Flávio Rocha está nu, por José Salvador Faro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por José Salvador Faro

No blog História, Cultura e Comunicação

A Folha publicou na edição de ontem (domingo) uma espécie de manifesto pessoal do empresário Flávio Rocha. Para quem não sabe, o cidadão é dono das Lojas Riachuelo e vem se caracterizando no cenário nacional como um dos mais atrasados porta-vozes da direita brasileira. No receituário que recomenda para nosso país, o autoindicado companheiro de chapa de Doria à presidência da República, advoga a prática da terra arrasada no campo os direitos sociais e em relação à presença do Estado na economia: um conceito que hoje vem sendo revisto no mundo inteiro mas que, para Rocha, nos limites do capitalismo periférico e parasitário do qual é representante e beneficiário, apresenta-se como o remédio ortodoxo que precisa ser enfiado garganta abaixo do povo. Na verdade, é um ingrato. Sua extraordinária fortuna certamente deve muito aos estímulos desenvolvimentistas que a economia brasileira recebeu do Estado ao longo da história moderna do Brasil.

O artigo publicado ontem, no entanto, não fala disso. É um exercício de formulação ideológica no qual o dono da Riachuelo formula os princípios da sua rancorosa filosofia política. Digo rancorosa e acrescento: anacrônica. Nem mesmo nos momentos de maior fervor doutrinário do macarthismo ou naquelas conjunturas marcadas pelas manifestações medievais da entidade chamada Tradição, Família e Propriedade (TFP) o pensamento de extrema direita e de ódio anti-comunista chegou a um nível semelhante de irracionalidade e de grosseria.

Deve ter uma vida muito triste o Sr. Flávio Rocha pensando a justiça social nos termos em que ele pensa. Um mundo construído a partir da negação do outro e do medo.

Leia o artigo de Flávio Rocha publicado na Folha: * O comunista esta nu. Mas leia também outros textos sobre seu autor: * Dono da Riachuelo confronta Ministério Público do Trabalho (Uol) * Rocha, o pobre homem rico da Riachuelo (Luis Nassif, GGN) * MBL sai em defesa de Flávio Rocha, o vice de Doria (247) * MPF denuncia dono da Riachuelo por crimes contra a honra de procuradora (Uol).

Ps: O título do artigo de Flávio Rocha é copiado do livro homônimo escrito em 1958 pelo ex-agente do FBI Cleon Skousen. Espécie de manual que se aproveitava do pânico que a corrida nuclear e a guerra fria despertava nos Estados Unidos, a “obra”, em termos de uma teologia fascista rivaliza com o romance A revolta de Atlas da escritora Ayn Rand, hoje transformado em obra de referência do MBL. Somando tudo isso, penso eu que estamos diante de um dos pontos mais baixos da história do pensamento ocidental. Flávio Rocha com seu artigo, mostra que essa escatologia ainda não se esgotou.

José Salvador Faro é professor da Umesp e da PUC-SP

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

20 Comentários

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  1. Se os brasileiros tivessem um pouco mais de honra,

    faltariam clientes de renda mais baixa para as lojas deste senhor. A única coisa racional disto tudo é que o texto assinado pelo dono das lojas riachuelo foi publicado na FSP: ambos se merecem.

      1. Aqui em casa…

        … a tv foi abolida… então não tem globo, nem sbt, nada de record ou rede tv… jornal só velho, devidamente desdobrado, com a foto do temer para cima e pelos cachorros devidamente cagado.

    1. Nunca entrei numa loja deste elemento…

      …nunca comprei nada vendido por este sujeito.

      Entre o trabalho escravo no Brasil e no extremo oriente, acabo optando pelo segundo… Ali Express é a melhor loja do mundo!

      1.  
        Trabalhadores brasileiros

         

        Trabalhadores brasileiros encarecidamente agradecem a sua preferencia pelo emprego do outro lado do mundo e deseja que você vá para a, para a ……… lá, o mais breve possível e não volte.

