Indivíduo, Estado, Igreja e Eleição de 2018, por Pedro Augusto Pinho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Indivíduo, Estado, Igreja e Eleição de 2018

por Pedro Augusto Pinho

A Igreja Católica sempre teve participação ativa na política brasileira. Desde as pregações escravista do Padre Antônio Vieira às práticas libertárias de Dom Pedro Casaldáliga, muito do que tivemos de bom e de mal na condução do Estado veio dessa influência.

No mês de abril esteve reunida em Aparecida, São Paulo, a 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). E dentre os documentos emitidos está a mensagem dos bispos sobre a eleição de 2018.

Em primeiro lugar devemos louvar o compromisso com a democracia, enfatizando a importância da manifestação popular, da legitimidade que vem unicamente do voto para condução da Nação.

Também, como é de se esperar e constitui permanente crítica eclesiástica, a prioridade da vida, da justiça, do processo igualitário e da ética sobre a rendição ao lucro, aos bens materiais, ao Mercado e, incluiria eu neste mesmo espírito, aos desígnios do sistema financeiro internacional nas opções eleitorais.

Transcrevo de “Eleições 2018: compromisso e esperança” das mensagens da CNBB: “é fundamental identificar com clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. Não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade”.

Façamos agora uma reflexão sobre estas palavras.

O pensamento escravista de hoje coloca uma dicotomia: Estado e Mercado.

O Estado representa todos os males, toda incapacidade, toda corrupção e o Mercado a virtude da eficácia e da honra. Seria para gargalhar não fosse este pensamento que se denomina liberal ou neoliberal o mais corrupto e desumano dos que correm o mundo.

Nem preciso, para meus atilados leitores, discorrer sobre a importância do social, do atendimento igualitário a todos, das preocupações que apenas o Estado pode dar respostas. Sem Forças Armadas retrocedemos às milícias, sem políticas públicas voltamos à escravidão, sem educação pública apenas difundiremos ignorância.

A importância do Estado, nesta época do domínio financeiro, é tão grande que você, caro leitor, é bombardeado dia e noite, por todas as formas de comunicação, com a ideia de Estado mínimo, de instituições independentes (do controle estatal, logo nacional), de privatizações que, na verdade, constituem assaltos aos patrimônios construidos com o trabalho e a economia de todos os brasileiros.

Voltemos à mensagem dos Bispos: “há necessidade de políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e midiáticos, que sejam abertos a ouvir e aprender no diálogo democrático, que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação”.

Veja quanto o governo dos golpistas se afasta destas exigências. A covardia de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) diante da mídia hegemônica, familiar, oligopolista, passando a vergonha de se desdizer no mesmo parágrafo da enunciação do voto. O ódio disseminado contra os opositores ou pelos simplesmente diferentes por um dos candidatos à Presidência. A subserviência de quase todos aos financiadores de campanha, e que se escondem nas críticas ao financiamento público, como se as retribuições, com verbas públicas, a estes financiadores custassem menos à Nação.

E, não menos hostil ao País e aos brasileiros, a ausência de diálogo imposta pela ditadura do judiciário, fraudando a verdade e rasgando a legislação para condenar o opositor, nem mesmo um inimigo, de sua arrogante classe.

Ao fim do documento é exortada a população a não esmorecer, não deixar que o desencanto das traições, da intolerância, das sofridas perdas levem ao desespero, ao abandono da busca por soluções democráticas, que a eleição deste ano é o caminho.

Para tanto é preciso atuar, se engajar, participar e estar atento às farsas, às falsas notícias, ao “fake news” que os poderes financeiros inundam nas redes sociais, e que os rádios e os canais de televisão – dominados por um grupo de famílias que, sem compromisso com o Brasil, deles se apossaram – passem a divulgar impunemente.

Muito cuidado, caros leitores. O Ministro Fux, que não se negou a votar no Supremo Tribunal Federal em oposição a preceito constitucional, afirma em palestra, neste mesmo mês de abril, que “as eleições podem ser anuladas pela existência de fake news”. Ora quem é suficientemente poderoso, tem recursos inclusive para criar estação de rádio, que funcionará num único período eleitoral? A banca ou o MST? Os banqueiros ou os bancários? O que me assusta nesta alocução do ministro é o absoluto inconformismo, a total rejeição ao acolhimento da vontade popular.

Já recebemos afirmações de quem não se aplicou um golpe para três anos. A vitória das forças populares e nacionalistas precisa ser seguida e acompanhada de grande mobilização para se tornar efetiva.

A sujeição aos caprichos da banca, do sistema financeiro opressor, tira-nos, na própria mensagem pastoral da Igreja, a dimensão do ser humano. Fica a escravidão de uma vida voltada a produzir lucros para terceiros e a que está nas propostas dos golpistas de 2016: fim dos direitos trabalhistas e previdenciários, fim do Estado Social, fim da sobrevivência pela Bolsa Família, pela Clínica da Família do Sistema Único de Saúde (SUS) e a entrega da Nação Brasileira ao controle dos capitais financeiros internacionais.

Não aos golpistas, não aos traidores, não aos agentes estrangeiros.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Igreja Católica ? Leia este

    Igreja Católica ? Leia este artigo

    Ex-pajés, seitas e crenças

    As crenças servem para evitar a descoberta de que o mundo não tem sentido algum

    Contardo Calligari

       “Ex-Pajé”, de Luiz Bolognesi (menção especial no Festival de Berlim), entra em cartaz no Brasil hoje. É uma obra-prima: a câmera narra e comenta a história melhor do que qualquer voz em off.

