Fui me cuidar e volto já, por Mariana Nassif

Fui me cuidar e volto já, por Mariana Nassif

Reconectar é algo assim… você pega um papel, escreve o que já foi ou fez um dia e quer voltar a fazer e vai ticando as coisas que são possíveis. Errado. Wrong. So, so wrong. Reconectar por aqui é algo relacionado com dar uma olhada pra dentro, pros cantos e arredores e ver o que é quase impossível mas quero um tanto, e correr atrás pra ter e fazer.

Dolorido, sensação de que o tempo(barra)idade dá uma certa parada na energia responsável pela mudança, aquela tal busca pela estabilidade que engana. Eu não quero. Eu preciso, e preciso porquê é importante a valer me encontrar comigo, essa “eu” que quer só um pique de um tanto de coisa sólida. Frase dúbia, hã? Adoro.
Prazeroso, muito prazeroso. Explorar em mim novos limites, reconectar o que a cabeça pensa com o que quero sentir, com o que quero saber no corpo e na alma, conhecer e desbravar mesmo, metendo as caras, escancarando o peito, mesmo sem entender ações e reações, mas nunca, nunca, nunca mesmo simplesmente aceitando. Porquê eu preciso, sim, preciso e quero, as tais explicações. Só fico bem quando sei o que está acontecendo, é fato. E fato não muda, mesmo que a gente passe aquele brilho, aquele rímel e coloque muito glitter.

Eu não tenho mais sentido pena ou compaixão ou sequer vontade de colocar no colo gente que está mais perdida que eu. Nem quero que ninguém me pegue no colo por estar perdida, mas que os queridos peguem leve nos puxões de orelha – não é fácil opinar sem sentir na pele, e a pele é minha, certo?

Eu tenho tido medo do mesmo, e continuo adorando escrever bobagens que me expliquem pra mim mesma e mandar o link pra todo mundo ler, mesmo que faça tempo que muitas destas pessoas eu não encontre na vida real, e juro que espero que comentem, que deixem sua marca na minha marca, porquê se tem algo que não vai mudar nem que me reconecte zilhões de vezes é a necessidade de troca.

Pessoas acreditam que eu tenha força extraordinária e me machucam incansavelmente, outras somem e esquecem que sou tão frágil que sinto saudade e falta de um olá todos os dias, mesmo que seja só na hora de passar o dia a limpo na hora de dormir. Tem gente nova na vida, que tem me ensinado muito, pelo amor ou pela dor, que é como as mães costumam falar pros filhos quando têm algo obrigatório a dizer. E quer eu queira, quer não, tem coisas que são, mesmo, obrigatórias.

Meu coração ainda bate feliz quando te vê, seja você pequeno, médio ou grande, seja você de agora ou de faz tempo, contínuo ou em frações, e eu curto muito sacar que algumas relações não mudam pelo simples fato de continuarmos nos incluindo na vida uns dos outros, e não sei bem pra quem falar isso, mas que é bom saber que em momento de reconhecimento de terreno-Mariana tem coisa maluquinha, ufa, ainda bem que tem.

As marcas no corpo estão quase emparelhadas com as da alma, que eu extravaso muito, tudo, sou um tufão em movimento furioso, mas agora eu tenho receio de que o câncer nada tem a ver com guardar sentimento. E isso preocupa. Também tenho outro conceito de preocupar, que antes achava perda de tempo, já que a vida está aqui pra ser vivida, mas aprendi que dar uma olhada antes, pros dois lados, mesmo praquele que não deveria vir carro, dá uma certa garantida. Vai que algo me atropele avassaladoramente? Não quero…

Quase tudo em muito preto e branco, mesmo que só na força de expressão porque preto está banido,baita contra-axé, com toques de vermelho. O cinza está um pouco de lado, mas ao alcance dos olhos, sempre em vista pra ser vasculhado. Reconectar comigo mesma é assim, desse jeito estranho, desse jeito que um tanto de choro me estraga e logo lá estou eu procurando o riso de verdade, a gargalhada e as cores fortes, as emoções sem fim até que os três pontos terminem e chamando resolução de crise. Assim sou eu, que termina coisas sem consultar a outra parte, só por não acreditar que lutar por qualquer coisa que seja pra ser boa seja por si contraditório, que continuo acreditando que quando dá pra entender é muito simples tal e qual a matemática e que a ordem dos fatores efetivamente não altera o produto, mas pode causar danos morais e cívicos pra quem não entender. E com aquela velha preguiça de ter preguiça das coisas, de ficar esperando acontecer sem interferir, mesmo que sábios ensinamentos digam que quem espera sempre alcança.

Sentindo a mesma vontade de experimentar o óbvio, de fazer pela primeira vez coisas do arco da velha, sentindo saudade do que não fiz e sem medo de ser feliz. Sabendo que vou quebrar a cara muito feio, e que não vou querer colocar gesso nem massa nenhuma de correção que é pra lembrar sempre onde estava a minha parte do erro e aprender que é assim, o que eu acho certo nem sempre está de acordo. E sempre, ah que delícia!, sempre tendo a coragem burra de me expor até o fim do pito pra quem quer. Sem censuras, sem legendas, sutilmente intenso e muitas vezes tenso, fazendo valer a máxima de que meu ruim é péssimo, mas meu bom é excelente.

Só porquê eu gosto do mar…

 

Mariana A. Nassif

3 Comentários

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  1. Navegar É Preciso

    Nassif: esse artigo me faz lembras de uma poesia do Péricles Eugênio da Silva Ramos, intitulada “Em Louvor dos Justos e dos Injustos”, quando diz de uma linguagem “que não falo e nem entendo”. Uma linguagem encantada, onde capto sinais de poesia e verdade (Goethe), mas fico só no encantamento. Vou guarda-lo para futuras leituras, com mais vagar, torcendo para que ele compreenda minha incompreensão em penetrá-lo. E quem sabe me ajude a desvendar outra linguagem, a descortinar outro mundo, a viajar por “mares nunca dantes navegados”.

  2. FILOSOFIA E POESIA

    A introspecção é uma prática muito salutar, que desenvolve o auto-conhecimento, aprimora a inteligência emocional e favorece a evolução espiritual.

    E tudo isto lembra o lapidar ‘conhece-te a ti mesmo’ dos filósofos da Grécia antiga.

    Reitero votos de uma caminhada feliz no rumo da realização pessoal, saúde, paz e muita luz, para alegrar a todos na busca do bem comum, que é a fraternidade universal.

    P.S.: Pra ilustrar, segue um poeminha minimalista, que escrevi há algum tempo:

     

                                                                           PRA VIDA FLORIR

                                                                                         (É Preciso Sempre*)

     

    Pensar,

    Prezar,

    Sentir…

     

    Plantar,

    Zelar,

    Ouvir…

     

    Amar,

    Cantar,

    Sorrir…

     

                                                        * Não necessariamente nesta ordem.

  3. Entender seus textos as vezes

    Entender seus textos as vezes atrapalha. Você não explica, embaralha. Nem narra, algazarra. Você não hierarquiza, desestrutura. Seu método não é paranóico crítico (à moda de Salvador Dali) é paranóico etílico e, paradoxalmente, sóbrio. No mundo da pós-verdade séria você sorri enquanto mente sobre sua idade. Você parece nova, mas é mais velha que uma tragédia grega. Você é a alegria de viver. 

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