Todos os anos no mês de Março comemoramos o Dia Internacional da Mulher(08/03). Mais do que uma comemoração, temos sim um dia de reflexão: são histórias de vidas de mulheres pelo mundo, muitas vezes escritas com tintas em carmin. Escrito por: Eliana Rezende – Curitiba, 2014
E é com uma mitologia feminina colorida que inicio a leitura destas tintas.
Lakshmi, Sarasvati e Durga são deusas mitológicas femininas do hinduísmo. Veneradas e reconhecidas pela simbologia que trazem ao imaginário feminino indiano.
Sarasvati é a deusa hindu da sabedoria, das artes e da música e a shákti, que significa ao mesmo tempo poder e esposa, de Brahma, o criador do mundo.
É a protetora dos artesãos, pintores, músicos, atores, escritores e artistas em geral. Ela também protege aqueles que buscam conhecimento, os estudantes, os professores, e tudo relacionado à eloquência, sendo representada como uma mulher muito bela, de pele branca como o leite, e tocando sítara (um instrumento musical). Seus símbolos são um cisne e um lótus branco.
Durga, reencarnação de Satī (Devanagari: सती, o feminino de sat “verdade”) ou Dākshāyanié a deusa da felicidade conjugal e longevidade; ela é particularmente adorada pelas esposas, a fim de procurar prolongar a vida de seus maridos. Um dos aspectos de Devi, Dākshāyani é a primeira consorte de Shiva (o destruidor de mundos), em segundo lugar Parvati, a sua reencarnação.
Ela é também a deusa da beleza, a virtuosa, e ressurge com diferentes manifestações, na forma de outras deusas, daí ser chamada de deusa das mil faces. Tem muitos atributos e, desde a era védica, um dos principais é a fertilidade, a força que gera a procriação no mundo e nas espécies. É a própria geração da energia criadora, em sânscrito chamada de Shakti.
Tomando como mote esta representação mitológica, uma agencia de publicidade indiana decidiu mostrar o que a violência contra a mulher faria com tais deusas. Maquiagem foi usada para adicionar hematomas e feridas às modelos antes fotografá-las.
O resultado:
Eis a recriação da deusa Saraswati.
Esta é a recriação da deusa Durga.
A campanha adverte: “Só no ano passado, 244.270 crimes contra mulheres foram registrados na Índia.”
E o Brasil?
Quanto se aproxima ou distância dessa campanha?
O relatório do IPEA (Instituto de Pesquisa Aplicada) inicia seu relatório de 2013, referente ao período compreendido entre 2009 e 2011 com a seguinte afirmação:
“A expressão máxima de violência contra a mulher é o óbito”
Apesar de forte traz em seu bojo uma verdade contundente: a violência pode simplesmente extirpar o direito à vida. Mas essa expressão máxima ocorre uma única vez. E o que ocorre com todas aquelas pequenas, frequentes e intermináveis violências sofridas cotidianamente e que não constam em estatísticas, dados ou registros? Escrito por: Eliana Rezende – Curitiba, Março de 2014
De acordo com o relatório:
- Estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia.
- Mulheres jovens foram as principais vítimas: 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos.
- 61% dos óbitos foram de mulheres negras, que foram as principais vítimas em todas as regiões, à exceção da Sul.
- A maior parte das vítimas tinham baixa escolaridade, 48% daquelas com 15 ou mais anos de idade tinham até 8 anos de estudo.
- De acordo com os dados do documento, o Espirito Santo é o estado brasileiro com a maior taxa de feminicídios, 11,24 a cada 100 mil, seguido por Bahia (9,08) e Alagoas (8,84).
- A região com as piores taxas é o Nordeste, que apresentou 6,9 casos a cada 100 mil mulheres, no período analisado.
- A legislação sobre violência doméstica em Gana, Namíbia, África do Sul e Zimbábue inclui as formas emocional, verbal, psicológica e econômica.
- A prática do casamento forçado foi criminalizada na Noruega a partir de 2003 e no Reino Unido, em 2007.
- O artigo 341 do Código Criminal da Argélia criminalizou o assédio sexual.
- Nos EUA, o Título VIII “Proteção de Mulheres Imigrantes Vítimas de Agressão e Tráfico” da Lei sobre Violência Contra as Mulheres está em vigor desde 2005.
- No Camboja, a Lei contra o Tráfico de Pessoas para fins de Exploração Sexual foi aprovada em 2007.
- A República do Benin implementou em 2003 a Lei sobre Repressão à Prática de Mutilação Genital Feminina.
- Na Holanda, segundo as Diretrizes para Implementação da Lei de Estrangeiros, se uma garota está sob risco de mutilação genital, pode ser concedida residência permanente no país a ela e sua família.
Aqui os índices são reveladores: o grau de violência aumenta contra a mulher na mesma proporção em que o nivel de relação com o agressor também cresce. O que reforça a compreensão de que a violência contra a mulher é sempre vinda pela mão de um agente conhecido ou próximo.
A Sociedade e a percepção da violência
Uma pesquisa de opinião, realizada pelo Data Popular e Instituto Patrícia Galvão, revelou que a sociedade percebe e sofre tais índices. Em forma gráfica, veja de que forma:
A violência doméstica ainda rouba existências, sonhos, direitos, dignidades… vidas.
Tingem de sangue ao mesmo tempo que apagam viveres, possibilidades.
Maculam laços e revelam que números não são suficientes para dar conta de projetos não realizados, de vidas não vividas. Não dão conta de mostrar que a violência pode também ocorrer por dias, anos, toda uma vida cotejada em carmin por constantes maus tratos, desrespeitos, assédios, silêncios e não ditos. Calam e intimidam suas vítimas pelo medo ou força.
Ah! E já ia esquecendo: ainda teremos o Dia do Índio, da Árvore, da Água, da Criança…
Conheça o site:
http://www.compromissoeatitude.org.br/home/pagina-inicial/
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