Goethe e a pós-verdade da usurpação

Agora que a pós-verdade informa a atividade jornalística e produção de jurisprudência, nada melhor do que transformar a poesia num paradigma de interpretação política. Farei isto empregando o método paranóico-crítico inventado por Salvador Dalí e recorrendo a um mestre do romantismo alemão. 

CORO

Judex ergo cum sedebit

Quidquid latet adparebit

Nil inultum remanebit

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E quando sentar-se o Juiz

O que se esconde aparecerá,

Nada ficará sem castigo.

(Fausto, J. W. Goethe, Abril Cultural, São Paulo, 1976, p. 199 – tradução nota 149 p. 260)

Esta fala do CORO no início do capítulo CATEDRAL, da obra Fausto, evoca uma Justiça impessoal que paira sobre os homens e da qual ninguém consegue se esconder. Ela precede um dos mais politizados fragmentos do famoso poema de J. W. Goethe que se encontra no capítulo A NOITE VALBURGA:

(Fausto, J. W. Goethe, Abril Cultural, São Paulo, 1976, p. 212/213)

Numa interpretação livre de qualquer preconceito histórico e literário, este fragmento sintetiza de certa maneira a realidade presente brasileira. Para tanto, basta colocar a Rede Globo no papel de Mefistófeles e o Mercado no lugar da Bruxa Merca-Tudo.

Condenados a vigiar presídios e a comandar tropas de ocupações coloniais a serviço dos novos donos do Pré-sal, os Generais se perguntam se podem confiar na nação brasileira. Os Ministros de Michel Temer, sem razão e distantes do Direito (pois não passam de criminosos procurados pela Justiça) agem como se nós mesmos fossemos obrigados a lembrar um tempo em que eles mereciam algum respeito.

O Novo-Rico, duplicação perfeita da Classe C que empobreceu rapidamente no último semestre de2016, luta inutilmente para evitar sua ruína. Mefistófeles, ou seja, a Rede Globo, ora defende o Juízo Final (o genocídio mediante a redução de investimentos em educação e saúde), ora ataca a esquerda e conjura a população a esquecer os bons tempos de crescimento econômico com inclusão social dos governos Lula e Dilma Rousseff.  

A Bruxa Merca-Tudo, representação do Mercado que se apropriou do poder político para se apropriar do que tem valor no Brasil, continua seduzindo a população. As mercadorias, artigos, jóias bebidas são anunciadas em profusão justamente agora a maioria da população está deixando de comprar o essencial. Eufóricos, aqueles que estão em condições de comprar os produtos e serviços que foram, através da destruição da política, afastados dos neo-excluídos (e deprimidos por consumir apenas propaganda), usam a internet para envenenar a população contra o PT enquanto apunhalam os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários com a ajuda Michel Temer.

Os intelectuais brasileiros, que são representados por Fausto no fragmento em destaque, seguem confusos e tontos. Eles não sabem o que fazer neste clima de fim de feira organizado pelo Mercado durante o acelerado desmantelamento do Estado. Como o Autor, este que vos fala interpretando livremente o grande poeta alemão à luz da realidade brasileira atual, se mostrou impertinente e pretensioso. O que mais eu poderia fazer neste momento em que o STF protege os golpistas para que fique sem castigo todo o mal que se faz contra o povo brasileiro?

O falecimento da esposa de Lula removerá a poesia da vida do maior líder político brasileiro dos últimos 50 anos. A morte é um fato natural lamentável. Trágica é a vida do juiz que persegue uma inocente até matá-la de dor e tristeza. O algoz de Marisa Letícia conseguirá ficar fora do alcance da verdadeira justiça que sempre revela todas as verdades?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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