Juízes, ódio e tabu, por Jorge Folena

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Gil Ferreira/STF

Juízes, ódio e tabu

Jorge Rubem Folena de Oliveira

Nesta semana infeliz de julho de 2017, presenciamos o assassinato dos sonhos e das esperanças de um povo explorado, que viu revogada a legislação social do trabalho (CLT) por um parlamento que representa somente os interesses dos muito ricos, e assistimos, mais uma vez, as manifestações de ódio contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, pelo cometimento do “crime” de alimentar o corpo e a autoestima de quem antes nunca teve vez no Brasil.

Os povos primitivos manifestam um tabu pelo qual se deve respeitar os inimigos, ainda que abatidos pela morte decorrente da disputa.  Freud, em Totem e Tabu (obras completas volume 11, Companhia das letras, p. 71) expressa que “esses povos são dominados por um supersticioso medo dos espíritos dos homens abatidos (…) e neles enxergamos expressão de arrependimento, de apreciação do inimigo, de má  consciência por ter-lhe tirado a vida. Quer nos parecer que também nesses selvagens está vivo o mandamento ‘Não matarás’, que não pode ser violado impunemente, muito antes de qualquer legislação comunicada por um deus.”

O juiz primitivo do Paraná desconhece o direito natural dos povos primitivos de respeitar os inimigos e, tal qual Nêmesis, tem sua mente contaminada pelo desejo de abater física e moralmente aquele a quem elegeu como seu inimigo, imaginando que irá ficar impune.

Juízes como este, ao invés de purificarem seus espíritos, servem de instrumento do ódio e praticam o mais duro deboche contra o povo simples e humilhado. Pois quase ao mesmo tempo em que se levanta o estandarte da condenação de Lula, livram da cadeia vários políticos malfeitores e lhes devolvem seus mandatos parlamentares para que possam aprovar uma draconiana reforma trabalhista, que corta direitos de trabalhadores e trabalhadoras, lançando-os em uma quase escravidão.

Condenar Lula, da forma como a anunciada, para satisfazer os interesses políticos de seus inimigos e para impedi-lo politicamente de disputar uma eleição, exigirá um severo ato de expiação e purificação, o que não é possível para esse juiz e para os demais envolvidos, no governo e no parlamento.

O juiz do Paraná não tem consciência dos rituais do tabu para libertar pelo mal causado ao homem abatido, como ressaltado por Freud. O certo é que, na tradição dos povos originários, deve-se respeitar com muito zelo os inimigos; caso contrário, o espírito daquele que desonra o tabu arderá no fogo e os fantasmas rondarão sua mente, como descrito nas peças Hamlet, Macbeth e Ricardo III, de Willian Shakespeare.

O ódio desmedido já matou a mulher de Lula, violenta seus descendentes e serve de pretexto para eliminá-lo politicamente; porém, tudo isto não atinge somente o ex-presidente, mas principalmente os mais de quarenta milhões de brasileiros que saíram da linha da miséria e hoje regressam a essa triste posição.

Com efeito, “os homens são artífices de sua própria história”; e a história que esses juízes e parlamentares constroem para si é muito triste, pois se apresenta tomada de rancor e preconceito.  

Por tudo isto, a história será implacável contra todos os que utilizam o ódio como instrumento de vingança política.

Jorge Rubem Folena de Oliveira – Advogado e cientista político

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Atualizado HOJE:

    Atualizado HOJE:

    MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU! – DE NOVO!

    Por Romulus

    Muitos leitores vieram me perguntar o que eu achei da condenação de Lula por Sergio Moro ontem. Queriam saber “quando eu ia publicar um artigo sobre isso”.

    Confesso que, assim que saiu a notícia, além de postagem sumária nas redes sociais, não pretendia escrever sobre isso não.

    E por quê?

    Ora, porque essa “notícia” foi uma…

    – … NÃO-notícia!

    Pior: foi uma não-notícia visando, justamente, a virar a pauta do noticiário em relação a notícias de verdade.

    Ia lá eu fazer o jogo da Globo/ Moro e ajudar a pauta fake a subir?

    Tratando dela especificamente?

    Não…

    Nada disso!

    Não que o (não) acontecimento seja irrelevante…

    Não é bem isso…

    A questão é a minha “pegada” como analista…

    Como os leitores já sabem, pensando ~estrategicamente~, meu foco costuma ser muito mais no ~subtexto~ do que nos textos disparados pelos diversos atores do jogo político.

    E em “atores do jogo político” entram, evidentemente, a Globo e Sergio Moro.

    Muito mais importante do que a condenação de Lula por Moro – per se – são:

     

    (i) a sua timidez!;

    (ii) o timing;

    (iii) as limitações técnicas; e

    (iv) os movimentos casados da Globo para tentar pautar os seus desdobramentos.

     

    Passemos, pois, à análise desse subtexto.
     

    LEIA MAIS »

     

  2. Faltou dizer o

    Faltou dizer o principal.

    Milhares de juizes brasileiros transformaram o “teto” (o salário máximo que podem ganhar) em “piso salarial”.

    Alguns deles ganham centenas de milhares de reais.

    Portanto, eles não são apenas juízes.

    Eles são LADRÕES que estão roubando o país.

    E eles devem ser tratados como LADRÕES.

    Não por acaso Sérgio Moro também é um  LADRÃO que ganha acima do “teto”. 

    1. Sobre essa estória do TETO.

      Primeiro, vale ressaltar que, sabe-se lá o quanto e o que ganha o MORO. Pela naturalidade e desenvoltura com que caminha pisando em tudo e em todos, nas leis, nas instituições e até debochando dos supremos acovardados, é certo que o que ele ganha e as coberturas e garantias que lhe dão salvaguardas não são do nosso conhecimento, por enquanto. Mas, voltando à questão do TETO, é realmente interessante essa estória. Se é um teto, mas todo mundo está acima do TETO, não se pode estar se falando de um teto. Mas, sim de uma laje. E daquelas mais reforçadas, com armaduras e vigas protendidas, forjadas com concreto de alta resistência, como diz o genial Gregorio Duvivier nessa mensagem: “Direito ou Privilégio?”

      https://www.youtube.com/watch?v=qkiXcTp7lJk

       

       

       

       

  3. Para mim, Sérgio Moro é um

    Para mim, Sérgio Moro é um caso de Perversão Narcísica. A perversão narcísica insere-se no grupo de psicopatologias de perseguição. O pervertido narcísico tem como objetivo humilhar e destruir o outro em prol da valorização do seu status pessoal ou social, de suas crenças pessoais, etc.

    Sérgio Moro JAMAIS admitirá a inocência de Lula, por mais provas robustas e argumentos sólidos e consistentes seus advogados (excelentes, diga-se de passagem) articulem em seu favor.

    Li ontem um posto de Wadih Damous atribuindo a esse magistrado o transtorno de personalidade “Narcisismo Paranóico”. Não acredito. Penso que é caso de pura perversão, perversão narcísica.

    Stella

  4. É a ponte

    O autor não entendeu que ainda estamos no meio da ponte que nos levará ao progresso, à evolução da espécie.

    A “Ponte para o Futuro”.

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