Estudante evita linchamento no Rio de Janeiro

Do O Globo

No Rio, estudante evita linchamento de ladrão
 
Intervenção de jovem interrompeu agressão até chegada da polícia

“Eu me confrontei com animais”. Foi assim que a estudante de arquitetura Mikhaila Copello, de 22 anos, definiu o que presenciou e viveu na noite da última terça-feira na Freguesia, bairro da Zona Oeste do Rio, um dia depois da morte de Fabiane Maria de Jesus, vítima de linchamento em Guarujá. Sozinha, ela evitou que a ira de um grupo de moradores da região matasse um jovem que acabara de roubar um celular.

Por volta das 19h30, sentada em um bar, ela ouviu os gritos de “pega ladrão”. O ladrão, um jovem branco, parrudo, baixo, de cabelos pretos, foi cercado no alto de uma ladeira e, ao tentar correr do garoto que o havia denunciado, levou uma rasteira.

— O que gritava deu um chute no pé dele e ele voou de cara no chão. Abriu o supercílio, rasgou a testa, o joelho, e, nesse momento, eu falei para a minha amiga: segura as coisas que estou indo lá. Quando olhei para trás, o garoto estava chutando a cabeça dele com muita raiva, gritando “bandido de merda”. Entrei na frente e gritei “Para com isso”. Puxei o cara pela camisa e coloquei na parede. Ele estava totalmente desnorteado. Foi aí que comecei a ouvir “mata”, “tem que deixar morrer”, e até o clássico “bandido bom é bandido morto”. E eu gritava “vocês não são Deus, não podem julgar quem morre e quem vive” — contou a estudante ao GLOBO.

Ela disse que foi pedir ao garçom do bar um pano para limpar o sangue do jovem, mas foi interpelada por um dos presentes, com um cachorro.

— Quando fui pegar o pano, esse cara enorme me segurou e disse: você não vai chegar perto dele não, ele é bandido, ele vai morrer. Eu comecei a gritar, o empurrei e dei o pano. Quando me aproximei, o cara falou: “Ele deu sorte de você estar aqui, porque eu ia deixar meu cachorro matar ele”.

Segundo Mikhaila, depois de meia hora a polícia chegou.

— O PM entrou e disse: “Se gosta de bandido, leva pra casa”. E todo mundo bateu palma. Algemaram o cara, que me olhou nos olhos e disse: obrigado. Comecei a chorar compulsivamente.

 

Redação

27 Comentários

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  1. Essa loucura coletiva não é

    Essa loucura coletiva não é natural nas populações, ela precisa ser insuflada com um discurso de ódio repetido constantemente.

    Se deixar as pessoas pensarem o comportamento já muda.

    E nós sabemos muito bem que é a mídia que está insuflando um discurso de ódio e violência na população brasileira.

    Eles não tem nenhum escrúpulo.

  2. Esse pessoal é nojento!

    Esse povo que faz a apologia da pena de morte é nojento! Matar alguém por causa do furto (frustrado) de um celular, isso não é mil vezes mais violento e bárbaro do que o próprio crime do ladrão?

    Sheherazades e Bolsonaros vão levar o país de volta à barbárie. E aí, quando milhares de inocentes como a moça do Guarujá forem mortos, ou míseros ladrões de galinha forem trucidados, Sheherazade proclamará que o Brasil está no caminho do progresso!

  3. E o digníssimo PM do “Se

    E o digníssimo PM do “Se gosta de bandido, leva pra casa”, nunca levou um “agrado” para esquecer uma multa, nunca fez “vista grossa” para ajudar um amigo, nunca abusou da prerrogativa de ser “autoridade” para conseguir algum benefício, isso se não fez coisas muito piores.

    Hipocrisia pouca é bobagem.

    1. O Chefe da turma policial que

      O Chefe da turma policial que abordou este caso devia procurar o policial sherazade  e dar-lhe um ciorretivo – ele não tem que julgar nada. Foi assim que vários casos envolvendo policiiais ficaram notórios.

      Seu Delegado, a bem da Polícia, dê um corretivo neste policial sherazade SSG (Silvio Santos Group)  linchador antes que se dissemine mais julgadoreas.

