Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

31 Comentários

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    1. Muito pelo contrário, o negócio é ignorá-lo.

      Muito pelo contrário, ignorar, pois está mais que na hora de parar de “dar milho para bode” e turbinar qualquer denunciante desqualificado que arrumam. Quando acha que a Cultura irá convidar, para serem entrevistados no Roda Viva, os autores de “Privataria Tucana” e “Operação Banqueiro”? O Tuma falando é a melhor resposta ao que fala.  

      1. O PT e os blogs não podem

        O PT e os blogs não podem cometer os mesmos erros de tentar esconder um livro com denuncias muito graves. Vi ontem o programa e Tuma não demosntrou segurança, foi confuso, nervoso e gaguejava muito. Mas as denuncias principalmente quanto a morte de Celso Daniel são gravíssimas e afetam Gilberto Carvalho, Jose Dirceu e a cúpula do PT. O PT tem que reagir e ao menos processar Tuma por calunia. Tuma afirma que não foi processado porque se for ele provará os fatos.

        Precisamos de uma respostas dos envolvidos.

  1. Ensino em tempo integral só daqui a 1.594 anos

    Com atual ritmo de expansão, ensino em tempo integral demoraria 1.594 anos para atingir toda a rede em SP

    Governado há 20 anos por um mesmo partido, estado de SP terá, mesmo depois de ampliação do programa, apenas 1,25% de alunos em escolas de tempo completo

    Por Cyrus Afshar, do Novas Cartas Persas

     

    O governo anunciou uma “megaexpansão” do ensino em tempo integral da rede pública estadual. Atualmente, são 69 as escolas que fazem parte do programa e passarão neste ano para 182 instituições de ensino, beneficiando, segundo o governo, cerca de 55 mil alunos da rede pública estadual.

    (…)

    Em 20 anos, portanto, o ensino integral atingiu 3,25% das escolas da rede estadual e 1,25% de seus alunos. Nesse ritmo chinês tucano de expansão, para o ensino integral atingir toda a rede demoraria 660 anos ou, para incluir todos os seus alunos, seriam necessários 1.594 anos. Não há “Pax Tucanax” que aguente. Mesmo se incluirmos na conta apenas alunos do ensino médio e integral, ainda assim seriam necessários 1.444 anos para que todos tivessem aulas das 7:00 às 16:00 (aliás, aula tão cedo é muito cruel… só quem não lembra mais o que é estar na escola para achar isso normal!).

     

    http://novascartaspersas.wordpress.com/2014/02/03/com-atual-ritmo-de-expansao-ensino-em-tempo-integral-demoraria-1-594-anos-para-atingir-toda-a-rede-em-sp/

     

  2. Do Facebook de Carla

    Do Facebook de Carla Santos https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201471471610823&set=a.1219920460274.2030001.1296800379&type=1&stream_ref=10

    POR UM BUNDALELÊ GIGANTE NA FRENTE DA ONG MOVE RIO!!!!

    Isso é real e oficial, por mais bizarro que possa parecer! Chama a Marcha Mundial das Mulheres, a União Brasileira de Mulheres, a Marcha das Vadias que as Black Ass Blocks vão fazer um super bundalelê na frente DA ONG Move Rio, responsável por essa campanha bizarra e inaceitável!!!! A preocupação é com a saúde ou com a bunda??? Desde quando bituca de cigarro é sinônimo de bunda???? Essa é uma campanha para toda população ou só para as mulheres preocupadas em ter uma bunda empinada??? Qual é o objetivo??? Estimular o turismo sexual na capital mundial do Carnaval em pleno #VerãoCarioca???? Só espero que a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Rio se manifeste contra essa campanha e que o prefeito Eduardo Paes esclareça porque uma ONG usa as cores e a fonte da logomarca da Prefeitura para fazer esse lixo de campanha…. Fico pensando porque um fdp ganha um mar de dinheiro pra fazer essa merda de campanha publicitária enquanto a mídia alternativa está à deriva!!! Que raiva…

    Mais infos:
    http://alturl.com/giwkp

    Site da ONG Move Rio:
    http://alturl.com/7ngpb

    Carla Santos

  3. Fernando Brito: Se você

    Fernando Brito: Se você achava que Serra era capaz de tudo…

    publicado em 2 de fevereiro de 2014 às 19:14

    Brucutu pró-Aécio dizia que mineiro impunha censura à imprensa em Minas. O que o dinheiro não faz…

    2 de fevereiro de 2014 | 12:46

    Fernando Brito, no Tijolaço

    A Folha, hoje, anuncia que começou a “guerrilha virtual” entre PT e PSDB para as eleições.

    O que descreve, em geral, são simples acompanhamentos de menções em redes sociais, o que é feito por softwares, automaticamente, e não exige mais que um analista ou dois para interpretar as menções e os contextos onde elas se dão.

    Coisa simples, mas que seus “iniciados” dizem ser complicada, porque ganham mais por isso.

    Guerra, mesmo, só do novo brucutu digital de Aécio Neves, o ex-serrista e fernandista Xico Graziano, que acusa, claro, os blogs que mostram o lado playboy de Aécio Neves de “estarem no bolso do PT”.

    Como eu não estou e mostro, gostaria de que Graziano especificasse os blogs, se tiver coragem, porque ando precisando de dinheiro e gostaria de ganhar algum dele na Justiça.

    Mas, à parte disso, a matéria traz lá no pé a noticia de que um cidadão chamado Pedro Guadalupe, que se define como “gênio” das redes sociais, “está entre os mais cotados para integrar a equipe de Aécio.”

    Guadalupe, na linha brucutu, abriu o site “Dilma Mente” para atacar a presidenta da República, diz ele que “em alto nível”.

    A matéria menciona que Guadalupe teria trabalhado para João Santana, a serviço do PT, contra o candidato de Aécio à Prefeitura, Marcio Lacerda.

    Aí eu fui pesquisar sobre o gajo.

    É um guri traquinas, que gosta de fama e de dinheiro – não necessariamente nessa ordem -, esta sendo processado pela família de Renato Russo por uso de suas músicas e disse, há dias, que fora contratado por Andréa Neves para “tocar fogo” nas redes sociais.

    E eis que senão quando me deparo com um de seus furiosos artigos no site de de sua propriedade o BHAZ – Belo Horizonte da A a Z.

    Transcrevo título e trechos:

    O abominável homem dos Neves e as pesquisas eleitorais!

    13/09/2012 – Pedro Guadalupe

    “Você conhece uma das principais artimanhas da família Neves para ganhar eleições? A censura que o clã impõe à imprensa de Minas Gerais é conhecida em todo o país. Se você vive no Estado, é provável que nunca tenha ouvido falar sobre isso, justamente porque o esforço dos Neves para só divulgar as informações que lhes interessa funciona… e muito. Mas você há de concordar que os principais meios de comunicação mineiros nunca publicam nenhuma notícia que possa sujar a imagem de Aécio Neves.”(…)

    “Na época das eleições, esse esforço dos Neves para manipular a opinião pública é ainda maior. Você não deve se lembrar, mas, em 2006, há menos de 15 dias para as eleições, o DataFolha lançou uma pesquisa dizendo que Aécio Neves liderava as intenções de voto com 73% dos eleitores, enquanto o concorrente Nilmario teria apenas 12%(confira aqui). Quando abriram as urnas, Nilmário teve quase o dobro dos votos: 22%.” (…)

    Quer dizer que Guadalupe, o homem do “Dilma Mente” mentia em 2012 quando informava que Aécio subjugava a imprensa ou mente agora, quando diz que Dilma mente?

    É com este tipo de ação mercenária que o PSDB vem falar de “blogueiros no bolso do PT”?

    Está nos confundindo com esta turma que você contratam a peso de outro, como aquele guru indiano do Serra, que acabou indo pra o xilindró?

    Aguardem, meus amigos. Se você achava que Serra era capaz de tudo, vai sofrer uma decepção.

    A campanha de Aécio será mais suja ainda.

    PS do Viomundo: Um leitor diz, nos comentários, que a TV Brasil deixará de ser retransmitida em Minas, dando lugar à TV Cultura de São Paulo. Especula que Aécio estaria fechando todos os canais de comunicação sobre os quais não tem controle visando a disputa estadual e sua campanha ao Planalto. Faz sentido.

    Por outro lado, também gostaríamos que Graziano desse nomes aos bois para ter a possibilidade de acioná-lo na Justiça, se fossemos listados…

    http://www.viomundo.com.br/denuncias/fernando-brito-se-voce-achava-que-serra-era-capaz-de-tudo.html

     

  4. Preso diz que oferta de

    Preso diz que oferta de delação premiada buscava comprometer candidato do PT ao governo de Minas

    publicado em 3 de fevereiro de 2014 às 12:33

    Por trás da apreensão de computadores, documentos e agendas de telefones  do Novo Jornal e seu dono, Andrea e Aécio Neves?

    Delação premiada: Em troca de acusações a Pimentel, Sávio e Protógenes, jornalista ficaria livre

    por Conceição Lemes

    Os bastidores da política mineira estão em ebulição. Na Justiça, o delator do mensalão mineiro, Nilton Monteiro, o jornalista Marco Aurélio Carone e o advogado Dino Miraglia são acusados de formar quadrilha com o objetivo de disseminar documentos falsos, inclusive por meio de um endereço na internet, com o objetivo de extorquir acusados. Os dois primeiros estão presos. Houve busca e apreensão na casa do advogado.

    Esta é a versão oficial, que tem sido noticiada em Minas Gerais.

    Mas há outra, que deriva de um fato político: Nilton, Carone e Miraglia se tornaram uma pedra no sapato dos tucanos em geral e do senador Aécio Neves em particular, agora que ele concorre ao Planalto.

    Nilton é testemunha nos casos do mensalão mineiro e da Lista de Furnas, esquemas de financiamento de campanha dos tucanos nos anos de 1998 e 2002. Carone mantinha um site em que fazia denúncias contra o ex-governador mineiro. Dino representou a família de uma modelo que foi morta em circunstâncias estranhas. O advogado sustenta que ela era a intermediária que carregava dinheiro vivo no esquema do mensalão mineiro e levou a denúncia ao STF.

    Desde 20 janeiro, quando ocorreu a prisão de Marco Aurélio Carone, diretor-proprietário do site Novo Jornal, o bloco parlamentar de oposição a Aécio Neves na Assembleia Legislativa Minas Sem Censura (MSC) denuncia: a prisão preventiva do jornalista é uma armação e tem a ver com o chamado “mensalão tucano” e a Lista de Furnas no contexto das eleições de 2014.

    Na última sexta-feira, 31 de janeiro, um lance evidenciou o roteiro. Segundo o Minas Sem Censura, há indícios de um amplo complô de políticos do PSDB e governo mineiro associados a setores do Judiciário e Ministério Público contra a oposição.

    O plano A, de acordo com a oposição mineira, era prender o jornalista e pressioná-lo a assinar uma falsa acusação contra vários adversários.

    A começar pelo ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio, que sempre foi muito próximo dos tucanos, mas se tornou uma pedra no caminho deles.

    Na eleição de 2008 à prefeitura de Belo Horizonte, o senador Aécio Neves (PSDB) e Pimentel apareceram juntos na propaganda eleitoral na TV, apoiando Márcio Lacerda (PSB).

    Porém, a relação começou a azedar, quando Aécio se colocou como candidato à presidência da República contra a presidenta Dilma Rousseff. E desandou de vez com disposição de Pimentel, nas eleições de 2014, ser o candidato do PT ao Palácio da Liberdade, ocupado há 16 anos pelo PSDB.

    Na lista de “incriminados”, também estariam, entre outros:

    * Rogério Correia, deputado estadual, líder do PT na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALEMG).

    * Durval Ângelo (PT), deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALEMG.

    * Sávio de Souza Cruz (PMDB), deputado estadual, líder da oposição na ALEMG.

    * Protógenes Queiroz, deputado federal (PCdoB-SP) e delegado licenciado da Polícia Federal (PF).

    * Luís Flávio Zampronha, delegado da PF, responsável pelo relatório do mensalão tucano.

    * William Santos, advogado, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil– seção Minas (OAB-MG).

    Em troca da delação premiada, o jornalista ganharia a liberdade. A proposta teria sido lhe oferecida pelo promotor André Luiz Garcia de Pinho. O mesmo que pediu a sua prisão preventiva e já havia sido alvo de denúncia no site do próprio preso.

    Marco Aurélio Carone fez essas e outras revelações na quarta-feira 29 a Rogério Correia e Durval Ângelo. Junto com eles, representando a OAB-MG,  estava o advogado Vinícius Marcus Nonato.

    Os três ouviram-no no Hospital Biocor, onde ficou internado de 25 a 28 de janeiro, sob vigília policial.

    A conversa durou 31min15s.  Foi gravada e dividida em duas partes (na íntegra, sem qualquer edição, ao final desta reportagem).  É que aos 7min28s, a pedido da enfermagem, teve de ser interrompida, para o jornalista receber medicação.

    Carone recusou a delação premiada: “Sou filho de pai e mãe cassados, vou morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em hipótese alguma”.

    Segundo a oposição mineira, fracassado o plano A, partiram para o plano B, devassar os documentos do jornalista e do Novo Jornal, cujas matérias desagradam politicamente a cúpula do PSDB e do governo mineiro, para descobrir suas fontes de informação.

    Por determinação da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, agentes da Polícia Civil (Depatri) realizaram busca e apreensão de agendas, computadores e documentos na sede do Novo Jornal.

    Fizeram o mesmo na casa de Carone e na do jornalista Geraldo Elísio, Prêmio Esso Regional de Jornalismo e que trabalhou no Novo Jornal até sete meses atrás.

    “Uma equipe composta por um delegado e três outros investigadores do Depatri visitou-me com ordem de busca e apreensão de meu netbook, minhas cadernetas de telefone, CD’s e anotações, principalmente em um livro no qual escrevo poesias”, postou na sua página no Facebook . “Fizeram uma relação de objetos levados perante testemunhas legais, mas nada me mostraram.”

    “Esses atos são obra de Andréa [Andréa] e seu irmão [senador Aécio Neves, PSDB-M], para tentar desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão tucano, para que não entrem em julgamento no STF”, afirma Geraldo Elísio ao Viomundo. “Para isso não estão titubeando em lançar mão de tentativas loucas e desmesuradas, inclusive incriminar os deputados Rogério Correia e  Sávio Souza Cruz, que certamente o doutor Tancredo Neves reprovaria. Eles não herdaram a inteligência nem o bom senso do avô.”

    LIBERDADE DE IMPRENSA VIOLADA COM A CUMPLICIDADE DA MÍDIA

    Rogério Correia está perplexo: “É estranho uma ordem de busca e apreensão na residência do jornalista Geraldo Elísio. Evidencia o caráter de censura da operação em curso”.

    O bloco Minas Sem Censura, integrado por PT, PMDB e PRB, denuncia:

    O bloco parlamentar Minas Sem Censura vem a público mais uma vez registrar sua perplexidade e sua indignação com mais essa atitude do Judiciário mineiro, no caso do Novo Jornal.

    A ordem de busca e apreensão expedida contra o diretor proprietário do Novo Jornal e contra o repórter Geraldo Elísio configura mais um absurdo do caso.

    Depois de vários dias da prisão de Carone, sem fato concreto que pudesse incriminá-lo, vasculhar sua residência e a de Elísio, só tem sentido como ato de intimidação.

    Se a credibilidade dessa atípica atitude de censura já era mínima,  agora chega ao limite da desmoralização. Não conseguindo forjar a delação premiada, só restou essa truculência: busca e apreensão.

    Qual será a próxima ousadia? Qual a credibilidade de supostas “provas” que eventualmente “apareçam”?

    Invadir casas de jornalistas é um precedente perigoso. Em Minas não se respira liberdade.

    Na verdade, nesse 31 de janeiro de 2014, Minas  sofreu um atentado à liberdade de imprensa digno dos tempos da ditadura civil-militar no Brasil.

    PRESO NO HOSPITAL

    Marco Aurélio Carone tem 60 anos, sofre de diabetes e hipertensão arterial há mais dez. Há cinco sofreu um acidente que lhe deixou uma perna menor que a outra e o obrigou a recorrer à bengala. Atualmente, usa muletas, mesmo assim  não consegue se locomover direito.

    Hoje, faz 14 dias que está em prisão preventiva.

    Primeiro, foi para o Ceresp (Centro de Remanejamento do Sistema Prisional) Gameleira.

    No dia 21, ele passou mal no presídio e foi levado para a UPA mais próxima, a UPA Oeste. Como tem plano de saúde, conseguiu ser transferido para um hospital da rede.

    No dia 23, teve alta e voltou para o presídio. Passou mal de novo. Foi levado mais uma vez para a UPA Oeste.

    Nesse mesmo dia mais cedo, o doutor Edson Donato, médico do presídio, fez um relatório, alertando a direção a gravidade do caso. Dois pontos nos chamam particularmente a atenção:

    Hipertensão arterial maligna + diabético tipo II de difícil controle com medicamento, susp [abreviatura de suspeita?] de angina pectoris e necessitando de uso rigoroso dos medicamentos, em horários rigorosos.

    Paciente com risco de vida neste presídio sem condições de permanecer devido às precárias condições de assistência médica.

    O doutor Edson Donato foi preciso no seu diagnóstico.

    No início da madrugada  de  sexta-passada, 24 de janeiro, o quadro de saúde  do jornalista se agravou. Ele teve infarto. Foi para o CTI do Biocor.

    Na tarde da última terça-feira 28, ele foi transferido para um dos quartos do hospital.

    Um dia depois, os deputados estaduais Rogério Correia e Durval Ângelo, acompanhados de um representantes da OAB-MG, o interrogaram.

    Nota-se, pela gravação da conversa, que respira com certa dificuldade.

