EU EM DOBRO

DUAS VEZES EU

Você lembra de mim? Ouvir esta pergunta, fixar o olhar na pessoa e puxar no consciente e no inconsciente alguma lembrança que corresponda àquela fisionomia, quando já não mais distingo lembrança e imaginação tal qual a informação do anão da perna de pau que morreu caindo na rua da cidade, quando as ruas eram de paralelepípedos, seria milagre se ele saísse ileso. Era o Grand circo mexicano direto no interior do Paraná, mas, deixamos o circo, o anão e as pernas de pau para trás e respondemos a pergunta:

– Não me lembro!

– Ah! Chicoooooooo!

-Chico? Meu nome é Pedro!

Ele me fitou bem, e me disse que eu era muito semelhante ao tal do Chico não sei das contas, poderíamos ser irmãos gêmeos separados no berçário ou uma experiência de clonagem ou um DNA que estranhamente se repetiu descartando a hipótese de sermos matéria e antimatéria já que estamos no universo da matéria, mas, é possível um DNA se repetir? Ainda mais num curto espaço de tempo? Claro que não é possível tal coisa.

-Você leu O homem duplicado do José Saramago?

-Sim! Como conheço a frase a vida imita a arte e não sei qual o pensamento do filósofo Roland Barthes sobre esta situação; estou pensando o que a mulher deste Francisco pode me causar ao encontrar comigo ou que proveito esse Chico pode tirar ao encontrar com a minha mulher, ou eu ou ele ou ele e eu cumprindo pena por bigamia inocentes.

-O que você faz?

-Tal qual a música do Chico Buarque, sou Pedro pedreiro um predestinado com diz o humorista Zé Simão, está no meu nome minha profissão, meu nome e o que eu carrego o dia inteiro só muda a vogal final, sou Pedro de carne, osso e sangue.

-O Chico é um pequeno ou médio burguês dono de três pequenas ou médias empresas. Vou arrumar um entre vocês.

-Não sei se é uma ideia, se ele aceitar ou não por mim, tudo bem.

Passado uns meses recebo uma mensagem do Horácio me dizendo: “Sorte sua não conhecer o Chico; ele é tão pobre que só tem dinheiro”!