Entrevista na TVGGN: Os rumos da política no Brasil na visão de Cristina Serra

'Não tenho ilusões de que a imprensa corporativa vai pender para Lula contra Bolsonaro ou não vai tratá-lo de forma preconceituosa"

Jornalista, escritora, repórter de Política em Brasília durante três governos diferentes, com 26 anos só de Rede Globo na bagagem. Atualmente, colunista da Folha de S. Paulo e uma das vozes mais sóbrias, assertivas e intelectualmente honesta da grande mídia. Cristina Serra é a convidada do 61º episódio do Cai Na Roda, o programa semanal de entrevistas exclusivas das mulheres da redação GGN. Do seu lugar de “observadora” do Brasil atual, ela analisa os rumos do País a partir dos resultados da CPI, dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro, das ações de cassação no TSE e da possibilidade de Arthur Lira desembarcar do governo para caber numa terceira via ou para não derreter junto com o presidente da República. Cristina faz também uma análise a respeito do papel da imprensa em coberturas históricas como a Lava Jato, fala de sua trajetória em reportagens especiais, como no caso Mariana (MG), que rendeu um livro publicado em 2018. E comenta, ainda, sobre sua “posição política”.

Estreia na TVGGN no sábado (2/10), às 18h. Assista pelo link abaixo.

Confira alguns trechos da entrevista.

IMPEACHMENT DE BOLSONARO

“Acho que a CPI já deu o que tinha que dar. Não acho que vai acabar em pizza. O saldo é extremamente positivo. A CPI mostra à população que o governo Bolsonaro está ligado à corrupção. Agora, se isso vai resultar em investigações lá na frente? O trabalho da CPI tem limites. Acho pouco provável para que resulte em impeachment. Tudo que aconteceu aqui é estarrecedor o suficiente para ele estar fora do governo há muito tempo. Hoje não tem espaço para impeachment.”

PRESSÃO NO TSE

“Eu vejo o TSE mais como um instrumento de pressão sobre Bolsonaro do que efetivamente algo que na prática vai cassar Bolsonaro e Mourão. Mas o Brasil sempre pode nos surpreender. Talvez eles façam coisas que possam precipitar uma decisão do TSE. Mas não vejo condições concretas para impeachment e cassação.”

GRANDE MÍDIA X TERCEIRA VIA

“Pelo que estou vendo até agora, a grande imprensa corporativa está apostando fortemente e vai continuar investindo, pelo espaço que dá aos potenciais representantes desta terceira via, e pela maneira que ela insiste em tratar Lula e Bolsonaro sob o manto da falsa equivalência. Não dá para tratar os dois como polos extremos. Só tem um extremista, que é Bolsonaro. Qualquer jornalista com o mínimo de honestidade intelectual sabe que Lula no poder foi um conciliador, em que pesem erros que ele tenham cometidos. Não há como compará-los com honestidade intelectual. Infelizmente eu vejo que a ‘escolha muito difícil’ [editorial do Estadão igualando Bolsonaro a Fernando Haddad] parece que vai se repetir. Não tenho ilusões de que a imprensa corporativa vai pender para Lula contra Bolsonaro ou não vai tratá-lo de forma preconceituosa porque entendem a necessidade da gente retomar a democracia e o caminho institucional. Deveria ser assim, mas infelizmente não acho que isso vai acontecer. Muita gente vai ficar no nem-nem, o que às vezes é jogar água no moinho de uma direita violenta.”

AGENDA PAULO GUEDES

“Nós vemos críticas da imprensa corporativa a Bolsonaro, mas não há criticas à agenda econômica do Bolsonaro, que é a agenda do Paulo Guedes. Só isso explica não haver impeachment de Bolsonaro. Nenhum presidente na história do Brasil cometeu tantos crimes de responsabilidade como Bolsonaro e, ainda assim, ele continua no poder, porque há uma elite que acha que ele consegue entregar muitas reformas, passar a boiada. Por isso não vejo possibilidade de impeachment. Se fosse para ter, já teria acontecido.”

A PRAGA DO LAVAJATISMO

“A gente vai levar um tempo para superar essa praga porque ela fincou muitas raízes. Não é uma discussão fácil porque envolve vários colegas, é um assunto espinhoso. Já era claro, antes da Lava Jato, qualquer observador minimamente atento que acompanhasse a cobertura televisiva via como era excessiva e muito, para não dizer totalmente, ancorada nas informações que vinham exclusivamente da força-tarefa. Em vez de fazer sua apuração, a imprensa comeu na mão das fontes oficiais, e isso é muito ruim. Tem que ser estudado para mostrar o que não deve ser feito no jornalismo.”

BANALIZAÇÃO DA MORTE

“Acho difícil, no caso da Covid, que isso aconteça porque são 600 mil pessoas mortas. Já existe noticia de associações de parentes das vítimas que estão sendo formadas justamente para que esses casos não caiam no esquecimento. A palavra certa para isso é genocídio. Espero que o Tribunal Penal Internacional examine isso.”

Redação

2 Comentários

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  1. Não é de hoje que se constata as afirmações da colunista. A mídia golpista,desde o primeiro momento agiu com vem agindo agora,com o diferencial que,em um primeiro momento não havia o presidente Lula para concorrer com o sujeito que ocupa a presidência da república.
    hoje,diante da constatação de que os golpistas mais radicais encontram-se alinhados ferrenhamente com esse sujeito,sobretudo após o 7 de setembro,as esperanças dos golpistas envernizados,como bem citou Haddad,tentarão,como já estão e como sempre estiveram,derrubar ou pelo menos diminuir as intenções de voto no presidente Lula apontada em todas as pesquisas de opinião.
    Como sempre,tudo pode acontecer mas,pelo andar da carruagem,teremos uma disputa entre o presidente Lula e o sujeito que ocupa a presidência da república e,aí,a escolha que era difícil,ficará muito fácil para eles: Estarão com o golpista,não tenham dúvidas.
    Só que,desta vez,sem máscara nenhuma e,aí,teremos uma disputa de Davi contra Golias onde o presidente Lula será o Davi.

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