A morte de Fidel Castro não encerra uma era. De fato, o legado dele continuará a produzir frutos dentro e fora de Cuba.
Nenhum líder latino-americano foi tão odiado pelos EUA quando Fidel. Apesar de rejeitar o império, ele nunca atacou militarmente o território norte-americano.
Símbolo da revolução socialista, Fidel se transformou no ícone indispensável para compreender o enrijecimento da política norte-americana desde os anos 1960. O bloqueio naval imposto à Cuba pelo império, ineficaz do ponto de vista político, se transformou no bloqueio mental que dominou as lideranças democratas e republicanas dos EUA. Durante três décadas e mesmo depois do fim da Guerra Fria, quase todos os líderes norte-americanos hostilizaram o comunismo cubano por mais que ele fosse pacífico.
O exemplo de Fidel é, portanto, mais importante do que se imagina. Ele sobreviveu aos presidentes dos EUA que tentaram assassinar ele comprovando a fragilidade do império. Além disto, o líder cubano construiu um regime político suficientemente civilizado para rejeitar a dinâmica imperial. Fidel se defendeu na Baia dos Porcos, mas não revidou a agressão.
Cuba não é nem um paraíso, nem uma potência militar. Cuba é apenas uma nação independente em que a maioria das pessoas tem educação, saúde e um senso de patriotismo que, a julgar pelo elevado índice de abstenção que ocorreu na eleição disputada por Donald Trump e Hillary Clinton, não existe nem mesmo nos EUA.
Fidel não morreu. Como Getúlio Vargas, ele saiu da vida para entrar na História. Getúlio, porém, ficou confinado à História do Brasil e o líder cubano figurará no panteão dos grandes líderes políticos da História Mundial, ofuscando vários presidentes dos EUA. Até na morte Fidel será maior do que os inimigos que ele fez e não tentou matar.
Filho de um homem rico, ele trocou a fortuna pela revolução para se transformar em Fidel. No que se transformam os filhos dos norte-americanos ricos que crescem para escolher o conservadorismo e a preservação do império? Em Darth Vader. A vida de Fidel não imitou a arte, felizmente.
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