    “A pressão arterial do Carone estava 24 por 10, ele havia passado a noite no respirador artificial, devido à falta de ar”, atenta Durval Ângelo. “A saúde dele está muito fragilizada. Devido a problema no quadril, anda de muleta, precisa de ajuda para fazer as suas necessidades.”

    Nesse mesmo dia à tarde, os dois deputados estaduais tiveram audiência com presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Joaquim Herculano Rodrigues, solicitando a intervenção dele para que o jornalista não voltasse ao presídio. Eles não veem sentido na prisão preventiva. Mas se não for possível revogá-la, que a cumprisse em prisão domiciliar.

    Durval Ângelo e Rogério Correia no TJ-MG para audiência com o desembargador Herculano Rodrigues

    “É claro que o Carone não oferece risco. E muito menos após o infarto na prisão”, observa Rogério Correia. “Mesmo assim a Justiça não lhe deu sequer a prisão domiciliar.”

    Desde quinta-feira 30, o jornalista está na enfermaria da Penitenciária Nelson Hungria, Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, onde não recebe a visita da família. Segundo um dos seus advogados, Hernandes de Alecrim, ele está com a medicação inadequada.

    “Se o Carone morrer, a responsabilidade será do governo e do Judiciário mineiros, que já foram suficientemente alertados por nós”, avisa Correia.

    A seguir, os principais pontos do depoimento do jornalista aos dois parlamentares e ao representante da OAB-MG. As informações em itálico, entre colchetes, são nossas. São esclarecimentos sobre o contexto e/ou a pessoa mencionada.

    EM GRAVAÇÃO, JORNALISTA LIGA PRISÃO A MATÉRIA SOBRE O  HELICÓPTERO DO PÓ

    Carone diz que acredita que a sua prisão, ocorrida no dia 20 de janeiro, tem ligação com matéria que estava fazendo na semana anterior. No depoimento gravado, ele conta aos deputados e ao representante da OAB-MG:

    – Uma semana e meia antes da minha prisão, tinha um pessoal me pressionando pra eu ir na delegacia depor num processo em que são partes Dino Miraglia, eu e o Nilton Monteiro.

    [Dino Miraglia é advogado. Em entrevista exclusiva ao Viomundo, diz que morte de modelo em Belo Horizonte tem ligação com mensalão tucano. Nílton Monteiro está preso no Presídio Nelson Hungria, em Belo Horizonte. É o delator do mensalão tucano. Também em entrevista exclusiva ao Viomundo disse que é um homem com medo de morrer e é perseguido por Aécio Neves]

    – Uma denúncia anônima foi feita, dizendo que existiria um conluio entre eu, Dino Miraglia e Nílton Monteiro. O Dino criava o fato político, o Nílton Monteiro arrumaria o documento e eu divulgaria.

    – Eu fui a primeira vez e disse que eles estavam brincando. Isso não existe não. Até hoje vocês não mostraram nenhum documento falso, que história é essa de documento falso? Não tem isso, não.

    – O meu único negócio com o Nílton Monteiro é que eu noticio ele. Eu sou um dos que noticiam o Nílton Monteiro. Eu não tenho nada, nada, com o Nilton Monteiro.

    – E o Dino, vou mandar para os senhores… Eu mandei, através do dr. Hernandes [Hernandes de Alecrim é um dos advogados de Carone],  todos os contratos [Dino era advogado de Carone em várias causas, depois renunciou a todas].

    Na sexta-feira, 17, o Novo Jornal  estava fechando uma matéria sobre o possível envolvimento de parentes do Aécio com o helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella, (SDD), flagrado com 445 kg de pasta base de cocaína, em novembro de 2013, no Espírito Santo.

    Na segunda-feira, o jornalista foi preso às seis horas da manhã, na porta do seu escritório. “Veja se um fato não tem ligação com o outro”, diz na gravação.

    “MARCO AURÉLIO? SOU, SIM, SENHOR.  MUITO PRAZER, ANDRÉ LUIZ”

    Diferentemente do que informamos inicialmente, a proposta de delação premiada, segundo Carone, não aconteceu na UPA Oeste, em 23 de janeiro, mas na delegacia, no mesmo dia em que o jornalista foi preso.

    Na noite do dia 23, muito tenso, ele fez a denúncia na presença dos profissionais de saúde que lhe prestavam assistência, de familiares, advogados, guardas penitenciários e outros transeuntes que observavam o local, já que sua permanência na UPA Oeste ganhara notoriedade e atraíra a atenção de outras pessoas.

    – Bom, me levaram preso… me levaram para a delegacia.

    – Eles te prenderam onde? – indaga Rogério Correia.

    – Na porta do escritório, às seis horas da manhã.

    – Quem te prendeu? – prossegue Rogério.

    – Um delegado, chama-se doutor Guilherme [Guilherme Santos, delegado da Polícia Civil]. Eu cheguei na delegacia, ele saiu [da sala], ficou um agente moreno de cabeça raspada, sentado na porta…  Eu sabia que estava preso, pois ele me deu ordem de prisão.

    – Assim que o delegado saiu, entrou um promotor, o doutor André Luiz, que eu não conhecia [pessoalmente]. Ele não gosta de mim, porque publiquei uma matéria a respeito do irmão dele que é advogado:

    – Marco Aurélio?

    – Sou sim, senhor.

    – Muito prazer, André Luiz. Você mexeu onde não tinha de mexer… Sim, você mexeu onde não tinha de mexer.

    – Como assim, doutor? — . Eu nem estava ligando uma coisa com  a outra.

    – Você mexeu com a delegacia de crime organizado, cara, e agora você vai ver o que tem para você. E, aí, citou aquela matéria que eu coloquei do Aécio Neves, da overdose, e da morte da modelo.

    – Aí, ele pegou e pôs um processo em cima da mesa. Bum! [com gesto, Carone mostra que é volumoso]

    – Você está querendo ficar livre disso?

    – Lógico, doutor.  O que está acontecendo, doutor?

    – Assina isso aqui. Se você assinar esta declaração, você está livre.

    – Declaração de quê, doutor?

    – Lê.

    – Eu não li totalmente, pois eram mais ou menos três páginas datilografadas frente e  e no verso.

    O jornalista diz que ficou na sala, sozinho, com o promotor André Pinho, das 6 às 8 da manhã, quando a sua filha chegou. O delegado Guilherme dos Santos levou-a até o pai.

    – Na hora em que minha filha entrou, ele [o promotor] desconversou e saiu. E o delegado, o doutor Guilherme, estava visivelmente constrangido com o que estava acontecendo ali.

    – Eu estava com essa sacola. Ele [o promotor]  falou: apreende essa sacola! Dentro da sacola, tinha a minha marmita [por causa dieta alimentar que faz], minha agenda e mais nada.

    – O delegado disse: o senhor me desculpa, eu não tenho ordem judicial. A ordem judicial não manda fazer isso.  Aí, ele [o promotor André Luiz] foi, datilografou uma ordem judicial para o delegado, disse que estava pedindo ad judicia, ad referendum, falando em nome da juíza, para que apreendesse aquilo ali.

    – Ele bateu um parecer para apreender…? – inquere Rogério Correia.

    – A agenda.

    – Essa agenda que ele levou, eles lacraram? –  acrescenta Rogério.

    – Não, não lacraram, não.

     AS ACUSAÇÕES QUE QUERIAM QUE O JORNALISTA “ASSINASSE” COMO SENDO O AUTOR

    O Minas Sem Censura denunciou: os termos da delação premiada chegaram prontos ao jornalista. Só faltava assiná-la. Carone registrou o que guardou na memória. As anotações serviram-lhe de guia na conversa com os dois deputados e o representante da OAB-MG, na última quarta-feira.

    – Mais ou menos eu vou dizer a vocês o que eu lembrei…

    – Em relação ao Rogério Correia, é como se fosse feita uma pergunta assim. Indagado [eu, Carone], informou que o deputado Rogério Correia, junto com Simeão [Simeão Celso de Oliveira, assessor do deputado] e o Nilton Monteiro tentaram desviar o que era o foco da Lista de Furnas, introduzindo novos elementos na mesma. E fazendo da mesma divulgação, autorizando a mim que fosse isso publicado no site.

    – Fiquei calado. Deixa eu ler o resto [pensou]. Esse troço está ficando esquisito.

    – Aí, colocou você [Rogério Correia], o  Simeão e o William, advogado [William  Santos, da Comissão de Direitos Humanos da OABMG].

    – Tem muita coisa, querendo incriminar você. Embaixo está lá assim: que a sua fonte junto à Justiça Federal e à Polícia Federal é o Álvaro Souza Cruz [procurador da República em Minas Gerais], irmão do deputado Sávio Souza Cruz, o Protógenes Queiroz  [delegado licenciado da Polícia Federal  e deputado federal (PCdoB-SP),  e o Zampronha [delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha, que investigou o mensalão do PT e o tucano; depois, como “prêmio” , foi rebaixado de função na PF] .

    – Eu publico documentos da Polícia Federal e de processos, eu tenho fontes lá dentro. Ele queria que eu assinasse que esses documentos me eram passados pelo Álvaro de Souza Cruz, irmão do Sávio, Protógenes e Zampronha.

    – Agora, você, Durval.  Todas as acusações contra o Danilo de Castro são trazidas pelo Durval Ângelo e quem manda é o prefeito de Visconde do Rio Branco. Que os documentos da Zona da Mata são enviados pelo PT de Visconde de Rio Branco, via você.

    [Danilo de Castro, que já foi deputado federal e presidente da Caixa Econômica Federal no governo Fernando Henrique Cardoso, é o homem forte do Aécio. Foi secretário de Governo na gestão Aécio e  hoje é secretário de Governo do Antonio Anastasia, governador de MG pelo PSDB].

    [O prefeito de Visconde do Rio Branco, município da Zona da Mata mineira, é Iran Silva Couri, do PT].

    – Eu nem converso com o cara [prefeito Iran Couri]. É inimigo meu, inimigo político.Eu falei: ‘doutor, isso é maluquice. Esse cara nem conversa comigo, nós quase saímos no tapa em  2004’.

    – Aí vem o pior, o financiamento do site é feito pelo Fernando Pimentel [petista mineiro, ministro de Indústria e Comércio] através da empresa HAP.

    – Consultado, diz que recebeu recursos da Assembleia Legislativa, via deputado Diniz Pinheiro. O Diniz Pinheiro, que é do lado deles [dos tucanos], eles estão envolvendo.

    [Diniz Pinheiro é deputado estadual (PP) e presidente da Assembleia Legislativa de Minas]

    – Ele [promotor André Pinho] falou de um rapaz que é da Polícia Civil, que não guardo o nome. Esse cara da Polícia Civil é do Sindicato até. Esse cara da Polícia Civil é quem me daria os documentos da Polícia Civil, principalmente da Corregedoria. Eu nunca ouvi falar o nome  do rapaz…

    O jornalista sustenta: tudo isso estava no “depoimento” pronto de três páginas, datilografadas frente e verso, que o promotor entregou para ele ler e assinar, como se tivesse feito tais declarações.

    “DOUTOR, O SENHOR ME DESCULPA, MAS EU NÃO VOU ASSINAR ISSO AQUI, NÃO”  .

    Na conversa gravada com os deputados e o representante da OAB na quarta-feira, o jornalista contou que, em vários momentos, tentou mostrar ao promotor André Pinho que ele estava enganado.

    – Doutor, nesse inquérito – é eu, Nílton Monteiro e o Dino Miraglia – eu já falei…

    – Ele olhou pra mim e disse: Dino Miraglia não bancou o idiota, não, já caiu fora. Falta você cair fora e deixar essa turma ir para o buraco. Só tem filho da puta.

    – Isso, o promotor?! – questiona Rogério Correia.

    – O promotor falando comigo, o André Luiz. E se vocês pedirem a fita do vídeo, vocês  vão ver que ele esteve lá falando comigo…na delegacia… na Nossa Senhora de Fátima.

    [É uma igreja bem perto da delegacia, por isso a população de BH a chama de Nossa Senhora de Fátima. Foi nesta delegacia que o promotor foi encontrá-lo. Depois, o jornalista foi transferido para o Ceresp Gameleira, a penitenciária onde ficou preso inicialmente. Ceresp significa Centro de Remanejamento do Sistema Prisional]

    – Ele falou: ‘não adianta não, cara, você querer proteger, nem nada, vai todo mundo em cana’.

    – Eu virei pra ele e disse: ‘o senhor está enganado. Primeiro, porque eu não conheço o Protógenes’.

    –  Eu sei que você  não conhece o Protógenes. O Protógenes é através do Geraldo Elísio [jornalista Geraldo Elísio, que trabalhou no Novo Jornal] – o promotor disse.

    – Mas eu também não conheço o Zampronha…

    – O Zampronha era através do Protógenes que veio para você…

    – Eu não entendi o que ele falou do Zampronha e do Protógenes… – interrompe Rogério.

    – A ligação é em função do mensalão mineiro. Porque eu publiquei a cópia do inquérito inteiro do mensalão mineiro… O relatório do Zampronha. E ninguém, segundo eles, tinha esse relatório.

    – Aí, o promotor disse: ‘e  não adianta você querer sair que nós não vamos soltar você. Tá aqui a oportunidade de você assinar isso agora e sair’.

    – Eu virei pra ele e disse: ‘doutor, o senhor me desculpa, mas eu não vou assinar isso aqui, não. Primeiro, porque isso não corresponde à verdade. E, segundo, eu já sou uma pessoa que já tem 60 anos de idade, sei o que estou fazendo e sei das minhas responsabilidades do que eu vou fazer…

    – Aí, ele veio com gritaria. Você é isso, aquilo, aquilo outro, tal, tal.

    – Ele me esculhambou na frente da minha filha. Ela entrou e ele não percebeu que era ela. Ela inclusive reclamou com o delegado.

    – Tinha alguém com você além dele? – pergunta Rogério.

    – Não!

    – O delegado não estava presente? – insiste Rogério.

    – Não. Ele saiu. O delegado só estava presente na hora em que o promotor falou: ‘eu preciso dessa agenda’

    Mas a filha, o genro e Hernandes de Alecrim, um dos advogados de Carone, viram-no com o promotor André Pinho. Haveria também a fita de vídeo da delegacia Nossa Senhora de Fátima, que poderia mostrar que André Pinho esteve lá falando com Carone.

    Com base no que ainda teria ouvido lá,  o jornalista alerta os dois parlamentares e o representante da OAB-MG:

    – ‘Eles [tucanos] estão querendo, eles vão por a mão’ no jornalista Leandro Fortes, de CartaCapital.

    – O esquema deles é tentar fazer uma conexão de que tudo nasceu em Minas Gerais. Inclusive, vários documentos, através do Dino, teriam chegado ao PT. O Dino seria o intermediário. Eu não sei até onde o Dino está nisso, não está. Eu não vou fazer falsa acusação contra ninguém. Mas me assustou esse fato de ele [o promotor] falar comigo que o Dino já saiu fora. Juntando o fato de ele ter renunciado em todos os processos meus…

    – Eles vão prender o William, vão prender o Simeão. No pedido para o juiz, eu vi, está o nome dos dois.

    – Agora, avisa todo mundo: eu sou filho de pai e mãe cassados, vou morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em hipótese alguma.

    “É cada vez mais nítida a armação dos tucanos, que querem desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão tucano e incluir  a oposição numa fantasia desmoralizante”, conclui Rogério Correia. “Para limpar a barra do Aécio, vale tudo, até encarcerar um jornalista com risco de morrer.”

    Em tempo.

    Na gravação, como já mostramos um pouco atrás, o jornalista  disse aos deputados Rogério Correia e Durval Ângelo e ao representante da OAB-MG, doutor Vinícius MarciusNonato, que o promotor André Pinho, o mesmo que o denunciou, não gosta dele por causa de uma matéria que fez com o irmão.

    Durval Ângelo: O “promotor André Pinho (foto acima) não tem isenção para atuar no caso, é suspeito”

    O irmão chama-se Marco Antônio Garcia de Pinho, é  ex-policial. Ele procurou o deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos da ALEMG, duas vezes.

    “O irmão contou que o promotor estava passando outros irmãos para trás numa questão herança, que havia sido vítima de prisão ilegal armada pelo irmão, que estava usando o cargo de promotor para persegui-lo. Disse inclusive que nem o pai queria vê-lo”, afirma o parlamentar. “Para não prevaricar, sem entrar no mérito de quem tinha razão, mandei o caso para a Corregedoria da Promotoria a fim de que o apurasse ”

    “O Marco Antônio procurou também o Carone, que fez uma matéria a respeito”, acrescenta Durval Ângelo. “O promotor André Pinho não tem isenção para atuar no caso, é suspeito. Contra ele, aliás, correm três denúncias no Conselho Nacional do Ministério Público.”

    O Viomundo contatou o Ministério Público de Minas Gerais para ouvir o promotor sobre essas acusações e a proposta de delação premiada que teria sido feita ao jornalista Marco Aurélio Carone. André Pinho, via assessoria  de imprensa do MPMG, disse “que não vai manifestar sobre o caso, pois ele já está judicializado”.

    Primeira parte

    Identificando as vozes. Aos 40s, o jornalista diz: “Fez um cateter, um ecocardiograma…” No 1min20s, Rogério Correia fala: “O documento que você tem do médico do presídio…” No 1min49s, Durval Ângelo pergunta: “Como é o nome do médico?”

     

     Segunda parte

     

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  5. Vai ter copa

    Por Antônio Lassance, no blog da TV dos Trabalhadores

     

    Profetas do pânico: os gupos que patrocinam a campanha anticopa
     
    Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento.

    Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos exemplos ao abandonarem seus compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.

    A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro.

    Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico.

    O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.

    Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.

    Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil

    O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil de dar conta do recado.

    Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.

    A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.

    Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais triste de todas as copas.

    “Hello!”: já fizemos uma copa antes

    Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com muito menos condições do que temos agora.

    Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.

    O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame diante do mundo – o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”,  a ideia de que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.

