Glenn Greenwald: Duro revés de Michel Temer, um corrupto neoliberal

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Glenn Greenwald

Do The Intercept

A Democracia Brasileira Sofrerá um Duro Revés com a Posse de um Inelegível e Corrupto Neoliberal

Em 2002, o Partido dos Trabalhadores (PT), de centro-esquerda, chegou à presidência depois da expressiva vitória de Lula da Silva sobre o candidato de centro-direita do PSDB (ao longo do ano de 2002, os “mercados” ficaram indignados com a mera possibilidade de vitória do PT). O PT permaneceu no poder quando Lula, em 2006, foi reeleito com outra expressiva vitóriacontra um candidato diferente, também do PSDB. Os inimigos do PT pensaram que teriam sua chance de acabar com o partido em 2010, quando Lula não podia mais disputar as eleições por limites legais, mas suas esperanças foram esmagadas quando a sucessora escolhida por Lula, a anteriormente desconhecida Dilma Roussef, ganhou com uma vantagem de 12 pontos, do mesmo candidato do PSDB que foi derrotado por Lula em 2002. Em 2014, os inimigos do PT investiram enormes quantias de dinheiro e recursos para derrotá-la, acreditando que ela estaria vulnerável e que finalmente teriam encontrado um candidato bem-aventurado no PSDB, mas perderam novamente, dessa vez numa eleição apertada, quando Dilma foi reeleita com 54 milhões de votos.

Em resumo, o PT ganhou quatro eleições nacionais consecutivas – a última há apenas 18 meses. Seus oponentes tentaram vigorosamente derrotá-lo nas urnas e fracassaram, em grande parte por conta do apoio que o PT tem entre os pobres e os trabalhadores no Brasil.

 

 

 

Então, se você é um plutocrata dono dos maiores e mais influentes meios de comunicação, o que você faz? Você ignora a democracia por completo – afinal, ela segue empoderando candidatos e políticas que o desagradam – explorando seus meios para incitar distúrbios e depois implantar um candidato que jamais seria eleito por conta própria, mas que seguirá fielmente sua agenda política e ideologia.

Isso é exatamente o que o Brasil fará hoje. O Senado brasileiro votará à tarde a admissibilidade do processo de Impeachment iniciado na Câmara, que resultará no afastamento automático da Presidente Dilma até o fim do julgamento.

Seu sucessor será o Vice-Presidente Michel Temer, do PMDB. Ele está submerso em corrupção: foi acusado por delatores de envolvimento em um esquema ilegal de compra de etanol, acaba de ser considerado culpado, e multado, por irregularidades nos gastos de campanha, e enfrenta apossibilidade de ficar inelegível por 8 anos. Ele é profundamente impopular: apenas 2% dos brasileiros o apoiariam como presidente, e quase 60% querem seu impeachment. Mas ele servirá fielmente aos interesses dos ricos do Brasil: ele está planejando indicar executivos do Goldman Sachs e do FMI para controlar a economia e instalar uma equipe neoliberal sem nenhuma representatividade (composta em parte pelo mesmo partido – PSDB – que perdeu quatro eleições seguidas para o PT).

Nada disso é uma defesa do PT. Este partido – como o próprio Lula reconheceu em entrevista concedida a mim – está cheio de casos de corrupção. Dilma falhou como presidente em aspectos cruciais, e é extremamente impopular. Por muitas vezes se alinharam e serviram às elites do país em detrimento dos mais pobres, que são sua base de apoio. O país está sofrendo com a economia e em muitos outros aspectos.

Mas a solução para isso é vencê-los nas urnas, não simplesmente removê-los e colocar em seu lugar alguém mais conveniente aos interesses dos ricos. Apesar dos danos que o PT está causando ao país, os plutocratas e seus jornalistas-propagandistas e a corja de bandidos em Brasília que arquitetam essa farsa são muito mais nocivos. Eles estão literalmente destruindo a democracia do quinto maior país do mundo.

Mesmo a The Economist – que é hostil aos mais moderados partidos de esquerda, odeia o PT e quer a renúncia de Dilma – denunciou o impeachment como um “pretexto para a deposição de uma presidente impopular” e apenas duas semanas atrás alertou que “o que é alarmante é que aqueles que estão trabalhando pela remoção dela são, em muitos aspectos, piores”. Antes de se tornar um agente ativo de sua própria ascensão, o próprio Temer disse, no ano passado, que “o impeachment é impensável, geraria uma crise institucional. Não tem base jurídica em nem política.”

