de que os preços vão aumentar. “É quase óbvio os preços das tarifas de embarque e de produtos disponíveis aumentarem. Mas se os serviços melhorarem na mesma proporção, acho que ainda vale a pena”, opina. 

Redação

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