Lobby não precisa de coerência

A ilustração ai de cima reproduz duas matérias de destaque em O Globo.
A primeira, no dia 15, para dizer que a gasolina brasileira – leia-se Petrobras – era das mais caras do mundo, custando 70% a mais que em Nova York.
Outra, hoje, dizendo que a nossa gasolina está 21%mais barata que nos Estados Unidos.
Como não houve, nem lá nem cá, nenhuma queda ou salto no preço da gasolina nos últimos dias, uma das duas é um disparate.
Ou, talvez, as duas.
Não há a menor importância na comparação, porque aqui e lá temos situações completamente diferentes em matéria de renda, tributação dos combustíveis e evolução dos preços.
Porque as matérias não são de jornalismo econômico, mas de lobby.
Em ambas, está o especialista em petróleo do Instituto Millenium, o ex-ANP Adriano Pires.
Adriano defende a carga tributária sobre os combustíveis, a mesma que o Lillenium denuncia como extorsiva, promovendoeventos de venda de gaslina sem impostos, para atacar o Estado (e os estados). E a Petrobras, símbolo do Leviatã estatal.
Adriano quer aumento já no preço dos combustíveis. Mas não porque os Estados Unidos estejam nos fazendo o favor de elevar a tensão com o Irã e, com ela, os preços do barril de petróleo.
Ele diz que é para ajudar o acionista da Petrobras. Pode ser.
Mas que há  gente que quer por outras razões, não se duvide.
Como, por exemplo, dar uma recrudescida na inflação, agora que ela está decepcionando o pessoal do “o caos está chegando”.
Como dar uma “queimada” na imagem da Petrobras, agora que mudou a gestão.
Como realizar lucros, com uma subida rápida do valor de seus ações, compradas na bacia das almas com a “desgraça” em que a empresa teria caído.
E, ainda, dar uma mãozinha aos usineiros, porque começa este mês a safra de cana, a demanda por etanol está fraca e os preços internacionais do açúcar, embora altos, estão ainda cerca de 20% mais baixos no mercado internacional. Gasolina mais cara talvez ajudasse o pessoal a lembrar que os carros são flex.
O que, considerando o tempo em que o álcool não está compensador, convenhamos, será um esforço de memória muito maior que o dos editores de O Globo, que não lembram do que publicaram 15 dias antes…

 

Por: Fernando Brito.

Redação

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