Lauro de O Lima: a inteligência do brasileiro

Em seu livro ‘LAURO DE OLIVEIRA LIMA‘, o escritor Steve Rud cita que “na década de 70, Lauro de Oliveira Lima denunciou que o Brasil era um país ainda dominado pelo coronelismo das instituições públicas e sociais. Estamos em 2015 e nada mudou. As instituições continuam vendo o povo como incapaz. Seria necessária uma intervenção da ONU para libertar o povo brasileiro do domínio político das instituições. A educação continua vigiada, sem recursos, perseguida e sob mordaça. Vou dar como exemplo as últimas tentativas de abordar o assunto do voto livre. O Congresso Nacional decidiu que o povo ainda não tem maturidade para exercer a liberdade de ir votar ou não. Fecharam a questão no voto obrigatório, mantendo a população condicionada ao que eles querem e acham melhor para si mesmos. Esse autoritarismo dos integrantes do Congresso Nacional praticamente chamou o povo brasileiro de burro e ignorante, muito embora o professor e pedagogo Lauro de Oliveira Lima, mesmo perseguido e vigiado pela ditadura do militarismo, tenha mostrado que a inteligência dos analfabetos para entender de futebol era uma demonstração de que todo analfabeto é portador de capacidade para aprender e que a função da educação é descondicionar o que está condicionado. Não estou questionando a vergonha de ser obrigado a votar, mas o juízo que o Congresso Nacional fez da capacidade das pessoas, concluindo que “o povo brasileiro ainda não está preparado para decidir se quer votar ou se não quer votar”. O que mais nos parece é que o político brasileiro não está preparado para legislar, isto sim, e nem evoluiu com os intelectuais da ditadura. Numa conversa que tive com o Professor Lauro de Oliveira Lima, na década de 70, o pedagogo enfatizou que a pessoa nunca está intelectualmente pronta, terminada, acabada e que o processo de aprendizado é contínuo. A educação é processual. Quando o Congresso Nacional decidiu que o povo não está preparado para exercer o voto livre, simplesmente impediu-o de ter o seu aprendizado, colocou-o sob um cabresto para que não evolua e não aprenda. Arbitrou por conta própria que o povo é incapaz de exercer a cidadania do voto, tendo, portanto, que ser obrigado a fazê-lo sob punições de multa e perda da cidadania. Mas precisamos chamar a atenção para as observações do Professor Lauro de Oliveira Lima no sentido de que o analfabeto não só é capaz de decorar e aprender tudo sobre futebol e sobre seus interesses próprios, mas também de exercer o voto livre. Na floresta brasileira, mesmo antes do Descobrimento do Brasil, os índios foram capazes de catalogar as plantas medicinais e descobrir a função curativa de cada uma delas. Logo, toda pessoa é portadora de capacidade para aprender. Todavia o Congresso Nacional decidiu que o povo brasileiro não tem o direito de exercer o voto livre porque não está preparado. Se o analfabeto não deixa de cuidar da família, vai deixar de ir votar quando tiver que escolher seus candidatos? Óbvio que não! E o Lauro de Oliveira Lima demonstrou que a pessoa sempre está pronta e preparada para aprender, o que ela nunca está é acabada e “formada”. É muito vulgar a interpretação que as instituições brasileiras fazem da inteligência do povo brasileiro. Todo analfabeto é um Einstein em potencial”. 

***** Este é um texto do livro LAURO DE OLIVEIRA LIMA, do escritor e pesquisador Steve Rud.

 

Redação

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