Fundo Lava Jato: Hardt declarou-se incompetente para escolher fiscais e passou a tarefa aos procuradores

Contrariando artigo previsto no acordo entre MPF e Petrobras, a juíza entregou aos procuradores de Curitiba o poder de escolher os 5 fiscais que deverão acompanhar o processo em torno da fundação gestora do caixa de R$ 2,5 bilhões

Jornal GGN – Em janeiro passado, ao homologar um acordo entre o Ministério Público Federal e a Petrobras que dará vida a uma fundação privada detentora de um fundo patrimonial de R$ 2,5 bilhões, a juíza Gabriela Hardt praticamente declarou-se incompetente para escolher até 5 fiscais responsáveis por acompanhar todo o processo.

No despacho, a juíza abriu mão dessa prerrogativa, estabelecida no acordo da Petrobras com o MPF, em benefício dos procuradores da Lava Jato – que já detêm outros poderes, como o de redigir o estatuto da futura fundação e escolher, ainda que indiretamente, os representantes da sociedade civil que irão capitanear o projeto.

“Consta do acordo que a formação do comitê de curadoria social, responsável pelas supervisão da constituição do fundo, seria aprovada pelo Juízo. A providência é desnecessária. Não tem o Juízo condições de avaliar a reputação e a capacidade técnica dos possíveis integrantes do grupo. Então, a formação do Comitê, por delegação do Juízo, competirá ao MPF. Caberá ao MPF adotar as providências necessárias à formação do Comitê, apenas informando o Juízo quem são as pessoas que o integrarão e quais foram os critérios de seleção”, decidiu Hardt.

“Depois de constituída, a composição e gestão da fundação não se sujeitarão à prévia franquia jurisdicional”, acrescentou.

A participação do MPF no acordo com a Petrobras levantou polêmicas desde seu anúncio. Figuras públicas como o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, criticaram duramente o feito.

De um lado, o MPF é questionado por misturar dinheiro público (a verba é proveniente da Petrobras, que é uma companhia que pertence majoritariamente à União) com interesses privados. De outro, aponta-se que não há previsão legal para que os procuradores desempenhem o papel de protagonismo que pretendem na formação do fundo e da fundação gestora.

Além disso, o acordo entre MPF e Petrobras decorre de contrato prévio entre a estatal e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Num acordo de “não-acusação”, o órgão americano abriu mão de 80% da multa imposta à empresa brasileira, e observou que o crédito deveria ser feito às “autoridades” no nosso País.

A turma da Lava Jato de Curitiba escanteou a presença da União na negociação com a Petrobras sobre o destino dos R$ 2,5 bilhões.

Para tensionar ainda mais a situação, há análises no sentido de que a Lava Jato usará a fundação para interferir na vida política e, possivelmente, antecipar a campanha presidencial de Sergio Moro.

Para Gabriela Hardt, o poder do MPF em Curitiba sobre o acordo com a Petrobras se justifica porque houve “protagonismo” dos procuradores “na obtenção da concessão no acordo desta com as autoridades dos Estados Unidos.”

“Sem a intervenção do MPF e da Petrobrás, muito provavelmente não seria possível a amortização de 80% da multa milionária pactuada no acordo com as autoridades daquele país, mediante pagamentos e investimentos de interesse coletivo no território nacional. Por esta circunstância concreta, é o MPF a entidade melhor posicionada para a celebração do presente acordo com a Petrobrás.”

No ato de homologação do acordo, Hardt ainda afirmou que o objetivo da fundação – investir o dinheiro da Petrobras em projetos anticorrupção e reparação à sociedade – é de “interesse público”.

Ela ainda anotou que é responsável por homologar o acordo porque “houve uma consolidação da jurisprudência nacional no sentido de que compete à 13ª Vara Federal de Curitiba/PR o processo e julgamento de feitos criminais relacionados à Petrobrás no âmbito da Operação Lavajato, [tornando] apropriado pronunciamento desta julgadora.”

Metade dos R$ 2,5 bilhões da multa da Petrobras com o DOJ irão para o fundo da Lava Jato. A outra metade, para “reparação dos interesses dos atuantes do mercado financeiro”, lembrou a juíza.

Além de escolher os fiscais de suas próprias ações, o MPF será responsável por “solicitar”, se achar necessário, “o auxílio técnico de outros órgãos ou entidades, públicas ou privadas” para criar a fundação e fiscalizar as “obrigações assumidas no acordo.”

Em nota à imprensa, os procuradores de Curitiba disseram que não terão poder sobre os recursos do fundo patrimonial e afirmaram que estão em fase de escolha das instituições que participação do processo de fundação.

“A cada sessenta dias, o MPF deverá informar acerca das providências adotadas.”

Gabriela Hardt
Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Onde o Brasil chegou! Depois da Lava-Jato, o que resta da constituição, das leis, da justiça e das demais instituições? Mandam e desmandam como querem! E a juíza que homologou a bagunça permite-se interpretar as leis de acordo com a direção dos ventos em Curitiba! No fundo no fundo, excluídos os pormenores, tudo se resume na intromissão de um país estrangeiro, que passará a decidir sobre as questões brasileiras, quais das nossas leis permanecerão válidas, quais deverão ser modificadas, quais deverão ser acrescidas e assim vai.

  2. A FARRA DA TOGA: República de Curitiba passa a ser agora a Máfia de Curitiba. MP regional apropriando-se de dinheiro público amealhado no exercício da função de procuradores e juízes muito bem pagos por nós. Agora querem usar 2,5 bilhões recuperados da Petrobrás para “combater a corrupção” através de uma fundação privada não sujeita às normas de fiscalização e controle da administração pública. Aproveitam a onda criada pela indústria paralela tributária da Lava Jato, que beneficiou advogados amigos dos procuradores e juízes. Os cachês dos juízes e procuradores da Lava Jato provavelmente vão inflacionar para dar cursos e palestras contra a corrupção. Afinal, terão 2,5 bilhões pra gastar. Uma dúvida: Além de perseguir o Lula, é pra isso que montaram e mantiveram a operação? Quem controla os controladores? Tacla Durán que o diga…

  3. Incrível!
    Enquanto Lula amarga pena de mais de doze anos encarcerado em Curitiba pela aquisição não comprovada do famoso triplex avaliado pela mídia num valor em torno de um milhão e duzentos mil reais, descobrimos agora que o valor desse “acerto” entre a PB e os senhores procuradores do MP de Curitiba equivale, pasme, a algo perto de DOIS MIL triplex semelhantes àquele em que um dia Lula entrou pra avaliar. É ou não impressionante?!

  4. Esse dinheiro deve voltar para a União. A menos que seja usado para pagar delatores. Tudo que está acontecendo no Brasil ora dá medo, ora uma sensação de que nada vai melhorar, ou seja, insegurança total.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador