Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Esperando o improvável e as saídas para a crise, por Aldo Fornazieri

Esperando o improvável e as saídas para a crise, por Aldo Fornazieri

Muitos atores políticos, econômicos e sociais, que são contrários ao impeachment de Dilma e também não gostariam de lidar com sua renúncia esperam do governo um acontecimento, um ato, que o retire do desgoverno em que está mergulhado. Trata-se da espera do improvável, pois tudo o que o governo fez nesses nove meses de segundo mandato foi agravar a sua própria crise. É certo que o governo vem sofrendo ataques de várias direções. Nestas circunstâncias, o que se esperava era que o governo se ajudasse, buscasse apoios, agregasse forças, tivesse propostas para sair da crise. Caminhou no sentido contrário de tudo isto, ajudando os seus inimigos no processo de sua destruição.

O rosário de trapalhadas é longo. Basta lembrar as últimas: envio do Orçamento com déficit ao Congresso; inação no enxugamento da máquina e na adoção de medidas de ajuste, provocando a perda do grau de investimento; boicote ao ministro Joaquim Levy, aumentando as desconfianças sobre o governo; boicote a Michel Temer vindo da Casa Civil, afastando ainda mais o PMDB do governo;  propostas de ajuste fiscal que penalizam os mais pobres, cortam gastos sociais, fator que mobilizou os movimentos sociais contra o governo; idas e vindas na questão da CPMF; decreto que tirava poder dos comandantes militares, restituído pelo ministro da Defesa; proposta de corte de gastos públicos que corta pouco mais que nada, provocando efeitos negativos na sociedade; manutenção de Aloísio Mercadante na Casa Civil contra a vontade do PT e do PMDB; incapacidade geral de articulação de forças políticas, protelação de medidas e crescente afastamento de aliados e apoiadores.

Um governo contra si mesmo

A presidente Dilma tornou-se a própria crise. Além de concepções equivocadas sobre política macroeconômica e gestão, Dilma não age como pessoa política, mas como pessoa natural que se deixa dominar pelas suas emoções e sensibilidades. Veja-se o caso da manutenção de Aloísio Mercadante. Mesmo com a evidência de que sua manutenção produz enorme desgaste ao seu governo e o afastamento de aliados, ela teima em mantê-lo. Ao agir desta forma, nessa e em outras circunstâncias, Dilma não age em benefício do seu governo, do Estado e do país. Age movida pelas suas convicções errôneas, pela sua teimosia e pela incapacidade de exercer o autodomínio. Coloca as suscetibilidades pessoais acima do país.

Desde os tempos antigos até os tempos modernos, uma das qualidades preeminentes que se exige do líder é a capacidade de autodomínio, de domínio de suas emoções e impulsos. Esta é condição imprescindível para que a liderança política seja exercida politicamente e não a partir da pessoa natural do líder. Quem seguir este último caminho está condenado ao fracasso. Dilma nunca conseguiu conferir investidura política à sua pessoa. Inventada por Lula, produzida pelo marketing, ela age pelos impulsos, pelas incontinências verbais de uma personalidade emocionalizada. Sem prudência, cerca-se de maus conselheiros que reforçam o modo incontinente de agir politicamente.  

Nada há o que se esperar desse governo. Sua possível salvação não depende mais dele mesmo. Depende de um acerto de líderes e partidos feito por fora do próprio governo. A dificuldade está na articulação desses operadores, pois os desentendimentos são muitos e os interesses são vários. Desta forma, os partidos e os atores políticos intensificam os cálculos acerca de um cenário no qual Dilma não será mais presidente.

Desembarque do PT?

O PT vive uma dúvida perturbadora: lutar para manter Dilma até o fim ou articular uma saída que implica a sua renúncia? Um cenário sem Dilma, impensável para o PT até há pouco tempo, agora vem sendo cada vez mais discutido nos bastidores do partido. O PT já não consegue ter controle sobre a variável do impeachment. Depende do PMDB e de outros aliados. O PMDB está a cada dia mais distante do governo.

Se Dilma permanecer no governo, o mais provável é que PT e Lula caminhem juntos para o matadouro em 2018. As perspectivas não são nada boas. Em 2015, o PIB deverá ser 3% negativo. Em 2016, consultores indicam um PIB, no mínimo, 1% negativo. O desemprego e o desmanche social são uma realidade. Tudo o que foi ganho na era Lula em termos de empregos e salários, poderá ser perdido.

Em face deste cenário e diante da possibilidade do impeachment ou de o governo não conseguir aprovar a CPMF, muitos petistas cogitam que a melhor saída pode ser a renúncia de Dilma. Não lhe faltariam alegações legítimas. Sem Dilma, o PT passaria imediatamente para a oposição e Lula a comandaria, posicionando-se contra as duras e amargas medidas de ajuste que terão que ser implementadas. O PT buscaria reconectar-se com a sociedade e com os movimentos sociais. Vislumbrar-se-ia a possibilidade de pavimentar um árduo caminho para 2018, pois o PT teria que haver-se também com a crise moral e a deslegitimação do partido. Mas haveria um caminho.

As Dúvidas do PMDB e do PSDB

As dúvidas do PMDB talvez sejam maiores do que as do PT. Em algum momento, o partido terá que romper com o governo e o com PT para construir um caminho próprio para 2018. Mas, quando romper e como romper? Uma das possibilidades é romper agora, através do caminho do impeachment ou tirando todo apoio ao governo no Congresso, levando Dilma a renunciar. O caminho do impeachment é complicado, pois não há consenso no partido. Ademais, Fernando Baiano assinou acordo de delação premiada e não se sabe o que poderá vir daí contra a cúpula peemedebista.

