Jogava pedras no telhado do juiz e repetia “não há Justiça, não há Justiça…”

Um certo conto, ou novela, ou romance, que li há muito tempo e do qual não guardei o seu nome nem o de seu autor – com quase certeza latino-americano -, e que se passa num vilarejo ermo, desses perdidos neste mundo imenso, tem uma passagem da qual, volta e meia, me recordo: o protagonista, um camponês miserável, para se vingar de um juiz que, em vez de lhe fazer justiça, manteve a sua sentença execrável, passa a jogar pedras, escondido nas sombras da noite, no telhado de sua casa, tirando-lhe o sono, o sossego, e amedrontando-o.

E a cada pedra jogada, repetia para si a mesma frase: “Não há justiça, não há justiça.”

Nessa quarta-feira, 10 de maio, o ex-presidente Lula, respondeu, durante cerca de 5 horas, a perguntas de procuradores públicos e de um juiz de 1ª instância, em Curitiba, num processo em que é acusado, entre outros crimes, de ter recebido um apartamento na cidade litorânea paulista de Guarujá como propina de uma construtora.

Os advogados de Lula e ele próprio, em suas considerações finais, observaram que seus acusadores não apresentaram uma prova sequer de que o imóvel lhe pertence.

As perguntas que lhe foram feitas oscilaram entre a estupidez e a infantilidade.

Várias delas se basearam em fofocas, boatos, e matérias jornalísticas.

O juiz chegou ao cúmulo de mostrar ao ex-presidente um documento apócrifo, como se ele fosse evidência de alguma coisa…

Fora esse, Lula é réu em outros processos igualmente sem nenhuma fundamentação lógica, jurídica ou factual.

Seu interrogatório na autoproclamada “República de Curitiba” apenas reforçou a tese de que ele vem sendo vítima do chamado “lawfare”, a guerra jurídica movida para destruir a possibilidade de que concorra na eleição presidencial de 2018, com boas chances de vencer, e, se eleito, reverta as medidas do governo golpista que estão levando o Brasil de volta a um passado sombrio – e destruindo seu futuro.

Uma Justiça de verdade nem aceitaria Lula como réu, tal a fragilidade das acusações contra ele.

O Brasil, porém, possui um Judiciário que tem lado, o dos ricos, dos poderosos, dos endinheirados de sempre – essa turma que patrocinou o golpe que destituiu a presidenta Dilma e provocou a maior crise político-social-econômica da história do país.

Constatado esse fato, não há a menor possibilidade de que um dos representantes mais notórios desse tipo de “Justiça” absolva o ex-presidente Lula por absoluta falta de provas em qualquer um dos processos de que é réu.

Os julgamentos são meras formalidades, encenações, puro teatro, para dar um ar de legalidade a processos político-ideológicos, construídos apenas para destruir uma das maiores lideranças populares da história brasileira, um símbolo, ele sim, de Justiça e igualdade social.

Para todos os que desejam construir uma nação à base da democracia, com reais oportunidades para todos, instituições verdadeiramente republicanas, que respeite as diferenças e proteja as minorias e seus cidadãos mais fragilizados, infelizmente restará tão somente jogar pedras no telhado da casa do juiz e murmurar “não há Justiça, não há Justiça…”

Redação

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