Fórum Brasilianas: educação à distância no contexto digital

Internet ajuda a expandir educação e construção de conhecimento Foto Marcelo Camargo | Agência Brasil
Ambiente digital democratiza meios de comunicação e favorece participação direita na construção de conhecimento  
 
O fortalecimento da chamada blogosfera tem desenhado um cenário inédito e ainda experimental, caracterizado pela descentralização dos produtores e emissores de informações. Mas a convergência entre as telecomunicações, informática, audiovisual e redes sociais na web, apesar de intensificada, abre novas possibilidades de criação ainda pouco exploradas no Brasil. O arsenal de ferramentas tecnológicas é vasto, mas limitado, e ainda são muitas as dúvidas com relação ao potencial democrático da internet. A oitava edição do Fórum de Debates Brasilianas.org, realizada ontem (08), em São Paulo, procurou discutir esse contexto que se configura na sociedade brasileira, ainda de maneira embrionária.
 
Para compreender como que as novas ferramentas da cibercultura interferem nas manifestações sociais e nas vidas das pessoas, tanto política quanto culturalmente, o primeiro painel trouxe a participação da professora Andréa Corrêa Silva, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
 
De acordo com a especialista, a mudança cultural, que acompanha os avanços da web, é representada pelas diversas possibilidades de aplicação, como a criação conjunta, a interação entre usuários e as plataformas de socialização, nas quais o compartilhamento de informações e aplicativos pode se dar pela própria internet.
 
Silva, que passou ou últimos três anos “vivendo” no mundo virtual para concluir uma pesquisa, destacou o fato das pessoas já não precisarem mais depender do computador pessoal para acessar arquivos, uma vez que há sistemas que permitem acessibilidade de dados de qualquer lugar – num processo de crescente virtualização de aplicativos e softwares. E como esses recursos geralmente estão inseridos em ambientes coletivos, torna-se mais fácil a troca de conhecimentos.
 
Durante a apresentação, a professora deu exemplos na área da educação à distância para mostrar como os ambientes virtuais podem representar uma revolução marcada, principalmente, pela desestabilização de antigas concepções sobre emissão e recepção de informações – não apenas para o campo da educação, como também para a comunicação.
 
Silva contou que, em um curso sobre licitação para funcionários públicos, realizado em 1999, cerca de quatro mil alunos se uniram em rede, por meio de fóruns na internet, o que gerou resultado satisfatório. “Vimos a hierarquia ser quebrada. O diretor da empresa falava de igual para igual com os funcionários, e havia uma troca de conhecimentos constante”, disse.
 
Outro exemplo apresentado foi o ushahidi.com, site criado em 2008, no Quênia, para reunir relatos e testemunhos de pessoas sobre incidentes de violência causados após as eleições no início daquele ano. Em um mapa, como o disponibilizado pelo Google, os colaboradores identificavam os pontos críticos de violência, com demarcações na cor vermelha. O Ushahidi já possui 45 mil usuários, e pode ser usado por pessoas do mundo todo, com o objetivo de defender os direitos humanos.
 
Em relação à educação, a professora da FESPSP destacou o e-learning e o fato do conteúdo ficar dentro de um conteúdo aberto, sem precisar de senha e login ou inscrição. “Pode-se trabalhar com curso aberto, sem precisar de inscrição ou certificado. As pessoas querem aprender, não se dá mais tanto peso para o certificado daquilo que se quer ou não aprender”, completou. Foram mencionados também os Open Access Initiative (OAI) e os repositórios institucionais, que visam promover o acesso livre de modo irrestrito a toda literatura científica e acadêmica.
 
Sobre a regulamentação, a especialista acredita que o Ministério da Educação deva estabelecer parâmetros de avaliação. “Não pode ser só uma fotografia do dia da avaliação, mas um acompanhamento da participação do aluno”, disse Silva, que acredita que o MEC deva passar a apoiar o ensino aberto. Um argumento convincente seria o fato de muitas pessoas desejarem entrar numa universidade, mas, por motivos adversos, como distância, locomoção ou idade superior, não poderem ir fisicamente às aulas.
 
“Dentro do Second Life [rede social que simula, virtual e tridimensionalmente a vida real], há uma ilha onde fazem construção de pontes, pensando na resistência de materiais. Fazem todo o projeto técnico em conjunto entre alunos e professores, o que facilita a troca de conhecimentos”, enfatizou a professora.

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