         

         

  2. Não é novidade nenhuma

    Flávio Rocha não é um marujo de primeira viagem. Sempre foi um liberal, sempre em defesa do menor estado possível.Foi assim na década de 90, quando saiu candidato pelo PL (hoje PR), partido que tinha como um dos expoente o professor Marcos Cintra, da EAESP-FGV, o da bandeira do imposto único.  Lembro que, naquela época (acho que nas eleições de 1994), era muito comum o surgimento do fenômeno de jovens empresários, sucedâneos da campanha do Collor, como “alternativas aos políticos velhor e tradicionais” (esse retórica não é de hoje). Rocha, Júlio Lopes (Rio de Janeiro), até mesmo um Aécio, Luiz Eduardo Magalhães começavam a fortalecer-se nessa época.

    Depois de um longo inverso fora da dinâmica, Rocha voltou há algum tempo a discutir política, sendo ele um dos primeiros a apresentar a alternativa Eduardo Campos na cena paulistana. 

     

     

  3. Flávio Rocha está nu, por José Salvador Faro

    Se o Lula for eleito vamos propor enviar este bos… para miami e tranformar suas lojinhas numa cooperativa em favor dos funcionarios com patrimonio a ser pago pelos impostos sonegados … vai ver o que e bom para a tosse … !!!

  4. Revendo meus conceitos

    Sempre priorizei produtos nacionais aos importados, compar em lojas físicas à comprar em lojas virtuais. Mais depois de ver como pensam o empresariado tacanha, na riachuelo e produtos da guararapes não compro mais, assim como de muitos outros que apoiaram o golpe.

  5. O insustentável peso da ignorância

    Senhoras, senhores, queridos companheiros de viagem nesta nau do infortúnio,

    Há anos lido com um mistério, como pessoas de tão pouca estatura intelectual enriquecem construindo verdadeiros império empresarias. Provavelmente, insolúvel, acompanhar-me-á, junto com a mesóclise, ao túmulo.

    Quanto ao exemplar de reacionário sob a lupa, tenho a dizer que ele pratica a atitude mais popular dentre seus pares no Brasil atual, a de bancar o Malandro-Agulha, aquele que leva no r […] e não perde a linha.

    Senão, vejamos:

    1 – nos anos 90, época dos governos modernos e transformadores, o Grupo enfrentou uma concordata e, no tempo das trevas, dos governos trabalhistas, teve um crescimento estratosférico;

    2 -em 10 anos, de 2010 a 2016, foi de 77 para 289 lojas e de uma receita líquida consolidada de R$ 1,4 bilhão para mais de R$ 4 bilhões;

    3 – todavia, entretanto, porém e contudo, de 2015 para cá, não mostra o mesmo vigor, em 2016 o crescimento das vendas nas Lojas Riachuelo mal ganharam da inflação e, em 2017, quando inagurou apenas um loja até agora, não deve ser diferente;

    4 – o lucro também já não é o mesmo dos tempos dos comunistas execráveis, pois, depois de obter taxas de lucratividade, estáveis e consistentes, da ordem de 10% da receita líquida por uma década, o Grupo viu essa taxa cair pela metade. Em 2015 foi de 6,36%, em 2016 de 5,36 e, agora no trimestre encerrado em junho, apontava para 5,12%; e

    5 – se fizermos uma continha básica, aplicando somente a diferença de lucratividade sobre a receita de 2015 até junho de 2017, iremos descobrir que o finório em destaque perdeu mais de meio bilhão de reais por conta do golpe que apoiou e da política econômica que defende.

    Mas, senhoras e senhores, isso não é tudo. O epíteto anedótico, classificando o arquétipo sob exame em uma sub-classe da malandrice, adquire especial ironia e nos fornece a gargalhada do dia quando pensamos no ticket médio do Cartão Riachuelo, uma merraca de 193 reais. Até eu consigo concluir que nem “madame”, nem “doutor” compram nas lojas do reaça-mor. Quem compra dele é o trabalhador das classes C e D. Exatamente, aquele emergente da linha da miséria, trazido ao mercado consumidor pelos bolivarianos comunas e é, exatamente, aquele que o cesarístico sátrapa e seus acólitos pretendem exterminar, erradicar e extirpar por completo para que nunca mais ouse andar de avião, ter carro e casa própria ou comprar nas Lojas Riachuelo.

