Haddad quer diálogo sem “lógica binária” com Passe Livre

Jornal GGN – Em entrevista para a edição brasileira do El País, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse querer um diálogo com o Movimento Passe Livre, mas sem uma “lógica binária do tudo ou nada”. Ele defende uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que municipalizaria a CIDE, taxa sobre a gasolina que é arrecadada pelo Governo Federal e que poderia ser usada para subsidiar o transporte público.

Na entrevista, o prefeito diz que acha difícil que os protestos deste início de ano tenham o mesmo efeito que em 2013: “A energia criativa que está na rua e deveria ser um instrumento de transformação está se dissipando”, afirma. Haddad ainda diz que este é um bom momento para levar ao Congresso a discussão da mobilidade.

Do El País

Haddad quer diálogo com Passe Livre, mas sem a “lógica do tudo ou nada”
 
Para o prefeito “é um bom momento para levar ao Congresso a discussão da mobilidade”
 
O ano não começou bem para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Sua popularidade nunca foi tão baixa. Em um ano, subiu de 40% para 56% a parcela dos paulistanos que avaliam sua gestão como ruim ou péssima, segundo a mais recente pesquisa Ibope. O que lhe esperava em janeiro ele já sabia ao, no fim do ano passado, anunciar o reajuste da tarifa do ônibus, alinhado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pelos trens e metrôs. Ato seguido, o Movimento Passe Livre anunciou a estratégia de resistência ao aumento. Petistas e pessoas próximas ao prefeito advertiram que a impopular medida, que Haddad diz ser inadiável, era tiro no pé a apenas meses das eleições municipais.

Nas últimas duas semanas, ao menos seis manifestações convocadas pelo MPL pararam o trânsito na região central da cidade. Metade terminou com forte repressão policial, dezenas de feridos e detidos. Com as ruas inflamadas, Haddad acirrou ainda mais os ânimos na quinta-feira. Afirmou que seria preciso “eleger um mágico”, e não um prefeito, para implantar o passe livre – principal bandeira dos ativistas. E pareceu querer queimar pontes de vez ao comparar o transporte, um direito constitucional, a uma viagem à Disneylândia. “Tem tanta coisa que poderia vir na frente. Podia dar almoço grátis, jantar grátis, ida para a Disney grátis”, afirmou em uma agenda na zona sul da cidade, dizendo que é frequentemente questionado sobre os pedidos de passe livre, mas que há outras prioridades. Tanto enfado e apenas 22 dias se passaram desde que o ano começou.

“Eu estava falando assim: tudo é possível. Podemos discutir refeição grátis, viagem grátis, podemos discutir qualquer coisa, mas não tem mágica”

Os místicos diriam que Fernando Haddad está atravessando seu inferno astral – faz aniversário dia 25, mesmo dia do aniversário de São Paulo. Os mais céticos interpretariam como o sintoma de um fim de gestão com poucas chances de ser renovada. Convidado por este jornal a escrever um artigo sobre a questão do transporte na cidade – o MPL publicou seu posicionamento e o Governo estadual recebeu o mesmo convite, via assessoria de imprensa, mas ainda não respondeu -, o petista decidiu dar uma entrevista para esclarecer seus pontos de vista, começando por revisitar as controversas declarações do dia anterior.

– O que eu quis dizer é que não tem mágica em política. Você não sai pedindo tarifa zero imaginando que você vai conquistar isso sem abrir um debate para viabilizar aquilo que você quer. É assim que funciona em todos os movimentos. O movimento sindical funciona assim: ele senta à mesa. Ele não entra em uma mesa de negociação dizendo assim: ou é isso, ou a gente para a produção.

– Mas precisava comparar um direito constitucional a uma viagem à Disney?

– Não foi isso. Eu estava falando assim: tudo é possível. Podemos discutir refeição grátis, viagem grátis, podemos discutir qualquer coisa, mas não tem mágica. Para viabilizar uma proposta, eu preciso ter um ambiente em que essas propostas sejam discutidas sem essa lógica binária do tudo ou nada.

