Lava Jato será estudada mais por seus desmandos, por Jânio de Freitas

lula_curitiba_ricardo_stuckert_1.jpg
 
Foto: Ricardo Stuckert
 
Jornal GGN – Mais do que as suas condenações, a Operação Lava Jato será lembrada e estudada por suas arbitrariedades e desmandos, afirma o jornalista Janio de Freitas, em sua coluna de hoje (16), na Folha de S. Paulo.
 
O colunista ressalta que a conexão entre o apartamento no Guarujá (SP) e os subornos na Petrobras nunca foi demonstrada, apesar de isso embasar a decisão do juiz. 
 
“Não houve no Conselho Nacional de Justiça e no Supremo Tribunal Federal quem pusesse o juiz de Curitiba abaixo da lei”, diz Janio, lembrando das gravações feitas no âmbito da Lava Jato e que foram divulgadas ilegalmente. 

 
Leia mais abaixo: 
 
Da Folha
 
Lava Jato será estudada mais por desmandos que por condenações
 
Por Janio de Freitas
 
No dia mesmo em que Sergio Moro formalizava a condenação de Lula a nove anos e meio cadeia, o Senado eliminava direitos vigentes, alguns deles, há 67 anos, como partes essenciais da Consolidação das Leis do Trabalho.
 
Não fosse a existência dessa CLT, com a proteção e os direitos de luta por melhores condições para os trabalhadores, Lula não chegaria à Presidência para fazer, entre erros e acertos políticos, a única política de redução das desigualdades sociais no Brasil republicano.
 
Enquanto Sergio Moro informava o país da condenação de Lula, Geddel Vieira Lima era livrado da cadeia, onde passara apenas dez dias. E dispensado até da tornozeleira que dificultaria suas possíveis movimentações para “ir às compras”, como dele e de seu crescente patrimônio dizia Antonio Carlos Magalhães.
 
O tempo cuidou de tecer alguns fatos para exprimir, por equivalências e contrastes, o sentido da condenação, que as duas centenas de páginas da sentença buscaram encobrir. Se com êxito ou não, é cedo para perceber mudança ou permanência na divisão anterior de opiniões.
 
“The Guardian”, o mais importante jornal inglês, pela honestidade jornalística, contrapôs à notícia da condenação o realce da “admiração global pelas políticas sociais transformadoras” da Presidência de Lula.
 
Não é a essa admiração, porém, que a sentença se refere quando, incoerente, recusa-se a decretar a prisão que “até caberia cogitar”: considerando que a prisão de um ex-presidente não deixa de envolver certos traumas”, Moro preferiu que decidir da prisão fique para outra instância judicial.
 
Que traumas? De quem? As poucas interpretações da frase pensaram em reação popular. Mas não há por que não supor Moro contido pelo temor do seu próprio trauma: mais do que ninguém, ele sabe o que está fazendo. E dizendo. Foi adequado que citasse em inglês a frase cuja variante em português é o caricato “ninguém está acima da lei”. A citação aparece na sentença de processo que Moro açambarcou: a lei o destina à área judicial onde fica o apartamento em questão -Guarujá, não Curitiba. Moro alegou a conexão, nunca demonstrada, do apartamento com os subornos na Petrobras.
 
E não houve no Conselho Nacional de Justiça e no Supremo Tribunal Federal quem pusesse o juiz de Curitiba abaixo da lei. Exemplo este, para não voltar às gravações e divulgações fora da lei, feitas por Moro e engolidas pelo CNJ e pelo STF, com o auxílio não menos indigestivo de Gilmar Mendes.
 
A Lava Jato deveria ser objeto de estudo pelo que faça de positivo. Será estudada por muito mais tempo do que quaisquer condenações de Lula, mas por arbitrariedades e desmandos puníveis nos demais procuradores e juízes. 
 
Assine
Redação

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Para Tucano não existe lava a jato, mas abafa a jato

    A lava jato não existe para tucanos, ela existe apenas para petistas. Para tucanos o que existe é a operação abafa a jato.

  2. Sobre ser estudado o Direito

    Sobre ser estudado o Direito desses tempos, a GloboNews parou tudo para transmitir o julgamento da AP470 pelo STF. E levou ao estúdio, para comentar, além do âncora, claro (Leila Sterenberg), uma professora de Direito Constitucional da UFRJ Margarida Lacombe.

    Logo depois do julgamento, em que aplicações exdrúxulas da Teoria do Domínio do Fato e até da “Teoria da Permissão pela Literatura” (inexistente até hoje) foram cometidas pelos juízes, o diretor tirou o STF do ar e colocou o estúdio para comentar. O que se viu no estúdio foi, ao fundo, uma enorme tela que continuava a mostrar imagens do STF e num sofá a âncora a perguntar para a professora o que ela estava pensando. E a professora, estarrecida, quando conseguiu desgrudar os olhos vidrados do telão, virou-se para a entrevistadora e disse:

    – “Caramba! Não sei o que vou dizer aos meus alunos, de agora em diante…”

  3. E tudo é completamente explícito.

    Esta sentença explicita tudo. Moro  não esconde nada,  deixa claro que não tem provas, deixa claro que investiu contra o acervo presidencial, porque jamais aceitou Lula na presidência, e que também não aceita que foi  o prestígio de Lula,   o motivo de tantas  palestras. A sentença  deixa claro que montou uma farsa e que jamais ouviu os argumentos de defesa, enfim explicita toda a sua intenção e conluio  político, emitindo a sentença no momento da destruição da CLT.  Se fosse um psicanalista eu diria que foi um lapso, que confessa o ódio às classes trabalhadoras.  Mas  em certas pessoas não existem lapsos, pois o consciente e o inconsciente já se misturaram tanto, que tudo fica muito explícito.