A maior fraude é o fato de que as elites da mídia estão justificando tudo isso em nome da “corrupção” e da “democracia.” Como alguém com um mínimo de razão pode acreditar que se trata de “corrupção” quando estão prestes a instalar na presidência alguém muito mais implicado em problemas de corrupção que a pessoa que está sendo removida, e quando as facções que estão ascendendo ao poder são indescritivelmente corruptas? E se estivessem realmente preocupados com a “democracia”, por que também não impedem Temer e convocam novas eleições, deixando os eleitores decidirem quem deve substituir Dilma? A resposta é óbvia: novas eleições provavelmente resultariam em uma vitória de Lula ou outros candidatos que não os agradam, por isso seu maior temor é deixar que a população brasileira decida quem vai governa-la. Essa é a própria definição de destruição da democracia.

Para além da óbvia importância global deste assunto, a razão pela qual eu dediquei tanto tempo e energia escrevendo sobre estes eventos é porque tem sido espantoso – e irritante – assistir ao desenrolar dos acontecimentos, particularmente a forma pela qual os meios dominantes de comunicação, dominados por um pequeno grupo de famílias muito ricas, sufocam qualquer pluralidade de opinião. Ao invés disso, como disseram os Repórteres Sem Fronteiras neste mês: “De maneira pouco velada, os principais meios de comunicação do país incitaram o público a auxiliar na derrubada da Presidente Dilma Rousseff. Os jornalistas que trabalham para estes grupos estão claramente sob influência dos interesses privados e partidários, e esses conflitos permanentes de interesses estão em óbvio detrimento da qualidade de suas reportagens.”

Como alguém que vive no Brasil há 11 anos, tem sido inspirador e revigorante assistir a um país de 200 milhões de pessoas se livrar dos grilhões de 21 anos de uma ditadura militar de direita (apoiada pelos EUA e pelo Reino Unido) e amadurecer para se tornar uma jovem e vibrante democracia, e prosperar sob ela. Constatar como isso pode ser rápida e facilmente revertido – eliminando todos os valores da democracia mantendo apenas seu nome – é ao mesmo tempo triste e assustador. É também uma lição para todos que, em países do mundo todo, ingenuamente presumem que as coisas continuarão como estão e que a estabilidade e o progresso estão garantidos.

Na semana passada, eu falei no Democracy Now por cerca de 10 minutos sobre o porquê eu acho que esses eventos no Brasil são tão significantes:

(clique em CC para ativar as legendas em português)

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

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  1. Parabéns

    Só gente muito ignorante ou muito mal caratér, pra encarar com naturalidade esse golpe sujo, e um governo ilegitimo como o temer.

  2. Nada a acrescentar.

    Esta grupo que agora assaltam o poder tem a mesma linhagem de  Assad, para alcançar ou se manter no poder, eles podem simplesmente destruir o proprio país. Não se importam de governar ruínas se continuarem vivendo nos palácios. A democracia nunca foi para eles um valor. Foi apenas uma mercadoria . Agora a usam  para fazer seus escambos.

    Nada a acrescentar ao  texto de Greenwald, apenas compartilhar esta tristeza   com  este momento tão terrível e tão delicado no mundo. Pois o fenômeno não é local e nem brasileiro e  tem implicações no mundo. EU  gostaria de lembrar que democracia nunca  foi de fato um valor  para estes que agora retornam ao poder e nem para os que mesmo não estando no Brasil, de longe os apoiam, e que agora vão cobrar provavelmente o preço deste apoio.

     

  3. Glenn Greenwald se preocupa

    Glenn Greenwald se preocupa mais com o Brasil do que a maioria dos Brasileiros… Se for falar da galera da camisa da CBF, não tem um que se preocupe e goste mais do país que ele…

     

    Que vergonha !!!

  4. Com quantos canalhas se faz uma mídia brasileira?
    Aí você olha os “jornalistas” da grande imprensa brasileira…
    Não dá para não comparar com o romance de Umberto Eco, Número Zero.

  5. Preciso e cirúrgico, como sempre

    Contudo, a partir de hoje, Greenwald corre o risco de ser preso e extraditado pelo excesso de verdades que fala.

    A ditadura midio-fascista, que se vale de corruptos togados para justificar seus golpes contra a democracia, provavelmente, não perdoará a ousadia desse Jornalista.

  6. Daqui a alguns meses é certo

    Daqui a alguns meses é certo que até os amarelados racistas da classe média lamentarão a merda que fizeram quando não mais conseguirem pagar as mensalidades escolares, os planos de saúde, etc. ao falirem ou perderem seus empregos.
    Bem feito!

    1. Brasileiros babacas!!! Ficam
      Brasileiros babacas!!! Ficam ai celebrando, depois da lavagem cerebral da midia, sem saber que o Temer está vendido para Goldman Sachs. Ele e sua turma de ladrões vendidos para os Estados Unidos vão estourar o Brasil, essa republica de bananas. Acham que Panama Papers é escândalo??? Hahaha! Esperem que daqui a pouquinho o Brasil entrará para a historia quando implodir de cez, e esses ladrões descarados vão partir para New York e Miami, e o brasileiro que se f@da. Só tem uma esperança…tire seu passaporte, e abandone de vez esse naufrágio enquanto podem.

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