    O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil – imbatível nesse aspecto.

    O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na China”, de 1978).

    O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs. 

    Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de futebol, e isso não é importante

    O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival de besteiras que são ditas contra a Copa.

    Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha de gastos da copa.

    A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.

    A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.

    Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura, serviços e formação de mão de obra.

    Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.

    O gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada (2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.

    O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013, não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que cuida de aeroportos).

    Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros serviços.

    Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.

    Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes

    Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas. 

    Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.

    Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão crescer de novo. 

    Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.

    No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui, uma das razões é, sim, a Copa.

    Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso (nas referências ao final está indicado onde encontrar mais detalhes).  

    Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela regulação mais firme sobre os planos de saúde.

    Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.

    Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.

    Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício, geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém falar que isso não é importante.

    Será que o raciocínio contra os estádios vale para a também para a Praça da Apoteose e para todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as igrejas de Ouro Preto e Mariana? 

    Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram o bondinho do Pão-de-Açúcar? 

    Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas. Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam. 

    Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar vexame

    Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora? 

    Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da Copa do Mundo? 

    Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade?

    O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreu atentados na Maratona Internacional de Boston, no ano passado.

    O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.

    O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um Panicopa no meio da torcida. 

    O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à diversidade e combate à homofobia.

    O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de borracha.

    Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.

    Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil 

    De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).

    Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio milhão de pessoas. 

    De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”, citado nas referências ao final).

    Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.

    Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais problemas

    O Brasil tem de problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.

    O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios. 

    Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.

    Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave problema

    É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.

    Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro, imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença. 

    Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.

    A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram: prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos, patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o mesmo.

    Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa

    Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.

    Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona, quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”, enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas das bancas.

    O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os grupos, nem a escalação dos times de cada seleção.  

    A maioria quer saber se o país irá funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho. 

    É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.

    Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu

    Funciona assim: os profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.

    O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013?  Entre outras coisas:

    Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.

    Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.

    Que o preço dos alimentos estava fora de controle.

    Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.

    O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a Copa das Confederações foram entregues.

    Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.

    Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela. Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos profetas do pânico.

    Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?

    O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.

    Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a data do juízo final, ou trocam de praga.

    Agora, atenção todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua paciência acreditando nisso, pela enésima vez. 

    Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé

    O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os ingênuos e os desinformados.

    Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da campanha contra a Copa.

    Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola, no trabalho, na família, na mesa de bar.

    É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.

    As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua. 

    Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.

    A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.

    É claro que as informações deste texto só fazem sentido para aqueles para quem as palavras “Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.

    Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.

    Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente tentar colocar cada coisa em seu lugar.

     

    http://www.tvt.org.br/blog/-27-01-2014

     

     

  6. Em Mg, delação premiada como arma política contra a oposição

    Preso diz que oferta de delação premiada buscava comprometer candidato do PT ao governo de Minas, por Conceição Lemes, no Vi o Mundo

     

    Por trás da apreensão de computadores, documentos e agendas de telefones  do Novo Jornal e seu dono, Andrea e Aécio Neves?

    Delação premiada: Em troca de acusações a Pimentel, Sávio e Protógenes, jornalista ficaria livre

    por Conceição Lemes

    Os bastidores da política mineira estão em ebulição. Na Justiça, o delator do mensalão mineiro, Nilton Monteiro, o jornalista Marco Aurélio Carone e o advogado Dino Miraglia são acusados de formar quadrilha com o objetivo de disseminar documentos falsos, inclusive por meio de um endereço na internet, com o objetivo de extorquir acusados. Os dois primeiros estão presos. Houve busca e apreensão na casa do advogado.

    Esta é a versão oficial, que tem sido noticiada em Minas Gerais.

    Mas há outra, que deriva de um fato político: Nilton, Carone e Miraglia se tornaram uma pedra no sapato dos tucanos em geral e do senador Aécio Neves em particular, agora que ele concorre ao Planalto.

    Nilton é testemunha nos casos do mensalão mineiro e da Lista de Furnas, esquemas de financiamento de campanha dos tucanos nos anos de 1998 e 2002. Carone mantinha um site em que fazia denúncias contra o ex-governador mineiro. Dino representou a família de uma modelo que foi morta em circunstâncias estranhas. O advogado sustenta que ela era a intermediária que carregava dinheiro vivo no esquema do mensalão mineiro e levou a denúncia ao STF.

    Desde 20 janeiro, quando ocorreu a prisão de Marco Aurélio Carone, diretor-proprietário do site Novo Jornal, o bloco parlamentar de oposição a Aécio Neves na Assembleia Legislativa Minas Sem Censura (MSC) denuncia: a prisão preventiva do jornalista é uma armação e tem a ver com o chamado “mensalão tucano” e a Lista de Furnas no contexto das eleições de 2014.

    Na última sexta-feira, 31 de janeiro, um lance evidenciou o roteiro. Segundo o Minas Sem Censura, há indícios de um amplo complô de políticos do PSDB e governo mineiro associados a setores do Judiciário e Ministério Público contra a oposição.

    O plano A, de acordo com a oposição mineira, era prender o jornalista e pressioná-lo a assinar uma falsa acusação contra vários adversários.

    A começar pelo ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio, que sempre foi muito próximo dos tucanos, mas se tornou uma pedra no caminho deles.

    Na eleição de 2008 à prefeitura de Belo Horizonte, o senador Aécio Neves (PSDB) e Pimentel apareceram juntos na propaganda eleitoral na TV, apoiando Márcio Lacerda (PSB).

    Porém, a relação começou a azedar, quando Aécio se colocou como candidato à presidência da República contra a presidenta Dilma Rousseff. E desandou de vez com disposição de Pimentel, nas eleições de 2014, ser o candidato do PT ao Palácio da Liberdade, ocupado há 16 anos pelo PSDB.

    Na lista de “incriminados”, também estariam, entre outros:

    * Rogério Correia, deputado estadual, líder do PT na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALEMG).

    * Durval Ângelo (PT), deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALEMG.

    * Sávio de Souza Cruz (PMDB), deputado estadual, líder da oposição na ALEMG.

    * Protógenes Queiroz, deputado federal (PCdoB-SP) e delegado licenciado da Polícia Federal (PF).

    * Luís Flávio Zampronha, delegado da PF, responsável pelo relatório do mensalão tucano.

    * William Santos, advogado, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil– seção Minas (OAB-MG).

    Em troca da delação premiada, o jornalista ganharia a liberdade. A proposta teria sido lhe oferecida pelo promotor André Luiz Garcia de Pinho. O mesmo que pediu a sua prisão preventiva e já havia sido alvo de denúncia no site do próprio preso.

    Marco Aurélio Carone fez essas e outras revelações na quarta-feira 29 a Rogério Correia e Durval Ângelo. Junto com eles, representando a OAB-MG,  estava o advogado Vinícius Marcus Nonato.

    Os três ouviram-no no Hospital Biocor, onde ficou internado de 25 a 28 de janeiro, sob vigília policial.

    A conversa durou 31min15s.  Foi gravada e dividida em duas partes (na íntegra, sem qualquer edição, ao final desta reportagem).  É que aos 7min28s, a pedido da enfermagem, teve de ser interrompida, para o jornalista receber medicação.

    Carone recusou a delação premiada: “Sou filho de pai e mãe cassados, vou morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em hipótese alguma”.

    Segundo a oposição mineira, fracassado o plano A, partiram para o plano B, devassar os documentos do jornalista e do Novo Jornal, cujas matérias desagradam politicamente a cúpula do PSDB e do governo mineiro, para descobrir suas fontes de informação.

    Por determinação da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, agentes da Polícia Civil (Depatri) realizaram busca e apreensão de agendas, computadores e documentos na sede do Novo Jornal.

    Fizeram o mesmo na casa de Carone e na do jornalista Geraldo Elísio, Prêmio Esso Regional de Jornalismo e que trabalhou no Novo Jornal até sete meses atrás.

    “Uma equipe composta por um delegado e três outros investigadores do Depatri visitou-me com ordem de busca e apreensão de meu netbook, minhas cadernetas de telefone, CD’s e anotações, principalmente em um livro no qual escrevo poesias”, postou na sua página no Facebook . “Fizeram uma relação de objetos levados perante testemunhas legais, mas nada me mostraram.”

    “Esses atos são obra de Andréa [Andréa] e seu irmão [senador Aécio Neves, PSDB-M], para tentar desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão tucano, para que não entrem em julgamento no STF”, afirma Geraldo Elísio ao Viomundo. “Para isso não estão titubeando em lançar mão de tentativas loucas e desmesuradas, inclusive incriminar os deputados Rogério Correia e  Sávio Souza Cruz, que certamente o doutor Tancredo Neves reprovaria. Eles não herdaram a inteligência nem o bom senso do avô.”

    LIBERDADE DE IMPRENSA VIOLADA COM A CUMPLICIDADE DA MÍDIA

    Rogério Correia está perplexo: “É estranho uma ordem de busca e apreensão na residência do jornalista Geraldo Elísio. Evidencia o caráter de censura da operação em curso”.

    O bloco Minas Sem Censura, integrado por PT, PMDB e PRB, denuncia:

    O bloco parlamentar Minas Sem Censura vem a público mais uma vez registrar sua perplexidade e sua indignação com mais essa atitude do Judiciário mineiro, no caso do Novo Jornal.

    A ordem de busca e apreensão expedida contra o diretor proprietário do Novo Jornal e contra o repórter Geraldo Elísio configura mais um absurdo do caso.

    Depois de vários dias da prisão de Carone, sem fato concreto que pudesse incriminá-lo, vasculhar sua residência e a de Elísio, só tem sentido como ato de intimidação.

    Se a credibilidade dessa atípica atitude de censura já era mínima,  agora chega ao limite da desmoralização. Não conseguindo forjar a delação premiada, só restou essa truculência: busca e apreensão.

    Qual será a próxima ousadia? Qual a credibilidade de supostas “provas” que eventualmente “apareçam”?

    Invadir casas de jornalistas é um precedente perigoso. Em Minas não se respira liberdade.

    Na verdade, nesse 31 de janeiro de 2014, Minas  sofreu um atentado à liberdade de imprensa digno dos tempos da ditadura civil-militar no Brasil.

    PRESO NO HOSPITAL

    Marco Aurélio Carone tem 60 anos, sofre de diabetes e hipertensão arterial há mais dez. Há cinco sofreu um acidente que lhe deixou uma perna menor que a outra e o obrigou a recorrer à bengala. Atualmente, usa muletas, mesmo assim  não consegue se locomover direito.

    Hoje, faz 14 dias que está em prisão preventiva.

    Primeiro, foi para o Ceresp (Centro de Remanejamento do Sistema Prisional) Gameleira.

    No dia 21, ele passou mal no presídio e foi levado para a UPA mais próxima, a UPA Oeste. Como tem plano de saúde, conseguiu ser transferido para um hospital da rede.

    No dia 23, teve alta e voltou para o presídio. Passou mal de novo. Foi levado mais uma vez para a UPA Oeste.

    Nesse mesmo dia mais cedo, o doutor Edson Donato, médico do presídio, fez um relatório, alertando a direção a gravidade do caso. Dois pontos nos chamam particularmente a atenção:

    Hipertensão arterial maligna + diabético tipo II de difícil controle com medicamento, susp [abreviatura de suspeita?] de angina pectoris e necessitando de uso rigoroso dos medicamentos, em horários rigorosos.

    Paciente com risco de vida neste presídio sem condições de permanecer devido às precárias condições de assistência médica.

    O doutor Edson Donato foi preciso no seu diagnóstico.

    No início da madrugada  de  sexta-passada, 24 de janeiro, o quadro de saúde  do jornalista se agravou. Ele teve infarto. Foi para o CTI do Biocor.

    Na tarde da última terça-feira 28, ele foi transferido para um dos quartos do hospital.

    Um dia depois, os deputados estaduais Rogério Correia e Durval Ângelo, acompanhados de um representantes da OAB-MG, o interrogaram.

    Nota-se, pela gravação da conversa, que respira com certa dificuldade.

    “A pressão arterial do Carone estava 24 por 10, ele havia passado a noite no respirador artificial, devido à falta de ar”, atenta Durval Ângelo. “A saúde dele está muito fragilizada. Devido a problema no quadril, anda de muleta, precisa de ajuda para fazer as suas necessidades.”

    Nesse mesmo dia à tarde, os dois deputados estaduais tiveram audiência com presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Joaquim Herculano Rodrigues, solicitando a intervenção dele para que o jornalista não voltasse ao presídio. Eles não veem sentido na prisão preventiva. Mas se não for possível revogá-la, que a cumprisse em prisão domiciliar.

    Durval Ângelo e Rogério Correia no TJ-MG para audiência com o desembargador Herculano Rodrigues

    “É claro que o Carone não oferece risco. E muito menos após o infarto na prisão”, observa Rogério Correia. “Mesmo assim a Justiça não lhe deu sequer a prisão domiciliar.”

    Desde quinta-feira 30, o jornalista está na enfermaria da Penitenciária Nelson Hungria, Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, onde não recebe a visita da família. Segundo um dos seus advogados, Hernandes de Alecrim, ele está com a medicação inadequada.

    “Se o Carone morrer, a responsabilidade será do governo e do Judiciário mineiros, que já foram suficientemente alertados por nós”, avisa Correia.

    A seguir, os principais pontos do depoimento do jornalista aos dois parlamentares e ao representante da OAB-MG. As informações em itálico, entre colchetes, são nossas. São esclarecimentos sobre o contexto e/ou a pessoa mencionada.

    EM GRAVAÇÃO, JORNALISTA LIGA PRISÃO A MATÉRIA SOBRE O  HELICÓPTERO DO PÓ

    Carone diz que acredita que a sua prisão, ocorrida no dia 20 de janeiro, tem ligação com matéria que estava fazendo na semana anterior. No depoimento gravado, ele conta aos deputados e ao representante da OAB-MG:

    – Uma semana e meia antes da minha prisão, tinha um pessoal me pressionando pra eu ir na delegacia depor num processo em que são partes Dino Miraglia, eu e o Nilton Monteiro.

    [Dino Miraglia é advogado. Em entrevista exclusiva ao Viomundo, diz que morte de modelo em Belo Horizonte tem ligação com mensalão tucano. Nílton Monteiro está preso no Presídio Nelson Hungria, em Belo Horizonte. É o delator do mensalão tucano. Também em entrevista exclusiva ao Viomundo disse que é um homem com medo de morrer e é perseguido por Aécio Neves]

    – Uma denúncia anônima foi feita, dizendo que existiria um conluio entre eu, Dino Miraglia e Nílton Monteiro. O Dino criava o fato político, o Nílton Monteiro arrumaria o documento e eu divulgaria.

    – Eu fui a primeira vez e disse que eles estavam brincando. Isso não existe não. Até hoje vocês não mostraram nenhum documento falso, que história é essa de documento falso? Não tem isso, não.

    – O meu único negócio com o Nílton Monteiro é que eu noticio ele. Eu sou um dos que noticiam o Nílton Monteiro. Eu não tenho nada, nada, com o Nilton Monteiro.

    – E o Dino, vou mandar para os senhores… Eu mandei, através do dr. Hernandes [Hernandes de Alecrim é um dos advogados de Carone],  todos os contratos [Dino era advogado de Carone em várias causas, depois renunciou a todas].

    Na sexta-feira, 17, o Novo Jornal  estava fechando uma matéria sobre o possível envolvimento de parentes do Aécio com o helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella, (SDD), flagrado com 445 kg de pasta base de cocaína, em novembro de 2013, no Espírito Santo.

    Na segunda-feira, o jornalista foi preso às seis horas da manhã, na porta do seu escritório. “Veja se um fato não tem ligação com o outro”, diz na gravação.

    “MARCO AURÉLIO? SOU, SIM, SENHOR.  MUITO PRAZER, ANDRÉ LUIZ”

    Diferentemente do que informamos inicialmente, a proposta de delação premiada, segundo Carone, não aconteceu na UPA Oeste, em 23 de janeiro, mas na delegacia, no mesmo dia em que o jornalista foi preso.

    Na noite do dia 23, muito tenso, ele fez a denúncia na presença dos profissionais de saúde que lhe prestavam assistência, de familiares, advogados, guardas penitenciários e outros transeuntes que observavam o local, já que sua permanência na UPA Oeste ganhara notoriedade e atraíra a atenção de outras pessoas.

    – Bom, me levaram preso… me levaram para a delegacia.

    – Eles te prenderam onde? – indaga Rogério Correia.

    – Na porta do escritório, às seis horas da manhã.

    – Quem te prendeu? – prossegue Rogério.

    – Um delegado, chama-se doutor Guilherme [Guilherme Santos, delegado da Polícia Civil]. Eu cheguei na delegacia, ele saiu [da sala], ficou um agente moreno de cabeça raspada, sentado na porta…  Eu sabia que estava preso, pois ele me deu ordem de prisão.

    – Assim que o delegado saiu, entrou um promotor, o doutor André Luiz, que eu não conhecia [pessoalmente]. Ele não gosta de mim, porque publiquei uma matéria a respeito do irmão dele que é advogado:

    – Marco Aurélio?

    – Sou sim, senhor.

    – Muito prazer, André Luiz. Você mexeu onde não tinha de mexer… Sim, você mexeu onde não tinha de mexer.

    – Como assim, doutor? — . Eu nem estava ligando uma coisa com  a outra.

    – Você mexeu com a delegacia de crime organizado, cara, e agora você vai ver o que tem para você. E, aí, citou aquela matéria que eu coloquei do Aécio Neves, da overdose, e da morte da modelo.

    – Aí, ele pegou e pôs um processo em cima da mesa. Bum! [com gesto, Carone mostra que é volumoso]

    – Você está querendo ficar livre disso?

    – Lógico, doutor.  O que está acontecendo, doutor?

    – Assina isso aqui. Se você assinar esta declaração, você está livre.

