EUA – Um País Acéfalo?

 

The New York Times

PAUL KRUGMAN

OP-ED colunista

Se você estava chocado com o relatório sobre emprego de Sexta-Feira, se você pensava que estávamos indo bem e ficou surpreso com a má notícia, você não tem prestado atenção. O fato é que a economia dos Estados Unidos está há um ano e meio no maior marasmo.

No entanto, uma passividade destrutiva dominou o nosso discurso. Ligue a TV e você verá algumas autoridades com ares de auto-satisfação declarando que nada pode ser feito sobre os problemas da economia no curto prazo (lembrete: esse “curto prazo” está agora no seu quarto ano), e que devíamos focalizar, isso sim, no longo prazo.

O caminho está errado. A verdade é que a criação de postos de trabalho em uma economia deprimida é algo que o governo poderia e deveria estar fazendo. Sim, há enormes obstáculos políticos para a ação – notadamente, o fato de que a Casa é controlada por um partido que se beneficia da fraqueza da economia. Mas impasse político não deve ser confundido com a realidade econômica.

Nossa incapacidade de gerar empregos é uma escolha, não uma necessidade – uma escolha racionalizada por um conjunto sempre mutável de desculpas.

Desculpa n º 1: Ao virar na esquina, há um arco-íris no céu.

Lembras dos “brotos verdes”?(termo que indica sinais de recuperação da economia) – Lembras do “Verão de recuperação”? Os deputados andam declarando que a economia está se recuperando – como se não houvesse problema. No entanto, esses delírios de recuperação tem sido uma desculpa para não se fazer nada enquanto a crise dos desempregos inflama.

Desculpa No. 2: O medo do mercado de títulos.

Há dois anos atrás, The Wall Street Journal declarou que as taxas de juros sobre a dívida dos Estados Unidos subiriam em breve a menos que Washington parasse de tentar combater a crise econômica. Desde então, os avisos sobre o iminente ataque dos “vigilantes títulos” têm sido usados ​​para atacar qualquer gasto na criação de emprego.

Mas a Economia Básica, dizia que as taxas deveriam permanecer baixas, enquanto a economia estiver deprimida – e a Economia Básica estava certa. A taxa de juros sobre títulos de 10 anos foi de 3,7 por cento quando o The Wall Street Journal emitiu essa advertência; no final da semana passada era 3,03 por cento.

Como os suspeitos de costume responderam? Inventando sua própria realidade. Na semana passada, o deputado Paul Ryan, o homem que está por trás do plano do GOP  para desmantelar a Medicare, declarou que é preciso reduzir drasticamente os gastos do governo para “tirar a pressão das taxas de juros” – a mesma pressão, suponho, que empurrou as taxas para perto de baixas recorde.

Desculpa No. 3: A culpa é dos trabalhadores.

O desemprego aumentou durante a crise financeira e suas consequências. Assim, parece bizarro argumentar que o problema real está com os trabalhadores – que os milhões de americanos que estavam trabalhando há quatro anos, mas não estão trabalhando agora, de alguma forma não possuem a especialização que a economia necessita e exige.

No entanto, isso é o que você ouve de muitos especialistas nestes dias: a alta taxa de desemprego é “estrutural”, dizem eles, e exige soluções de longo prazo (o que significa, na prática, não fazer nada).

Bem, se realmente houvesse uma incompatibilidade entre os trabalhadores que temos e os trabalhadores que precisamos, os trabalhadores que tenham tais habilidades certas, e por isso são capazes de encontrarem empregos, deveriam estar recebendo grandes aumentos salariais. Eles não estão. De fato, o salário médio realmente caiu no mês passado.

Desculpa No. 4: Tentamos estimular a economia, e não funcionou.

Todo mundo sabe que o presidente Obama tentou estimular a economia com um grande aumento nos gastos do governo, e que não deu certo. Mas o que todo mundo sabe é o errado.

Pense nisso: Onde estão os grandes projetos de obras públicas? Onde estão os exércitos de trabalhadores do governo? Na verdade, existe meio milhão de funcionários do governo a menos agora do que havia quando Obama tomou posse.

Então o que aconteceu com o estímulo? A maior parte disso consistia em cortes de impostos, e não gastos. E a outra parte do estímulo consistia tanto de ajuda para as famílias em dificuldades ou ajuda para os governos estaduais e locais que estavam pressionados. Este apoio pode ter atenuado a queda, mas não era o tipo de programa de geração de emprego que poderia e deveria ter sido. A crítica não é de agora, que os resultados já são conhecidos: alguns de nós temos alertado desde o início que os cortes de impostos seria ineficaz e que os gastos propostos eram totalmente inadequados. E assim ficou provado. 

É importante notar também que em outra área onde o governo poderia fazer uma grande diferença – ajuda aos proprietários de imóveis endividados – quase nada foi feito. O Programa do governo Obama de alívio das hipotecas não deu em nada: dos US $ 46 bilhões alocados para ajudar as famílias a permanecerem em suas casas, menos de $ 2 bilhões foram realmente gastos.

Então vamos resumir: A economia não está, na verdade, se recompondo. Também não existem verdadeiros obstáculos à ação do governo: tanto os títulos vigilantes como o desemprego estrutural só existem na imaginação dos especialistas. E se o estímulo parece ter falhado, é porque nunca foi realmente tentado.

Ouvindo o que as pessoas supostamente sérias dizem sobre a economia, você pensaria que o problema era “não, nós não podemos.” Mas na realidade é “não, não poderemos.” E cada especialista que reforça aquela passividade faz parte destrutiva do problema.

A versão deste op-ed foi impressa em 11 de julho de 2011, na página A19 da edição do New York Times com a manchete: No, We Can’t? Or Won’t? 

 

 

Redação

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