Governo defende aposentadoria especial com benefícios a deputados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – A Advocacia-Geral da União (AGU), que representa a defesa da Presidência da República, de Michel Temer, enviou um pedido de apoio ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir uma aposentadoria especial a deputados e ex-deputados, diferente das mudanças propostas na Reforma da Previdência.
 
A justificativa, defendida pela AGU escolhida por Temer, Grace Mendonça, é a de que os benefícios são “prerrogativas constitucionais do Poder Legislativo, tendo em vista a natureza política da função exercida”. “A Constituição não veda a criação de regimes previdenciários específicos e nem limita a sua existência aos modelos atualmente em vigor”, acrescentou.
Chamado de “Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSS)”, a medida seria uma aposentadoria especial a parlamentares da Câmara dos Deputados, como a aposentadoria integral, o acúmulo de benefícios que podem ultrapassar o teto constitucional, pensão integral em caso de morte, atualização proporcial a deputados ativos, entre outras medidas.
 
Por Edson Sardinha
 
 
Do Congresso em Foco

Considerada uma das “leis imorais” do país pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, a norma que garante aposentadoria especial para deputados e ex-deputados ganhou o apoio do governo na Justiça. A Advocacia Geral da União (AGU) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer contrário à ação de Janot contra o Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSS), que favorece a aposentadoria dos atuais e de ex-integrantes da Câmara.

A manifestação ocorre no momento em que o governo busca angariar votos para os seus dois maiores desafios no Legislativo: barrar o andamento da mais nova denúncia criminal contra o presidente Michel Temer e para aprovar a reforma da Previdência, que reduz direitos e para os demais brasileiros. Criado em 1997, o PSSC garante aos parlamentares benefícios como aposentadoria integral, averbação de mandatos passados, atualização no mesmo percentual do parlamentar na ativa, a chamada paridade, acúmulo de benefícios que extrapolam teto constitucional, pensão integral em caso de morte e custeio das aposentadorias por conta da União.

Em parecer enviado ao Supremo, a advogada-geral da União, Grace Mendonça, defende a manutenção das regras atuais para os congressistas. A ministra alega que elas fazem parte das “prerrogativas constitucionais do Poder Legislativo, tendo em vista a natureza política da função exercida”.

“Deve-se, ainda, salientar que a Constituição não veda a criação de regimes previdenciários específicos e nem limita a sua existência aos modelos atualmente em vigor”, diz trecho do documento ao qual o site Jota teve acesso. “O texto constitucional não permite necessariamente extrair-se uma interpretação restritiva, de que este é o único regime possível. Neste caso, entende-se que a previsão constitucional quis garantir àqueles ocupantes de cargos sem vínculo efetivo que estes não ficariam excluídos do amparo de um regime previdenciário”, acrescenta a AGU.

Isonomia e republicanismo

O raciocínio da ministra é oposto ao expressado por Janot na ação de inconstitucionalidade. Para ele, a aposentadoria especial para parlamentares contraria o princípio da isonomia previsto na Constituição. “É inadmissível elaboração de leis imorais, cujo único propósito seja privilegiar alguns poucos indivíduos, locupletando-os injustificadamente à custa das pessoas que sustentam financeiramente o Estado com seu trabalho”, argumenta.

Caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, decidir se concede liminar (decisão provisória) antes do julgamento do mérito do processo. O pedido da medida cautelar foi feito por Janot para evitar que ex-parlamentares continuem a receber benefícios indevidos, lesando segundo ele, os cofres públicos.

“A manutenção do plano de benefícios especial dos parlamentares ofende persistentemente a noção de republicanismo e isonomia que a sociedade deve nutrir, com o que degrada o ambiente institucional e a credibilidade do sistema representativo”, ressalta o ex-procurador.

Casta

Na avaliação da PGR, as aposentadorias especiais distinguem indevidamente determinados agentes políticos dos demais cidadãos e “cria espécie de casta, sem que haja motivação racional – muito menos ética – para isso”. O Ministério Público entende que, mesmo durante a ocupação de cargos públicos, é desejável que os mandatários do povo sejam tanto quanto possível tratados com direitos e deveres idênticos aos dos demais brasileiros.

“Não há critério razoável e proporcional capaz de legitimar tratamento privilegiado em favor de ex-membros do Congresso Nacional, os quais somente exerceram múnus público temporário – conquanto da mais alta relevância e nobreza, quando dignamente exercido –, plenamente conscientes disso”, defende Janot.

