Esquerda tem capilaridade, mas falta narrativa própria e estratégia nas redes sociais, diz Letícia Sallorenzo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A mestra em Linguística da UnB é a convidada do Cai Na Roda da TV GGN. Em pauta, a batalha comunicacional nas redes sociais

Publicada originalmente em 29/08/2020

Jornal GGN – O ativismo digital da militância de esquerda garante ao campo progressista uma “capilaridade orgânica” nas redes sociais. Mas por falta de narrativa própria e novas estratégias, essa força é “muito mal aproveitada e explorada” em tempos de bolsonarismo digital.

Dois anos depois de uma derrota histórica na disputa presidencial de 2018, as esquerdas ainda não demonstram total compreensão e domínio sobre o modo como a extrema-direita instrumentaliza a internet para ganhar eleições, nem indicam como pretendem confrontá-la neste terreno em 2020 e 2022. “Ninguém entendeu exatamente qual é a das redes sociais, a do microtargeting, qual é a do processo de internet”, disse.

A avaliação é da jornalista e mestra em Linguística da UnB Letícia Sallorenzo, a convidada especial deste sábado (29/8) no Cai Na Rodao programa semanal de entrevistas no Youtube com as jornalistas do GGN. A batalha comunicacional entre direita e esquerda nas redes e a gramática da manipulação na imprensa foram os temas centrais do episódio que será divulgado a partir das 10h.

Ao longo da entrevista, Letícia fez uma análise crítica do papel da grande imprensa e da mídia progressista na política nacional. Ela também detalhou aspectos da eleição de Donald Trump em 2016 que antecederam o fenômeno bolsonarista de 2018 – este último mudou o foco de atuação do Facebook para o WhatsApp.

Ela também alertou sobre como a esquerda infla a narrativa da extrema-direita em suas manifestações nas redes sociais. E apontou a urgência da descoberta de meios de coibir práticas sem nenhuma ética na internet. A continuar do jeito que está, e sem um plano para reagir à altura, as esquerdas tendem a sofrer um novo baque em 2020 e 2022, disse.

Confira pontos de destaque abaixo:

A MANIPULAÇÃO NA GRANDE MÍDIA

Na eleição de 2014 a gente via que a imprensa ainda tinha alguma influência. Houve um trabalho para enaltecer Aécio Neves e denegrir a imagem de Dilma Rousseff. O WhatsApp não era tão influente como foi em 2018. “O que percebi em 2018 foi que uma parte da imprensa fez a tentativa de desmerecer Dilma. Estadão fazia isso de maneira mais descarada. O Globo não ficava atrás. Folha tentava se fazer de isentona, mas dava suas escorregadas.” Havia uma necessidade muito grande de demonizar o PT, mas erraram na dose e acabaram demonizando a política. Isso abriu a porta para a entregada da extrema-direita. A imprensa agora está sem nenhuma influência.

Trazendo isso para a situação atual: no Jornal Nacional, por exemplo, o discurso do “fique em casa” por causa da pandemia do novo coronavírus “enfraqueceu”. “Significa que o discurso do Bolsonaro venceu.” As mortes estão em 1 mil por dia e todos estão na rua ou trabalhando. “Quem manda nesse País, quem dita a narrativa, é a tia do zap.” De onde vem isso? Do gabinete do ódio? A gente conseguiu comprovar isso?

POR QUE BOLSONARO APANHA MENOS QUE O PT NA MÍDIA?

“Tem nome e sobrenome o motivo da imprensa não bater em Bolsonaro: Paulo Guedes. Enquanto Guedes mantiver alguma esperança ou chance de cumprir com a agenda neoliberal dos poderes financeiros, Bolsonaro será mantido.”