  4. VIVA LULA

    Esse juiz e seus miquinhos-amestrados do MPF deverão ser estudados como um caso a se repudiar para todas as futuras gerações. Deverá ser estudado como meio de evitar que pessoas, sob todas, disfarçadamente, ou nem tanto, e deu púlpito façam indisfarçável política. Mas isso caberá ao tempo, porque, com um judiciário (com letrinha minúscula mesmo) como o nosso, estas decisões arbitrárias serão comemoradas pelos magistrado do andar de cima. É que, se nenhum dos pares ascendentes lhe pôs freio é porque este juz somente cumpre o que os chefem dele esperam. Não me surpreenderia se o mesmo TRF4, que absolveu Vaccari de uma sentença política igual à dada esta semana contra Lula, não venha com a mesma ladainha da casa grande de que “Para tempos especiais, há de se aplicar regras excepcionais”. Enquanto isso, Geddel está livre, Loures está livre, Aécio está livre, Serra está livre e jamais será processado, muito menos condenado, e Temer, esta excrecência que nossa ignorância política e falta de amor à patria produziu, continuará a dilapidar as riquezas e conquistas nacionais e entregá-las aos poderosos. Até o dia em que tudo isso se transforme num passado sombrio e distante, viveremos os que têm consciência social, o período mais repugnante de nossa História. Por isso, Lula não pode ser mencionado nem por uma frase ou linha de seus desarcertos. Nenhum de nós teria feito metade, um terço ou décimo de tudo o que fez, inobstante as forças contrárias que agora têm cara, nome, sobrenome e conta-corrente para depósito do dinheiro sujo. Nenhhum grande erro de sua Presidência deve ser citado, é injustto com ele, porque o que fez o torna o MELHOR PRESIDENTE DE TODA NOSSA HISTÓRIA.. PS: não sou petista, nunca fui filiado a qualquer partido, nunca o encontrei ou fui a qualquer comício. Somente tenho olhos de ver, ouvidos de ouvir e cérebro para pensar.

    1. analfa

      ” Tirem esse operário nordestino daqui. Sumam com esse aqui da minha sala “

      Gritaram as panelas inox, nos Jardins, em Ipanema e Leblon.

  5. “Operação Condor II” – judiciário-midiática!

    “Operação Condor II” – judiciário-midiática! – e o alvo-mor: Lula

    Por Romulus & “Dom Cesar”

    (“&” Eugênio Raúl Zaffaroni)

    “Operação Condor Judicial”: diferentemente da versão original, em vez de “fardados”, desta vez os agentes ~locais~, novamente concertados (!) – consciente ou inconscientemente… – para o avanço da agenda do imperialismo em todo o Hemisfério, são:

    – Judiciário – combinado com o Ministério Público; e

    – Carteis midiáticos locais.

    Honduras, Paraguai, Argentina, Brasil, República Dominicana, El Salvador, Venezuela, Uruguai, Peru…

    Cruza-se a fronteira, fala-se espanhol ou português, mas a estratégia – e o método! – para alijar da vida pública forças políticas progressistas seguem sendo os mesmos.

     

    LEIA MAIS »

  6. MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU!


     

    Atualizado 15/7: MORO/GLOBO INTIMIDADOS POR LULA: “LEÃO” DE CURITIBA… MIOU! – DE NOVO!

    Por Romulus

    Muitos leitores vieram me perguntar o que eu achei da condenação de Lula por Sergio Moro ontem. Queriam saber “quando eu ia publicar um artigo sobre isso”.

    Confesso que, assim que saiu a notícia, além de postagem sumária nas redes sociais, não pretendia escrever sobre isso não.

    E por quê?

    Ora, porque essa “notícia” foi uma…

    – … NÃO-notícia!

    Pior: foi uma não-notícia visando, justamente, a virar a pauta do noticiário em relação a notícias de verdade.

    Ia lá eu fazer o jogo da Globo/ Moro e ajudar a pauta fake a subir?

    Tratando dela especificamente?

    Não…

    Nada disso!

    Não que o (não) acontecimento seja irrelevante…

    Não é bem isso…

    A questão é a minha “pegada” como analista…

    Como os leitores já sabem, pensando ~estrategicamente~, meu foco costuma ser muito mais no ~subtexto~ do que nos textos disparados pelos diversos atores do jogo político.

    E em “atores do jogo político” entram, evidentemente, a Globo e Sergio Moro.

    Muito mais importante do que a condenação de Lula por Moro – per se – são:

     

    (i) a sua timidez!;

    (ii) o timing;

    (iii) as limitações técnicas; e

    (iv) os movimentos casados da Globo para tentar pautar os seus desdobramentos.

     

    Passemos, pois, à análise desse subtexto.
     

    LEIA MAIS »

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador