Experiências da Fundação Casa

Procurem não generalizar. Esses 56 jovens provavelmente não têm uma atividade que os estimule na Casa ou unidade de internação. Como já escrevi em artigo, fui diretora de uma unidade de internação, em que havia 250 jovens, chamados na época de adolescentes em situação irregular, depois na Constituição foram chamados de infratores, hoje, em virtude da evolução do texto do Estatuto da Criança e do Adolescente, são chamados de adolescentes em conflito com a lei.

A nomeação evoluiu, houve a descentralização das unidades, houve a redução do espaço físico para acomodar um número menor de jovens, mas falta a eles a convivência com a comunidade.

Em nossa unidade, a João Luiz Alves, no RJ, a comunidade vinha jogar futebol com os rapazes, eles eram preparados para o mercado de trabalho, era oferecido a eles todo o ciclo do ensino básico. Fazíamos festivais de música, capoeira e teatro. Convidávamos as meninas da unidade de internação feminina para os bailes aos sábados. Fazíamos assembléias com todos eles e os funcionários. Todos tinham o mesmo direito à palavra. Levávamos o SENAI, o MOBRAL para discutirem com eles emprego e educação. E levamos José Louzeiro para discutir com eles um projeto de vida.

Fizemos um pacto entre eles: aqueles que tinham um bom comportamento iam os fins de semana à praia com um monitor ou saiam para visitar a família. Se um deles não voltasse, os outros que firmaram o pacto, que era verbal, não poderiam sair por alguns fins de semana. E eles cumpriam.

Certa vez, houve um episódio de sarna. O médico do ambulatório entrou assustado em minha sala. Perguntei a ele o que era preciso fazer. E ele disse que seria preciso lavar os lençóis diariamente e colocar os colchões ao sol. Não havia pessoas suficientes para essa tarefa. As “tias ” da lavanderia estavam sobrecarregadas. Então decidimos que eles próprios lavariam seus lençóis e colocariam os colchões ao sol. Fizemos um grande varal na frente do prédio. E em duas semanas debelamos a sarna. Procurei saber o motivo do “surto” de sarna e descobri que eles tomavam banho mas não tinham toalhas para se secarem. Providenciei toalhas junto às outras unidades. E tudo voltou ao normal.

Eu estava grávida do Miguel e minha filha de 4 anos e meio, a Julia, os visitava. E eles ficavam com ela. Certa vez encontrei a Julia e eles numa roda e eles ensinavam Julia a fazer origamis.

Essas são algumas lembranças. Há muitas mais.

Procurem não pré-julgar. É claro que havia casos que precisavam de uma atenção especial. Eu mesma cuidava dos rapazes com transtornos psíquicos mais graves. 

Luis Nassif

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