A COMUNICAÇÃO DA ESQUERDA DESDE A DERROTA EM 2018

“Se alguém disser que a esquerda foi pega de supetão em 2018, a minha vontade é de encher essa pessoa de sopapo, porque não foram pegos de surpresa. Foram avisados, reavisados, super avisados, reavisados de novo. Quantas vezes a gente viu a imprensa noticiando que o estrategista de Trump estava chegando ao Brasil? Ninguém viu o que estava acontecendo nos EUA? O pessoal que fez a estratégia do Trump estava chegando ao Brasil e isso não acendeu a sirene vermelha?”

“A gente tem uma capilaridade orgânica natural nas redes, a esquerda tem essa característica e é muito mal aproveitada e muito mal explorada hoje em dia. Em 2014 ela funcionou direitinho.”

“Em 2018 eles não sabiam o que fazer. O PT estava mais preocupado com Lula do que com a campanha em si, e isso se refletiu. A campanha do Haddad estava sem cabeça. Não tinha uma ideia, um norte, uma proposta de comunicação. Não tinha nada. E o pessoal não entendeu o que aconteceu. Essa falta de compreensão em 2018 ainda dá para dizer: ‘a gente não sabia o que acontecia’. Agora não dá mais não. Agora não. Agora tem documentário na Netflix chamado ‘Privacidade Hackeada’. É dever de casa todo mundo assistir. Além do documentário, tem um livro da Brittany Kaiser chamado Manipulados. A Brittany é a pessoa que saiu da Cambridge Analytica e começou a contar tudo que acontecia. Os capítulos 9 e 13 são obrigatórios no meu curso na UnB. Ali existe a descrição perfeita do que aconteceu em 2016 nos EUA e do que aconteceu em 2018 aqui no Brasil, e do que vai acontecer agora em novembro, porque vai acontecer, tanto aqui nas eleições municipais no Brasil, quanto lá [na presidencial] nos EUA.”

A CHAVE ESTÁ NA SEGMENTAÇÃO E NARRATIVAS PERSONALIZADAS

“A alma desse negócio é o microtargeting.”

Enquetes que respondemos no Facebook têm por trás delas uma pontuação chamada “pontuação ocean”, que verifica a empatia em relação a vários assuntos e, principalmente, o nível de neurose de cada um. Essa pontuação somada ao tipo de like que você dá no Facebook, à página que você visitou, “tudo mapeia seu perfil psicológico”. “Não estamos mais falando de invasão de privacidade, estamos falando de invasão de intimidade. Uma pessoa que não me conhece, não sabe quem eu sou, está antevendo e prevendo as minhas movimentações na rede mediante o que eu faço. Isso é muito sério. Não existe nada que regulamente isso, nem aqui, nem nos EUA, e na Europa, mal e mal estão começando a querer fazer alguma coisa.”

Em 2016 havia esse mapeamento no Facebook americano que atingia mais de 500 mil contas. Com tudo mapeado, era possível direcionar a campanha para o público-alvo com uma precisão que outros tipos de plataforma não oferecem. Não precisava ir a um local pedir voto, bastava fazer anúncios para as pessoas mais inclinadas a ouvir o discurso de Trump. “São os chamados Dark Ads”. Ads vem de “Advertisement”, em português: propaganda. 

“Quando isso chegou aqui, as pessoas decidiram fazer pelo WhatsApp porque é muito mais difícil de rastrear.”

“Em 2014, boa parte do trabalho do Muda Mais [que fez a campanha de reeleição da Dilma Rousseff nas redes sociais] era mapear as redes, levantar o que estava sendo dito e daí a gente sabia o que fazer, como proceder. Em 2018 não tinha como fazer isso [no WhatsApp]. A gente recebia a informação quando ela já estava há dois, três dias rodando pelos zaps da vida. Além dos zaps, a gente tinha um monte de pastor evangélico falando cobras e lagartos do PT, do Haddad e do Lula.”

A campanha, de forma alguma, de nenhum aspecto, ela foi uma campanha limpa.”

