Gallo quer reformular base do futebol, tornando mais precoce a profissionalização

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A CBF anunciou, nesta quinta-feira (15), o nome de Alexandre Gallo como o novo coordenador técnico da seleção brasileira, no lugar de Carlos Alberto Parreira. Mas o assunto da reformulação do futebol brasileiro dominou as principais discussões, desde a derrota histórica do Brasil na Copa do Mundo. E não foi diferente no discurso de Gallo. Ele pretende fazer uma transformação na base – entre as medidas que pretende estabelecer, está o curso de inglês e aulas sobre história do futebol brasileiro, além de solicitar ao ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e à presidente Dilma Rousseff a antecipação da profissionalização do jogador para 12 anos de idade. A informação foi transmitida e criticada pelo jurista e coautor da Lei Pelé, Heraldo Panhoca, em entrevista ao Jornal GGN.

Gallo já ocupava há 1 ano e meio o cargo de técnico da seleção sub 20. Com a experiência de treinador das divisões de base da seleção brasileira, o atual coordenador técnico afirmou que já começou a reformular o futebol. “Uma ideia muito interessante trazer a profissionalização da base no Brasil. Iniciamos o trabalho em primeiro de fevereiro de 2013 para uma formulação completa das categorias sub 15, sub 17 e sub 20. Contratamos profissionais de várias áreas, algo que nunca ocorreu antes”, disse Gallo na coletiva.

Alexandre Gallo e o presidente da CBF, José Maria Marín, disseram que a resposta às criticas de que o futebol brasileiro precisa passar por uma reforma já está traçada. Marín afirmou que desde que assumiu a CBF, buscou a profissionalização do trabalho feito nas categorias de base, começando pela escolha do coordenador Gallo.

“O presidente me perguntou se eu tenho um plano de sequência para o futebol brasileiro e eu apresentei um plano olímpico. O planejamento sistematizado visando o ouro olímpico é muito importante. Hoje, o ciclo olímpico tem quatro idades. A partir do ano que vem, o sub-20 só terá duas, então há um gap (buraco). Se estes jogadores, que foram campeões no Torneio de Toulon, não forem galgados a seus times principais, vamos ter esse gap. Eles não têm lastro de seleção porque ficam sem jogar a sub-20 e a principal. A ideia é levá-los para uma seleção olímpica, principal, fazer o papel inverso. De hoje até as Olimpíadas, temos 25 jogos. Nós daremos um lastro para esses atletas”, disse o novo coordenador.

Entretanto, a crítica de Heraldo Panhoca é sobre as alterações legislativas, que Gallo pretende levar ao ministro do Esporte e à presidente Dilma, principalmente, sobre a antecipação da profissionalização do jogador de futebol para 12 anos.

“Nós temos um grande problema, hoje a propositura para justificar a incompetência na atividade profissional é de que o brasileiro começa muito tarde por força da lei, quando realmente foi a Lei Pelé que norteou o mundo a seguir o 14 anos como data-base para iniciação. Tanto que a ginástica olímpica, que era uma prática que as suas campeãs eram muito jovens, a partir de 2008 ela reconhece a validade da lei brasileira e eleva a idade olímpica para 16 anos. O atletismo tem como idade 15, o vôlei como idade 14 anos. Enquanto todo mundo vem em proteção à essa criança, a CBF, para justificar um erro da sua cúpula, do seu profissional, tenta botar a culpa na lei, trazer para 12 anos, mutilando essa criança definitivamente pra vida”, disse o jurista e militante do direito do trabalho desportivo.

Segundo Heraldo Panhoca, a formação de atletas encontra a sua regulamentação na Lei Pelé. “Em 1988, a Constituição trouxe o Direito ao Desporto, como uma obrigação do estado e um direito do cidadão, determinando que toda verba pública, preferencialmente, fosse a formação educacional desportiva, ou melhor, a iniciação desportiva e a formação profissionalizante desportiva. Dentro disso, a Lei Pelé em 98, regulamentou essa atividade, tendo por norte a Constituição, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a consolidação das leis do Trabalho e, principalmente, a lei de diretrizes e bases da Educação, que trata do ensino profissionalizante”, explicou.

O jurista contou que, de 1998 até hoje, a lei de Diretrizes e Bases no setor da formação e qualificação profissionalizante sofreu alterações no final do governo Lula. Mas uma das obrigatoriedades é que seja cumprido o curso fundamental, que o jovem estude dos 6 aos 14 anos, para poder receber a formação técnica profissionalizante.

