Homenagem futebolística interestadual

Jornal GGN – Um professor de Direito de Fortaleza teve uma surpresa dos alunos no último dia de aula. Torcedor fanático do Santa Cruz, ele foi homenageado pelos estudantes, que o aguardaram na sala vestidos com a camisa do time com o seu nome. Todos os 50 alunos da turma estiveram presentes durante a homenagem.

Enviado Por Cláudio José

Em Fortaleza, alunos “adotam” Santa Cruz em surpresa a professor fanático

Do Globo Esporte

Por Juscelino Filho de Fortaleza, CE

No último dia de aula, 50 estudantes vestem camisa 10 do clube coral com 
nome do professor escrito nas costas. Docente se emociona: “Fora do normal”

“A aula era de 9h20 às 11h40. Teve prova no primeiro horário e acabei indo para a sala dos professores. Quando deu a hora de voltar, fui à coordenação pegar as provas. Geralmente os alunos ficam no “hall”, mas dessa vez eles não estavam. Quando entrei na sala de aula, a surpresa. Aqueles gritos, os alunos levantando as mãos! Todos com a camisa do Santa (Cruz)! Meus olhos logo encheram de lágrimas. Mas eu segurei porque eu sou ‘cabra macho'”. 

Surpresa a Damião, torcedor do Santa Cruz, em Fortaleza (Foto: Damião/Arquivo Pessoal)

Damião Soares Tenório, pernambucano de 33 anos e torcedor fervoroso do Santa Cruz, teve um dia inesquecível na última segunda-feira (8). Era o último dia de aula na faculdade de Direito onde ele dá aula, em Fortaleza, e os alunos resolveram fazer uma surpresa para o professor vestindo a camisa do time de coração do docente. Nesse caso, não Ceará ou Fortaleza – mas, sim, o Santa Cruz. Isso mesmo: em terras alencarinas, o time coral prevaleceu e “tricoloriu” o último dia de aula do professor Damião.

Na ocasião, não houve abstenções. Todos os 50 alunos estavam presentes e devidamente uniformizados. Eles se reuniram e conseguiram até patrocínio para dividir o custo de 51 camisas corais (uma para o professor, obviamente).

– Parecia um estádio de futebol só com torcedores do Santa Cruz – comparou o docente.

Mesmo comparando com o Arruda lotado, Damião garante que a emoção foi muito maior. Ao lembrar dos inúmeros jogos que acompanhou do time pernambucano com 40 ou até 50 mil pessoas enchendo o estádio nos jogos da Terceira Divisão, o fanático crava que nunca passou por nada parecido.

– Já vivi muitas emoções assistindo aos jogos do Santa porque é sofrido. É drama. É inexplicável. Mas essa surpresa que fizeram para mim foi fora do normal. Essa demonstração de carinho dos alunos foi incrível. Até eles ficaram emocionados.

Ao todo, 50 alunos participaram da homenagem a Damião (Foto: Damião/Arquivo Pessoal)

A surpresa

Damião relata que a surpresa maior foi porque aconteceu em solo cearense. Em terras comandadas por Ceará e Fortaleza, o Santa Cruz mostrou que tem poder. Também pudera. Sempre que pode, o professor insere o conteúdo “Santa Cruz” em suas aulas. A rivalidade com o Sport, claro, não é deixada de lado. 

– Até brinquei com os meus amigos do Recife. Só teve a surpresa porque foi com o próprio Santa Cruz, que é time do povo. Se fosse o Sport ninguém ia fazer isso, porque o Sport já cria essa antipatia com as pessoas. Já o Santa, não. Ao Santa todo mundo quer bem – brincou.

Ao ver os alunos de frente, mal sabia Damião que ainda havia um pequeno detalhe no uniforme coral que faria o professor se segurar mais ainda para não chorar na frente dos pupilos.

– O que me deixou mais extasiado foi perceber ao deixar a prova com cada aluno que nas costas tinha o meu nome gravado junto ao número 10. Aí lascou. Fiquei mais arrepiado ainda.