A COMUNICAÇÃO DO GOVERNO BOLSONARO

“Os Bolsonaro são quatro idiotas. Nós temos mais capacidade de bolar um plano e estratégia de comunicação do que eles. Isto posto, o que a gente conclui? Que tem gente por trás deles. Que toda a estratégia de comunicação vem de fora. Não me digam que Steve Bannon não comanda os Bolsonaro porque eu não acredito. Até porque Steve Bannon é a pessoa que faz a conexão da extrema-direita no mundo. Ele tem conexões na França, Itália, Hungria, Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Tem uma comunicação da extrema-direita funcionando baseada em mentiras e fake news.”

Para que campanha institucional se a ideia é manter todo mundo coeso, seguindo o Bolsonaro, o ‘grande mito’? O que você tem que fazer é continuar alimentando a neurose dessas pessoas, a desconfiança, o medo, é isso que está acontecendo. Temos uma realidade de um presidente verdadeiramente populista de direita, que trabalha com inimigos. Bolsonaro só existe se houver um antagonista. Ele nunca vai governar, porque se ele conseguir eliminar todo mundo, ainda assim ele não vai saber o que fazer. No momento ele está lutando contra inimigos. Então como ele faz isso? Disseminando fake news.

E A ESQUERDA NAS REDES SOCIAIS?

“Fake news é mentira funcionalizada, ou seja, alguém está mentindo para conseguir um resultado final. Isso só funciona se no meio houver uma mídia de propagação rápida e imediata de grande volume. Sem as redes sociais, as fake news não funcionam.”

“Quem conta uma mentira está contando com que isso seja espalhado, disseminado. É uma das estratégias da firehosing.”

“Então a narrativa deles só funciona se for propagada em grande volume. Do lado de lá, quem propaga as mentiras, na grande maioria, é robô. Quem propaga do lado de cá é gente real. Gente de carne e osso que comenta, interage, diz que é absurdo e reproduz.”

“O jornalismo da Globo fala o óbvio porque ninguém está falando o óbvio hoje em dia! A gente só ouve absurdos.”

“Por mais que a gente negue, a gente está reforçando e repercutindo o que eles falam.”

“O principal é não citar o que eles dizem. No momento em que a gente repete o que eles dizem, a gente está reforçando. A ideia é: ele está falando besteira, deixa ele falar besteira. Esquece o que ele está falando.”

“Você não precisa deixar o absurdo passar batido. Mas você não precisa citar o que ele está falando. Em vez de dizer: ‘olha, o Bolsonaro está dizendo que pular de precipício é legal, que absurdo!”, melhor dizer: ‘tem gente incentivando as pessoas a se suicidarem’.”

“O nome disso é reforço de frame [ou reforço de narratiba]. Em vez de dizer: ‘Galera, o Bolsonaro está falando para a gente ir para a rua!’, a gente tem que dizer: ‘fique em casa’. O frame é fique em casa. A gente tem que ter uma narrativa nossa.”

“Não vamos pegar frase dele e aplicar no nosso discurso porque isso não funciona. Temos que ter discursos próprios.”

O PAPEL DA MÍDIA PROGRESSISTA 

“Não estão no caminho certo. Nós precisamos de uma narrativa nossa. Nós não temos nem o que falar.”

“O que o PT anda falando agora: ‘que o PT é quem defende você’. Ok, e aí? É só isso que tem para falar? A gente precisa de mais estofo, mais força nesse discurso. Mostrar para o trabalhador que ele está desamparado, sim. Que esse negócio de empreendedorismo não é para qualquer um.” 

“Em vez de falar “reforma da previdência”, por que ninguém fala “destruição da previdência?” É uma palavra que diz tudo. Taí o título “Jair Rousseff” que não me deixa mentir.”

O CAMINHO NA ELEIÇÃO 2020

“Para esta eleição, nós vamos tomar uma tunda bonita. Vamos ter que fazer trabalho de formiga. Chegar para cada um que diz que Lula e o PT roubaram e perguntar como era a vida dessas pessoas na época do PT. Colocar a sementinha da dúvida.”