“Então, a proposta do treinador Gallo é no sentido de que ele venha a ser preparado para a iniciação esportiva aos 12 anos, o que fere todos os dispositivos legais vigentes, porque todos tratam de 14 a idade mínima e, principalmente, da mutilação da criança. É a mutilação precoce da criança. E, consequentemente a comercialização desse indivíduo, quando o atleta já está adulto, que ele é comercializado”, criticou um dos escritores da Lei Pelé, Heraldo Panhoca.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

20 Comentários

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  1. Sendo pessoa de confiança

    Sendo pessoa de confiança dessa CBF, obviamente que o sr. Gallo não pode – nem deve – ser levado a sério. Profissionalizar uma criança de 12 anos é crime de lesa-pátria. Mas, sabem os “gilmares” (ex-agente: KKKKKKK) que a “profissionalização” prematura gera mais lucros para os negócios escusos que cercam tais jovens. Desastre completo. Mas, que fazer se os “donos” dos clubes brasileiros são os primeiros a manterem esses “ratos” (como disse o Romário) dirigindo o nosso futebol?

  2. Gallo?! Pfui.

    Mais profissionalização?! Pensei que a parada era FORMAÇÃO. Esse Gallo e o Gilmar são dois paus-mandados. Teremos o desprazer de ver o Brasil perder de 5 X 0 da Argentina daqui a dois meses para esses caras verem que não dá pra tapar o sol com a peneira.

  3. Como diz o Trajano: Parei!

    Qurem mexer no futebol e não na estrutura viciada….

    Atacar a consequência sem tocar nas causas… , sei.

    Como diz o Trajano: Ai, Parei!

  4. O problema está neste ponto…

    A profissionalização precoce é que está matando o futebol brasileiro.

    A criançada não brinca mais de jogar bola. Não se pratica esporte nas escolas, não brincam de bola nas ruas cheias de carros, não jogam bola descalço. Por isto a cambada de perna de pau domina o futebol. Não existem lugares para brincar, as praças viraram um amontoado de árvores e gramados inúteis onde ninguém vai.

  5. Ideia tosquíssima

    12 anos de idade, o jovem tem que é priorizar o banco escolar e aproveitar a adolescencia, para aprender a ser um cidadão pensante, não um sonhador a boleiro padrão Neymar de consumo e ostentação. Ou vai cair nessa de que dirigente da bola e treinador possuem envergadura para substituir professores e escola?

    E se o menino não der certo na bola? Vai crescer fazendo bico em campeonato de várzea e campeonato de 3-4-5a. divisão (como a maioria, que não galga os holofotes)?  

     

     

  6. Temos craques para todos os gostos. . .

    Temos craques para todos os gostos, mas não temos técnicos sintonizados com o futebol moderno. Nossos técnicos não perceberam a mudança do tutebol, onde se privilegia os passes rápidos ao invés de dribles, movimentação em campo para se desmarcar e para marcar rapidamente. Ao mesmo tempo nossos jogadores mal acostumados ainda acham que o jogador tem que dar um drible antes de passar a bola.

    O divisor de águas do novo futebol se deu na disputa do mundial de clubes de 2012, quando o Barcelona goleou o Santos por 4 X 0 e Neymar e seus companheiros nem viram a cor da bola, mas viram um time adversário jogando com no máximo dois toques na bola, se deslocando rapidamente e só driblando em último caso, o mais próximo possível da área. Infelizmente nossos técnicos não entenderam que aquele estilo criado por Pepe Guardiola era o novo futebol que deveria ser copiado por todos.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  7. Só eu tenho que ralar feito doido a troco de nada…?

    Gallo, Gilmar, Parreira, Felipão, Murtosa… como esses caras arrumam esses emprêgos de salários estratosféricos com atribuições microscópicas e idéia nenhuma do que fazer? 

  8. O mesmo de sempre

    Exporta minério ao invés de exportar aço ou peças fabricadas.

    Exporta o grão e compra o café da Suíça.

    Exporta soja, engorda os porcos do Japão, estes alimentam o povo japonês, que fabrica aparelhos e a gente compra depois.

    Exporta criança jogando bola e esta volta metendo 7 x 1 em você, com passaporte estrangeiro.

    1. .

      Logo, logo esses agentes de jogadores estarão criando um banco de sêmen para vender potenciais atletas a clubes europeus. E, pior, encontrarão compradores.

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