Ainda na ação, o ex-procurador argumenta que, desde a Emenda Constitucional 20/1998, todos os ocupantes de cargos temporários, inclusive agentes políticos, se tornaram contribuintes obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Por isso, acrescenta Janot, em observância aos princípios da solidariedade, da universalidade e da diversidade da base de custeio, a Constituição dispõe que a filiação ao RGPS é obrigatória, e, portanto, não constitui faculdade do beneficiário ou do sistema.

Regalias parlamentares

Durante o mandato, o deputado segurado paga R$ 3,7 mil por mês ao PSSC – parcela igual àquela paga pela Câmara. Isso representa 11% do salário do parlamentar, que está em R$ 33,7 mil. Se comprovar os 35 anos de exercício de mandatos – federais, estaduais ou municipais – e 60 anos de idade, recebe aposentadoria integral, no mesmo valor do salário de deputado. Segundo a lei atacada, parlamentares, ex-parlamentares e dependentes beneficiários do PSSC podem receber benefícios até o valor do subsídio pago a deputados federais e senadores e, no caso de pensão, seu importe será de, no mínimo, 13% do subsídio.

A média de aposentadoria recebida por um ex-parlamentar, se levados em consideração os que se aposentam proporcionalmente, é de R$ 14 mil. Todo reajuste dos salários de deputados e senadores é repassado para as aposentadorias. Após a morte do parlamentar, os pensionistas (viúva ou os filhos até 21 anos) passam a receber a pensão.

Janot cita a disparidade das regras e do valor recebido entre um congressista e um trabalhador comum. “A concessão de benefícios previdenciários com critérios especiais distingue indevidamente determinados agentes políticos dos demais cidadãos e cria espécie de casta, sem que haja motivação racional – muito menos ética – para isso. Um cidadão comum, além de contribuir por 35 anos, se homem, ou 30 anos, se mulher, deve completar 60 anos de idade, se homem, e 55 anos, se mulher, para aposentar-se pelo RGPS, cujo teto atualmente é de R$ 5.531,31″, diz na ação ao STF.

Em 2015, 24 deputados se aposentaram, com benefício médio de R$ 18,4 mil. Nem todo o período de averbação é aproveitado. Quando sobra tempo de contribuição, ou falta dinheiro ao deputado, acontece a “desaverbação” parcial ou total. Mais uma regra bastante flexível do PSSC.

Dois anos de Câmara

O atual sistema permite casos extremos, como mostrou o Congresso em Foco em fevereiro. O deputado Manuel Rosa Neca (PR-RJ) chegou à Câmara como suplente, em janeiro de 2013. Cinco meses mais tarde, ingressou no plano de previdência dos congressistas. Completou apenas dois anos de mandato como deputado federal. Com o aproveitamento (averbação) de parte de mandatos anteriores de vereador e prefeito em Nilópoles (RJ), além de mais 26 anos de contribuição ao INSS, conseguiu a aposentadoria e recebe, hoje, R$ 8,6 mil.

Mas as regras do plano são ainda mais permissivas. Um deputado pode se aposentar a partir de apenas um ano de exercício do cargo, desde que faça averbações de outros mandatos ou contribuições ao INSS. O ex-deputado Junji Abe (PSD-SP) exerceu o cargo por  apenas quatro anos, entre 2011 e 2015. Em janeiro de 2015, teve aprovadas pela Câmara a averbação de mandatos de deputado estadual, vereador e prefeito de Mogi das Cruzes que somavam 20 anos de exercício desses cargos. O valor da averbação ficou em R$ 1,4 milhão. Em junho daquele ano, conseguiu ainda o aproveitamento de 12 anos de contribuições ao INSS. Fechou 24 anos de mandatos e assegurou uma aposentadoria de R$ R$ 23 mil.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

22 Comentários

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  1. Não chegamos ainda ao fundo

    Não chegamos ainda ao fundo do poço.

    A gota d`água não deve demorar para

    dar um fim a esta balbúrdia e esculhambação.

    Já estamos de saco cheio com essas situações

    miseráveis e desavergonhadas. Pqp!!

  2. uma questão aritmetica

    Boa noite, peço que me expliquem o seguinte: Se esse governo neoliberal quer vender o patrimonio da união, imagino que sua intenção é reduzir as despsas que essas estatais produzem, certo? Então, posso imaginar que os impostos serão reduzidos em no mínimo 70% (setenta por cento). Afinal as despesas com essas estatais estão quebrando o país. 

