Haddad: retomada de diálogo com quem votou em Bolsonaro

"Não vamos ficar acusando. Muitos votaram nele [Bolsonaro] por causa das fake news", pontuou. Para o ex-ministro, "é hora de ligar para aquele primo ou tio, chamar para um churrasco e para conversar sobre o Brasil"

Foto: Arthur Marrocos

Por Vinícius Sobreira

No Brasil de Fato

Na manhã deste sábado (31) o ex-ministro da Educação Fernando Haddad participou de manifestação em defesa da liberdade do ex-presidente Lula. O ato, no bairro de Casa Amarela, reuniu – segundo organizadores – cerca de 5 mil pessoas em frente ao mercado público, periferia do Recife. Em discurso de menos de 10 minutos, Haddad pediu que militância seja paciente, mas não abra mão de retomar o diálogo com amigos e familiares que votaram em Jair Bolsonaro.

Ao criticar ataques institucionais e verbais contra mulheres, indígenas e nordestinos, o petista disse que “esse foi o presidente que nós [de outras regiões do país] botamos, não o Nordeste”. “O povo desta região não fugiu da luta. Mas agora temos que convencer o povo lá do Sul e Sudeste a botar a mão na consciência”, opinou. “Como o Nordeste entende o que está acontecendo, é hora de fazer a diferença”, convocou. Na avaliação do ex-ministro, a população não aprova o atual alinhamento do Brasil aos Estados Unidos. “O povo quer manter a soberania”, afirmou.

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Haddad pediu que a base militante do PT retome as relações com os amigos e familiares que votaram em Bolsonaro. “Todo mundo conhece alguém que foi morar lá no Sudeste, ou mesmo que mora aqui, mas que votou em Bolsonaro. São pessoas trabalhadoras, patrióticas, nacionalistas e temos que nos comunicar com elas”, afirmou. E pediu que se baixe a guarda na hora do diálogo. “Não vamos ficar acusando. Muitos votaram nele por causa das fake news”, pontuou. Para o ex-ministro, “é hora de ligar para aquele primo ou tio, chamar para um churrasco e para conversar sobre o Brasil”.

A deputada Marília Arraes também destacou o papel do Nordeste nesse momento político e a necessidade de defender a soberania nacional. “Demos o recado em 2018: nas urnas nós não legitimamos o golpe [de 2016]. Recife e Pernambuco são contra o golpe e o fascismo. Nós reconhecemos o projeto de sociedade que este lado aqui representa”, comemorou Arraes. “E temos que impedir a entrega de nossas riquezas de mãos beijadas para os Estados Unidos. Temos que resgatar o Brasil para os brasileiros, impedir o empobrecimento ainda maior da nossa população”, defendeu. Ela também se dirigiu à feira pública do bairro. “Esse comércio aqui com certeza tem sentido a piora desde a derrubada da presidenta Dilma. Mas vamos mudar isso. E essa mudança vai começar pelo Nordeste”, vislumbrou.

Também presente no ato, a vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) pediu à militância mais paciência e persistência, apontando a necessidade de se construir uma frente que una a esquerda, mas que vá além da esquerda, para defender o Brasil do avanço do fascismo neoliberal. “Temos que olhar o exemplo da Argentina. Precisamos de mais amplitude para derrotar o avanço deles, que estão numa ofensiva muito forte sobre a América Latina e a Europa. Precisamos aprender essas lições, ter sagacidade, atitude e persistência”, disse Santos, que é presidenta nacional de seu partido.

Foto: Ricardo Stuckert

Lava Jato e Lula

No discurso, Fernando Haddad também saiu em defesa da ex-deputada e vice na chapa presidencial encabeçada pelo petista, Manuela D’Ávila (PCdoB). “Vocês sabem que Manuela colocou em contato o hacker e o jornalista do The Intercept. Esta semana Manuela entregou o celular a Polícia Federal, disse que não deve nada, não teme. Ela é uma mulher honrada”, afirmou. “Mas fico me perguntando por que o Dallagnol não entrega o celular dele”, completou.

O petista seguiu provocando o procurador federal e chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol.  “A colega dele já pediu desculpas sobre o que falou da morte dos familiares de Lula, outras pessoas já admitiram que as mensagens [divulgadas pelo The Intercept] são verdadeiras. Mas o Dallagnol, que aprontou essa confusão e impediu Lula de estar no lugar desse [presidente] destrambelhado, o Dallagnol não entrega o celular”, provocou.