A surpresa foi organizada por toda a turma. Uma das alunas, Maria do Perpétuo Socorro, de 53 anos, explica que a homenagem só ocorreu por conta das brincadeiras do professor com o clube pernambucano. A dificuldade em encontrar camisas do Santa Cruz foi decisiva para que os estudantes corressem atrás de patrocínio e encomendassem a quantidade necessária de uniformes. Depois de todo esse esforço, o clube coral certamente conseguiu mais alguns adeptos.

– Não resta dúvidas de que todos nós viramos um pouco torcedores. Não só pelo que ele fala, mas porque isso acaba puxando o interesse dos demais. Pesquisei coisas sobre o Santa Cruz. Já sei bastante até sobre a história do time – garantiu. 

Professor é fanático pelo Santa Cruz (Foto: Damião/Arquivo Pessoal)

Essa não foi a primeira vez que o professor recebeu uma homenagem coral. Há alguns semestres, Damião foi surpreendido ao ser presenteado com uma imensa barca com o escudo e as cores do Santa Cruz.

– Os alunos contrataram um ex-presidiário que se ressocializou e faz esse tipo de trabalho artesanal. Daí quando eu menos esperei, entrou na sala um pai de aluno com a barca. Eu me emocionei muito nesse dia. Tive até que contratar um carro maior para poder levar a barca para casa.

Damião Tenório ministra aula de direito em faculdade particular (Foto: Damião/Acervo Pessoal)

Ser ou não ser Santa, eis a questão

A paixão do professor pelo Santa Cruz é proporcional à rivalidade com o Sport. Não bastasse tirar sarro com os conterrâneos que estão longe, a birra se estende até os alunos. O amor pelo clube coral é flagrante. Por isso, torcedor do Leão da Ilha que fizer uma disciplina com o professor coral deve ter cuidado redobrado.

– No semestre passado, tive um aluno que era torcedor do Sport. O resto da turma, lógico, dedurou. Nunca pensei que fosse sair de Pernambuco para encontrar um torcedor do Sport em Fortaleza! E que ainda fosse meu aluno! Falei logo para ele que, se quisesse passar na disciplina, mudasse de horário. Mas o cara era tão inteligente que nem que eu quisesse poderia reprová-lo. Mas pelo menos ele nunca teve a coragem de usar uma camisa do Sport em sala de aula – relembrou, entre risos.

Se torcer pelo rival pode atrapalhar a vida acadêmica do estudante, saber um pouco da história do clube coral pode ser benéfico.

– Há dois ou três semestres, fiz uma prova oral que ninguém nunca tinha feito. Fui indagar uma aluna, em chamada individual. Buscava alguma pergunta bem complicada. Perguntei se ela estava preparada, mas ela se antecipou e falou: “Professor, estou preparada, mas antes eu preciso dizer que o Santa Cruz foi fundado no dia 3 de fevereiro de 1914”.

Foi o suficiente para desarmar o catedrático tricolor.

– Fiquei sem palavras. Arrepiado. Não conseguia mais pensar em uma pergunta difícil para fazer para ela – relembrou, às gargalhadas.

Surpresa para professor, em Fortaleza (Foto: Damião/Arquivo Pessoal)

Torcedor do Santa e cearense!

Além de professor, Damião advoga e é procurador geral do Estado do Ceará. Natural de Bom Conselho, município distante 282 quilômetros de Recife, o catedrático mora em Fortaleza há cinco anos. Quando se graduou, passou em um concurso público, mudou-se para a Terra da Luz e não pretende mais ir embora.

O procurador participa de uma torcida organizada, a “800km de paixão”. Nome sugestivo. Vários pernambucanos radicados em Fortaleza que não pretendem mais voltar à terra natal formaram o grupo para acompanhar os jogos do time de coração na capital cearense. 

Professor da mesma turma por pelo menos dois semestres em sequência, Damião explica que as amizades construídas em Fortaleza são o que o fazem querer ficar e sempre ter saudades do Ceará quando viaja a Pernambuco.