    – Declaração de quê, doutor?

    – Lê.

    – Eu não li totalmente, pois eram mais ou menos três páginas datilografadas frente e  e no verso.

    O jornalista diz que ficou na sala, sozinho, com o promotor André Pinho, das 6 às 8 da manhã, quando a sua filha chegou. O delegado Guilherme dos Santos levou-a até o pai.

    – Na hora em que minha filha entrou, ele [o promotor] desconversou e saiu. E o delegado, o doutor Guilherme, estava visivelmente constrangido com o que estava acontecendo ali.

    – Eu estava com essa sacola. Ele [o promotor]  falou: apreende essa sacola! Dentro da sacola, tinha a minha marmita [por causa dieta alimentar que faz], minha agenda e mais nada.

    – O delegado disse: o senhor me desculpa, eu não tenho ordem judicial. A ordem judicial não manda fazer isso.  Aí, ele [o promotor André Luiz] foi, datilografou uma ordem judicial para o delegado, disse que estava pedindo ad judicia, ad referendum, falando em nome da juíza, para que apreendesse aquilo ali.

    – Ele bateu um parecer para apreender…? – inquere Rogério Correia.

    – A agenda.

    – Essa agenda que ele levou, eles lacraram? –  acrescenta Rogério.

    – Não, não lacraram, não.

     AS ACUSAÇÕES QUE QUERIAM QUE O JORNALISTA “ASSINASSE” COMO SENDO O AUTOR

    O Minas Sem Censura denunciou: os termos da delação premiada chegaram prontos ao jornalista. Só faltava assiná-la. Carone registrou o que guardou na memória. As anotações serviram-lhe de guia na conversa com os dois deputados e o representante da OAB-MG, na última quarta-feira.

    – Mais ou menos eu vou dizer a vocês o que eu lembrei…

    – Em relação ao Rogério Correia, é como se fosse feita uma pergunta assim. Indagado [eu, Carone], informou que o deputado Rogério Correia, junto com Simeão [Simeão Celso de Oliveira, assessor do deputado] e o Nilton Monteiro tentaram desviar o que era o foco da Lista de Furnas, introduzindo novos elementos na mesma. E fazendo da mesma divulgação, autorizando a mim que fosse isso publicado no site.

    – Fiquei calado. Deixa eu ler o resto [pensou]. Esse troço está ficando esquisito.

    – Aí, colocou você [Rogério Correia], o  Simeão e o William, advogado [William  Santos, da Comissão de Direitos Humanos da OABMG].

    – Tem muita coisa, querendo incriminar você. Embaixo está lá assim: que a sua fonte junto à Justiça Federal e à Polícia Federal é o Álvaro Souza Cruz [procurador da República em Minas Gerais], irmão do deputado Sávio Souza Cruz, o Protógenes Queiroz  [delegado licenciado da Polícia Federal  e deputado federal (PCdoB-SP),  e o Zampronha [delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha, que investigou o mensalão do PT e o tucano; depois, como “prêmio” , foi rebaixado de função na PF] .

    – Eu publico documentos da Polícia Federal e de processos, eu tenho fontes lá dentro. Ele queria que eu assinasse que esses documentos me eram passados pelo Álvaro de Souza Cruz, irmão do Sávio, Protógenes e Zampronha.

    – Agora, você, Durval.  Todas as acusações contra o Danilo de Castro são trazidas pelo Durval Ângelo e quem manda é o prefeito de Visconde do Rio Branco. Que os documentos da Zona da Mata são enviados pelo PT de Visconde de Rio Branco, via você.

    [Danilo de Castro, que já foi deputado federal e presidente da Caixa Econômica Federal no governo Fernando Henrique Cardoso, é o homem forte do Aécio. Foi secretário de Governo na gestão Aécio e  hoje é secretário de Governo do Antonio Anastasia, governador de MG pelo PSDB].

    [O prefeito de Visconde do Rio Branco, município da Zona da Mata mineira, é Iran Silva Couri, do PT].

    – Eu nem converso com o cara [prefeito Iran Couri]. É inimigo meu, inimigo político.Eu falei: ‘doutor, isso é maluquice. Esse cara nem conversa comigo, nós quase saímos no tapa em  2004’.

    – Aí vem o pior, o financiamento do site é feito pelo Fernando Pimentel [petista mineiro, ministro de Indústria e Comércio] através da empresa HAP.

    – Consultado, diz que recebeu recursos da Assembleia Legislativa, via deputado Diniz Pinheiro. O Diniz Pinheiro, que é do lado deles [dos tucanos], eles estão envolvendo.

    [Diniz Pinheiro é deputado estadual (PP) e presidente da Assembleia Legislativa de Minas]

    – Ele [promotor André Pinho] falou de um rapaz que é da Polícia Civil, que não guardo o nome. Esse cara da Polícia Civil é do Sindicato até. Esse cara da Polícia Civil é quem me daria os documentos da Polícia Civil, principalmente da Corregedoria. Eu nunca ouvi falar o nome  do rapaz…

    O jornalista sustenta: tudo isso estava no “depoimento” pronto de três páginas, datilografadas frente e verso, que o promotor entregou para ele ler e assinar, como se tivesse feito tais declarações.

    “DOUTOR, O SENHOR ME DESCULPA, MAS EU NÃO VOU ASSINAR ISSO AQUI, NÃO”  .

    Na conversa gravada com os deputados e o representante da OAB na quarta-feira, o jornalista contou que, em vários momentos, tentou mostrar ao promotor André Pinho que ele estava enganado.

    – Doutor, nesse inquérito – é eu, Nílton Monteiro e o Dino Miraglia – eu já falei…

    – Ele olhou pra mim e disse: Dino Miraglia não bancou o idiota, não, já caiu fora. Falta você cair fora e deixar essa turma ir para o buraco. Só tem filho da puta.

    – Isso, o promotor?! – questiona Rogério Correia.

    – O promotor falando comigo, o André Luiz. E se vocês pedirem a fita do vídeo, vocês  vão ver que ele esteve lá falando comigo…na delegacia… na Nossa Senhora de Fátima.

    [É uma igreja bem perto da delegacia, por isso a população de BH a chama de Nossa Senhora de Fátima. Foi nesta delegacia que o promotor foi encontrá-lo. Depois, o jornalista foi transferido para o Ceresp Gameleira, a penitenciária onde ficou preso inicialmente. Ceresp significa Centro de Remanejamento do Sistema Prisional]

    – Ele falou: ‘não adianta não, cara, você querer proteger, nem nada, vai todo mundo em cana’.

    – Eu virei pra ele e disse: ‘o senhor está enganado. Primeiro, porque eu não conheço o Protógenes’.

    –  Eu sei que você  não conhece o Protógenes. O Protógenes é através do Geraldo Elísio [jornalista Geraldo Elísio, que trabalhou no Novo Jornal] – o promotor disse.

    – Mas eu também não conheço o Zampronha…

    – O Zampronha era através do Protógenes que veio para você…

    – Eu não entendi o que ele falou do Zampronha e do Protógenes… – interrompe Rogério.

    – A ligação é em função do mensalão mineiro. Porque eu publiquei a cópia do inquérito inteiro do mensalão mineiro… O relatório do Zampronha. E ninguém, segundo eles, tinha esse relatório.

    – Aí, o promotor disse: ‘e  não adianta você querer sair que nós não vamos soltar você. Tá aqui a oportunidade de você assinar isso agora e sair’.

    – Eu virei pra ele e disse: ‘doutor, o senhor me desculpa, mas eu não vou assinar isso aqui, não. Primeiro, porque isso não corresponde à verdade. E, segundo, eu já sou uma pessoa que já tem 60 anos de idade, sei o que estou fazendo e sei das minhas responsabilidades do que eu vou fazer…

    – Aí, ele veio com gritaria. Você é isso, aquilo, aquilo outro, tal, tal.

    – Ele me esculhambou na frente da minha filha. Ela entrou e ele não percebeu que era ela. Ela inclusive reclamou com o delegado.

    – Tinha alguém com você além dele? – pergunta Rogério.

    – Não!

    – O delegado não estava presente? – insiste Rogério.

    – Não. Ele saiu. O delegado só estava presente na hora em que o promotor falou: ‘eu preciso dessa agenda’

    Mas a filha, o genro e Hernandes de Alecrim, um dos advogados de Carone, viram-no com o promotor André Pinho. Haveria também a fita de vídeo da delegacia Nossa Senhora de Fátima, que poderia mostrar que André Pinho esteve lá falando com Carone.

    Com base no que ainda teria ouvido lá,  o jornalista alerta os dois parlamentares e o representante da OAB-MG:

    – ‘Eles [tucanos] estão querendo, eles vão por a mão’ no jornalista Leandro Fortes, de CartaCapital.

    – O esquema deles é tentar fazer uma conexão de que tudo nasceu em Minas Gerais. Inclusive, vários documentos, através do Dino, teriam chegado ao PT. O Dino seria o intermediário. Eu não sei até onde o Dino está nisso, não está. Eu não vou fazer falsa acusação contra ninguém. Mas me assustou esse fato de ele [o promotor] falar comigo que o Dino já saiu fora. Juntando o fato de ele ter renunciado em todos os processos meus…

    – Eles vão prender o William, vão prender o Simeão. No pedido para o juiz, eu vi, está o nome dos dois.

    – Agora, avisa todo mundo: eu sou filho de pai e mãe cassados, vou morrer, não tem problema. Mas de mim eles não conseguem nada, em hipótese alguma.

    “É cada vez mais nítida a armação dos tucanos, que querem desqualificar a Lista de Furnas e o mensalão tucano e incluir  a oposição numa fantasia desmoralizante”, conclui Rogério Correia. “Para limpar a barra do Aécio, vale tudo, até encarcerar um jornalista com risco de morrer.”

    Em tempo.

    Na gravação, como já mostramos um pouco atrás, o jornalista  disse aos deputados Rogério Correia e Durval Ângelo e ao representante da OAB-MG, doutor Vinícius MarciusNonato, que o promotor André Pinho, o mesmo que o denunciou, não gosta dele por causa de uma matéria que fez com o irmão.

    Durval Ângelo: O “promotor André Pinho (foto acima) não tem isenção para atuar no caso, é suspeito”

    O irmão chama-se Marco Antônio Garcia de Pinho, é  ex-policial. Ele procurou o deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos da ALEMG, duas vezes.

    “O irmão contou que o promotor estava passando outros irmãos para trás numa questão herança, que havia sido vítima de prisão ilegal armada pelo irmão, que estava usando o cargo de promotor para persegui-lo. Disse inclusive que nem o pai queria vê-lo”, afirma o parlamentar. “Para não prevaricar, sem entrar no mérito de quem tinha razão, mandei o caso para a Corregedoria da Promotoria a fim de que o apurasse ”

    “O Marco Antônio procurou também o Carone, que fez uma matéria a respeito”, acrescenta Durval Ângelo. “O promotor André Pinho não tem isenção para atuar no caso, é suspeito. Contra ele, aliás, correm três denúncias no Conselho Nacional do Ministério Público.”

    O Viomundo contatou o Ministério Público de Minas Gerais para ouvir o promotor sobre essas acusações e a proposta de delação premiada que teria sido feita ao jornalista Marco Aurélio Carone. André Pinho, via assessoria  de imprensa do MPMG, disse “que não vai manifestar sobre o caso, pois ele já está judicializado”.

    Primeira parte

    Identificando as vozes. Aos 40s, o jornalista diz: “Fez um cateter, um ecocardiograma…” No 1min20s, Rogério Correia fala: “O documento que você tem do médico do presídio…” No 1min49s, Durval Ângelo pergunta: “Como é o nome do médico?”

     Segunda parte

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     Leia também:

    Fernando Brito: Se você achava que Serra era capaz de tudo…

    Altamiro Borges: Denúncia do trensalão só acerta os bagrinhos

     

  7. Eduardo Coutinho
    Eduardo Coutinho: “Tudo o que eu faço é contra o jornalismo” 

    Em entrevista inédita concedida em 2011 a Mariana Simões, então estudante de comunicação, o documentarista Eduardo Coutinho não escolhe as palavras para definir o que faz

    Por Mariana Simões, da Agência Pública

    Eu tinha 22 anos quando comprei uma passagem para o Rio de Janeiro para entrevistar Eduardo Coutinho, que morreu no domingo, dia 2/2, no Rio de Janeiro. Na época eu cursava graduação em Comunicação nos Estados Unidos e estava passando as férias em Brasília. Fiquei um mês trabalhando na tese: metade fazendo pesquisa sobre a obra de Coutinho e a outra metade com o telefone na orelha, tentando agendar uma entrevista com o documentarista.

    Quando consegui o número de telefone do escritório dele,  achei que a minha entrevista estava garantida. Mas faltando uma semana para eu voltar para Nova York, ainda não tinha dado em nada. Comecei a entrar em pânico. “Se faça de boba, minha filha,” meu pais me disseram.

    Eu segui o conselho: mandei um e-mail para a produtora dele dizendo que já tinha comprado minha passagem para ir ao Rio de Janeiro e que, no dia seguinte, ligaria para confirmar o horário da entrevista. “Você sabe como é, ele já está velho, não gosta mais de dar entrevista,” alguém me disse pelo telefone dias depois. Expliquei que já estava no Rio de Janeiro esperando ele me atender. A passagem custou caro, eu iria voltar logo para o exterior, fui dizendo.

    Eu tinha entrevistado o cineasta Vladimir Carvalho na semana anterior. Ele foi simpático ao telefone e, quando nos encontramos, ficamos horas conversando. Um homem sorridente, com boa vontade, cheio de energia.  

    Com Coutinho foi praticamente o oposto. Quando entrei na sala para entrevistá-lo, a única que estava sorridente era eu. Coutinho estava atrás de uma mesa, me esperando, um maço de cigarros em mãos. Ele falava baixo, meio rouco. Tossia muito. 

    Apertou minha mão. Perguntei se podia filmar a entrevista, ele gesticulou que sim e eu comecei a agradecer como uma tonta. Disse que era uma honra poder entrevistar um homem que mudou a cara do documentário brasileiro. Fui logo acrescentando que achava ele um grande documentarista, alguém que eu admirava, mas percebi que ele não gostou dos meus elogios. Não queria se fazer de herói, nem aceitar o título de grande cineasta; ele era apenas um cara que gostava de documentar o encontro da câmera com o mundo. E, de fato, avisou que não fazia filmes para descobrir a verdade sobre ninguém.

    Tudo que eu tinha entendido sobre o trabalho dele até então foi aos poucos desmoronando. “Eu estou interessado que a pessoa fale a partir de sua experiência sabendo que, como é memória, toda memória é mentirosa, e portanto tem verdade e mentira juntos. Isso é inevitável,” ele explicava. De acordo com Coutinho, não era possível fazer um documentário que só contasse a verdade. Para ele, não existia uma verdade única sobre um acontecimento, mas sim várias verdades ou várias experiências vividas que juntas pudessem contar uma história.

    Assim como os gestos e o comportamento dele, naquele dia, também contaram uma história.

    Quando entrei na sala, vi um homem de 80 anos que já estava cansado, cuja voz às vezes falhava, mas um homem que ao longo da entrevista foi se soltando, começou a mostrar outra cara. Apesar da aversão que sentia em dar entrevistas, eu notava o brilho no olho dele, o orgulho que tinha pelo que fazia, a paixão que sentia pela arte que havia criado. Antes de ir embora, pedi para tirarmos algumas fotos juntos. Na última, ele puxou meu braço  e disse: “Agora chega de fotos genéricas, vamos fazer uma em movimento.” E aí ele acenou para a câmera e por um instante consegui capturar algo: não a verdade sobre Coutinho, mas um retrato dele naquele momento. Que se foi.

    Você acha que o documentário é de alguma forma uma extensão do jornalismo?

    Questões gerais eu odeio. Se você me pergunta a diferença do documentário pra ficção nós não vamos sair do lugar. Não, eu fiz nove anos de jornalismo para a TV Globo, trabalhei três anos em jornal também, até fui jornalista, dirigi filmes para o Globo Repórter. Mas eu, desde que eu saí do Globo Repórter, tudo que eu faço é contra o jornalismo.

    Contra o jornalismo?

    Eu odeio o jornalismo. Não estou interessado em jornalismo. Não estou interessado em informações, mapas, em filme militante, em filme político. Deus me livre. Aquecimento global, liberar maconha. Não estou interessado em filmes políticos, sociais, genéricos. Nada que é genérico me interessa. Quero saber das pessoas que eu filmo, só. Então comigo é uma exceção, um tipo de cinema particular que eu faço, do qual é o único que eu sei falar. Não falo sobre o cinema em geral porque, bom, o documentário pode ser tudo, né? Jornalistas podem fazer excelentes documentários jornalísticos, evidente. O Michael Moore é jornalista, no fundo um cineasta, e que é um tipo engraçado e tal, mas que é um populista evidentemente de esquerda e que, enfim, usa metas que eu não usaria. Mas é um cara altamente eficaz, está milionário e tal, mas é jornalismo. E seus filmes são úteis? São, em certa medida são. Tratar dos assuntos que ele trata, agora, as metas que ele usa, não me interessa.

    Você acha que o Michael Moore interfere muito no filme?

    Michael Moore é um exemplo, tem mil outros. Todo cara que começa a fazer um filme dizendo “eu vou fazer esse filme para obter tal resultado” não me interessa. Vou dar um exemplo: o filme do Al Gore, não vou ver. Não estou interessado! O filme que o cara sabe que ele vai fazer para dizer que a maconha deve ser legalizada, não estou interessado! Que o mundo vai ser aquecido, o cacete a quatro, não estou interessado! Outro pra dizer que não pode comer carne. Outro pra dizer que a miséria é boa. Não quero saber disso, não interessa. Faça um livro, faça isso no jornal. Agora a experiência de fazer cinema, que é tão ingrata, que você não ganha dinheiro, que é chata pra burro, só tem sentido para mim se é uma coisa que você goste, desse tipo de coisa eu não gosto. Tem gente que adora e faz bem. Um filme que é feito sobre o nazismo etc, isso é um filme jornalístico de um certo sentido, mas com alto nível de pesquisa e tal e interessante, mas não é o tipo de filme que me interessa fazer.