Para Haddad, a prisão de Lula ultrapassa os limites da disputa eleitoral. “Um dia se ganha, noutro se perde. A alternância de poder é normal. Outra coisa é inventar uma história para tirar o maior líder do país da disputa e mantê-lo preso até hoje”, se queixou, completando que enquanto a situação perdurar, a militância permanecerá ativa. “Não podemos cometer essa injustiça e não vamos sair das ruas”.

Em breve conversa com a imprensa ao chegar à manifestação, Haddad disse acreditar que Lula pode ser solto até o fim de setembro. “Está cada vez mais claro que foram cometidas injustiças contra o ex-presidente Lula. Muitas decisões estão sendo revertidas e esperamos que a condenação de Lula seja revista”, disse o petista, avaliando ainda que o ex-presidente não teve amplo direito de defesa e que foi condenado sem provas.

O ato foi organizado pelos “comitês Lula Livre”, grupos organizados por bairros ou regiões, que realizam atividades regulares em defesa da liberdade do ex-presidente Lula. Além de Fernando Haddad (PT), Marília Arraes (PT) e Luciana Santos (PCdoB), estiveram no ato o senador Humberto Costa (PT), o deputado federal Carlos Veras (PT), os deputados estaduais Teresa Leitão (PT), Doriel Barros (PT), João Paulo (PCdoB) e Jô Cavalcanti (integrante do mandato coletivo das Juntas, do PSOL). Vereadores petistas estiveram presentes, como João da Costa, do Recife; Ezequiel Santos, do Cabo de Santo Agostinho; e Cristina Costa, de Petrolina.

Foto: Ricardo Stuckert

 

Redação

6 Comentários

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  1. Sr Haddad votei no senhor a contragosto , o outro cara era muito pior …
    Precisa se organizar uma OPOSIÇÃO e não uma resistência , se perdeu uma eleição.
    A senhora Manuela , na minha modesta opinião , deve explicações neste episódio , os caras interceptam o nome do Papa e não tem o número do jornalista.
    Como foi o papo com o sr Gomes ?

  2. Em termos…O soberano eleitor pode errar seu voto em uma Democracia. É seu direito e faz parte do aprendizado. Pode arrepender-se de ter votado em um boçal – e afinal, foram gastos muitos esforços em tapea-lo e tirar de dentro dele os piores instintos.
    Quem não tem o direito de errar é o eleito. Colocado lá de boa fé, espera-se dele (mesmo o eleitor do Presidente-Coiso) que melhore o País, os Estados e as Prefeituras. Nessa procuração não consta cláusula de ininputabilidade pelas merdas e nem ignorância serve como desculpa. Governo não é escola é execução bem feita.
    Pensando em uma necessária reconciliação Nacional, age correto o PT e seus articuladores como Haddad e Lula.
    ENTRETANTO o que não é admissível é fazer pacto com o demônio, tão bem representado pela LavaJato. Moro, Deltan, FHC, Guedes, Imprensa Venal, Banqueiros e seus acólitos diletantes NÃO devem ser alvo de nenhum tipo de acordo sob o risco de tudo desandar como de fato desandou. Este último parágrafo é dedicado a Lula que elogiou a LavaJato (imagino tentando dar início a algum tipo de conciliação que já deve estar bem desenhada por várias forças, cujas outras aguardam o desenrolar). Pelo amor de Deus, Presidente…Com esses não!

  3. A meu ver, a única coisa que pode fazer os eleitores de Bolsonaro e os os indecisos mudarem de ideia é a dificuldade econômica em todos…
    se o PT não souber trabalhar com a economia ou com a comparação do antes com o depois de Bolsonaro, não vai mudar ou atrair nada

    seguir nessa de LulaLivre ou com discirsos contra lava jato em uma economia destruída é o mesmo que mostrar que não tem nada melhor para sibstituir ou para resolver os problemas na economia gerados por Bolsonaro. Errar de inimigo mais uma vez

  4. Convida o escorpião para um chazinho de hortelã e fatalmente ele vai ter ferroar as costas na próxima travessia.
    Haddad tem que acordar e vislumbrar que não é candidato a sucessor de Madre Tereza de Calcutá mas a líder da oposição(?) no Brasil.

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