– Fortaleza é uma cidade fantástica, tem pessoas fenomenais. Minha mãe pede para que eu passe em um concurso público para voltar a Pernambuco, mas digo para ela que eu só saio daqui em um caixão e depois de muito tempo – afirmou.

Fim de aula e de homenagem (Foto: Damião/Arquivo Pessoal)

Damião saiu de Pernambuco, mas o Santa representa um latifúndio que o “arretado” torcedor coral carrega consigo aonde for. O amor pelo clube é tamanho que, por vezes, a disciplina de Direito Processual Civil fica em uma segunda esfera.

– Em sala de aula eu sempre exalto a figura do Santa Cruz. Costumo dizer que mais importante do que estudar a minha disciplina é entender a história do clube. Saí de Pernambuco, mas o Santa não saiu de mim – disse.

O relacionamento com os alunos é horizontal, como bem gosta de apontar Damião.

– Sempre entro em sala de aula para construir amizades. Eu me considero um professor humilde. Costumo dizer que as amizades que fiz aqui cresceram em progressão geométrica – afirmou.

Após a surpresa da classe, Damião irá estampar a revista da faculdade. Perseverança e força de vontade estão no vocabulário do procurador que já passou em concursos públicos para outros estados, mas prefere ficar em solo alencarino. No entanto, o real sonho de consumo do pernambucano é se tornar um cearense de fato e direito. 

– Meu objetivo é conseguir o título de cidadão cearense. Só nasci em Pernambuco, mas o coração mesmo é daqui – finalizou.

Redação

9 Comentários

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  1. Bom dia, Pessoal
     
    A Paixão

    Bom dia, Pessoal

     

    A Paixão natural e verdadeiramente sincera por um clube de futebol, nos dias de hoje, está se acabando.

    O Santa Cruz Futebol Clube, chamado carinhosamente por sua imensa e fiel torcida pelo nome de Santinha, é o melhor exemplo, no futebol brasileiro e, quiçá, no futebol mundial, de um Amor comprometido e baeado na tradição familiar de Amor a um Clube de Futebol.

    O Amor pelo Santa Cruz Futebol Clube é eterno, pois, vem de pai pra filho, desde 03 de fevereiro de 2014.

    Como disse um dos seus fundadores, em momento de crise, o Santa Cruz Futebol Clube nasceu e vai viver eternamente.

    Viva O Santa Cruz Futebol Clube!

    Viva O Santinha!

    Viva A Maior, Melhor e Mais Apaixonada Torcida de Futebol do Planeta Terra!

    TRi-Tri-Tricolor!! Santa! 

  2. Então que se conceda o título

    Então que se conceda o título de Cidadão Cearense a esse simpático professor. 

    Como cabeça-chata da gema pouco me importa se torce e ama seu Santa Cruz. Melhor seria, claro, que torcesse por Fortaleza e Ceará. Mas, como se costuma dizer, “ninguém é perfeito”.

    O que importa é que somos irmãos nordestinos e o Brasil é a nossa pátria. 

    A propósito, para “compensar” a “desdita”, o grande Luiz Gonzaga, de Exu(PE) sempre se afirmava um pernambucano-cearense. Foi tão amado e cultuado lá como aqui. Sem falar que o maior líder político de Pernambuco era um….cearense(Miguel Arraes).

    1. Assim como…

      O maior líder político paulista é pernambucano: Lula

       

      Homenagem muito bonita. Agora, o professor precisa aprender que chorar é humano, não tem gênero.

      1. Essa parte foi a bola fora…

        Dizer que segurou o choro porque é cabra macho.

        Chorar não faz mal pra ninguém, principalmente quando se chora emocionado com tão bonita homenagem.

  3. Aff…

    Que besteirol! Como é que uma baboseira dessas vira notícia e vem parar aqui no blog? Esse pessoal devia se aplicar mais em estudar. Olha que eu sou pernambucana e até simpatizo com o Santinha, mas detesto esses fanatismos.

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