    Vá entender…

  6. Flavio Rocha Nu

    Em 2016, viajei ao lado desse senhor para Porto Alegre. O Impeachmentm já tinha passado na Câmara. Ele falava feito um esquizofrênico para todos os passageiros ouvirem, defedendo o programa Uma Ponte para o Futuro. Arrotava abertamente que o STF não faria nada e que todas as peças já estavam acertadas. Fiquei surpreso de ver a arrogancia, dizendo que ia abrir lojas no Peru e que poderia explorar muito bem o mercado por lá. Depois de tudo o que ouvi, minha opinião só piorou de lá pra cá.

  7. Brasil mostra sua cara

    Por pior que seja a ideologia de flávio Rocha, considero um avanço que ele a defenda e mostre sua cara. É isso o que falta para a política brasileira: cada agente político mostrar-se defender suas propostas e, abertamente, lutar pela implantação de suas ideias e seus interesses. Muito mais nocivo que Flávio Rocha são as eminências pardas como os lobistas da Shell e Exxon, bem como seus políticos fantoches, como José Serra, Álvaro Dias, Eduardo Cunha, Michel Temer e tantos outros, bem como a Rede Globo e outros integrantes da grande mídia que vivem de deturpar a realidade, impossibilitanto um amadurecimento da cultura política brasileira.

    1. Transparência total

      E eu acho que partidos políticos que se dizem trabalhistas mas na verdade são socialistas deveriam, para o bem da transparência e da democracia, mostrar sua verdadeira cara, por pior que seja sua ideologia.

  8. Ad Hominem

    No artigo do Faro e na maioria dos comentários associados praticamente só vi Ad Hominem, ou seja, atacaram o Rocha, com ou sem razão, com verdades, meias-verdades ou mentiras, mas não enfrentaram seus argumentos. Sim, Gramsci está bem vivo no Brasil! E talvez já morto na Venezuela e em Cuba.

  9. O bicho da seda.

    Segundo Sagan, o bicho da seda é o bicho que tem o pior olfato do mundo.  No entanto  ele consegue detetar uma fêmea a mais de 1 km de distância. Isto é o suficiente para o seu sucesso.

    Quando eu era pequeno e ia comprar pão na padaria, tinha um mêdo terrível do dono da padaria. Ele gritava com os funcionários , gritava com os clientes, jamais sorria  e parecia uma estátua atrás da maquina registradora. Para mim ele só sabia gritar e movimentar os braços , naquele movimento típico necessário para abrir e fechar a gaveta da caixa registradora.E este movimento foi crucial para ele ficar rico. E depois de rico, anos mais tarde alguém quis me convencer que aquele homem de um movimento só era muito inteligente.

     

    1. Olha, não sei se ele é tem

      Olha, não sei se ele é tem muitos movimentos, mas falou algumas verdades. E isso, para o caso, basta. Por outro lado, administrar uma padaria dá um trabalho danado. E tem seus riscos – que nem todos estão dispostos a enfrentar.

      1. Alexandre

        Sem dúvida gerenciar uma padaria  é trabalhoso. Sem dúvida aquele senhor tem mérito e me parece que ganhou sua riqueza honestamente. Mas eu estranho muito que o sucesso em alguma coisa permita que as pessoas falem de qualquer coisa . E talvez deva me corrigir sem dúvida ele teve inteligência para gerir sua padaria,  o que é louvável. Mas Alexandre eu acho que estou falando de que isto não garante que ele tenha inteligência para tudo e me parece que o senhor da Riachuelo extrapola suas capacidades.

        1. Frederico Firmino

          Firmino, e quem falou em “inteligência para tudo”?? Eu não tenho, e nem você. Ninguém tem. Mas o assunto que ele abordou não é “tudo”. E eu, particularmente, concordo com ele. E não sou um curioso qualquer; leio bastante sobre o assunto.

          Um abraço.

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