  4. A Sheherazade nao tem culpa

    A Sheherazade nao tem culpa disso, ele pode ter incitado seus seguidores cristaos fanaticos, mas nao tem nada a ver. isso ai eh falta de humanidade mesmo. Estamos a mercer do denuncismo quando vivemos numa ordem da barbarie. Qualquer um pode chegar e, por pura vingaca, acusar uma pessoa de qualquer coisa; e ai corre-se o risco do linchamento.

    Que tristeza ler isso, sinceramente. As pessoas em pleno seculo XXI agindo como se estivesse ba Idade Media. Isso nao tem nada a ver com a falta de escolas, isso tem a ver com a falta de valores humanistas. Em uma especia de retroalimentacao, a sociedade vai gerando caes e mais caes. O Policial que disse aquele absurdo eh fruto dessa roda da desgraca, acostumado a ver o pior da natureza humana diariamente, a atitude dele nao deveria nos espantar tanto assim, mas ainda sim espanta.

    Talvez esse eh o preco que tenha que ser pago para mudancas sociais, muitos historiadores jah mostraram que transformacaoes de sociedades podem ser marcados por violencia exacerbada. 

    1. Espero que não ocorra com você ou com um dos seus.

      Amigo, você ainda não conhece a força maligna da “imprensa”?

      Vai conhecer quando a vítima for um dos seus.

    2. A culpa!

      Há muitos culpados, inclusive ela. Assim como são culpados todos aqueles que incentivaram os bandidos que, proveitando-se das manifestações, quebraram patrimônios públicos e privados, ocasionado prejuízos incalculáveis. Têm culpa os que ligados a partidos políticos ( fala aí Sininho )  sairam em defesa dos que assassinaram por querer ou mesmo sem querer, o cinegrafista da band. Têm culpa aqueles que pagam 150 reais aos jovens que fazem o ” serviço sujo” nas manifestações. Quem paga, fica escondido. Covardes!  Penso que a violência aumentou muito a partir desses movimentos de junho passado.   

    3. Gostei da “alegoria” Cristãos

      Gostei da “alegoria” Cristãos Fanáticos. Me faz lembrar da Santa Inquisição, que em nome de deus fez o que fez.

  5. Por uma economia política do crime.

    A Justiça trabalha com esmero nos delitos de pouca monta, de pessoas que não possuem advogados que cuidem das minúcias da lei e que seriam como uma gotas d’água caindo em sua cabeça de modo regular (parece pouco, mas fique durante horas embaixo de tal sistema…). Acredito que a famosa “sensação de impunidade” se deva mais ao fato de estes delitos de pouca monta serem mais frequentes, o que sobrecarrega o sistema judiciário por inteiro, e não pelo fato de a “justiça ter falhas”. As falhas seriam, em parte, produzidas pela sobrecarga. Evidentemente, em poucas linhas não dá pra descrever o modo como a imprensa se apropria daquilo que ela denomina de “crime”, ou como o sistema policial é administrado no sentido de produzir tensões sociais das mais diversas formas (sentimento de grupo, limiar entre poder legítimo e crime por exercício de poder ilegítimo, Estado/tecnocracia como poder vertical, policiamento como exercício horizontal de poder do Estado, crime menor como tensão interna de classe que legitima o exercício do poder vertical, etc.). Ainda está para ser escrita uma economia política do crime, que mostre e diversidade de mecanismos e estratégias, de tensões e flexibilidades na prática do sistema Judiciário-Policial, e que demonstre casos como esse (do linchamento) como um produto de necessidade institucional, deixando o crime de ser um ato à sombra da lei para ser uma ideologia no sentido autêntico da palavra.

  6. Estupidez não tem fim, e

    Estupidez não tem fim, e ainda há quem apoie isso, no entanto ainda existem seres humanos. Quanto a policia do Rio, sinceramente, é uma das instituições mais violenta e corrompida da face da terra, e olha que eu já acho PM da Bahia o fim da picada!

    Há sim! Talvez por ser ano eleição, as opiniões ficam polarizadas e tal, mas tem algumas pessoas, que simplesmente entram nos comentários para agredir, com todo aquele linguajar de poeta de porta de banheiro público já manjado, isso em detrimento discursão que o post em si provocaria, essa sim construtiva e enriquecedora. Dessa foma, a moderação aqui do blog podia ser um pouquinho mais criteriosa quanto esse tipo de agressão. Da minha parte, me incomoda um pouco e não sei dizer quanto so outros. 