Seja como for, Haddad se diz aberto ao diálogo. Defende que se discuta uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que tramita no Congresso, que municipaliza a Cide, uma taxa sobre a gasolina e que hoje é arrecadado pelo Governo Federal (leia mais abaixo). A arrecadação desse tributo, segundo defende o prefeito, poderia subsidiar o transporte público nas cidades.

– Não é razoável [o MPL] sentar para discutir essa PEC? Irmos juntos à Brasília?

– Foi aberto este canal? A Prefeitura sinalizou de que poderia ter um canal aberto?

– Estou sinalizando aqui. Estou te chamando aqui hoje para sinalizar.

Essa maneira de transformar, segundo Haddad, passa pela criação de um “protocolo de interação” entre os ativistas e outros atores públicos. “Você tem alguém que está disposto a avançar. E ele vira seu principal inimigo? Qual é o sentido disso?”, questiona, referindo-se a ele mesmo. “O assunto não interessa somente à Prefeitura de São Paulo. Interessa à Frente Nacional de Prefeitos, da qual eu sou vice-presidente. Todos os prefeitos têm esse problema”. Segundo Haddad, é um bom momento para catalisar a força das ruas para pressionar o Congresso a se mexer pela mobilidade. “As mudanças que estão acontecendo no campo da mobilidade vão muito além do horizonte até intelectual do que as pessoas estão discutindo”, diz. E menciona novidades como táxis compartilhados e carros pilotados por inteligência artificial como exemplos.

– Tem um horizonte de coisas para fazer, para discutir. Nós podemos viabilizar [a tarifa zero]… Agora, precisa ter protocolo de interação. O MST sentou com o Alckmin pra fazer um acordo. O MST é o que? Burguês? Coxinha?

O QUE DIZ A PEC DA CIDE

A Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide) é um tributo cobrado sobre os combustíveis. Atualmente, é recolhido pelo Governo Federal, que distribui um percentual (29%) para os Estados. Desse percentual, os Estados tiram uma parcela (25%) e dividem proporcionalmente com seus municípios. Os recursos devem ser aplicados em programas ambientais para reduzir os feitos da poluição causados pelos combustíveis, subsídios à compra de combustíveis ou infraestrutura de transportes.

A Proposta de Emenda à Constituição 179 obriga a União a destinar no mínimo 10% da Cide para o subsídio de programas do transporte coletivo urbano para a população de baixa renda em municípios a partir de 50.000 habitantes. A PEC 179 foi apresentada em 2007 pelo então deputado e atual secretário de Transportes da cidade de São Paulo, Jilmar Tatto. No final do ano passado, foi criada uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados para apreciar o texto.

JUVENTUDE DO PT COBRA AMPLIAÇÃO DO PASSE LIVRE ESTUDANTIL

No final de 2014, quando o prefeito Fernando Haddad anunciou o primeiro aumento da tarifa depois das manifestações de 2013, lançou também o passe livre escolar, que hoje, atende mais de 530.000 estudantes. “Como educador eu acho importante fazer esse gesto pra um movimento que tinha, não na forma, mas no conteúdo, seu mérito”, diz Haddad. “Embora eu discorde da forma, a agenda da mobilidade é a agenda da minha campanha também.”

Segundo a prefeitura, quase 20% dos usuários hoje não pagam a tarifa, entre estudantes, idosos e desempregados. No ano passado, o subsídio do transporte público chegou a 1,9 bilhão na cidade. A Juventude do PT lançou, na semana passada, um documento pedindo a ampliação do passe livre estudantil para os finais de semana e períodos de férias também. Segundo Haddad, a expansão conseguida neste ano foi para os desempregados, que antes não tinham o benefício do passe livre. “Vamos sempre na direção de buscar espaço para atender legitimamente um pleito legítimo do mais vulnerável”, disse.

