Lava Jato decidiu poupar grandes bancos para não quebrar “sistema financeiro”

A estratégia seletiva da força-tarefa de Curitiba fica escancarada em conversas de Telegram divulgadas pelo El Pais nesta quinta (22)

Jornal GGN – Há pelo menos 3 anos, a Lava Jato de Curitiba conversa abertamente em grupos de Telegram sobre o lucro que os grandes bancos tiveram com as movimentações financeiras de beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Mas preferiu “o silêncio ao escrutínio” das instituições financeiras, alegando que havia um risco de quebrar o “sistema financeiro” num efeito dominó.

Esse entendimento levou a turma de Deltan Dallagnol a traçar uma estratégia seletiva de atuação: focar em ações contra bancos menores e aguardar que a repercussão dos casos levassem as grandes instituições a sentar na mesa de negociações com os procuradores, que estavam de olho em acordos financeiros, “a título de indenização por lavagem de dinheiro e falhas de compliance”.

Tudo isso é revelado em mensagens de Telegram trocadas pela força-tarefa entre 2016 e 2019, segundo reportagem divulgada pelo El País nesta quinta (22), em parceria com o Intercept Brasil.

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De acordo com o El País, “a Lava Jato contra os bancos andou a passos muito lentos, enquanto as construtoras eram devassadas.”

Quando o assunto eram as empreiteiras, a Lava Jato decidiu que era “necessário responsabilizar todas, sob pena de passar a imagem de que vale à pena não buscar cooperar para ver se as autoridades vão mesmo agir.” Essa estratégia consta em uma planilha de metas para 2017 e 2018, que os procuradores trocaram entre si em 2016.

Já contra os bancos, havia medo de gerar o “tal risco sistêmico”.

“O que nós temos a favor e que é uma arma que pode explodir é que uma operação sobre um grande banco pode gerar o tal do risco sistêmico. Podemos quebrar o sistema financeiro. Essa variável tem que ser considerada para o bem e para o mal”, escreveu o procurador Januário Paludo, em outubro de 2018. “Por isso, estrategicamente, medidas ostensivas tem que ser tomadas em relação a pequenas instituições para ver o quanto o mercado vai reagir”, acrescentou.

A visão dos procuradores contra as empreiteiras levou a receita das empresas a cair 85% desde 2015, e dezenas de milhares de empregos foram perdidos, apontou um levantamento do Valor Econômico.

Para deflagrar a operação para chamar a atenção dos bancos e levá-los à mesa de negociação, Deltan Dallagnol sugeriu em 2016 a abertura de um inquérito civil público a título de pressionar instituições como Bradesco, Itau, Credit Suisse e Banco Paulista de SP (que o coordenador da Lava Jato ridicularizou nas mensagens dizendo que “só paulista para dar esse nome mesmo”.)

Somente em maio de 2019 é que a Lava Jato chegou de fato à primeira instituição bancária, destacou o El País.

“No dia 8 daquele mês, foram presos três executivos do Bancos Paulista, acusados de lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta para beneficiar a Odebrecht. Três meses antes, o procurador Roberson Pozzobon comemorava a autorização judicial para essa operação. ‘Chutaremos a porta de um banco menor, com fraudes escancaradas, enquanto estamos com rodada de negociações em curso com bancos maiores. A mensagem será passada! ??’, afirma Pozzobon. ‘Show!!! vai ter muita gente que vai começar a perder o sono, rs’, responde a procuradora Laura Tessler. No mesmo mês de maio, a força-tarefa do Rio de Janeiro prendeu dois gerentes de uma agência carioca do Bradesco, também acusados de lavagem de dinheiro da construtora.”

PALOCCI

O El País ainda revelou que a delação que Antonio Palocci tentava negociar com a Lava Jato em Curitiba estava recheada de situações que implicam grandes banqueiros, que usaram o ex-ministro para obter informações privilegiadas e lucrar com isso. Apesar disso, os procuradores rejeitaram o acordo de cooperação alegando que não havia provas de corroboração.

PALESTRAS DE DALLAGNOL

O diário também revelou que enquanto poupava os grandes bancos, Dallagnol lucrou R$ 18 mil com uma palestra na Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O valor é quase o seu lucro líquido como procurador da República, R$ 22,4 mil naquele mês de outubro de 2018.

“Poucos meses antes, em maio, ele havia negociado uma palestra para CEOs e tesoureiros de grandes bancos brasileiros e internacionais, organizada pela XP Investimentos. Entre os convidados, representantes do Itaú, Bradesco e Santander. O procurador participou, ainda, de um encontro secreto com representantes de instituições financeiras organizada pela mesma XP.”

Redação

5 Comentários

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  1. Sistema judiciário podre. Infestado de corruptos, criminosos…
    Por que será que a LavaJato é vigorosamente defendida pelos ministros Barroso, Fux e Fachin ?

  2. De prevaricações a favor de FHC e de grandes bancos, a condenações fraudulentas como a de Lula, os “procuradorinhos” Delta, Robinho, Tessler, Januário e companhia bela se enlamearam até o pescoço.
    Espero que haja autoridades neste país bananeiro capazes de enquadrar essa turma de corruptos e colocá-los na cadeia por abuso de autoridade e prevaricação.
    CAMBADA!

  3. Fato: Lula continua e continuará preso, para não incomodar o sistema.E quanto mais Lula converte-se ou é convertido em símbolo, mais preso ficará. Queriam até trancá-lo em uma cela comum, cheia de bandidos. Outro fato: nada, absolutamente nada, aconteceu até este momento a procurador algum.Muito provavelmente, nada acontecerá. A pior pena para eles é não mais serem vistos como heróis (ainda que heróis dos tolos), e sim como pessoas que não merecem confiança para coisa alguma. Fora disso, tudo como dantes no quartel de abrantes!! E o tenente moto serra fica cada vez mais famoso diante do mundo. Exatamente como quer, à sua maneira!!

  4. Lula tinha e terá 70% de aprovação popular em qq eleição a lava jato é responsável pelo desemprego no Brasil além da robótica implementada nas empresas produtivas ….

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