Há alguns dias o ex-ministro Guido Mantega foi hostilizado por representantes da nossa plutocracia. Aos gritos de “vai para o SUS” e “vai para Cuba” tentaram expulsá-lo do lugar onde ele e sua esposa se encontravam visitando um amigo hospitalizado.
Em 26fev2015, a Folha de São Paulo traz na sua página de Opinião o artigo “Começar de novo” sobre o ocorrido.
Nele a Folha se solidariza… com os linchadores.
Sintomático, e um tanto quanto ridículo, já que de conhecimento público, que evite citar o Hospital Albert Einstein, local da agressão. Ao invés, dentro de um texto enviesado chama-o de “um hospital particular em São Paulo”.
Confunde a ínfima parcela da nossa população com dinheiro suficiente para pagar os preços dos serviços do Albert Einstein com “o eleitorado na maior cidade e no mais rico Estado do país”.
E a recorrente manifestação de intolerância, preconceito e violência praticada por esse estrato de nossa sociedade é entendida e tratada como “a real preocupação de uma parcela cada vez mais ampla da sociedade com a ética”.
Por fim, misturando a Presidente Dilma com o Prefeito Haddad e ambos com o Cantareira, acaba por responsabilizar Mantega por sua própria agressão.
Afinal, após “repetidos escândalos de corrupção ligados ao partido” não haveria como evitar “o estigma de legenda associada a desvios”.
A vítima responsabilizada pela agressão sofrida.
Como não fazer o paralelo inevitável com o absurdo das mulheres que são responsabilizadas por terem sido violentadas sexualmente, isentando-se de culpa os tarados que as agrediram? Por certo, alguma elas aprontaram para chegar-se a isso.
E como que para provar que preconceito pode ter fundo ideológico mas não é questão de gênero, o texto da Folha é escrito por uma mulher.
Enfim, Mantega é culpado por sua agressão. Pois o que foi fazer ele – um petista, desfilar impunemente pelos salões da alta burguesia paulistana trajando uma saia curta e vermelha em torno de pernas provocantes?
Um pouco de compostura teria evitado o problema.
PS.1: o texto é assinado, porém, evito nominar a autora. Parece ser uma resposta à jornalista Barbara Gancia que cobrou explicações do Albert Einstein. Pode ter sido encomendado pelo patrão. E após tantas e recentes demissões na Folha, talvez tenha restado ao seus jornalistas trocar dignidade profissional pelo contracheque. Julgue-os quem estiver na mesma situação.
PS.2: no mesmo dia, Merval Pereira publica em seu blog em O Globo artigo sobre o mesmo assunto. Embora a culpabilização da vítima seja a mesma, não faz sentido dizer que Merval não merece ser estuprado.
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Sergio,
Esse post me fez
Sergio,
Esse post me fez refletir sobre a situação em que vivemos