    Os índios paiter-suruís se apresentam assim: “Desde 1968, quando Nós, os Paiter, começamos a ter contato ‘oficial’ com o homem branco, as relações com não indígenas vêm provocando profundas mudanças em nossa sociedade. Essas mudanças, porém, não apagaram o nosso espírito guerreiro, que nos motivou a lutar pelo reconhecimento e integração de nosso território” (http://www.paiter.org).

    E o filme começa com uma citação de Pierre Clastres, antropólogo, lembrando que, para cometer etnocídio, não é preciso matar os membros de uma comunidade, basta matar sua alma.

    Bolognesi conta a história do pajé de uma aldeia paiter que é levado a ser bedel da Igreja Batista, a qual trouxe novas crenças e impôs que as antigas fossem abandonadas. Quando a realidade aperta, alguns membros da aldeia resgatam o pajé, na esperança de que o deus antigo ainda o escute.

    O filme é perfeito para pensar na facilidade com a qual os brancos modernos acreditam na superioridade de suas crenças e assassinam culturas (curei-me um pouco dessa culpa histórica lendo “O Remorso do Homem Branco”, de Pascal Bruckner, ed. Dom Quixote, que ainda aconselho).

    O cristianismo é a religião perfeita para o imperialismo cultural.
    Antes do cristianismo, cada povo tinha seu deus. Um povo era derrotado porque seu deus era mais fraco que o deus dos outros —ou porque o povo tinha pecado, e seu próprio deus tinha deixado de protegê-lo.

    O cristianismo inventou uma religião que podia ser proposta aos derrotados como uma verdadeira consolação. Nós acabamos com suas crenças e seu deus, mas nosso Deus, justamente, adora os derrotados, pois Ele mesmo triunfou sendo crucificado.

    Mais um detalhe: o pastor mantém sua fé convertendo os outros, enquanto o pajé não sairia da aldeia para propagar a crença no deus do rio. O cristianismo, pretendendo-se universal e sendo essencialmente missionário, precisava de um deus que consolasse os que seriam derrotados e convertidos.

    O que é trazido pelo pastor não é menos bizarro do que as antigas crenças. A existência do espírito do rio, de onde vêm os peixes que alimentam a aldeia, é mais provável que um Espírito Santo que viria encher apenas nosso coração.

    Mas uma nova crença não ganha da antiga fazendo apelo à razão. As crenças (novas e antigas) proporcionam atalhos para dar sentido ao mundo. Elas servem para evitar a descoberta de que o mundo não tem sentido algum ou, no mínimo, para nos poupar os esforços que faríamos para encontrar, na nossa própria vida, uma migalha de sentido.

    O pastor e o pajé não são diferentes: eles estão lá para compensar o medo e a preguiça da aldeia inteira. Seguindo as instruções deles, todos ganham o direito de não pensar.

    Um exemplo. A serpente que te morde é o espírito de teu inimigo. Ou, então, a serpente é o Diabo. Tanto faz. O que importa é não pensar que a serpente é só um bicho assustado, que passava por aí e te picou: você vai morrer, e isso não faz sentido algum.

    Acabo de ler “Seita”, de Paula Picarelli (Planeta), que talvez seja um romance ou talvez um relato documental (muito divertido, aliás) de como a narradora se envolveu no Portal da Divina Luz (centro de ayahuasca na São Paulo de hoje) a ponto de não saber mais se era dependente da droga ou se tinha se perdido num culto religioso.

    De fato, o Portal tem tudo para ser um culto: campanhas de doações, grupos de estudo, anjos, rituais emprestados do psicodrama, segredos, hierarquias, doutrinas sobre extraterrestres e espíritos etc.
    Mas o mais surpreendente e inquietante para mim, no livro de Picarelli, foi a docilidade dos personagens, a espécie de predisposição que faz com que eles sejam imediatamente seduzidos pela “espiritualidade” do Portal.

    Eu pensava assim: o mundo perdeu seu encanto —não tem gnomos, não tem elfos, não tem demônios nem anjos, e é bem possível que não tenha Deus e que não haja além onde continuar vivendo depois da morte. É uma perda, mas, em compensação, não tem inquisidores, e somos mais livres para fazer o que outrora e alhures seria punido como pecado.

    Pois é, estava errado: os vagos anseios espirituais dos anos 1970 estão vivos como nunca. A Era de Aquarius mal começou.

  2. Se Fux ou algum comparsa dele

    Se Fux ou algum comparsa dele cancelar (ou anular) as eleições e vocês não pegarem em armas para derrubar os golpistas em seguida, vocês vão merecer ser escravos pelo resto das suas vidas.

    Vocês querem ser escravos ou cidadãos?

  3. Bispas no Brasil, Já!

    Me avisem quando houver a Conferência Nacional das BispAS do Brasil (CNBAB). Que deverá ser composta por mulheres honestas, celibatárias ou casadas como o sempre foi ( por baixo do pano) o clero católico . Como disse Claudio Humes : “os puxadinhos da igreja católica”. CNBB: último resquício da velha macheza declarada

    Só não podem ser composta por golpistas fanáticas que são devotas depadras midiáticas, que não estão nem aí com a CNBB e foram coautoras do golpe contra a presidente dilma Roussef.

  4. Se fosse feita uma auditoria

    Se fosse feita uma auditoria nas escolas particulares católicas, quanto dinheiro desviado do ensino público se achariam nas mesmas. E servem de modelo para todas as escolas particulares, que fazem o mesmo.

    E assim na Previdencia e tudo. O resto é 95% de RETÓRICA.

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