  7. Esta moça deveria ser levada

    Esta moça deveria ser levada a TV para confrontar Sheherazade. Ele tem teoria e prática para ensinar à jornalista o que significa ser uma “cidadã”. 

  8. Agredir alguém é crime,

    Agredir alguém é crime, causar lesão grave ou morte também. A legítima defesa é autorizada pela legislação penal, mas para que seja reconhecida pelo Judiciário depende da existência de equivalência entre a agressão e a reação. Não há equivalência entre ambos quando várias pessoas armadas de paus, pedras, correntes, etc… atacam alguém que cometeu um crime. Cada pessoa que participa de um linchamento concorre para o resultado final e pode responder por lesão corporal ou homicídio. Os jornalistas que estimulam este tipo de violência também deveriam responder pelo mesmo crime, pois são mentores intelectuais da barbárie. 

  9. Parabéns a essa moça que

    Parabéns a essa moça que enfrentou a turba sanguinolenta e o policial que não aprendeu nada nos cursos que fez ou que deveria ter feito. Corajosa, muito corajosa, não é qualquer um que vai entrando na frente de animais incivilizados que no momento estão atendendo apenas a seus instintos primitivos. Quando foi mesmo que muitas famílias deixaram de civilizar seus rebentos?

  10. Hipocrisia

    Muitos neste bolog defendem linchamentos, desde que não sejam de petistas e desde que sejam de tucanos ou de quem critica o pêtêêê.

    Fingem que cumprem a lei e respeitam o Estado Democrático de Direito. Não é verdade. Defendem apenas quando é do seus interesses. São casuístas.

    Não possuem a isenção nem a maturidade para agirem assim. Na minha escala de avaliação, estão abaixo do nível civilizatório e, portanto, são capazes não só de defender valores comuns em linchadores, como são capazes de linchar.

    A carapuça está aí. Veste quem quiser.

     

    1. Desculpa colega, acho que vc

      Desculpa colega, acho que vc está no lugar errado.  Vc pode ser responsabilizado judicialmente por estar dizendo essa babozeira.

      O espaço do Nassif é democratico e vc tem o direito de sua crítica, desde que ela seja com  fundamento, com verdades.

      1. Responsabilizado por quem tem perfil de linchador?

        Como assim? Não entendi. Explica isso aí!

        Quem são os linchadores que iriam me processar? Quem não for linchador, não pode me processar. É parte ilegítima, não tem direito de ação. Só me referi aos com perfil de linchadores. Só a eles.

    2. Poderia ainda citar os que estão acima do nível civilizatório

      Já reparei que o prezado Argolo é do tipo 8 ou 80 que procura a suprema coerência e está sempre a apontar o dedo para a hipocrisia alheia. Ademais,  uma capacidade de inferir do que qualquer pessoa é capaz, com base em pequenos vídeos ou comentários. Com isso, colocou o jovem blogueiro Pilha como capaz de fazer coisas piores do que usar crianças em programas televisivos, debochar da Apae, fazer piadas com grávidas e oferecer bananas a negros… Um senso de proporcionalidade inversamente proporcional ao que julga da própria sabedoria. Ou então, uma mistura de Sherlock Holmes e doutor House do século XXI. 

      Assim, essa mente brilhante que exige coerência absoluta de todos, poderia agora demonstrar a própria coerência e:

      a) apontar os nomes e posts dos que defendem linchamentos

      b) nos brindar com nomes de personalidades de partidos políticos que estejam (no seu conceito) acima do nível civilizatório. Afinal, é na política que se fazem transformações e se dão as disputas. Por isso, ficariamos gratos com indicações nessa seara.

       

  11. Os protestos de 2013 e os linchamentos de hoje.

    Um Ponto de Inflexão ou de ruptura democrática?