 

Redação

26 Comentários

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  1. é isso, é o diálogo…
    o

    é isso, é o diálogo…

    o binarismo leva obviamente ao fla x flu deplorável.

    a acusações abomináveis….

    se alguém quer avançar, nada melhor do que estimulá-lo, apoiá-lo

     

  2. O mais curioso é que o valor

    O mais curioso é que o valor da passagem do metrô aumentou no mesmo dia e custa o mesmo que os ônibus mas a “culpa” é apenas do prefeito.

    Porque será? Alguma pista? Eleições municipais neste ano?

    Quem financia o mpl?

    1. É que o governador não perde

      É que o governador não perde tempo batendo boca com essa tchurma como o Prefeito. Ele manda a PM fazer isso por ele… senta a guasca!!!!

    2. O Haddad poderia ficar de

      O Haddad poderia ficar de fora desses problemas. Bastaria seguir a sugestão do Amyr Klink (antipetista de carteirinha) e deixar de se preocupar tanto com mobilidade.

      Minuto 35:14 – [..] “a gente hoje só pensa, na gestão pública, em mobilidade. O Haddad só pensa no raio da bicicleta e ônibus e transporte. A gestão tinha que considerar outros pontos mais importantes, a qualidade de vida, a alegria das pessoas, a quantidade de água, o espaço pra respirar, o espaço visual”. 

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=baTauscbynI%5D

       

      1. Pensar na mobilidade urbana é

        Pensar na mobilidade urbana é pensar na qualidade de vida das pessoas; fazer corredores de ônibus é pensar nas pessoas que usam ônibus. Abrir a Av. Paulista para as pessoas é pensar em proporcionar momentos de alegria às pessoas; espaço para respirar e não apenas espaço para os carros. Respeito o sr. Amyr Klink, porém ele me parece um pouco mal informado. 

  3. MPL precisa ser honesto pra dialogar

    O MPL precisa primeiro assumir uma postura e um discurso honestos. Precisa parar com essa postura patológica de culpar exclusivamente Haddad pela violência da PM do Alckmin e precisa cobrar também do governo estadual o aumento do metrô.

    Duas tarifas que subiram no mesmo dia, mas a carga do MPL é TODA só sobre o Haddad….

    1. Simples

      Constitucionalmente, Artigo 30, a municipalidade é a responsável por organizar e fornecer o transporte coletivo.

      E o MPL não quer dois servoços gratuítos, apenas um.

      É comum no mundo todo que a municipalidade seja a responsável por oferecer o transporte público, por isso o MPL, que não é um movimento paulistano, nem mesmo brasileiro, é mundial, sempre foca suas reinvidicações a municipalidade. 

      O prefeito não está aí para fazer acordo com o govenador e cobrar o mesmo que o Metrô, está aí para fornecer transporte o mais barato possível. E ese possível for, de graça.

      1. Curiosamente, não vejo toda

        Curiosamente, não vejo toda essa fúria  do MPL no Rio de Janeiro contra o prefeito Eduardo Paes… aquele que é uma “mãe” para os empresários de ônibus.   Que fez a reestruturação mais burra que se tem notícia do transporte de ônibus na cidade, obrigando o trabalhador a pegar dois ônibus, fazendo baldeações.

         

        Deve ser coincidência, sei lá.

        1. Houve convocações

          Mas parece que não houve adesão.

          Aliás, se você está tão revoltada, e com razão, contra o prefeito, porque não foi manifestá-la  ???

          Não é pelo fato de carioca “de bem” estar mais preocupado em prender os pobres nas favelas durante as Olimpíadas do que com a preço da passagem que podem condenar ou desvirtuar o protesto dos outros.

          1. Fuga do assunto.

            Você, como bom troll que é, é bom em fugir do assunto e fazer sofismas quando desmascarado.

            O assunto aqui é a quase  inexistência do MPL no Rio e outros estados do Brasil (pelo menos os não governados por petistas) e você me vem com papo de pobres nas favelas e Olimpíadas. A mim você não engana, troll.

