Toque da Alvorada, levanto em disparada.
O coração me salta a boca, a visão embaralha.
Tento me alimentar, a preocupação me toma, penso: melhor deixar pra depois.
Corro trocar de roupa, repasso o armamento..
..Bota lustrada, baioneta afiada, arma lubrificada e carregada, granada ..cadê a granada?
Uniforme impecável, ensaio o hino, reviso o grito e os códigos de batalha.
Estratégia feita, falta pouco para o grande momento, esta chegando o tal enfrentamento.
Abraço os colegas, revejo fotos, desejamo-nos sorte, chamamos por Deus.
Pintamos a cara, embarcamos, pensamos, estamos prontos, agora é a hora..
Um ultimo frio me sobe a espinha, arrepia a péle, me trava os dentes, paraliza a língua.
Chegamos na hora e local marcados, um grande silêncio.
Olhamo-nos impassivos, mas afinal, cadê o enfrentamento, o derradeiro ?
Ao longe, quase sumindo no horizonte, vemos nossos comandantes.
Chegam abraçados, sorridentes, parecem contentes.
Num grito solene ouvimos a nota repassada em bilhete pelo sargento:
Parabéns tropa, missão alcançada, batalha ganha, objetivos cumpridos ..agora voltem a suas casas e curtam suas famílias ..e não se esqueçam, se apresentem daqui a dois anos outra vêz.
Sem entender, a tropa frustrada dá meia volta e se dispersa na neblina.
Mais tarde já em casa ligo a TV e a nova realidade começa a se fazer.
O novo comando anuncia as novas diretrizes de governo em substituição ao enfretamento.
“..O novo comando do alto de sua autoridade vem comunicar já para os próximos dias a continuação do política de aumento nos juros básicos; a volta de colegas que na verdade NUNCA foram – e que estavam escondidos, dando um tempo – ; a confraternização da GENERAL com a Rolha, Hebe, AnaMaria ; e um afago todo especial nos inimigos que ainda permanecem como sendo PIGs..”
(*) Itararé é tido no imaginário popular como sendo a “batalha que nunca houve” e, em tradução livre, um curso d´água subterrâneo que se perde entre pedras porosas e fracas, na verdade, um sumidouro.
Um governo é eleito pra responder e agradar aos homens de bem, homens comprometidos com a democracia, com o respeito ao próximo, com a cidadania, a ética pessoal e política. Um governo deve, antes de tudo, deve dar satisfação ao seu eleitor, este que depositou nele seu voto e confiança, que apostou na coragem, competência, e vontade de mudança, no desenvolvimento de novas práticas pessoais e políticas, estas que se fazem mais do que tardias para os nossos dias.