    Até que ponto você, como diretor, deve interferir, por exemplo, durante uma entrevista?

    Eu tento não interferir. Ou melhor, eu tento… Eu não julgo. Eu não julgo se um cara, uma pessoa que é escrava, que gosta de ser escrava, eu não vou perguntar “mas como?!” Se ela quiser ela dá um discurso do porquê ela gostar de ser escrava. Eu não estou lá para mudar as pessoas, eu estou lá para ver o estado do mundo através das pessoas. A partir da relação que eu vou ter com a pessoa, que é o essencial, na qual tudo pode acontecer, pode haver conflitos ou não conflitos etc. Mas que eu não estou lá a fim de dizer para a pessoa que ela mude de opinião, não. Aliás, a opinião não me interessa. Me interessa que as pessoas tratem de sua vida. A partir de suas vidas, as pessoas vão ter opiniões de direita e esquerda, tanto faz, mas que são viscerais. Eu não estou interessado no conteúdo social da vida da pessoa, eu estou interessado no que a pessoa fala a partir de sua experiência sabendo que, como é memória, toda memória é mentirosa, portanto tem verdade e mentira juntas, isso é inevitável. Não há solução. Ninguém consegue desobstruir a memória, então eu aceito aquilo que é exagero. Como sabe se o sentimento é verdadeiro ou não? Sabe, “eu gostei de um cara.” Eu sei lá se gostou ou não, ela conta a história do romance dela, é um segredo. Porque são pessoas comuns. Se eu fosse entrevistar o Napoleão não ia entrevistar sobre a vida dele, o interessante é a política dele. Quer falar sobre um político, faça um livro.

    Por que você começou a fazer documentário tão tarde na vida? Acho interessante que não foi na faculdade que você entrou nesse caminho. Você começou fazendo Direito, não foi?

    Comecei por Direito porque era o que se fazia. Direito, Engenharia, Medicina. Mas enfim, larguei, fui trabalhar em jornalismo, depois fiz um curso de cinema e passei a fazer cinema. Agora, ninguém podia pensar em fazer documentário no Brasil nos anos 1960. Nem cinema! Quanto mais documentário. Longa metragem? Isso não existia. Som direto ia começar ainda e tal. E daí fui fazer ficção até o final dos anos 70. Fiz um filme interrompido que tinha um lado documental, mas que ao mesmo tempo eram camponeses e atores. E daí eu parei, fui fazer televisão teve o golpe de estado tal, tal, tal. Eu larguei o cinema durante dez anos e voltei para fazer o Cabra [Marcado para Morrer] onde eu fiz um trabalho de História, de jornalismo, de cinema, tudo misturado. Cabra tem tudo isso. Cabra tem tudo, pesquisei como um filho da puta. Trabalhei muito antes de fazer o filme. Sobre a história dos camponeses, pra saber que perguntas que eu devia fazer. Nos filmes que eu fiz nos últimos dez anos e tal, não faço pesquisa, não tem que fazer pesquisa. Eu vou filmar num lixo e simplesmente vou ao lixo conversar com as pessoas. Isso é bom ou ruim? Você tem que perguntar pra uma pessoa que tá lá no lixo, isso é bom ou ruim? Porque eu sei que tem aquilo e tem coisa pior que aquilo.

    Em Boca do Lixo, você se surpreendeu com o que as pessoas falaram nos depoimentos?

    Não há coisa mais degradante do mundo do que o cara ser filmado catando o lixo. E tive a reação deles e aí eu dizia ‘e por que?’ E depois eles diziam os motivos pelos quais trabalham no lixo. Motivos até econômicos, entende? Enfim, eu tentei ouvir o lado deles. Ninguém diz aqui é bom, mas muitos dizem “não, mas aqui eu alimentei meus filhos, eu conheci amigos”, por exemplo. O cara de esquerda supõe que aquilo dali é horrível, que a culpa é do governo, que a culpa é do capitalismo. Acontece que eu fui lá aberto e ouvi gente dizendo: “Eu prefiro isso do que ser empregada”. Tá aí um troço novo. Porque o cara nas condições terríveis do lixo, pelo menos ele é autônomo, ele não tem patrão. Alienado ou não, o cara julga um triunfo ele não ter um patrão. No Brasil inteiro deve ter um milhão de pessoas que vivem na rua vendendo coisas. E essa noção de liberdade, se é falsa ou não, não importa. O cara no lixo diz: “Olha eu trabalho aqui, agora sábado eu não venho. Sábado eu faço feira, não sei o que.” Não ter um patrão. Para quem tem herança de escravidão é um troço essencial. Tudo no Brasil está ligado ao troço da escravidão. Isso pesa muito, entende? O horror ao trabalho é um troço que vem dos 350 anos de escravidão.

    Edifício Master, documentário produzido por Coutinho em 2002

    Pulando um pouco, o filme que me introduziu ao seu trabalho, foi o Edifício Master…

    É onde eu já estou num outro caminho, em que eu não quero dizer que aquilo ali é o inferno ou o paraíso. Eu quero simplesmente tentar ver como as pessoas vivem aquilo. Porque como eu não vivo aquilo, se eu tivesse a minha idade e tivesse morando lá eu dizia ‘pô, fim de linha, que fracasso’. Depende, as pessoas que eu encontrei lá, tem um aposentado que esteve nos Estados Unidos, tem pessoas de classe média que estão lá um período da vida que depois saíram de lá e também foram para Alemanha, o cacete. Tem de tudo lá: classe média baixa, média e meia média. Entende? Então o que me interessava era conhecer isso, o que é viver naquela cidade. Paris, Moscou, Nova York, é tudo igual. Você encontra a mesma solidão. Um cara que mora numa quitinete e que morre, dez dias depois alguém encontra pelo cheiro porque era solitário. Se encontra aqui, se encontra em Nova York, se encontra em todo lugar.

    Inclusive a minha tia avô ela mora em um edifício igualzinho a esse…

    Em Copacabana?

    Em Copacabana!

    A maior porcentagem de idosos no Brasil é em Copacabana: tem 15% de idosos. A razão é muito simples. Tem tudo lá: prostituição, crime, tal. Mas é um bairro que tem muita vida, tem comércio, tudo é perto. É muito melhor morar em Copacabana do que no centro da cidade que não tem nada. E a praia está perto então o velhinho vai lá e passeia. Então morar em Copacabana, hoje, para aquelas pessoas foi um ganho. É uma coisa interessante com todos os problemas que tem.

    Eu li uma entrevista em que você dizia que, quando você começou a fazer o Edifício Master, sentia medo de não desenvolver uma história boa porque era um bairro de classe média.

    Isso aí é porque as pessoas se defendem. Você vai lá na favela e todo mundo está disposto a falar, eles têm eloquência, têm beleza na fala, têm a gíria. Cem anos de cultura em favela. A favela é um troço orgânico e forte em comparação com o asfalto. O exterior/interior não existe, você está andando e da janela alguém te chama pra entrar, entende? Eles têm consciência que tem o ‘nós da favela’ e tem o ‘nós do asfalto’. Isso está ligado, porque eles vivem a vida do asfalto também, vão à praia e tal mas eles tem consciência do ‘nós’ favelados. Num prédio, ninguém fala ‘nós’. A diferença é essa. Como é que eu vou dizer ‘nós do meu prédio’? Eu moro num prédio normal- 30 apartamentos, 35, sei lá. Mas não vou dizer ‘nós’. Nem conheço quem mora lá, nem quero conhecer ninguém. As pessoas na favela se conhecem todas, é um outro tipo de vida. Tem esse lado positivo de formar comunidade, de que é uma vida muito aberta. Então quem se mata é quem mora no Master, em favela ninguém se mata. Já ouviu falar em algum suicídio em favela? Eu nunca vi. É impressionante, não sei se tem estudo sobre isso, mas eu não conheço caso. Um mata o outro, droga é outra coisa porque o cara é viciado, dependente e guerra do tráfico é outra coisa. Mas suicídio mesmo, sem razão ou por depressão, é difícil.

    Então por isso eles [os personagens de Master] falavam pouco, eles riam pouco, tinham pouca riqueza vocabular. Em termos de experiência de vida também não era tão forte. É por isso que tem 37 personagens – eu tinha que ter quantidade porque eu sabia que não ia ter personagens maravilhosos como tive em outros filmes que podiam ocupar dez minutos. Tem 37 pessoas no filme e acho que nenhum chega a cinco seis minutos. Pessoas que entram por três, quatro minutos. Mas em compensação é 1 hora e 50 minutos de gente falando.

    Quando te veio essa ideia de botar só gente falando?

    Isso foi desde que eu voltei a fazer cinema com Santo Forte. Fui fazer um filme sobre religião mas não queria botar culto nenhum, queria botar gente falando sobre religião. Daí eu fiz, acabei filmando também culto, mas acabei tirando e jogando fora. Depois de longas experiências arrumando e montando, tirei praticamente tudo, mas ainda tem imagens. E eu fui reduzindo e atualmente tem um filme que não tem imagem nenhuma. Só tem um preto e tem uma pessoa que fala ou canta. E é chegar no limite. Filme que só tem pessoas falando como Jogo de Cena. O próximo vai ser pior ainda, só tem uma pessoa que fala, um corpo falando. Então atrás você não tem que distrair, mostrar fotografia do filho, do neto. “Meu filho morreu”, pronto, conta a história do filho. A pessoa imagina, não preciso da foto do filho. Se é dito, a imagem é totalmente desnecessária no caso dos filmes que eu faço. Eu trabalho com cinema que se baseia na palavra. Por isso é muito difícil vender pra fora. Nunca vendeu. Quem não entende português é difícil, a legenda passa 60 %. Então é difícil porque meus filmes não vendem.

    Você acha que vocês documentaristas são heroicos?

    Não, não, não, não. A palavra herói não existe. Vítima e herói: não existe. Não tem coitadinho. Sabe o pobre, o coitadinho, como são feito os filmes. “Ah o coitadinho do pobre!” Eu não fui no lixo para tratar de vítima, senão acaba a relação. Eu vou tratar ele de igual pra igual na medida que é possível. Eu quero conhecer a sua razão. As minhas razões para estar aqui eu sei – eu posso, eu quero. Agora quais são as suas? Cada um tem suas razões para estar em algum lugar para fazer alguma coisa. Isso que eu quero descobrir. Então a razão do outro me interessa. Tentar estar no lugar do outro é a chave da questão. É impossível, mas tem que tentar, e nesse confronto de tentar entender o outro sai um diálogo que é improvisado, que é inventado, porque você inventa também quando fala. E não importa, se inventa bem, é verdade. Se é bem inventado, é verdadeiro e ponto final. “Eu fui feliz”, sei lá se é verdade. Tá dizendo! Pode ser que daqui um ano diga outra coisa. Entendeu? Tem que ser inventado com verdade. Quem inventa mal tá fora!

    O documentário já existe à margem do cinema brasileiro. E os filmes estrangeiros dominam o mercado brasileiro então…

    Tem o Cinema Novo, tem o cinema brasileiro sério que sempre foi marginal e vai continuar a ser. Tem Globo Filmes e tal, as exceções, mas é 15 % do mercado. O cinema brasileiro em geral é marginal no mercado. Calcule os filmes sérios que tem alguma dimensão estética, o que seja, social, o que seja. São filmes que se tiver 30, 50 mil espectadores já é extraordinário. No mundo todo o documentário é um lixo pequeno. Pensa que na França é diferente? Passou um filme que tem 100 mil espectadores e é extraordinário, é uma festa. Na França! Entende? As pessoas vão ao cinema para ver histórias inventadas com atores. Baseadas em fatos reais ou não, mas simplesmente vão para o cinema sonhar. Sempre foi assim. E agora é sonhar em 3D. E aumentou até o nível de diferença de um cinema para o outro. Não dá pra competir com os filmes 3D americanos. Não tem como o brasileiro fazer isso. Agora daí, de repente, pega essa esquema de novela e tal e faz o filme. São exceções. Mas o conjunto do cinema, o cinema brasileiro foi, é, e será sempre marginal. O próprio cinema vai passar a ocupar um lugar marginal. As pessoas vão ver filme aonde? Até em celular. Entendeu? Então o ato social de ver filme vai ficar menor, vai ficar como teatro. Ou então filmes que exigem telas gigantescas IMAX, sei lá. Os caras vão ver lá, vão ver esse tipo de cinema.

     Cabra marcado para morrer, de 1984

    Cabra marcado para morrer, de 1984

    Voltando ao Cabra. Você disse antes que você não tem uma intenção politica com seus filmes. Você diria que nesse filme você teve alguma intenção politica?

    Não tem intenção política na medida que a palavra política é equivocada. Todo filme é político. Mas eu estou interessado no social, não no político. Como é que uma sociedade existe? Por que o Brasil é como é? Por que as pessoas são como são? Primeiro, você tem que saber como as coisas são para depois se quiser mudar. No Cabra, eu estava fazendo uma coisa que é diferente porque o Cabra tinha um ato político de fazer o filme, porque tinha história envolvida no filme. Isto é: minha vida parou com o filme. Esse é o fantasma. Como parou a vida dos camponeses. Então apresentou para mim uma dimensão psicológica, é realmente um filme de um caráter politico mas a partir de uma coisa pessoal também. Peões, não. Qualquer cara pode filmar a greve dos operários. Eu fui e fiz um filme lá, mas não tem nada ver com Cabra.

    Por isso você quis que o enfoque do peões fossem nos metalúrgicos em vez de políticos?

    Tem uma divisão né? Tem a história do Lula e o João [Moreira Salles] estava interessado e eu não, até pelo fato de que é o tipo de filme que tem que negociar cada dia o que filmar etc. Tinha que pedir ajuda ao sindicato foi muito trabalhoso, muito penoso. Cem mil sindicalistas. E eu tinha que achar gente que o sindicato queria e encontrar gente que dissesse coisas que não fossem evidentes. Então teve uma limitação. Não faço mais filme politico, histórico. Em princípio não faço mais.

    O Peões deve ter sido difícil porque você estava pegando uma região inteira não era como o Master que você ficou num prédio só…

    Esse é o problema, ficou um negócio amplo demais. Só se eu ficasse um ano fazendo pesquisa que era impossível. A prisão espacial é essencial para mim. Eu preciso ter uma prisão espacial e naquela prisão eu sou inteiramente livre. Essa pobreza espacial é essencial pra eu não procurar ideologicamente aquele cara interessante. Não, nesse prédio eu tenho que achar um filme. Todos os filmes que eu filmo a regra é essa: num lugar tem que achar um filme. Até agora pelo menos tenho achado uns filmes que não são iguais. Mas são sempre num lugar só. Tirando Peões, todos os filmes que eu fiz recentemente são num lugar só. Numa vila que tem 80 famílias, num canto de lixo, num teatro de gente que responde a um anúncio. Se eu não pedir nada para a pessoa fazer e conversar meia hora com ela, ninguém mais controla se está filmando ou se não está. Não tem como conversar meia hora e a pessoa ficar engessada. Ou fica e sai do filme.

    Igual àquele momento no Peões que o rapaz está falando e a esposa não quer participar, ela fala mas não quer aparecer.

    Isso é extraordinário! Justamente houve uma briga porque o fotógrafo queria que minha assistente filmasse ela. Eu não quis e ela teve razão de não ter filmado porque o que me interessava era ela fora [de cena]. Ela sai da filmagem, portanto contra, daí ela às vezes dava palpite. Foi maravilhoso. Quem está no campo, quem está fora do campo isso é essencial. Ao lado estava o filho deles que é débil mental. Então tinha, a meio metro do quadro, no sofá, um filho de vinte anos completamente nervoso que gemia. Eu até perdi uma sequência interessante porque entrava o gemido do cara. Você filmando e tinha o cara aqui, a mulher aqui atrás e aqui do lado do sofá o filho gemendo. Não é que ele está com dor,  o cara tem problemas gravíssimos. E você filma e…pra eles é normal, eles vivem com aquele filho, então é normal pra mim, e vamos filmar.

    A sua infância teve alguma coisa a ver com seu envolvimento no cinema mais tarde?

    Não, eu era cinéfilo, uma pessoa que via filme. Ser cinéfilo é assistir três filmes por dia, anotar no caderno. Quando eu tinha dez anos eu fazia isso. Agora era impossível pensar no cinema brasileiro. Eu vi nove vezes uma chanchada, Carnaval no fogo. O que eu via de cinema brasileiro era chanchada, carnaval. Isso até 1951, 52. Fora isso eu via cinema americano, depois argentino, mexicano. Depois neorrealismo, até que eu fui estudar cinema e passei a me interessar. Mas isso de fazer cinema foi um passo gigantesco que só foi possível depois que eu voltei da Europa em 1960, 61 quando o Cinema Novo começou a nascer e se tornou possível fazer cinema no Brasil. De uma forma marginal, mas de qualquer maneira uma tentativa de ver o Brasil que não tinha aparecido no cinema brasileiro de antes. E fora da chanchada que realmente já não precisava mais porque com a chegada da televisão a chanchada não tinha mais mercado.

    Se o Brasil não fosse não atrasado naquela época teria sido possível você entrar antes no ramo do cinema?

    Isso não sei. Antes do Cabra, em que eu já tinha uns 40 anos, tudo que eu fizesse não tinha importância. Só quando eu fui filmar o Cabra que eu me libertei. Tudo que eu fiz antes não importa porque eu não sabia o que eu queria da vida. Quando eu fui fazer o Cabra, eu sabia o que queria fazer. Trabalhei cinco, seis anos, pesquisa, filmagem e fiz um filme à altura do que tinha sido a história. Depois fiquei 15 anos praticamente sem fazer filme até fazer o Santo Forte.