             

          2. Não só isso, Adma

            Em São Paulo, onde o MPL é forte, o Bonna confessou com todas as letras que o alvo é o Haddad, criando vários sofismas para atribuir a responsabilidade de TUDO ao Haddad e descaradamente confessando que o MPL só quer gratuidade nos ônibus, no metrô eles nem tocam pra não melindrar o chefinho deles, que é o Alckmin…

      2. E todos os MPL’s só confirmam o que digo

        Não querem cobrar do Alckmin passe livre no metrô, querem o passe livre só dos onibus – pra espicaçar s[o o Haddad e livrar a cara do Alckmin. QAuerem culpar o Haddad por não fazer “acordo” com o Alckmin – até parece que depende exclusivamente da vontade do Haddad um eventual acordo com o Alckmin, ou que só e somente e só o Haddad pode iniciar uma conversação nesse sentido.

        Mais confissão de parcialidade que isso, impossível. MPL, um movimento de direita e antipetista. Confesso!

    1. pegou na veia,

      pegou na veia, marco….

      surpreende-me às vezes o cara ter uma visãocoertente de esquerda e, de repente,

      começa a lascar uma série de críticas que acaba beneficiando a turma da direita..

    2. Percepção enviesada

      A esquerda aprofunda tanto nas suas convicções que às vezes, por conta disso, consegue enxergar pequenas diferenças entre as facções. Falta aí a harmonização entre gente muito consciente politicamente para definir prioridades.

      A direita não tem essa visão. Sem nenhuma substância doutrinaria é mais fácil encontrar convergência de interesses com gente que apenas é anti-PT e nada mais.

  4. Pobre Sampa
    Vão perder, mais uma vez, a chance de ter um prefeito como Haddad. O MPL ja foi instrumentalizado uma vez contra o PT , contra Dilma. Nunca abrangeram o absurdo da falta de investimento em metrô para amenizar o desastre que Sampa virou na mão dos tucanos.

  5. Passe livre estudantil e para

    Passe livre estudantil e para desempregados foram enormes conquistas da cidade e um passo na direção das demandas do MPL. O que o MPL fez? Reconheceu esse passo? Recuou com as manifestações para sinalizar que essa é a direção que desejam? Apresentaram um plano racional e quantitativo para a 

    Ao contrário, passaram a promover uma manifestação por dia nas quais se podia ouvir  “não vai ter arrego”.

    Demonstraram que são desleais, traiçoeiros e apostam no fim do mundo.

    Merecem João Dória Jr. como seu próximo prefeito. Com certeza, com ele ficarão bem caladinhos, como o fazem com Geraldo Alckmin.

  6. Infelizmente o Hadad deu um presente à oposição

    ao  falar em Disney e jantar de graça.  Também não entendi o que ele quiz dizer ao entrevistador sobre abrir canal de conversação com a juventude do MPL. Se ele quer conversar com os meninos porque não os  convida diretamete para uma reunião? Será que não tem assessores capazes de entrar em contato com eles? 

  7. Outra solucao

    Munipalize o transporte coletivo publico. Se é verdade que essas empresas nao dao lucro, por que os empresarios do ramo (para nao dizer mafiosos?) nao largam o osso?

  8. O que Haddad precisa é

    O que Haddad precisa é definir se será prefeito por quatro anos e deixar o PSDB continuar no governo estadual. Se for assim, basta continuar a boa parceira que feito: enquanto vai enrolando esses trouxas, Alkimkim senta o cassete neles.

  9. Quando Celso Daniel tentou

    Quando Celso Daniel tentou acabar com a mafia do transporte publico foi morto. Assim como na Italia nosso capitalismo é organizado em mafias, por isso não tem como mudar sem violência.

    Na minha opinião o passe livre deveria atuar de forma mais direta contra os empresarios da área. É muito facil fazer confronto contra os aliados. Quero ver peitar o inimigo!!!

  10. Interessante…

    … só o Haddad tem o que dizer.

    Alckmin não tem nada a dizer, não diz nada e a imprensa não pergunta.

    MPL, blequebloques filhotes de tucano só servem ao PIG.

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