“Está todo mundo preocupado com a fake news, achando que o mais importante é pegar quem financia o caixa 2. Isso também é importante, mas a minha preocupação é com a tia do zap. Como vai ficar a cabeça da tia do zap depois de receber mentiras incessantes. Como fica a cabeça dela? Está todo mundo desaprumado. Está todo mundo numa vibe em que começa a acreditar que pular de precipício não é tão ruim assim.” 

“No meu doutorado eu tenho a tese de que quem se alimenta de fake news é como se tivesse com vício em heroína. Você não vai dizer para uma pessoa delirando de heroína que ela deve correr uma maratona porque é saudável. Precisa levar essa pessoa a um condicionamento físico antes. É um trabalho de formiga, complexo, no mano a mano. O que temos a favor disso é: é o tipo de coisa que a gente adora fazer, que é falar, então vamos fazer. É falar e também aprender a ouvir. Entender o gatinho que fez essas pessoas pararem de ouvir aquele partido que deu boas condições de vida a elas?”

SE NADA MUDAR, BOLSONARO É REELEITO

“Sim, e está na hora da gente entender o que é isso. Porque ninguém aqui no Brasil entendeu exatamente qual é a das redes sociais, a do microtargeting, qual é o do processo de internet. E precisamos urgentemente descobrir maneiras de coibir isso.”

“Isso é coisa de submundo. Quem faz esse trabalho com fake news não são pessoas que prezam pela ética. Esse tipo de ação sempre vai acontecer. Temos que coibir o máximo possível. Temos que oferecer letramento digital e discurso para todo mundo. Fazer a tia do zap voltar a desconfiar de tudo que acontece. As pessoas têm que entender em quem ganha e quem perde com uma mentira, e como uma mentira é estruturada. O modus operandi deles não vai muito.”

“Lula Livre é importantíssimo, mas não é a única coisa a se fazer. Por que como vai ser o PT depois do Lula? É uma pergunta a ser feita.”

A esquerda tem que parar de classificar o mundo entre trabalhadores e empregadores. Não funciona mais do ponto de vista prático. A comunicação da direita não quer saber do papel social, ela ataca o indivíduo no seu íntimo. 

“Nós temos que pensar seriamente se vamos fazer esse jogo da direita para a gente brigar de igual para igual. O problema disso é que vamos nos igualar a eles em termos éticos e morais. E eles contam com a gente não se igualar a ele. É uma sinuca de bico. O que nos resta? Leis para coibir isso.”

“A gente precisa ver como falar com o lado de lá”, e reduzir o tempo perdido em debates nas bolhas das esquerdas.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. “capilaridade orgânica” nas redes sociais… sério? Pra mim a esquerda só fala pra quem é de esquerda, não tem a menor capilaridade em outros grupos. Ainda mais depois destes anos de demonização e bombardeio de desinformação. Você acha mesmo que a turma cooptada pela direita vai baixar a guarda do preconceito já enraizado para ouvir (e entender) uma narrativa que venha de alguém que se assuma com o rótulo de esquerda? Estamos num momento histórico em que o ponto disto já passou. Só vai haver capilaridade se houver junto uma abordagem eficiente para desconstrução dos métodos usados para a demonização.
    Sabem quem tem capilaridade no povão? Os pentecostais. Isto depois de décadas de trabalho de base intenso de lavagem cerebral. E o bolsonarismo capturou esta base e juntou com sua base ‘indignada-com-tudo-que-está-aí’, que mistura misógenos (todos os anti-politicamente corretos), saudosistas da ditadura, milicianos, um balaio de gatos unidos pelo cimento do ódio, ignorância, ressentimento, etc. Enfrenta esta esfinge…