    Se o Santo Forte não tivesse tido tanto êxito…

    Se não fosse a produção do Santo Forte, eu tava morto. Se a repercussão crítica fosse ruim ou ninguém fosse ver, é possível que eu desistisse. Mas a verdade é que eu confiava, sempre confiei no filme falado que era como era e tal. Meus amigos diziam que era impossível, que ninguém ia aguentar. Todos os meus amigos, todos. Tirando uma pessoa da equipe, todos. “Não, é impossível, é uma tortura etc.” Mas foi gravado, foi aceito e foi maravilhoso. O documentário teve cinco prêmios e o público foi de 18 mil pessoas, o que até hoje é difícil fazer, e a crítica foi maravilhosa. Pensei “ Pô, achei, finalmente achei e eu quero continuar a fazer isso” e fiz e não parei de filmar de lá pra cá.

    Tem documentário que mostra um caso isolado, por exemplo, de uma criança  pobre que trabalha nas minas da Bolívia e você como espectador se sente muito deprimido e culpado. Mas quando você sai dali você não sente continuidade…

    Tem um monte de filmes que se aproximam do outro. Quem é o outro? O outro é o pobre miserável. O cara com defeito físico, o destituído tal, tal. E quem filma geralmente é uma pessoa de classe média, mesmo que com origem proletária. E tem a mania, americano adora isso, de tratar de forma paternalista. E daí o povo adora e chora e sente culpa. Isso é coisa que eu me recuso a fazer. Isso é uma coisa proibida em meu dicionário. Michael Moore, tem uma hora que ele abraça uma mulher lá que foi vítima, pra que ir lá e abraçar? Você tem que guardar distância da pessoa, não tem que consolar ninguém. Ou se consola, faz isso fora do filme. Então existe o “humanismo” entre aspas, que os americanos adoram, que é filmar o pobre. O cinema humanitário é o pior cinema do mundo. O humanitário ou de mensagem. Al Gore, ou então, mensagem. E a outra coisa de americano é essa: se é um filme sobre negra e lésbica tem que ser filmado por negra e lésbica. Sabe? Iguais filmam iguais. Quando a minha tese é outra: negro tem que filmar branco e camponês tem que filmar negro e tem que trocar. Índio tem que começar a filmar branco e branco…sabe? Nada impede que branco filme índio. Precisa dos dois lados, um do lado de dentro, um de fora. Não tem sentido que um filme sobre metalúrgico só pode ser feito por metalúrgico. Isso é uma tolice. O multiculturalismo que botou isso na cabeça. Então pra filmar uma lésbica eu tenho que ser lésbica? É o mesmo do mesmo, entende? Não há conflito. Não vou ao cinema para ser educado, pra aprender o bem. Odeio esse tipo de coisa tipicamente americana.

    Eles colocam aquela narração em off que é uma voz assim divina falando…

    Quando tem voz em off é pra tratar da pobre vítima da crueldade, os mineiros da Bolívia. E tratam de um jeito que é pra fazer o cara ter culpa, chorar.  Não estou fazendo filme pra ONG, pra arranjar dinheiro. Eu fiz o filme sobre o lixo, ninguém me deu dinheiro pra terminar. Pra começar sim, pra terminar foi difícil. Por quê? Porque se eu dissesse que era pra promover um sindicato, eu ganhava. Se fosse catador que queria fazer um sindicato. Porque esses são os filmes que são politicamente corretos. Como meu filme não era, era o cotidiano dos catadores só, ninguém deu dinheiro.

    De todos os seus filmes, qual abriu mais portas para você?

    Eu me identifiquei com o Cabra. Se não fosse pelo Cabra estava na televisão, TV Globo até hoje, eu estava morto. Fora o Cabra, foi o Santo Forte. Agora, prazer tive em quase todos. Se eu não tivesse prazer eu não fazia. Não sou missionário.

    Você acha que Cabra não seria um filme tão bom se não tivesse sido retomado anos depois?

    Evidente. Teria sido um documento de época importante mas o filme é um filme com 70 camadas de sentido histórico. É uma revisão da história do Cinema Novo, do cinema brasileiro que inclui tudo: jornalismo, história, cinema, linguagem. Exatamente porque é um filme que conta a história do filme, cinema e história todo tempo, lado a lado. É extraordinário que eu consegui, porque eu soube fazer, tive um montador que me ajudou, tive um fotógrafo que me ajudou a fazer. Enfim, é um filme que aguenta até hoje porque ele não é um filme triunfalista. Ele lida com uma verdade do personagem e não com discurso. Os filmes em geral políticos são triunfalistas, tomamos o poder. Mentira. Jamais faria um filme assim. Quando se ganha se perde também porque dura dez anos. E esse é um filme muito chão, muito simples. Cabratem dispositivos de montagem extraordinários, tem jornal, manchete, o filme antigo, o filme que eu filmei na UNE, filmes de outras pessoas. Tem filme americano que eu roubei pra usar a imagem, que não paguei, graças a Deus. E a aventura foi essa.

    Por que você acha que mudou tanto sua visão entre o primeiro e o segundo filme?

    Eu comecei a fazer documentário na TV Globo e eu comecei a descobrir que era aquilo que eu queria fazer. Aí foi uma escola pra fazer o Cabra porque a rapidez que se trabalha em televisão me ajudou a fazer isso depois de uma forma muito mais refinada. Então me ajudou, me educando e me deseducando. Cabra é um filme de suspense porque eu também não sabia o que eu ia encontrar. Quando fui filmar [pela segunda vez] eu não via a Elizabeth [personagem de Cabra] há 17 anos, exatamente o tanto de tempo quanto o espectador… Fui encontrar 17 anos depois, conhecer os filhos. Conheci eles quando filmei eles em 1962, 64 e fui lá ver eles 17, 18 anos depois como está no filme. Eu tinha que chegar filmando.

     

  8. Os rolezinhos causam vertigem na mídia

    Os rolezinhos causam vertigem na mídia

    Por José Isaías Venera, no Observatório da Imprensa

    Milan Kundera, em A insustentável leveza do ser, talvez tenha sido quem melhor descreveu a sensação de vertigem como uma realidade social, ainda nos anos 1980, quando o debate sobre pós-modernidade mal tinha iniciado. “O que é vertigem? Medo de cair? Mas por que temos vertigem num mirante cercado por uma balaustrada sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos terrorizados.”

    Se, para o conterrâneo de Kafka, a experiência comunista na República Tcheca o fez perceber tanto quanto Marx – “que tudo que é sólido se desmancha no ar” –, os nossos acontecimentos recentes, desde os protestos de junho de 2013 aos rolezinhos, mostram mais ainda que a dinâmica capitalista nunca conseguiu de fato manter os territórios demarcados, divididos; parece que a corte invisível da democracia perde controle. Não porque os rolezinhos sejam algo novo, muito pelo contrário, são mais comuns que se possa supor, mas há uma vertigem social que os fez virar notícia, ou seja, é claramente um acontecimento midiático, cujo preconceito de classe e racial apenas aflorou.

    A grande mídia ainda se esforça, aterrorizada, para combater a perda de poder na esfera pública. Qual a imagem que mais vimos nos protestos de junho do ano passado ou nos rolezinhos? Não seriam imagens para reforçar o sentido de vandalismo e ódio? O comentarista do Jornal da Globo Arnaldo Jabor declarou no dia 12 de junho, seis dias após o primeiro protesto organizado pelo Movimento Passe Livro (MPL), nas escadarias do Teatro Municipal da capital paulistana, que só se viu tanto ódio “quando a organização criminosa de São Paulo queimou dezena de ônibus”.

    Sociedade de consumo

    A mídia conservadora vive aterrorizada em perder o que nunca foi dela ou o que supostamente possa perder. É evidente que, quando se trata de concessões públicas, como no rádio e na TV, a lógica é facilmente aceita, mas se deve pensar em todos os casos, já que o fortalecimento das mídias digitais e, sobretudo, de outros grupos podem representar queda. Voltemos à literatura de Kundera: “Aquele que deseja continuamente ‘elevar-se’ deve esperar um dia pela vertigem” – lembremos da “queda” de Diogo Mainardi em debate ao vivo com Luíza Helena Trajano no programa Manhattan Conection, da GloboNews.

    Uma frase sobre uma imagem que circula nas redes sociais é um bom exemplo: “Toda vez que o capitalismo se sente ameaçado, ele solta o fascismo para passear.” Ora, usam-se os mesmos métodos fascistas, o de não permitir a existência de outra forma de pensamento, de ordenamento das coisas etc.; e o que parece ser seu oposto – o fascismo, o nazismo e o comunismo – são apenas ferramentas do próprio capitalismo para implantar o terror social.

    Quem acredita hoje na hipótese da revolução? Ao contrário, o medo não é oriundo da lógica dicotômica falsamente levantada por seguimentos conservadores da sociedade. O medo é justamente da “revolta” pelo direito de participar dos “encantos” do próprio capitalismo. Ele não advém do “diabo vermelho”, como explorava a literatura anticomunista. A revolta (o movimento de subverter o lugar que discursivamente foi atribuído aos moradores de periferias) parece ser dos não consumidores que querem integrar-se à sociedade de consumo, nem que seja somente para tirar fotos nos lugares bacanas. E não há símbolo maior do que o shopping.

    “A turma da algazarra”

    A psicanalista Maria Rita Kehl interpretou bem esse fenômeno, em declaração à Folha de S.Paulo (17/01): “Toda inclusão econômica exige, em um segundo momento, o reconhecimento da pertença a uma nova classe social. É claro que os jovens da periferia não pertencem a essa classe que compra nos shoppings, mas chegaram mais perto dela.” É o mesmo que dizer que o shopping já faz parte do horizonte desses jovens de periferia, mas a conquista, enquanto se sentir pertencente desse espaço, só será possível no embate. Pertencimento é alteridade.

    Por outro lado, a reação raivosa do colunista da Veja Reinaldo Azevedo em seu blog (19/01) contra Maria Rita, tentando desqualificar seu discurso por ser, como ele mesmo afirmou, “petista militante”, expressa muito a tese de que a comunicação é, quase sempre, motivada por sintomas. É evidente que jovens da periferia fazem também suas prestações nos shoppings, mas na medida em que o poder aquisitivo melhora ou que simplesmente passam a desejar mais esses espaços (e não é qualquer shopping), a barreira silenciosa do preconceito, dos lugares subjetivamente demarcados, precisa ser enfrentada e superada. Enquanto Maria Rita manifestou sua opinião em um parágrafo, Azevedo discorre longamente sua artilharia conservadora no que de fato é o problema para este segmento da sociedade – o PT.

    Os rolezinhos não poderiam ser pensados como uma subversão pós-moderna do “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”, para o “Jovens de todo o país, ocupemos os shoppings para gozar com a sociedade de consumo”. Agora são os jovens que se unem a partir das redes sociais da internet para dar um rolê no shopping, “ouvir funk ostentação” e, se possível, “comer no McDonalds e ir ao cinema”, como foram descritos na reportagem de capa da Época (20/01). O problema é que para a revista eles são apenas “a turma da algazarra”, como estampa a manchete de capa. Esse é apenas um dos sentidos rotulados pela grande mídia.

    Os rolezinhos são politizados

    Não estaríamos diante de um novo movimento oriunda das massas virtuais, que se configura no próprio movimento, cujo sintoma dá-se justamente na relação social com esse novo; por isso que no campo da comunicação pode-se trabalhar com a noção de que a narrativa cria o acontecimento.

    O filósofo Paulo Girardelli fez também uma boa observação publicada (15/01) em sua página na internet: “As classes médias se retiram do lugar se ele pega a fama, correspondente ou não ao que ocorre, de ‘lugar de pobre e preto’. É pior que a fama de ‘lugar de puta’ ou ‘lugar de nóia’”. Há, sim, assepsia social.

    Mas, talvez, o melhor depoimento tenha vindo de quem vivencia os rolezinhos. Fábio Goulart, um dos organizadores dos rolezinhos de Porto Alegre, fez um longo comentário após artigo de Juremir Machado da Silva, publicado no dia 19/01 no Correio do Povo, intitulado “Em defesa dos rolezinhos”. No comentário, Fábio diz: “Os rolezinhos nada mais são do que passeios… Jovens da periferia querendo passear, curtir, zoar, conhecer gente nova, beijar… e todas estas outras coisas que a velha classe média vai fazer normalmente no shopping. O simples alvoroço que se criou em torno dos rolezinhos já prova a questão do preconceito que tanto se fala. Quando vai um grupo de 300 jovens da velha classe média fazer um barulhento flash mob no shopping ninguém fala nada, quando vão 300 ‘bixos’ da universidade federal badernar ninguém fala nada… por isso digo que os rolezinhos são politizados”.

    O inconsciente político

    Consideremos a tese freudiana de que o desejo é demanda do inconsciente. Poderíamos então defender que a mudança está no âmago da existência, já que a consciência (o que poderia ser substituído pela cultura) é justamente o espaço da fantasia que busca tampar a outra cena (inconsciente) que causa vertigem.

    Uma manchete do jornal Cruzeiro do Sul (18/01), de Sorocaba, SP, expressa bem a relação sintoma e fantasia do nosso tempo: “Shoppings conseguem liminar contra rolezinhos”. Ao ler a matéria, percebe-se que não houve nenhum incidente nos shoppings da cidade que pudesse motivar a ação. Engano. Esses não são espaços públicos. É uma espécie de faz de conta de que é público. É como a brincadeira com carretel do neto de Freud, que era o fio de ligação com sua mãe. Na ausência materna, Ernst jogava o carretel para fora do berço (saindo do seu campo de visão) e, em seguida, puxava-o alegremente de volta para si. Assim, a criança suporta a ausência da mãe imaginando, tal qual percebe no carretel, que ela voltará. Esse jogo de faz de conta integra o outro lado da fantasia da nossa realidade, já que a primeira é a possibilidade de perda do que se acredita ter. No fim, não há nem mãe e nem objeto para se perder, mas somente fantasia.

    O problema é entender por que a fantasia dos jovens da periferia passou a incomodar a fantasia de parte dos estabelecidos da sociedade. A operação é semelhante à demanda que vem do inconsciente: há outra cena oculta no discurso pragmático da mídia que motiva a formação do acontecimento – do rolezinho como um sintoma. Assim, se o rolezinho é um acontecimento midiático, há uma outra cena (supõe-se política) aterrorizando a mídia conservadora e causando vertigem na comunicação. Nesse ponto, chegamos praticamente ao inconsciente político defendido por Deleuze e Guattari, ou seja, ao invés de entendê-lo como representação (teatro) de conteúdos inconscientes, ele é produção, é usina; ele é fabricado. Aqui, o inconsciente sai da célula familiar, edipiana. É por isso que a deontologia, na comunicação, é, literalmente, uma fantasia produzida, já que o sentido que se atribui aos fatos é motivado por outra cena.

    Dependente de consumo

    Alimentamos a fantasia de que podemos passear, olhar vitrines e depois sair do shopping sem consumir. Tem limite. Quando isso acontecer de forma demasiada, os não consumidores são excluídos. Para legalizar a prática, usa-se o efeito pinça, que é justamente pegar alguns casos isolados e generalizar. Lembremos os velhos ditados que embalam o censo comum liberal: “quem é trabalhador se dá bem na vida” (ora, quem não tem sucesso é “culpa” – com toda carga cristã que carrega essa palavra – dele mesmo); ou mesmo conteúdos bíblicos, entre eles: “nunca vi o justo desamparado nem seus filhos mendigando o pão”. São ditados que funcionam para imobilizar os cidadãos, deslocando problemas sociais para recair sobre indivíduos que não tiveram bom desempenho econômico ou na “fé”.

    Por outro lado, o capitalismo parece chegar no seu estágio máximo, o de que as pessoas se sentem cidadãs consumindo. O debate é antigo. O próprio sujeito é tornado objeto, nesse caso objeto de consumo, na medida em que as relações (que são sempre sociais) são eclipsadas (fetichizadas) pela ação individual com as mercadorias. Assim, se o sujeito passa a ser dependente de consumo para constituir-se enquanto tal (ser aceito pelo outro), deixá-lo em abstinência pode custar caro à sociedade.

    No fim, é como interrogou o narrador da obra de Kundera: “O mais nobre dos dramas e o mais trivial dos acontecimentos estariam assim tão próximos? É claro que sim.”

    ***

    José Isaías Venera é jornalista e professor, Joinville, SC 

  9. Franklin, google, impostos, Paulo Bernardo, Ley de Medios, etc.

    “Em entrevista ao programa Contraponto, o ex-ministro Franklin Martins, que atuará nacampanha da presidente Dilma Rousseff, defendeu a regulação dos meios eletrônicos “como acontece em todos os países democráticos”; o objetivo, diz ele, é permitir que “mais correntes da sociedade possam se expressar”; ele também demonstrou preocupação  com a expansão de empresas de internet, como o Google, que “não paga imposto no Brasil, nem emprega no Brasil”, mas já fatura R$ 3,5 bilhões ao ano com publicidade.”

     

    O ex-ministro Franklin Martins, que atuará na área de comunicação da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, concedeu uma importante entrevista ao programa Contraponto, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, numa mesa redonda com o blogueiro Eduardo Guimarães, colunista do 247, e Maria Inês Nassif. Nela, Franklin defendeu seu projeto de regulação do setor de radiodifusão, que, recentemente, voltou a ser apoiado pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. “O Brasil tem uma das mídias mais concentradas do mundo”, disse o ex-ministro. Segundo ele, o objetivo da democratização é permitir que “mais correntes da sociedade se expressem”.

    Na entrevista, Franklin destacou que seu projeto é voltado aos meios eletrônicos – e não à mídia como um todo. Segundo ele, jornais e revistasdevem ser livres para produzir seu próprio conteúdo, estando sujeitos às penalidades previstas em lei. No entanto, ele defendeu a aprovação de uma lei de direito de resposta que garanta reparações com maior agilidade.