Admitindo o impeachment ou a renúncia de Dilma, o PMDB poderia empalmar o poder formando uma coalizão de partidos para dar apoio ao governo Temer. Mesmo que o PSDB não viesse a integrar formalmente o governo, poderia dar-lhe respaldo no Congresso. Mas o PT e os movimentos sociais lhe fariam forte oposição em um ambiente de recessão, desemprego e manifestações sociais. O PMDB poderia afogar-se sozinho e não conseguiria se livrar da pecha de traidor. Mas surge também a tese de que Temer poderia exercer um mandato tampão e convocar novas eleições. Seriam as eleições mais conflagradas da história da república. Não há nenhuma garantia de que o novo governo seja um governo estável e capaz de tirar o Brasil da crise.

O PSDB alimenta suas dúvidas dividido. Aécio Neves quer ou a cassação da chapa Dilma-Temer com nova eleição ou o impeachment. Alckmin não quer nem uma coisa e nem outra. Prefere que Dilma siga ferida até 2018. Para parte do PSDB, o impeachment é um complicador, por dois motivos: poderá viabilizar o PMDB como alternativa para 2018 e colocará o PT na oposição, deixando o PSDB num certo limbo. Se o impeachment se concretizar, o PSDB e Aécio Neves não conseguirão se livrar da pecha de golpistas para o resto da vida. Serão acusados de responsáveis pelo agravamento da crise econômica e social.

Como se vê, o Brasil enfrenta uma crise de alternativas para a crise. Nenhum dos três principais atores políticos está seguro em dar um passo ousado. A crise se afigura como um terrível Minotauro num labirinto sem saídas. Não há um Teseu corajoso e astuto para enfrentá-lo e nem um novelo de lã capaz de trazer para fora do labirinto aqueles que nele estão mergulhados. No final das contas, o melhor para todos, e para o Brasil também, consistiria em que o governo Dilma tivesse algum tipo de viabilidade. Contudo, como se disse, essa viabilidade já não depende do governo, mas da bondade alheia.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

9 Comentários

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  1. O que leva as pessoas para a politica?

    Deveria ser as boas ideias, a vontade de implementar as ações em beneficio da maioria etc .

    O que os nosso politicos querem? Ostentação ( o sr doutor deputado de tal…),  grana ( caixa 1 caixa 2,  esquemas etc ) e privilegios, inclusive perante a justiça.

    E o resultado disso tudo: uma geração de politicos mediocres, com exceções de praze.  

    A  nossa crise é resultado de politicos imcompetentes tanto na oposição quanto na situação.

    Aprecio a politica e leio bastante sobre o assunto e cada vez me convenso mais do que escrevi acima.

     

  2. Esta é uma das muitas sugestões que enviara ao GGN

    O novo LayOut.

    (A bem da verdade, minha sugestão de destaque também pelo Contato – que nunca responde…- foi tímida – por minha suposição ou minha preconcepção de que o GGN não iria acatar ou repensar no layout de todo o Portal).

    Este novo layout ficou melhor. Há outras sujestões que algunm dia não sei se vão aproveitar em parte, ou não. (Sou filho de Deus, e tenho vaidade de poder colaborar, sugerir e – porque é bom, se levar à ponderação por 2, 10 vezes – criticar )

    1. sorry, acabo de ver, só agora por não querer ligar o PC

      é a tecnologia que a mim me serve, e não a interdependencia, nem a dependência, nem muito menos a suposta “informação” e “debates” em blogs, internet, facebooks – essas crenças espalhadas por parte de pessoas de bem, de fé, e que são um conforto válido, de qq maneira. Esta é apenas uma opinião. Há outras que eu presumo conhecer, e outras mais que não consigo imaginar.

  3. Ou seja, não há saída. Eu

    Ou seja, não há saída. Eu acho que há, e ao contrário do Fornazieri depende da Dilma. Ainda mais num presidencialismo como o brasileiro muito centrado na figura do presidente.

    Concordo que os que querem que o mandato se cumpra até o final esperam por gestos do presidenta. Esse pacote enviado ao congresso não foi o suficiente, certo, mas foi alguma coisa. A tal agenda BRasil veio do Rena, este pelo menos veio da Dilma. 

    Na minha opinião na batalha do pacote no Congresso, principalmente na questão CPMF, a presidenta terá que necessariamente fazer política. Daí se espera um mínimo de aprendizado nesse sentido. Senão houver aí fica dificil, porque o presidência é um cargo eminentemente político

  4. Preferia (se fosse em destaque já sugerido que o GGN recebeu)

    mais ou menos o outro layout do Posts do Dia (mas com algumas mudanças que já sugeri no “Contato” e publicamente nalguma postagem

  5. nem aos pés de Brasilianas, Márcio Porchman ou André Singer

    e uma ultraboa entrevista com André Singer, em recente Diálogos, 5ªs feiras, por Mário Sérgio Conti, Globonews, 23:00 às 23:30 horas. Sem arrodeios, linguagem coloquial, sem tergiversações, e sem estrelismos.

    (Claro que, por pouquíssima gente ficar acordada e apreciar esse tipo de programa, a Globo se permite a esse luxo)

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