  2. Que tal?
    “A voz do Lula”
    A grande mídia sempre tratou o Lula como inimigo. Bateu à vontade, sem direito de resposta, no Lula e no PT. Isso desde o tempo do mensalão criou no imaginário popular a crença de que Lula é um diabo ladrão comunista analfabeto.
    Não adianta esperar que esse estado de coisas mude por iniciativa de quem sempre se preparou como se fosse participar de uma luta quando ia conversar com o Lula: ” – Esse é um interrogatório que se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema”.
    Mas, a mídia progressista pode devolver ao povo o direito de ouvir o Lula, sem intermediários nem censura.
    Pode gerar diariamente a “A voz do Lula” , um vídeo para ser publicado todos os dias no mesmo horário. Penso em algo que dure de, no mínimo, um a, no máximo, três minutos.
    Devolver ao Lula um canal de comunicação direto com o povo.
    Material que pode (e deve) ser compartilhado com os demais canais progressistas.
    Filme fácil de ser encaminhado via mídias sociais.
    …A globo (e suas metástases) levou anos desconstruindo a imagem do Lula. Se deixarem o homem falar ele recupera o apoio que perdeu para a propaganda maciça, rapidamente.
    Muito obrigado por ler isto!

  3. É só continuar falando pro povão que o sujeito é MISÓGENO, e não que gosta de bater em mulher. É só continuar falando pro povão que a burguesia o explora, e não que o patrão o rouba e por aí vai continuar se fudendo, isso mesmo popular fuder-se. Acha que Nassif entende e não vai censurar.

  4. Acho engraçado tudo quanto é artigo que fala que “a esquerda” não sabe usar as redes sociais… ou “o PT” não soube educar seu eleitorado.
    Todos dizem a MESMÍSSIMA COISA, sem levar em conta o que realmente importa: ódio, preconceito, racismo…
    A “direita bozonarista” não criou nada novo, não tem “capilaridade” nem “penetração”… o que faz é surfar no ódio. Um ódio é sempre existiu neste país que nunca decidiu sua real identidade, como aconteceu nas guerras civis dos paises mais desenvolvidos.
    Não há deidade política que faça o que se pede da “esquerda”.
    Se todos apontam o mesmo “erro”, pq ninguém aponta uma “solução”?
    Não existe! A não ser que a esquerda pare de ser esquerda e comece a manipular corações e mentes, stalinisticamente… como a direita faz sem esforço, mentindo, adulterando, odiando.

    1. Isto é um problema gravíssimo: Defender ódio, preconceito, racismo, misoginia, atos politicamente incorretos, grosserias, egoísmo e soluções simples e fáceis, tudo isso é facilmente aceitável por qualquer um. E a Direita extremista promove isso aí. Mas como fazer para semear perdão, compreensão, civilidade, soluções complexas, realistas e com resultados limitados, se a maioria das pessoas não está disposta a ouvir isso? Como contrapor o que a extrema direita oferece, se o que temos a oferecer ninguém quer?

  5. Resumindo a perspicaz e oportuna análise da Letícia Sallorenzo: O ativismo digital da esquerda precisa de uma narrativa própria e estratégias adequadas para enfrentar o bolsonarismo digital.

    “A gente precisa ver como falar com o lado de lá”, e reduzir o tempo perdido em debates nas bolhas das esquerdas.”

    Numa live recente, o ex-ministro da SECOM, Franklin Martins, reconhece que a esquerda perdeu a batalha da comunicação nas eleições de 2018. Segundo ele, após ter vencido em 2014.

    A presidente do PT, Gleisi Hoffman, há pouco, também reconheceu deficiência na comunicação do partido com sua base eleitoral e demais eleitores potenciais.

    Nesta live do “Cai na Roda”, a Letícia reforça esta percepção da falta de uma narrativa própria e estratégias adequadas para enfrentar o bolsonarismo digital.

    Em Engenharia, uma conhecida regra prática diz: “Nada se cria, tudo se copia”. Sempre com as devidas adaptações e ajustes de um caso para o outro.

    Resumindo, é imprescindível criar um “Gabinete do Bem”, utilizando as tecnologias das redes sociais e adaptando a estrutura organizacional do bolsonarismo digital revelada pela CPI das Fake News. Nada de perfis falsos, operadores bancados com dinheiro público, memes de ódio e outras práticas criminosas.