    Franklin disse ainda que um ponto importante é impedir que políticos sejam donos de concessões de radiodifusão. Ele também afirmou que a regulação deveria interessar ao próprio setor, em razão com a convergência que ocorre com o setor de telecomunicações. “O ministro Paulo Bernardo deu um dado preocupante. No ano passado, o Google faturou R$ 3,5 bilhões de publicidade, atrás apenas apenas da Globo. Só que o Google não emprega nem paga impostos no Brasil”, disse ele.

    Assista, abaixo, à íntegra da entrevista:

     

     

    http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/129077/Franklin-Brasil-tem-uma-das-m%C3%ADdias-mais-concentradas-do-mundo.htm

     

    1. Defendeu a regulamentação dos

      Defendeu a regulamentação dos meios eletronicos, como já acontece nos paises democraticos, quer dizer que o Brasil não tem regulamentação? É claro que tem, uma completo e bem feito CODIGO BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÕES , de 1962, realização  do Governo Jango. Como então não tem? É que por ignorancia não sabem e  repetir que precisa regulamentar é uma espécie de palavra de ordem da esquerda.

  10. O calcanhar de Aquiles da NSA …

    Segundo a tal da NSA (No Such Agency) todo mundo ou foi, ou é, ou ainda vai ser um malvadérrimo terrorista comedor de criancinhas, inclusive os funcionários da própria e os seus terceirizados (não é mesmo, Snowden?!) ! 

    Portanto, é necessário vigiar todo mundo,  (e brevemente também a Internet das coisas – já pensou uma malvada geladeira disparar mensagens mal-educadas por aí?!). 

    E se não acharem o terrorista antes de ele agir (como foi lá em Boston e com aquele marroquino dos atentados de 2001, preso ainda antes da ação), isso ocorreu por causa da pouca verba recebida pelo órgão; não foi porque estavam cochilando. 

    Para isso esse órgão construiu um centrão de vigilância no estado estadunidense de Utah, aquele dos crentes mormons, antigamente adeptos da poligamia, salvo engano. 

    Ocorre que esse centrão precisa de 6,5 milhões de litros de água por dia, para resfriar seus mastigadores de bits e bytes. 

    E aí surgiu uma iniciativa popular aqui:

     

    http://nullifynsa.com/

     

    que pede ao estado de Utah em não fornecer essa água. O tal calcanhar de Aquiles!

    (A iniciativa pede doações. Não sei se vão informar os doadores a esse órgão). 

     

    Ou seja, baseado no princípio universal de que “Deus não dá asa a cobra”,  até esse órgão um dia tem que falar sem cuspir. 

  11. Tinhorão: O silêncio e o ressentimento do patrulheiro patrulhado

    “Os acadêmicos comem Tinhorão e arrotam Mário de Andrade.”

    “Tinhorão é demonizado pelas esquerdas, por ser aquele que, de alguma maneira, desmascara essa memória vitimizadora da esquerda.”

    No caso de José Ramos Tinhorão, ele foi ‘patrulheiro’ e ‘patrulhado’. Patrulheiro por que cobrava dos artistas da classe média um comportamento que valorizasse a cultura popular, fugindo dos ‘ditames’ da indústria cultural; e patrulhado pela esquerda que via em seus artigos uma radicalização nacionalista que punha em evidência os novos rumos da música popular brasileira.

    Nesse sentido, Tinhorão representava uma parcela da população brasileira que prezava a conservação de determinados valores culturais – e muitas vezes políticos.

    Era um grupo que não necessariamente se engajou a um movimento contra o regime, e preferia culpar terceiros sobre o fracasso da “revolução” da esquerda; no campo cultural, não acreditava no potencial artístico ou revolucionário dos artistas da MPB.

    Por isso, Tinhorão é demonizado pelas esquerdas, por ser aquele que, de alguma maneira, ‘desmascara’ essa memória vitimizadora da esquerda.

    No caso específico da memória da música popular brasileira, o ‘erro’ de Tinhorão foi contar outra história da MPB e tentar difundi-la, indo de encontro à ‘história oficial’ que a memória de certa esquerda quis institucionalizar. Cada uma das versões sobre a MPB elegeu seus ‘heróis’; para essa esquerda, era importante enaltecer a figura daqueles que resistiram a qualquer forma de repressão política (sambistas do Estado Novo, compositores da ditadura militar…), já para Tinhorão, era preciso dar destaque àqueles que permaneceram fiéis à cultura popular, sem entregar-se às facilidades da ‘indústria cultural’.

    [ … ]

    Dessa forma, o jornalista conseguiu ser o oposto de tudo que a memória da MPB determinou. Além de padrão de ‘bom-gosto’, os memorialistas quase sempre exaltavam a luta deste estilo musical contra o ‘mercado’. Entretanto, Tinhorão denunciava constantemente a entrega desses artistas da MPB à indústria musical e às influências estrangeiras, em detrimento da qualidade de suas obras. Sua visão classista da cultura brasileira colocava em instâncias separadas a cultura ‘do povo’ e a ‘popular’ – já associada ao mercado. Assim, sua imagem foi invariavelmente associada ao atraso e ao nacionalismo xenófobo.

    [ … ]

    Apontando para o limite mercadológico do trabalho musical, Tinhorão expôs o ‘calcanhar de Aquiles’ da memória de esquerda forjada para a MPB. Para o jornalista, os imperativos econômicos vinham se sobrepondo aos interesses estéticos e até políticos das canções. Para uma memória que insiste em definir a MPB como música resistente, classificá-la como alienada e/ou vendida é algo inaceitável. Assim, o jornalista colocava em evidência a configuração do resultado histórico em que a esquerda não conseguia reconhecer a sua derrota política.

    ‘Já sou um sujeito longevo e serei muito mais. Então pode ter certeza que muitas dessas pessoas que me odiavam vão morrer antes de mim. E aí eu ficarei tranqüilo, porque como a nova geração não terá preconceito contra o Tinhorão, lerá os livros do Tinhorão e achará que eram bons.’ – TINHORÃO

    Fonte: http://www.historia.uff.br/nec/wp-content/uploads/Sobre_rabos_de_cometa.pdf

  12. As lições do Acordo Espacial China-Brasil

    RetratodoBRASIL 79

     

    http://www.oretratodobrasil.com.br/revista/RB_79/pdf/RB79_parcial.pdf

     

    O caminho deles e o nosso

     

    No programa China–Brasil para a construção de satélites de sensoriamento remoto, assinado há um quarto de século, eles voaram e nós fomos devagar, quase parando

     

    A ILUSTRAÇÃO DE capa desta edição de Retrato do Brasil foi inspirada na imagem acima, de astronautas chineses que viajaram em órbita terrestre. Serve como uma ironia, para lembrar o fato de o Brasil ter assinado com os chineses um compromisso para a construção conjunta de satélites já no governo do presidente José Sarney, nos anos 1980, e até hoje, perto do final do mandato da presidente Dilma Rousseff, enquanto a China voou e se tornou uma das três potências espaciais, ao lado da Rússia e dos EUA, os brasileiros como que se arrastaram pelo chão, de dificuldade em dificuldade.

     

    O programa sino-brasileiro para o desenvolvimento e construção de satélites de pesquisa terrestre – Cbers, na sigla em inglês –, assinado em Pequim pelo primeiro governo brasileiro depois da ditadura militar (1964–1985), concretizou, no campo científico e tecnológico, uma mudança política, iniciada em 1974, quando o governo do general Ernesto Geisel restabeleceu relações diplomáticas com a China. A relação com regimes liderados pelos comunistas tinha sido um dos pretextos para o golpe militar de 1964, que derrubou João Goulart. O depois presidente brasileiro estava na China, como vice-presidente, em 1961, quando o presidente Jânio Quadros renunciou. Os militares tentaram, na liderança das forças anticomunistas do País, impedir a posse de Goulart como presidente. Quando, afinal, conseguiram derrubá-lo, em 1964, nove diplomatas chineses que já viajavam pelo Brasil como parte do processo de restabelecimento de relações foram presos e condenados à pena de dez anos por suposta espionagem e, pouco depois, expulsos do País.

     

    Dez anos depois, no entanto, o próprio governo militar restabeleceu relações diplomáticas com a China. De fato, Geisel apenas seguiu a manada liderada pelos americanos. Os países diplomaticamente alinhados com os EUA se realinharam em relação ao governo dos comunistas chineses, depois que o presidente Richard Nixon fez a mesma manobra e resolveu reconhecer o governo liderado por Mao Zedong como o único representante de toda a China. Até então, desde a vitória dos comunistas na guerra civil, no final de 1949, os chineses eram representados oficialmente, na Organização das Nações Unidas (ONU), pelo governo acobertado pelos EUA em Taiwan (ver “A briga pelos mares da China” nesta edição).

     

    O programa Cbers representou uma esperança para os defensores de um desenvolvimento tecnológico independente do Brasil. O representante mais destacado desse grupo foi o democrata e nacionalista Renato Archer (1922–1996), ministro de Ciência e Tecnologia (MCT), um ministério criado por Sarney como uma das promessas para uma nova fase da economia brasileira. Não deixa de ser um sinal de que esse programa legou raízes o fato de o atual titular do MCT, Marco Antônio Raupp, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ter sido um dos negociadores do acordo, um ano antes, quando, junto com uma delegação do instituto, preparou, na China, as bases do documento de cooperação finalmente assinado em julho de 1988. A última notícia referente aos resultados desse acordo é ruim. No último dia 9 de dezembro – ao que tudo indica, em virtude de uma falha no terceiro estágio do foguete chinês Longa Marcha 4B, que carregava em sua ponta o terceiro satélite do programa Cbers – o equipamento se perdeu no espaço. A interpretação dessa notícia, no entanto, deve ser feita com cuidado. A falha de um foguete durante o lançamento de naves e satélites espaciais não é uma ocorrência rara. Os desastres mais espetaculares nesse campo são as várias mortes de astronautas americanos e russos já ocorridas. O Brasil também sabe desses desfortúnios. Em agosto de 2003, nas etapas de preparação de um foguete lançador de satélites, o veículo explodiu, a torre móvel de apoio ao disparo foi destruída e morreram 21 pessoas no Maranhão, local a partir do qual o Brasil pretendia disparar uma operação de lançamento de satélites comerciais para o mercado internacional desses artefatos, do qual faz parte, hoje, um enorme negócio de satélites de comunicação.

     

    Um fracasso anterior da China nesse mesmo ramo também mostra as dificuldades dos programas espaciais. Os chineses estão muito mais avançados que o Brasil nesse campo. Desde1990, já tinham em funcionamento base para lançamento de satélites de comunicação para terceiros. No dia 14 de fevereiro de 1996, no entanto, depois de vários lançamentos bem-sucedidos com foguetes da mesma família do Longa Marcha, na colocação em órbita do satélite Intelsat 708 para a Loral Space and Communications, empresa americana, o veículo lançador se desviou amplamente do rumo pretendido e caiu num vilarejo próximo, deixando muitos mortos e feridos. Tudo indica que a Loral colaborou com as autoridades chinesas em busca das causas do acidente, que teria ocorrido devido a falhas na soldagem dos componentes do foguete. Essa colaboração com os chineses valeu à companhia uma multa de 14 milhões de dólares num processo na Justiça americana, justificada pelo argumento de que a partilha de informações com não americanos é proibida nos termos da International Traffic in Arms Regulation (ITAR), legislação para o controle das exportações de armas, supervisionada pelo Departamento de Defesa dos EUA e considerada indispensável para a segurança do país. O Intelsat 708 utilizaria encriptação de dados altamente sofisticada e, como os seus destroços não foram localizados, os americanos deduziram que o governo chinês os tinha recuperado para decifrar esses segredos considerados importantes para as armas nas guerras, tanto as comerciais como as militares.

     

    O incidente, inclusive, levou ao endurecimento das normas da ITAR para o caso de tecnologias relativas à construção de satélites espaciais e foguetespara seu lançamento. O Cbers 3, por exemplo, que tinha entre seus componentes 44 conversores de energia da americana Modular Devices Incorporated (MDI), comprados pelo Inpe antes desse arrocho das normas de controle, não recebeu mais assistência técnica da companhia quando o instituto brasileiro constatou anomalias nos conversores nos testes finais do satélite, em agosto de 2012. O Inpe levou as peças para que a MDI as examinasse e corrigisse os eventuais problemas. A companhia alegou que a legislação americana de então não permitia essa ajuda. Restou ao Inpe minimizar os danos numa operação complexa e demorada (ver “‘Deu zebra’, agora vem um desafio”). Uma das providências foi tirar do satélite o transponder – que tinha sido construído pela Mectron, uma subsidiária da brasileira Odebrecht, mas continha alguns dos conversores com problemas – e substituí-lo por um transponder chinês, mesmo com a perda de alguns pontos na participação brasileira no satélite, que caiu um pouco abaixo dos 50% projetados inicialmente.

     

    O transponder é um dispositivo de automação da comunicação eletrônica que recebe, amplifica e retransmite sinais. É similar aos existentes nos celulares que recebem e respondem a sinais da rede à qual pertencem. Por sua vez, os conversores de energia digitais, como os fornecidos pela MDI, transformam a energia elétrica dos satélites – obtida de sua fonte básica, normalmente painéis solares, como no caso do Cbers 3 – nas voltagens e correntes adequadas para cada um dos múltiplos equipamentos de um satélite. Pesam menos de um décimo dos antigos conversores e permitem uma grande redução no peso e no tamanho do satélite. Transponders e conversores de energia, no entanto, são apenas dois dos incontáveis tipos de equipamentos e componentes da indústria de construção e lançamento de satélites espaciais.

     

    Deixando de lado a indústria da construção e lançamento de armas para serem colocadas em órbita e despejadas do espaço, submetida a controles nacionais estreitíssimos, mesmo o setor civil dos negócios espaciais está em grande parte sob as regras da ITAR, visto que praticamente todas as grandes companhias privadas desse campo ou são americanas ou estão associadas às americanas e, portanto, sujeitas a esse regramento. De que forma um país como o Brasil pode crescer num mercado desse tipo? Evidentemente, o caminho percorrido até agora, de governos que vão do de Sarney ao de Dilma, não mostrou uma saída. Mas, como os próprios industriais brasileiros que acompanharam a delegação nacional no lançamento do Cbers 3 puderam constatar, a China é um exemplo de que, ao contrário do que dizem os liberais, um grande empenho estatal na solução dos principais problemas industriais é a chave para o florescimento de uma indústria no setor em países que chegaram atrasados ao processo de industrialização. E isso pode favorecer, inclusive, o desenvolvimento da grande indústria privada.

     

    A grande empresa estatal chinesa dessa área, com 110 mil trabalhadores, é a Corporação da China para a Ciência e a Tecnologia Aeroespacial (Casc, na sigla em inglês). Ela tem uma série de entidades subordinadas que projetam, desenvolvem e fabricam uma variedade de naves, lançadores, sistemas de mísseis estratégicos e táticos e equipamentos de solo. Produz também equipamentos de tecnologia avançada nas áreas de máquinas, química, produtos médicos e de proteção ambiental. Oferece serviços comerciais de lançamento de satélites no mercado internacional e é considerada a empresa mais avançada no desenvolvimento de propelentes de alta energia e no lançamento de múltiplos satélites com um só foguete. Entre suas subsidiárias estão, por exemplo, nas siglas em inglês, a Calt (Academia Chinesa de Tecnologia de Veículos Lançadores), a Sast (Academia de Xangai para Tecnologia dos Voos Espaciais), a CAAA (Academia Chinesa de Aerodinâmica Aeroespacial) e outras mais especializadas, como a Catec (Corporação Chinesa da Eletrônica Aeroespacial), a CBSAST (Companhia Beijing Shenzhou de Software para a Tecnologia Aeroespacial) e mesmo o Casi (Centro Chinês de Padrões Astronáuticos), além de muitos outros.

     

    Sem dúvida, foi a partir dessas estatais e de seus avanços tecnológicos que, inclusive, se desenvolveu na China uma grande indústria privada na área de telecomunicações, na qual se destaca, por exemplo, aquela que é hoje a primeira empresa no ranking mundial desse setor, a Huawei, não por acaso fundada por um ex-oficial das Forças Armadas chinesas e que hoje instala no Brasil os mais avançados equipamentos de telecomunicação para a telefonia celular.

    1. Caro Leandro, nem uma Copa do

      Caro Leandro, nem uma Copa do Mundo os politiqueiros deixam ser feita em paz aqui no Brasil, quem dirá pesquisa espacial.

      Vão apedrejar os foqguetes e exigir “hospitais padrão NASA”.

      Enquanto a imprensa puder publicar as mentiras que quiserem sem o direito de resposta correspondente e puder esconder fatos importantes atrás de manchetes sensacionalistas e mentirosas, nada vai prosperar neste país.

      Veja a Petrobras, orgulho nacional que está fazendo um esforço épico para transformar o Pré-Sal em um motor do desenvolvimento e que é achincalhada e atacada de todas as formas e com as mentiras mais torpes, pela politicagem de entreguistas que querem doar a riqueza nacional para estrangeiros em troca de gordas propinas.

      Fica difícil desenvolver uma área que consome enormes recursos e cujo retorno depende de se usar a cabeça e enxergar mais longe que a ponta do próprio nariz. Nem o retorno da Copa, muito mais rápido e óbvio que o da pesquisa espacial, é considerado pelos politiqueiros e pelas vacas de presépio mascaradas que repetem os bordões da mídia de forma acrítica.