    1. duvido muito que consiga…

      a ordem, a paga, foi para fulminá-lo com excesso de críticas…………………………

      vou sair para me recuperar de mais essa

  3. Preparando o terreno para aprovar tudo…

    Só havia uma forma do governo aprovar medidas impopulares…

    Seria que aqueles que votam tivessem a garantia para o resto de suas vidas, já que sendo politicos, nunca mais seriam reeleitos!

    Efetuar pagamentos emendas, pode sutilmente significar um quase caixa 2 na veia, mas não seria suficiente e ficaria ruim se os donos do golpe soltassem dinheiro como fazia os JBS!

    Os políticos precisam de mamar para sempre…

    Tem os filhos, esposas, amantes…

    Então a melhor forma para Temer aprovar o que quiser no congresso é dar aos políticos aposentadoria com planos de saúdes generosos e outros agrados.

    E é isso que ele começa a desenhar…

    Garantir aos políticos aquilo que eles vão tirar do povo!

    Alguém já disse que eles são canalhas?

  4. não sou totalmente contra a aposentadoria de político!

    desde que fique nos mesmos padrões do trabalhador. aos 65 anos com 40 de contribuição, e nos mesmos limites.

  5. Tive um câncer a 1 ano..fiz
    Tive um câncer a 1 ano..fiz cirurgia mastectomia radical esvaziamento axilar…nao posso me submeter a trabalho que poe meu braco em risco de ter um linfedema…o inss deu indeferimento no meu pedido de aposentadoria..dependo da familia para nao passar fome..e me vejo com uma noticia dessas..absurdo..abusivo…para essa gente que não faz nada…pais vergonhoso..eles pode ter sua aposentadoria e eu nao posso..isso é justo??não é somente eu que vivo essa situação..seus tenha piedade dessas Almas..

    1. Solidariedade

      Inclusive na indignação.

      Não tenho piedade alguma dessas almas.

      Que morram engasgados com o que tem no intestino e queimem todos no inferno!

  6. Cada vez ele mostra a
    Cada vez ele mostra a população que ele quer deixar os trabalhadores na miséria para privilegiar sua culpula de bandidos que ajuda acabar com a sociedade honesta .

  7. Regalias
    Acho que esse governo está satirizando com a população, como pode um absurdo desses se está querendo penalizar trabalhadores que contribuíram anos com a previdência?

  8. Aposentaria especial para deputados
    É vergonhosos ler esse tipo de notícia na conjuntura atual.
    Deveriam todos ter o teto do INSS.
    SE QUEREM BENEFÍCIOS SUPERIORES, DEVERIAM PAGAR POR ISSO, COMO QUALQUER BRASILEIRO.

  9. O Brasil de hoje é um terreno

    O Brasil de hoje é um terreno fértil pruma revolução popular violenta. Temos uma elite que ao modo da elite francesa dos 1700e da russa do início dos 2000 estavam totalmente separadas do seu povo. A verdade é que se a elite política – que teoricamente chega lá pelo voto do povo, ao contrário das elites do judiciário e as demais – não dá a mínima satisfação ao povo, é sinal que as demais nos veem quase como um território ocupado. É como se o Brasil fosse um grande Israel, habitado por sua elite, e o resto (essa é a palavra precisa ) fosse uma imensa Palestina. Não vou ser hipócrita é dizer que não urraria de satisfação se eu visse uma revolução eclodindo e cabeças sendo literalmente cortadas e Brasília virar um mar de sangue. Seria a primeira vez que a nossa elite se daria mal. 

  10. Aposentadoria
    Porque o previlegio de alguns?se a Constituição diz que somos todos iguais perante a lei? A mesma constituição diz em seu artigo 2 que o salário não pode perder o poder de compra? Ora me aposentei em 05 / 11 /1991 com o máximo que o INSS pagava seg documentação e hoje recebo pouco mais da metade que o INSS paga.Como fica isto se já entrei na justiça e ela não mandou pagar o que o INSS deve. João Batista Mendonça
    Email jbamaraujo@gmail .com

  11. E importante que o povo se
    E importante que o povo se una vá as ruas e faça pressão nesse governo corrupto n podemos aceitar isso calados!!!!

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