    A ideia é criar uma rede de comunicação coordenada, que dissemine mensagens informativas e esclarecedoras, numa linguagem acessível ao público que já votou em Lula/Dilma, e que nas últimas eleições votou no “capetão”, muitos deles influenciados pela enxurradas de mensagens falsas recebidas pelas redes sociais, além das “fake news” divulgadas pela mídia corporativa, com destaque para as Organizações Globo.

    O objetivo é informar “em tempo real” este público amplo sobre o que está ocorrendo no Brasil, e como isto prejudica suas vidas. Público este, que busca nas religiões evangélicas e no bolsonarismo digital um alívio para o mal-estar permanente que percebe, mas que desconhece a origem.

  6. Uma luz na escuridão. A comunicação mudou, se continuarmos na toada: nós fazemos “textão” e eles fazem “memes’, levaremos uma trolha ainda mais dolorida nas próximas eleições.

  7. Respeitosamente discordo de alguns pontos abordados pela Sra. Letícia quanto a atual importância da imprensa corporativa brasileira em tempos de redes sociais.
    Segundo informações publicadas por um site na internet a tiragem mensal somada em dez/2014 dos principais jornais impressos no Brasil era de 1,2 milhão de exemplares. Em out/2019 esse número caiu para 589 mil exemplares no mês somados.
    Mesmo que a gente quadruplique esses números considerando o compartilhamento de um mesmo exemplar entre as pessoas somado a consulta dos respectivos portais digitais não teremos um número suficiente para afirmar que esses veículos algum dia influenciaram as decisões políticas da massa de brasileiros. Mesmo antes da internet e das redes sociais.
    Por outro lado, a TV ainda exerce grande poder de influência sobre a massa e, apesar da queda de audiência, ainda tem uma penetração muito grande. Principalmente as TVs abertas tradicionais.
    A vitória da extrema direita em 2018 foi apoiada em um fenômeno construído, principalmente, pelas TVs abertas, que foi o antipetismo. Toda a campanha de mentiras e ataques se apoiou nisso reforçando nas redes o que se diz nas TVs a mais de 10 anos. Prova de que a TV ainda tem o seu poder é o fato de que a campanha antibolsonaro conduzida por alguns canais desde o início de 2019 fez sua popularidade cair em relação ao que tinha logo após as eleições, só aumentando um pouco agora por conta do auxilio emergencial. A extrema direita aparentemente consolidou seus 30% via redes sociais porque as matérias negativas não estão afetando essa turma. Todos os demais ainda serão afetados pelo comportamento do jornalismo das TVs, seja para o bem ou para o mal.
    E na análise deste cenário todo penso que não podemos esquecer que existem várias suspeitas de ações irregulares na comunicação da extrema direita via redes desde 2017 envolvendo financiamentos ilícitos, uso de equipes e robôs pagos por empresas para impulsionar mensagens em massa e outras ações proibidas por lei, mas que até hoje não foram investigadas.
    Então, para entender o poder real das redes na influência política precisamos retirar da análise todas as ações suspeitas de estarem fora da lei e avaliar o que sobra. Além disso cobrar das autoridades como serão as regras do jogo para as eleições desse ano e todas as demais em relação ao controle e proibição do uso de artimanhas ilegais via redes.
    As ações recentes do STF contra grupos de propagação de mentiras nas redes não significam que eles não poderão estar todos reorganizados para atuarem nas eleições.
    O problema não são as mentiras em si, mas sim, seu alcance via meios ilícitos. Nesse caso penso que o maior problema é o tráfego e não o conteúdo.

  8. Nos últimos três dias, tem aparecido no Facebook uma série de postagens de evangélicos patrocinadas desenvolvendo o velho discurso antiesquerdas e moralista das últimas eleições.
    É claramente uma antecipação do que teremos na próxima campanha eleitoral.
    O que buscam é reforçar a desinformação política propiciando clima semelhante ao que nos levou à Era Bolsonaro.
    É bom ficarmos atentos.