  13. Alguma dúvida sobre o diagnóstico da doença de Barbosa?

    Folha

     

    PAINEL

    VERA MAGALHÃES [email protected]

     

    Próximos capítulos

    Ministros do Supremo Tribunal Federal se surpreenderam ontem ao receber a pauta da primeira sessão criminal de 2014, que será na quinta-feira. Joaquim Barbosa incluiu processo contra o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho de José Dirceu, por suposto crime eleitoral. Na semana passada, Ricardo Lewandowski, em sua interinidade na presidência da corte, deu parecer favorável a que fosse analisado pedido de trabalho do ex-ministro da Casa Civil, condenado no mensalão.

    Tem mais Também estão na pauta outros processos contra prováveis candidatos, como uma ação contra o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e embargos a um acórdão do STF que recebeu queixa-crime contra o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ).

  14. Morte aos monstros ?

        

     

    Woody Allen e Heidegger: Morte aos monstros!

     

    Revista Bula

     

     

    Quando o saudoso (e brilhante) professor Jordino Marques me propôs como tema de mestrado ‘ética em Heidegger’, eu ainda não sabia que teria de tirar leite de pedra. Não só Heidegger nunca escreveu um “tratado de ética”, como, pra piorar, era acusado de ter sua obra contaminada pelo nazismo. Isso mesmo, ele não era (é) acusado de ter sido nazista, já que isso era um fato, ele FOI nazista. Essa não era, pois, a questão. O que não significa dizer que ele ativamente contribuiu com as atrocidades. Significa dizer que acreditou no projeto de reconstrução da Alemanha proposto pelo Partido Nacional Socialista durante algum tempo. Significa que foi reitor da Universidade de Freiburg antes da guerra começar, cargo que não ocupou por muito tempo. Não significa, porém, que foi ele quem demitiu Husserl, seu mestre de ascendência judia. Quem fez isso foi o reitor que o antecedeu.

    Há nazismo na obra de Heidegger? Não. Nem, propriamente, uma ética. O chamado primeiro Heidegger, o Heidegger de ‘Ser e Tempo’, de onde a maioria de seus “intérpretes” arranca uma ética fornece, inclusive, farto material em contrário. Por exemplo, o conceito de ‘Das Man’, o impessoal. O ser, como ser-com, se empobrece quando dissolvido no impessoal. “Todo mundo é o outro e ninguém é ele mesmo”. Uma vida inautêntica. Há duas maravilhosas ilustrações dessa tese, os filmes, “A Onda”, dirigido por Dennis Gansel, e “Zelig”, do judeu ateu Woody Allen (momento propaganda: discuti esses filmes em minha coluna de cinema na revista “Filosofia Ciência & Vida” e os inclui em meu livro “Cinema & Filosofia”, Kindle Edition).

    Mas ressuscitaram o assunto. Por quê? Porque serão lançados em março, na Alemanha, os “Cadernos Negros”, contendo, aparentemente, algum material para soprar a brasa da suspeita que nunca se apaga. Os franceses, claro, estão dando muito mais bola pra isso do que quaisquer outros. A ponto de competir com a boçalidade da quenelle de Dieudonné e com o infundado desespero dos pais quanto à “teoria de gênero” supostamente ensinada nas escolas francesas.

    Me pergunto por que não implicam com o “anti-cristianismo” descarado de Nietzsche, que não precisa de nenhum caderno negro, basta ler qualquer coisa sua (“Cristianismo, álcool, os dois grandes meios de corrupção… Na verdade não deveria haver hesitação de escolha ante o islamismo e o cristianismo, tanto quanto entre um árabe e um judeu.” — “O Anticristo”)

    O caso de Woody Allen é diferente. Ousaria dizer, até mesmo o oposto. Heidegger foi nazista por um tempo (e nunca se desculpou por isso, algo pelo quê nunca foi perdoado), mas sua obra não é nazista. Woody é acusado de ter molestado sexualmente sua filha Dylan (agora Malone) quando esta tinha apenas 7 anos. Seria, portanto, um psicopata, um monstro, um insensível, etc. Sua obra tem tudo isso. Inclusive caras mais velhos que se envolvem com uma gatinha bem mais nova (embora não tão nova quanto 7 anos).

    Dylan/Malone ressuscitou o assunto por duas vezes agora. Numa matéria da seriíssima publicação “Vanity Fair”, por meio da qual Mia, sua mãe adotiva (Woody é seu pai adotivo), confessa que “nunca terminou pra valer com Frank Sinatra” e que Ronan, o único “filho biológico” deles pode ser que seja de Sinatra. E no último sábado, numa carta aberta publicada no blog do colunista de assuntos acerca da ética (?), Nicholos Kristof.

    Dylan começa perguntando que filme de Woody é nosso preferido, para, em seguida, fazer seu relato: Um dia, na casa de campo de Mia Farrow em Conneticut, Woody a chamou para uma espécie de sótão, onde pediu que deitasse de bruços e brincasse com o trenzinho do irmão, enquanto a tocava. Ela tinha 7 anos, contou para a mãe, que gravou um vídeo de seu testemunho na época. No final de sua carta aberta, ela cospe na cara dos atores que participaram dos filmes do pai recentemente, assim como de Diane Keaton.

    Eu não acredito em Dylan. Por quê?

    1 — Porque eu não quero acreditar. É importante revelar de cara uma obviedade. Não sou isento. Ninguém é. Quem acha que é está mentindo para si mesmo. Woody Allen é o filósofo mais brilhante que já existiu. É um gênio. Se me dissessem que Beethoven era pedófilo, ou Kafka, Einstein, etc, eu teria enorme dificuldade em aceitar. Nunca é demais lembrar, portanto, meu aforismo preferido, o que mando marcar com ferro quente no lombo de meus alunos na PUC: “O intelecto humano, quando assente em uma convicção (ou por já bem aceita e acreditada ou porque o agrada), tudo arrasta para seu apoio e acordo. E ainda que em maior número, não observa a força das instâncias contrárias, despreza-as, ou, recorrendo a distinções, põe-nas de parte e rejeita, não sem grande e pernicioso prejuízo.” (Francis Bacon, Aforismo XLVI do “Novum Organum”)

    2 — Por causa do artigo de Robert B. Weide, autor do recente “Woody Allen: A Documentary” (por sinal, fraquinho, apesar de bem intencionado). Weide elenca algumas peças que não se encaixam no quebra-cabeça:

    A — O vídeo feito por Mia com o testemunho de Dylan foi editado ao longo de alguns dias. A babá viu. Essa mesma babá pediu demissão por discordar do modus operandi de Mia e refutar a tese de que Dylan ficou sem monitoramento de babás no dia da alegada ocorrência.

    B — A junta médica da Universidade de Yale não encontrou na menina sinais de ter sido molestada.

    C — O fato alegado teria ocorrido quando o casal já tinha se separado (Mia já tinha descoberto o caso com Soon Yi há algum tempo) e Woody estava fazendo uma visita às crianças na casa da mãe. Os dois já estavam brigando na Justiça. Weide e eu achamos altamente improvável que Woody fosse estúpido para ter um timing tão mal escolhido.

    D — Os defensores de Mia costumam colocá-la num pedestal de santidade e coitadidade. Entretanto ela própria não teve uma vida “moralmente exemplar”. Teve um caso com Andre Previn quando este ainda era casado com Dory Previn, que caiu em grave depressão, e chegou a escrever uma música intitulada “Beware of Young Girls” (Mia tinha 24 anos quando lhe tomou o marido, de 40). E em outubro passado não hesitou em jogar merda no ventilador ao dizer pra “Vanity Fair” que era possível que Ronan fosse filho de Sinatra, e não de Woody. Barbara, a viúva de Blue Eyes, ainda viva, foi em quem a merda caiu em cheio. Weide e eu ponderamos: ou é uma brincadeira de muitíssimo mau gosto, ou ela é bem danadinha.

    E — A carta de Dylan parece ter sido motivada pela homenagem que Woody recebeu dos Golden Globe Awards pela carreira (a qual, claro, ele não foi receber). Sem falar nas indicações ao Oscar para “Blue Jasmine”, o ‘Bonde chamado desejo’ de Woody. Aparentemente, mãe e filha ficaram profundamente irritadas com o fato de todo mundo ter “perdoado” o crápula a ponto de continuar a lhe conferir prêmios. Acontece que Robert Weide é quem foi o responsável pela montagem dessa homenagem, e pediu permissão de Mia para incluir imagens dela. E ela deu. Como é? Peraí, não foi ela quem tuitou coisas do tipo: “Uma mulher relatou publicamente ter sido molestada por Woody Allen. O prêmio do Golden Globe demonstra desprezo por ela e todas as vítimas de abuso”. Hein? Uma pessoa que dá permissão para uso de sua imagem sabendo do que se tratava e depois diz isso é uma pessoa profundamente perturbada.

    F — Quanto a premiar um pedófilo, Weide lembra que Mia, amiga de Roman Polanski, nada disse quando este ganhou o Oscar por “O Pianista”, em 2002. O caso de Polanski é bem diferente, dirão. E é mesmo. Até porque ele admitiu que de fato teve relação sexual com uma menina de 13 anos. E esta não era sua filha adotiva. Mas, se for pra generalizar como ela fez em seu Twitter, Polanski encaixa na categoria de “pedófilos que recebem prêmios por seus filmes”.

    Minha tese é que Mia Farrow é uma pessoa profundamente perturbada (bioquímica e neuropatologicamente mesmo) e machucada, que não hesita em trazer os outros para dentro de sua espiral egocentrada. Dory Previn, Barbara Sinatra, Ronan, Dylan, Soon-Yi, Woody são todos moscas presas em sua teia psicótica. Posso estar errado? Posso. Mas acho que não.

    Flávio Paranhos , filósofo e médico.

     

  15. O cachorro mordeu o jornalismo

    No século XIX o jornalista norte americano John B. Bogart cunhou a frase que todo mundo aprende no pré-primário do jornalismo: “se um cachorro morde um homem, não é notícia, se um homem morde um cachorro, é”.

    Acho que já não ensinam mais esse bê-a-bá para o povo que escreve nos sites de notícia. Vejam essa pérola publicada pelo Bem-Estar no site G1: “SP é o estado que mais deve registrar casos de câncer em 2014, diz INCA” (eu ouvi a notícia na CBN e fui conferir no site).

    Se é fato conhecido que o estado de São Paulo tem uma população que é mais do dobro da população de Minas Gerais (43,6 milhões contra 20,5 milhões, na estimativa de 2013 do IBGE), o segundo estado mais populoso da federação, onde estaria a notícia?

    A notícia deveria estar no fato de que – pelas tais previsões do INCA – o Rio de Janeiro, com cerca de 4 milhões de habitantes a menos que MG, registrará cerca de 12 mil casos de cancer a mais. Ou no fato de que o Rio Grande do Sul, também com 4 milhões de habitantes a menos que a Bahia, vai registar mais do dobro de ocorrências.

    Ou essas previsões do INCA são furadas, ou há algo de muito estranho nos números da doença. Subnotificações? Notificações fora do estado de origem?  Diferenças na prevenção? Fatores étnicos regionais?

    Não dá para saber, já que a matéria do Bem Estar/G1 nem toca nesses assuntos. Apenas repete os números divulgados pelo INCA, e destaca a óbvia maioria de paulistas.

    Alguém avise ao ministro Gilmar Mendes que já anda em falta bons profissionais para cozinhar releases nas redações.

    Aqui a matéria:
    http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/02/sp-e-o-estado-que-mais-deve-registrar-casos-de-cancer-em-2014-diz-inca.html

    Aqui as populações dos estados:
    http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=sp

  16. Pesquisa da Marinha do Brasil é patenteada nos EUA

     

    http://www.naval.com.br/blog/2014/02/04/pesquisa-da-marinha-sobre-agente-bioquimico-natural-e-patenteada-nos-eua/

    Pesquisa da Marinha sobre agente bioquímico natural é patenteada nos EUA

     

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    Pesquisa desenvolvida pela Marinha do Brasil sobre tintas marítimas anti-incrustantes teve patente aprovada nos Estados Unidos. O projeto, conduzido pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), consiste no uso de um agente biocida isento de metais nas tinturas utilizadas em estruturas submersas e flutuantes. O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

    A pesquisa, iniciada em 2004 no Instituto de Química da UFRJ, alcançou êxito ao sintetizar o agente biocida a partir de matéria-prima natural, nacional e de baixo custo: um subproduto do refino de óleo de soja. O agente poderá ser utilizado em escala industrial em revestimentos e tintas subaquáticas, protegendo contra os efeitos danosos da bioincrustração em cascos de embarcações, boias, plataformas de petróleo e dutos submersos.

    Para o comandante William Romão Batista, engenheiro e pesquisador da Marinha, a obtenção da patente concretiza um ciclo de pesquisas em produtos naturais anti-incrustantes desenvolvidos pelo IEAPM. “Este é o grande passo para termos, no futuro, disponível no mercado, tintas para cascos de navios e plataformas de petróleo, com eficaz ação anti-incrustante e isentas de substâncias nocivas ao meio ambiente marinho”, avaliou o comandante.

    De acordo com Romão Batista, por ser um produto natural, isento de elementos metálicos e com ação bactericida e algicida (contra algas), o agente biocida poderá também ser utilizado nas áreas médica, agrícola e pecuária.

    A pesquisa

    A bioincrustação marinha é resultado do processo natural de colonização e crescimento de micro e macro-organismos sobre superfícies submersas, ocasionando problemas logísticos e prejuízos econômicos, como o entupimento de canalizações, podendo comprometer estruturas de plataformas, pilares e tubulações.

    O produto desenvolvido pelo IEAPM da Marinha foi testado experimentalmente durante oito meses em placas metálicas submersas pela empresa brasileira International Tintas S.A. A tinta anti-incrustante demostrou alta resistência e durabilidade, com uma vida útil maior que as tintas marítimas comercializadas atualmente – que gira entre seis meses e dois anos

    Já tramita no IEAPM o pedido de uma nova patente junto à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, que deverá ser enviado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

    Esta nova patente está relacionada à evolução da síntese e da característica físico-química do biocida inicialmente sintetizado. O objetivo dos pesquisadores é fechar parcerias com indústrias interessadas na produção do agente.

    FONTE: Ministério da Defesa

     

  17. PSDB processa a Estátua da Liberdade

    PSDB acusa Estátua da Liberdade por quebra de decoro

    PSDB protocolou junto ao STF um processo contra a estátua. Monumento teria sido flagrado com o braço levantado, em claro sinal de apoio a petistas

     

     

     

    Estanislau Castelo

    Arquivo

     

    Um dos símbolos da liberdade pode estar com seus dias contados.

    O PSDB protocolou ontem, junto ao Supremo Tribunal Federal, e nas mãos de seu mais isento ministro, Gilmar Mendes, um processo contra a Estátua da Liberdade por quebra de decoro monumental.

    A Estátua teria sido flagrada com o braço erguido, o que foi considerado pelos tucanos como uma clara referência ao gesto feito por José Dirceu e José Genoíno.

    Um dos líderes que protocolaram o pedido ameaçou: “ou aquela piriguete abaixa aquele braço ou vamos às últimas consequências. Cogitamos inclusive derrubá-la”.

    Um ministro do Supremo que não quis se identificar disse que a Estátua pode ser enquadrada no “domínio do fato” e no artigo 45 do Código Penal, que reza que, sendo petista, todo castigo é pouco. Perguntado sobre o que seria esse “domínio do fato”, o ministro não soube responder.

    Em uma coletiva dada hoje pela manhã, em Nova York, o ícone mundialmente conhecido disse que prestou solidariedade aos “companheiros” presos por razões humanitárias.

    E atacou os tucanos: “eu sou feita de cobre. Já esses que me acusam são um bando de caras de pau”.

    O símbolo maior da Baía de Nova York já havia feito o mesmo gesto anteriormente em comemoração à vitória dos atletas Tommie Smith e John Carlos, que ergueram o punho cerrado nas olimpíadas do México, em 1968,  em homenagem aos Panteras Negras, grupo que lutava pelos direitos civis contra o apartheid nos Estados Unidos.

    Questionada sobre se não deveria fazer o mesmo sobre Guantánamo, reagiu com indignação: “mas eu fiz; vocês é que não prestaram atenção”.

    Uma repórter da rede de comunicação ultradireitista Fox News perguntou à Estátua se ela não se envergonhava de emprestar sua imagem a “comunistas brasileiros”, ao invés de continuar como garota propaganda do “American way of life”.

    Irritada, a Estátua lembrou: “minha filha, eu sou francesa. Vim de presente morar aqui nessa espelunca”.

    A Estátua foi também indagada se doou dinheiro para as vaquinhas que estão sendo organizadas para pagar a multa imposta aos condenados. “Ah, isso não. Devo confessar que sou muito mão fechada e ando dura faz tempo”.

  18. PT

                                     Eles querem eleger o PT      

    Não sei se por burrice por subestimar a inteligência do brasileiro, incompetência, ou por considerar fato consumado, a oposição e seus aliados trabalham arduamente para eleger o PT. Mídia, STF, Tribunais de Conta de todos os níveis e partidos de oposição, todos colaboram para uma acachapante vitória do PT nas próximas eleições. Cada um contribui um pouquinho para transformar o PT em vítima para, nas urnas, a sociedade dar a resposta. Talvez por isso o silêncio do PT, em muitos casos, convencidos de que a resposta virá nas urnas. Vejamos algumas contribuições gritantes: paralelo ao espetacular julgamento midiático do mensalão do PT, o caso do metrô de São Paulo, que envolve em corrupção os tucanos de Mario Covas a Geraldo Alckmin, corre em segredo de justiça. Também que a prisão, multa, emprego dos mensaleiros do PT, tudo acompanhado em detalhes e em capítulos, com destaque na mídia no horário nobre, enquanto isso o mensalão do PSDB e do DEM, anteriores ao do PT, nem sinal de julgamento . Desse jeito o PT não vai nem  precisar de marqueteiro para ganhar as eleições! E ainda vai mudar um folclore popular, de que no Brasil só iam presos os três “ps” ( preto, pobre e prostituta). Agora incluíram o quarto ‘p’, de petista!

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