    Quando, em Junho de 2013, os “anonymous”  mascarados e outros quetais foram pras ruas protestar “contra tudo que está ai”, inicialmente insuflados pelo MPL e na esteira (e fervor do “momento cívico”) pela mídia televisada e escrita e, como ratinhos e ratinhas teleguiadas, priorizaram como alvo os “políticos” (principalmente do PT, diga-se de passagem) acompanhando as inserções quase full-time e em tempo real do Julgamento do “Mensalão Petista” no STF, tribunal no qual viu-se transformada uma sala de reuniões, onde acontecem embates jurídicos acalorados e decisões, em anexo descarado da Central Globo de Produções Jornalísticas…

    Quando, ainda em Junho de 2013, essa mesma “massa” do Gigante Que Despertava começou a depredar ônibus e prédios públicos, com destaque dado na mesma mídia à depredação, como resultado da “indignação”, pra lá de seletiva e direcionada, do Itamarati (Governo Dilma) e da sede da Prefeitura Paulista (Governo Haddad)…

    Alguns de nós, por ingenuidade ou fervor democrático exacerbado… talvez… defendemos o que estava se passando:

    – era o demonstrativo de inserção política da “nova juventude” pra uns,

    – era uma juventude que “estava sacudindo todas as instâncias de poder e de estado” pra outros uns (com uma interessante ressalva:  não vimos nenhuma faixa de protesto contra o Poder Judiciário… quem sabe a fantasia midiática, cotidianamente veiculada e enaltecida, em cima da “aura corretíssima” do Joaquim Barbosa, o justiceiro mor, tenha contribuído pra isso),

    – era uma “demanda por melhores serviços públicos (inicialmente o transporte) que se ampliou” pra outros e outros…

    Quando, tempos depois, se atirou um explosivo contra um cinegrafista, matando-o no exercício da profissão quando noticiava-se um “protesto”…

    Quando diariamente se acompanha Marcelo Resende, Bolsanaro  e outros e outras menos cotados(as) defenderem aberta e efusivamente a pena de morte e os justiçamentos como solução para esse “kaos” em que se transformou a criminalidade no Brasil…

    Como diz Julinho de Adeláide numa das mais geniais páginas da MBP:

    “Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu….

    O tempo passou na Janela

    E só Carolina não viu”

    Nós somos, todos, a Carolina ao inverso dos versos de Chico, o fascismo foi se desenhando, seu ovo sendo aquecido, seus filhotes sendo gestados, aquinhoados e alimentados… e ficamos lerdos, achando que aquilo tudo não ia resultar em nada, tinha sido no “máximo” um pic-nic cívico de uma “galera” que viu nas ruas um “novo”  jeito de se fazer ouvir.

    Agora começam a surgir, aqui e ali, episódios de “justiçamentos” e lixamentos e ficamos perplexos a nos perguntar: Como isso pode estar acontecendo no Brasil?

    Minha teoria: a mesma “multidão” que foi pras ruas em 2013, e que está prontinha novamente pra outro “embate” de Junho vindouro em diante, embalada pela falácia escrotinha da Globo de que a rua é a “maior arquibancada do Brasil” defende esse tipo de comportamento doentio, esses justiçamentos e linchamentos, afinal o Brasil está um “kaos generalizado de criminalidade e corrupção” e é necessário passar-se o “país a limpo” o “quanto antes”… sim eles, e quem de fato está por trás comandando e orientando, têm pressa…

    Não vou me surpreender se entre as próximas vítimas de linchamentos e justiçamentos estiverem membros e simpatizantes dos partidos de esquerda, notadamente do PT e do PC do B ou de movimentos sociais autênticos como o MST ou dos que lutam pela igualdade racial.

     

  12. Reforma das Policias.

    E Policia Militar ? Até quando essa policia ? Parabéns a moça que teve muita coragem e mostrou que é um ser Humano. Ja o restante ai na historia… 

  13. Bravatas temos muitas,

    Bravatas temos muitas, coragem moral é para poucos… Parabéns a jovem estudante de arquitetura Mikhaila Copello pela sua atitude de humanidade diante de tanta inconsequência por aí! Mais do que uma formadora de opinião, pelo seu exemplo e pela sua coragem, essa jovem se posicionou diante da situação, como ser humano. Alguns vão dizer que defendeu um bandido, mas na verdade ela defendeu a nossa sociedade, seus valores, o bom senso e acima de tudo, a vida. 

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