
Jornal GGN – O governo da província de Jujuy, na Argentina, é acusado na imprensa local de ter influenciado uma família a abrir mão do aborto legal de uma menina de 12 anos, vítima de estupro.
No final de julho, o bebê, que nasceu em meados de janeiro com cerca de 700 gramas, acabou falecendo 4 dias após o parto. A família, que teria se dirigido à Província apenas para realizar o aborto no hospital de referência na região, voltou para casa sem conhecer a criança, como era de sua vontade. Mas o caso acabou ganhando repercussão nacional e internacional por conta da intervenção de forças conservadoras.
“As suspeitas sobre uma espécie de cerco à família cresceram após o nascimento do bebê, também uma menina, que fora chamada de Esperança por movimentos pró-vida. Integrantes desses movimentos organizaram uma cerimônia de batizado no próprio hospital”, narrou O Globo.
Segundo a apuração de jornalistas locais, o governador provincial Gerardo Morales, aliado de Maurício Macri, seria pessoalmente a favor da descriminalização do aborto. Mas recebeu pressão de movimentos pró-vida e de deputados que atendem demandas de grupos conservadores, que não apoiam o procedimento de interrupção da gravidez nem mesmo em casos de estupro, como prevê a lei.
Jujuy, aliás, é uma das regiões mais pobres e conservadoras do País, o que constantemente coloca o governo em “saias justas”.
Evidenciando ainda mais a pressão sobre a família da menina estuprada, o governador declarou que a criança seria adotada por uma “família importante”.
A advogada Soledad Deza, da organização Católicas pelo Direito de Decidir, afirmou que os médicos ofereceram as duas opções à menina: o aborto terapêutico ou uma cesárea. Para a jornalista Ana Correa, a família claramente contrariou o próprio desejo sob pressão dos políticos e movimentos pró-vida.
“Grupos pró-aborto tentaram, até o último minuto, impor um procedimento que teria matado o bebê. Mas o governo de Jujuy, do qual depende o hospital, recomendou a cesariana para salvar as duas vidas”, justificou Mariano Obarrio, um dos líderes contra o aborto na Argentina.
Ainda segundo Obarrio, a menina supostamente teria passado das 22 semanas de gravidez – prazo em que o aborto deixa de ser permitido pela lei em vigor – e, por isso, “o governador recomendou a cesariana.”
“O que aconteceu em Jujuy mostra que o Estado não está ausente. Pelo contrário, está presente para gerar obstáculos para a aplicação, neste caso, de uma lei de quase cem anos”, disse Florencia Alcaraz, diretora da agência de notícias LatFem. Ela ainda acrescentou que trata-se de um caso de “saúde pública, justiça social e direitos humanos.”

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