Jornal GGN – O ex-presidenciável do PT Fernando Haddad listou em sua coluna na Folha deste sábado (8) os abusos praticados por Sergio Moro na Lava Jato, e afirmou que “o futuro do sistema de justiça e da própria democracia” está nas mãos da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que deve julgar a suspeição do ex-juiz.
Se o colegiado chancelar os abusos de Moro, para Haddad, o golpe na instituição que Jair Bolsonaro planejou com os militares no governo – revelado pela revista Piauí nesta semana – terá sido parcialmente consumado.
“Está nas mãos do colegiado o futuro do sistema de justiça e da própria democracia. Se a conduta de Moro for chancelada, o golpe que Bolsonaro e seus generais planejam no Supremo Tribunal Federal já terá sido em parte consumado.”
O Habeas Corpus da suspeição de Moro foi apresentado pela defesa de Lula no final de 2018. Seu julgamento foi suspenso por pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes.
Desde 2016, a defesa do ex-presidente junta elementos que apontam para a total falta de imparcialidade de Moro para ter instruído os três processos contra Lula.
“Moro autorizou escuta telefônica do advogado do acusado; Moro vazou grampos ilegais; Moro sugeriu a substituição de uma promotora por baixo desempenho; Moro encaminhou testemunhas; Moro anexou delação recusada pelo próprio MP, finda a instrução, e, três meses depois, levantou seu sigilo a seis dias do primeiro turno; Moro demonstrou desinteresse pela delação de uns e pela investigação de outros para não comprometer o apoio político-midiático às suas ações; Moro renunciou à magistratura pelo cargo de ministro da Justiça daquele que ajudou a eleger, para, em seguida, dizendo-se surpreso com a conduta antiética do chefe, demitir-se em busca de voos mais altos”, resumiu Haddad.
Se a suspeição for reconhecida, os advogados esperam que as ações penais retornem à estaca zero, inclusive abrindo debate sobre a jurisdição de Curitiba.
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Nassif: poderia se chamar “Visão das Mãos”. A do ex-prefeito paulistano e a do bardo Drummond. Enquanto o primeiro deposita “esperança” naqueles togados, o outro, com sua sábia ironia, recomenda “providências” para a maioria da que já foi uma CasaDeLeis. Compare as “falas”, duas verdades que merecem meditação:
HADDAD:
“Está nas mãos do Colegiado o futuro do sistema de justiça e da própria democracia”.
DRUMMOND (adaptado)
[A] mão está suja.
Preciso cortá-la.
Não adianta lavar.
A água está podre.
Nem ensaboar.
O sabão é ruim.
A mão está suja,
suja há muitos anos.
A princípio oculta
no bolso da calça,
quem o saberia?
Gente me chamava
na ponta do gesto.
Eu seguia, duro.
A mão escondida
no corpo espalhava
seu escuro rastro.
E vi que era igual
usá-la ou guardá-la.
O nojo era um só.
Ai, quantas noites
no fundo de casa
lavei essa mão,
poli-a, escovei-a.
Cristal ou diamante,
por maior contraste,
quisera torná-la,
ou mesmo, por fim,
uma simples mão branca,
não limpa de homem,
que se pode pegar
e levar à boca
ou prender à nossa
num desses momentos
em que dois se confessam
sem dizer palavra…
A mão incurável
abre dedos sujos.
……………………………………………
Inútil reter
a ignóbil mão suja
posta sobre a mesa.
Depressa, cortá-la,
fazê-la em pedaços
e jogá-la ao mar!
Com o tempo, a esperança
e seus maquinismos,
outra mão virá
pura – transparente –
colar-se a[o] braço.