  9. “A imprensa agora está sem nenhuma influência.”
    A meu empírico ver, nada mais falso! Depende de qual público se está falando. Tem uma classe mérdia, formadora de opinião, que é informada pela globo e suas metástases (folha, estado, veja) e está viciada na narrativa. Não adianta nem tentar, é humanamente quase impossível demover essa gente. Ainda mais essa mídia decretando que Lula (fizeram lobby para que ele não ganhasse o Nobel!) e o PT não mais existem. -Importante é o que a globo não publica, já dizia um antigo golpista.
    Tem um grande contingente evangélico que obedece o pastor em nomedigisuis. Ai também a guerra está perdida.
    Tem todas as forças fardadas… bolçodoria está cevando essa gente via chefias com cargos e dinheiro e a tropa subalterna apenas aprendeu a seguir ordens…
    O poder togado é essencialmente golpista, quer dinheiro e status. Patriotismo passa longe dessa gente. (Quantos serviçais servem na casa de um alto funcionário destes?).
    Na média a opinião da maioria é a plantada pela globo: Lula f. o Brasil ! Se a unha de um minion desses encravar a culpa é de Lula e do PT!
    No futuro isso vai se resolver, depois de tiros nas ruas e da possível divisão do Brasil, infelizmente.

  10. Falar com o eleitor da direita é como dar remédio pra gatinho.
    É difícil.
    Como a gente faz?
    Passa o remédio no corpo dele todo para ele ser obrigado a se lamber, porque é da natureza dele se lamber, seja lá o que for que passem sobre ele.
    Alisa-se o bicho naturalmente e espalha-se a receita.
    Por exemplo:
    1-” Bolsonaro é o brasileiro mais influente do mundo, graças as ações do seu governo”
    Essa manchete agrada os minions, logo, eles vão lê-la.
    Se a gente continuar: ” não obstante as mentiras que ele pregou em seu discurso na ONU”, o gatinho foge sem ser untado.
    2- Se a gente continuar: ” é de causar orgulho a seus eleitores a citação do nosso presidente como pessoa de grande influência no mundo”, o leitor minion gatinho vai continuar lendo e gostando.
    Continua-se o discurso até o ponto do mas…
    “Ele foi firme no seu discurso da ONU, comportou-se como um estadista, falou bem de seu país e demonstrou a competência de seu governo tanto no enfrentamento da pandemia quanto no amparo à população.
    Está certo que durante a pandemia ele se mostrou frontalmente contra a quarentena, o uso de máscara e contra o auxílio aos necessitados, mas depois, o congresso aprovou uma medida que obrigou o seu governo a oferecer um valor consistente ao cidadão necessitado até que passasse o pico da pandemia.
    Também nesse particular, o mandatário não foi feliz na sua gestão ao não conseguir que sequer um médico representasse o ministério da saúde no controle da pandemia. Os estados da federação, por força de decisão judicial que tiveram que liderar as ações de controle da doença. Fora isso, a presença do governo federal foi ótima.”
    Já passamos remédio no gato todo.
    Daí é só arrematar e esperar o efeito.
    “Como se vê, fizemos uma grande escolha política e o mundo reconheceu a grandeza do nosso lider”.
    O minion vai ler agradecido sem poder contestar e o esquerdista vai gargalhar.

  11. Na eleição no face vi um vídeo , Haddad e sua Ferrari , ele descia do banco do carona , na contra-mão e em frente a um evidente pit-stop do autodrómo , evidente que foi algum evento dele quando prefeito , a típica volta num carro , mas na história o carro é dele, difícil fazer alguma coisa quando o cara quer acreditar em saci-pererê ou Papai Noel.
    Um conhecido publicou uma história do Rodrigo Maia , que elecseria chileno e não podia ser presidente da Camara , corrigi o cara e ele “eu sei , mas não gosto do Maia”.
    A vaca foi pro brejo, e as pessoas a querem lá…

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